quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

[555] LITERATURA E URBANISMO: A DUBLIN DE JAMES JOYCE EM “ULISSES”



A DUBLIN DE JAMES JOYCE EM “ULISSES”

Ø Seja para o Bloomsday ou uma visita comum a DUBLIN, capital da República da Irlanda, veja como ter um dia igual ao de Leopold Bloom, personagem de Ulisses.

Fonte: Blog Roteiros Literários
Colaboração de Marcelle Rocha
Acesso RAS em 2018-01-11

Retrato de James Joyce (Reprodução)

Entre todos os autores compatriotas de James Joyce (1882-1941), o autor de Dublinenses, Retrato do Artista Quando Jovem, Ulisses e Finnengans Wake, entre outros, foi quem mais soube captar o modo de viver do cidadão irlandês comum.

Perambulando pelas ruas de Dublin (Irlanda), pelos pubs, escolas, nas igrejas ou no teatro, seus personagens refletiam o contexto político e social da época. Joyce preocupava-se com a pobreza, a apatia e a perda da identidade cultural dos irlandeses diante do domínio do império britânico.

Se no livro de contos Dublinnenses (1914), Joyce prefere representar vários tipos de irlandeses e suas relações sociais em uma Dublin em transformação, em Ulisses (1922) concentra-se apenas no cotidiano de um cidadão, Leopold Bloom, ao narrar um dia de sua vida pelas ruas da capital irlandesa.

Inspirado em Odisseia, de Homero, a paródia de Joyce ao épico grego narra o dia 16 de junho de 1904 na vida do judeu irlandês Leopold Bloom, sua esposa Molly Bloom e seu amigo Stephen Dedalus. Os acontecimentos banais vividos pelos personagens são permeados por seus pensamentos e reflexões, criando uma história na qual as ações mais relevantes ocorrem dentro das mentes dos personagens.

A história se divide em 18 capítulos, cada um representando uma hora do dia – das 8h da manhã até as primeiras horas da manhã seguinte. Para cada capítulo, Joyce utilizou um estilo literário, associando arte, cor, símbolo, técnica e órgão do corpo humano para recriar os episódios de Odisseia, na forma de um título ou personagem do livro de Homero.

Bloom é Odisseu (Ulysses em Latim), sua esposa Molly é Penélope, Dedalus é Telêmaco e sua casa é Ítaca, ilha grega para qual o herói retorna 18 anos depois do início de sua jornada.

Ao reinventar um clássico da mitologia grega, James Joyce experimentou novas linguagens e técnicas literárias, como o monólogo interior e o fluxo de consciência, de uma forma totalmente inovadora. Com esses elementos, criou uma obra que marcou a literatura mundial, dividindo a história do Romance em antes e depois de Ulisses.

BLOOMSDAY, O DIA DE LEOPOLD BLOOM

Acredita-se que o dia 16 de junho de 1904 foi escolhido para ser imortalizado em Ulisses por ter sido a data do primeiro encontro de Joyce com sua esposa, Nora Barnacle. Logo após a publicação do livro, amigos do escritor começaram a se referir a 16 de junho como Bloomsday, em homenagem ao personagem e ao dia descrito no romance.

O primeiro evento em homenagem ao Bloomsday ocorreu em Paris, para comemorar a tradução de Ulisses para o francês, em um hotel perto de Versalhes no dia 29 de junho 1929. Somente em 1954, a Irlanda começou suas comemorações quando os escritores Patrick Kavanagh e Flann O’Brien visitaram lugares frequentados por Bloom no dia 16 de junho, lendo trechos do livro e bebendo muito.

A passagem deles pela Torre Martello, em Sandycove, o pub de Davy Byrne, e a 7 Eccles Street deram início ao formato atual de como o Bloomsday é celebrado pelos irlandeses.

O BLOOMSDAY EM DUBLIN

Todos os anos, Dublin organiza o Bloomsday Festival na semana de 16 de junho. Na programação, leituras de trechos do livro, visitas aos locais percorridos pelo personagem Leopold Bloom, encenações teatrais e performances que recriam episódios de Ulisses.

