CHINA RIDES
AGAIN: POR QUE A CHINA VAI TER O MAIOR PIB DO MUNDO ATÉ 2040? Parte 5.
CHINA LANÇA [BELT & ROAD] 'PROJETO DE INFRAESTRUTURA DO SÉCULO' NO CENTRO DE UMA NOVA ORDEM ECONÔMICA
[NYT; FSP; 15mai2017]
Fonte: Folha de São Paulo; matéria do "NEW
YORK TIMES"; 15/05/2017 12h00
Acesso RAS em
22mai2017.
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O
presidente chinês, Xi Jinping, discursa no Fórum Cinturão e Rota, em Pequim
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1. O presidente da China, XI JINPING, apresentou neste domingo
(14mai2017) uma visão abrangente de uma nova ordem econômica global,
posicionando seu país como alternativa aos EUA voltados para seu próprio
interior sob a Presidência de DONALD
TRUMP.
2. Cercado por
líderes autocráticos da Rússia e Ásia Central em um fórum em Pequim, Xi
prometeu mais de US$ 100 bilhões
para bancos de desenvolvimento na China, algo que, segundo disse, será a ponta
de lança de gastos enormes com infraestrutura
em toda a Ásia, Europa e África. Os líderes das grandes democracias
ocidentais se fizeram notar por sua ausência do fórum.
3. Sem falsa
modéstia em relação ao plano, Xi
descreveu como "este projeto do século" a iniciativa, conhecida como "ONE BELT, ONE ROAD" (um
cinturão, uma rota). Baseado em investimentos liderados pela China em pontes,
ferrovias, portos e energia em mais de 60 países, o programa forma a espinha
dorsal da agenda econômica e geopolítica da China.
4. Em uma virada
nova para a China, que normalmente sempre viu com ceticismo os programas
sociais do Banco Mundial, Xi disse
que a iniciativa vai combater a pobreza nos países que receberão os
investimentos. Ele prometeu entregar assistência alimentar emergencial e disse
que a China vai começar "cem projetos contra a pobreza", embora não
tenha dado detalhes sobre eles.
5. Xi descreveu o plano como "globalização
econômica que é aberta, inclusiva, balanceada e benéfica a todos". Ele
disse que a China convidará o Banco Mundial e outras instituições
internacionais a unir-se a ela para fazer frente às necessidades dos países em
desenvolvimento —e também os desenvolvidos—, sugerindo que estaria procurando
abrir mercados novos e exportar o modelo chinês de crescimento liderado pelo
Estado.
6. Xi destacou as diferenças entre o sistema de
alianças dos EUA e sua visão do comércio sob a égide chinesa.
7. "Não temos
a intenção de formar um grupinho que desmonte a estabilidade, mas esperamos
criar uma grande família de convivência harmoniosa", disse ele, com o
presidente russo Vladimir Putin na
primeira fileira do centro de convenções onde o discurso foi feito.
8. Até agora a
China gastou apenas US$50 bilhões
com a iniciativa que Xi anunciou quatro anos atrás —um valor relativamente
pequeno, comparado com seu vasto programa de investimento doméstico.
9. Mas Xi disse à plateia —composta de mais de
duas dúzias de líderes nacionais, enviados de mais de cem países e
representantes de várias empresas e instituições financeiras— que estava
aumentando os valores disponíveis para os principais bancos chineses de
investimentos.
10.
O
China Development Bank e o ExImBank vão conceder créditos de US$
55 bilhões juntos, e o Fundo da Rota da
Seda receberá US$14 bilhões adicionais, segundo Xi. Outros US$50 bilhões
serão direcionados para incentivar instituições financeiras a ampliar seus
negócios com fundos no exterior em renminbi (moeda chinesa).
11.
O
governo chinês planejou o fórum durante meses, lançando uma campanha ampla de
divulgação da iniciativa na mídia noticiosa estatal e suprimindo opiniões
divergentes de acadêmicos céticos e executivos de estatais preocupados com o
gasto de valores muito altos de dinheiro.
12.
Procurando
validar o projeto, a China pressionou os países ocidentais e os aliados dos EUA
a enviar seus líderes para o fórum, mas a maioria recusou o convite, enviando
em seu lugar representantes de escalão mais baixo.
13.
Entre
os presentes ao fórum estavam o ministro das Finanças do Reino Unido, Philip Hammond, e Matthew Pottinger,
diretor sênior para a Ásia do Conselho Nacional de Segurança dos EUA, de
Washington.
14.
Em
declarações que fez no fórum, Pottinger
exortou a China a exigir transparência nas licitações públicas quando as obras
começarem. "A transparência vai garantir que empresas privadas possam
participar de licitações em um processo justo e que o custo de participação nas
mesmas valerá o investimento", disse.
15.
Pottinger afirmou ainda que
empresas americanas estão altamente interessadas em trabalhar nos projetos.
16.
O
primeiro-ministro da Índia, Narendra
Modi, não compareceu, preocupado com a aplicação de valores importantes de
dinheiro chinês no Paquistão, país rival. Já o premiê paquistanês, Nawaz Sharif, cujo país é aliado de
longa data da China, disse que tem orgulho em estar "lado a lado" com
Pequim.
17.
Em
comunicado divulgado na véspera do fórum, o governo da Índia disse que a
iniciativa corre o risco de gerar dívida insustentável para os países, receio
também expresso por alguns economistas ocidentais que estudaram o programa. A
China, eles disseram, não pretende dar assistência, mas pedir aos países que
contraíam dívidas com bancos chineses para pagar por sua infraestrutura.
18.
Alguns
representantes dos EUA e Europa Ocidental dizem que a China está gastando no
exterior e levando outros a juntar-se a ela, ao mesmo tempo em que conserva
setores importantes de seu enorme mercado doméstico fora do alcance de
investidores estrangeiros.
19.
"A
abertura da China a empresas estrangeiras ainda é tímida", comentou Joerg Wuttke, ex-diretor da Câmara
Europeia de Comércio na China.
20.
Horas
antes do discurso previsto de Xi, a Coreia do Norte disparou um
míssil balístico de médio alcance.
21.
Alguns
representantes interpretaram o lançamento do teste, o primeiro desde a posse do
novo presidente da Coreia do Sul, como esforço intencional de causar
constrangimento a Xi Jinping.
22.
A
mídia chinesa foi instruída a reduzir a cobertura do lançamento do míssil uma
hora antes do discurso de Xi,
revelaram jornalistas chineses. Então, 30 minutos antes do discurso, as
delegações das Coreias do Norte e do Sul tiveram um encontro breve, contou um
diplomata sul-coreano que pediu anonimato.
23.
De
acordo com o diplomata, o fato de essas duas delegações se encontrarem em
reuniões internacionais foi um procedimento bastante normal. Mesmo assim,
pareceu simbolizar o interesse da China em organizar discussões sobre a Coreia
do Norte entre todas as partes, incluindo os Estados Unidos.
24.
A
agência de notícias sul-coreana Yonhap
informou que Park Byeong-seok,
membro sênior do Partido Democrático da Coreia, disse à delegação norte-coreana
que seu governo fez "objeções fortes" ao teste do míssil.
25.
A
presença da delegação norte-coreana, liderada por Kim Yong Jae, o ministro das Relações Econômicas, em um evento
altamente programado, atraiu críticas da embaixada dos Estados Unidos em
Pequim.
26.
O
governo Trump pediu à China que
exerça pressão sobre a Coreia do Norte, mas não está claro o que a China já fez
para reduzir ainda mais seus laços econômicos com Pyongyang.
27.
Um
representante do presidente sul-coreano, Moon
Jae-in, disse que este enviou Park ao fórum a convite de Xi Jinping.
28.
Os
dois líderes teriam conversado ao telefone na quinta-feira, dias após a eleição
de Moon, preparando o terreno para
uma melhora nas relações tensas entre os dois países.
29.
A
expectativa é que Park se reúna com o ex-chanceler chinês Tang Jiazuan em Pequim nesta segunda-feira (15mai2017).
30.
As
discussões provavelmente vão tratar da oposição chinesa forte ao acionamento do sistema americano de defesa antimísseis,
conhecido como Thaad, na Coreia do
Sul, e como Moon pretende navegar a
corda bamba entre os Estados Unidos, que garante a segurança de seu país, e a
China, sua maior parceira comercial.
31.
O
Ministério das Relações Exteriores chinês criticou o lançamento do míssil pela
Coreia do Norte, dizendo em comunicado à imprensa que violou resoluções do
Conselho de Segurança da ONU e pedindo moderação.
Tradução de CLARA
ALLAIN
PACOTE
BILIONÁRIO CHINÊS [US$ 1 trilhão] TENTA REDESENHAR GEOGRAFIA ECONÔMICA [FT;
22mai2017]
Fonte: "FINANCIAL TIMES"; London; UK; MARTIN SANDBU; 22/05/2017 11h05
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/05/1886235-pacote-bilionario-chines-tenta-redesenhar-geografia-economica.shtml
Acesso RAS em 22mai2017.
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O presidente chinês, Xi Jinping, discursa no Fórum Cinturão e Rota, em
Pequim
Jason Lee - 15.mai.2017/AFP
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1.
Ao discutir o ambicioso projeto de infraestrutura UM CINTURÃO, UMA ESTRADA, na
semana passada, argumentamos que o resto do planeta deveria vê-lo pelo que é:
não um simples plano de investimento a ser avaliado em bases econômicas
convencionais, mas sim uma tentativa de dar
forma à estrutura geoestratégica da economia mundial nas próximas décadas.
2.
Para compreender melhor o motivo, é importante
perceber como o relacionamento econômico criado por uma iniciativa bem sucedida
poderia ser maior do que a soma de suas partes.
3. (E determinar se a iniciativa pode mesmo
encontrar sucesso é uma questão igualmente importante. Christopher Balding argumenta que, até para a China, o custo de
cerca de US$ 1 trilhão pode ser
pesado demais. E o instituto de pesquisa europeu Bruegel concorda.).
4. Paul Krugman cita seu programa de
pesquisa sobre geografia econômica
para oferecer uma ilustração clara e sucinta de como conexões de infraestrutura
tais quais as contempladas pelo UM
CINTURÃO, UMA ESTRADA importam.
5. Se atividades
econômicas são mais lucrativas quando realizadas em escala maior, então
melhoras (até mesmo modestas) nos transportes, que aperfeiçoem as conexões
entre um lugar e muitos outros, podem criar um polo de atração de investimentos
e de crescimento econômico naquele lugar, tendo por base o custo/benefício
superior que ele oferecerá (ainda que por pequena margem) no abastecimento de
outros mercados.
6. Como resultado,
"pode-se claramente entender Cinturões e Estradas como uma forma de
política comercial estratégica, além de como uma política
estratégica-estratégica pura e simples".
7. O Bruegel examinou o aspecto
"comercial estratégico" da política em detalhe, contemplando os
efeitos sobre o comércio internacional tanto da redução dos custos de
transporte quanto da redução de barreiras comerciais, caso o aspecto de
infraestrutura do UM CINTURÃO, UMA ESTRADA
venha a ser acompanhados pela criação de uma área de livre comércio entre os
países participantes.
8. O interessante é
que a Europa se beneficiaria da infraestrutura
mas sairia perdendo com o acordo de livre comércio, porque parte do comércio
seria desviado. É fácil vislumbrar uma situação futura na qual a União Europeia
veria uma negociação de livre comércio com a China como um imperativo mais
forte, e portanto teria uma posição de negociação inferior àquela de que
desfruta hoje.
9. Kadira Pethiyagoda, da Brookings Institution, trata da questão
"estratégica" em si. O "objetivo de político externa
dominante" da China, com a iniciativa UM
CINTURÃO, UMA ESTRADA, é "atingir paridade estratégica com os
Estados Unidos na Ásia e reordenar o ambiente de segurança do país a fim de
garantir que sua ascensão não seja restringida".
10.
A
iniciativa UM CINTURÃO, UMA ESTRADA
pode contribuir para isso em parte porque "os investimentos em
infraestrutura da China são realizadas de forma tal que sua influência sobre o
país recebedor é difícil de desalojar sem uma violação das normas econômicas
mundiais".
11.
Pethiyagoda
oferece o Sri Lanka como exemplo de país no qual uma mudança de regime não
afetou em nada a posição chinesa.
12.
Para
perceber até que ponto vai o lado político da iniciativa, estude os planos que
vazaram sobre o Corredor Econômico China-Paquistão, publicados recentemente
pelo jornal paquistanês "Dawn".
13.
Como
apontaram meus colegas do "Financial Times" em sua análise sobre o corredor econômico, esse projeto
imensamente ambicioso despertou preocupações no Paquistão (e em outros lugares)
em parte por conta do profundo envolvimento planejado para as alas industriais
das instituições militares chinesas.
14.
Nada
disso precisa significar que o UM
CINTURÃO, UMA ESTRADA seja má ideia – especialmente não para a China –,
ou que a iniciativa seja um jogo no qual só um lado pode ganhar, e que o
restante do planeta precisa combater.
15.
Mas
significa, como argumentamos na semana passada, que o resto do mundo precisa
entender a iniciativa como o plano geoestratégico que ela é, e que os países
deveriam responder a ela de acordo com suas visões geoestratégicas.
16.
Isso
se aplica acima de tudo à ponta oposta do eixo que a China está tentando
construir: os países europeus e a União Europeia.
[fim da
matéria]
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