Para quem quer participar das atividades, embora muitos centros culturais e bares realizem eventos temáticos, a programação oficial é organizada pelo James Joyce Centre. Eles organizam roteiros, peças, leituras e encontros em diferentes pontos da cidade, passando pelo itinerário de Bloom. 

Os ingressos para os eventos pagos são vendidos online, para o caso de quem vai chegar à cidade em cima da hora. Quem quiser aproveitar tudo deve chegar alguns dias antes, pois a programação costuma começar a partir do dia 10 de junho.

Reviver o dia de Leopold Bloom aproxima as histórias de Joyce e seu universo, além de proporcionar a experiência de vivenciar o estilo de vida irlandês, moldado por literatura, música, alegria e muita cerveja.

A ROTA DE LEOPOLD BLOOM, EM DUBLIN
Para quem for a Dublin fora do mês de junho, há roteiros disponíveis fora da época do Bloomsday. Com ajuda do James Joyce Centre listamos alguns locais que fazem parte do dia de Leopold Bloom e que você pode visitar por conta própria:

Mapa da Região de Dublin


[1] MARTELLO TOWER, EM SANDYCOVE
A cena de abertura de Ulisses, envolvendo os personagens Buck Mulligan e Stephen Dedalus, tem a Martello Tower, em Sandycove, como cenário. Joyce conhecia bem o local já que morou ali. O resort, localizado na costa, é considerado um dos principais pontos turísticos de Dublin. Ali você também encontra um pequeno museu dedicado ao escritor, o Museu James Joyce, aberto diariamente das 10h às 18h. A entrada é gratuita.

A torre onde Joyce viveu, em Sandycove, e que é citada no livro Ulisses (Divulgação)

O interior do museu que funciona na torre onde Joyce viveu, em Sandycove, cenário do livro Ulisses (Divulgação)


[2] ESCOLA EM DALKEY
No capítulo 2 aparece a escola do personagem Garrett Deasy, localizada no subúrbio de Dalkey e onde só podem se matricular garotos protestantes. Stephen Dedalus dá aulas na escola. Deasy não é um personagem forte no livro e é visto por muitos como um tolo. O local fica a 30 minutos do centro de Dublin de carro.

[3] SANDYMOUNT STRAND
No capítulo 3, o personagem Stephen Dedalus caminha pela costa, perto da foz do Rio Liffey, pensando em sua família e no passado.


[4] CASA DE LEOPOLD BLOOM, NA 7 ECCLES STREET

No capítulo 4, finalmente conhecemos Leopold Bloom. A casa que ficava neste endereço era de um amigo de Joyce, J. F. Byrne, e tornou-se o endereço da casa ficcional de Leopold e Molly Bloom. Bem, a casa não existe mais, mas o James Joyce Centre guarda a porta original da residência, resgatada durante uma demolição.

Porta da antiga casa que serviu de endereço para a residência de Leopold Bloom, em Ulisses, de James Joyce (Divulgação)


[5] CORREIO WESTLAND ROW E A FARMÁCIA SWENY

No capítulo 5, Bloom passa pelo correio para recuperar uma carta endereçada ao seu pseudônimo Henry Flower – ele se correspondia com outra moça. Depois, ele vai até a farmácia Sweny, uma das mais tradicionais da cidade, onde compra um sabonete com aroma de limão para a mulher. 

O local fechou as portas em 2009, após mais de 100 anos de atividade. No entanto, voluntários mantém a antiga loja aberta, com livros Joyce disponíveis para leitura.


A antiga Farmácia Sweny (até 2009), hoje livraria.

[6] CEMITÉRIO GLASNEVIN

O capítulo 6 tem como tema a morte. Nesse caso, não é surpresa que uma das cenas se passe no cemitério Glasnevin. O trajeto que o personagem Bloom faz até o local sai do número 9 da Avenida Newbridge, endereço onde residia o personagem Dignam. 
O percurso é longo, e no caminho, ele e seus companheiros passam pela National School, a estação terminal das carruagens, salões de concerto, o púlpito de São Marcos, o teatro da rainha, o busto de Sir Philip…


[7] FREEMAN JOURNAL

Bloom trabalhava como agente publicitário no jornal, que existiu de verdade entre 1763 to 1924. A sede ficava na Prince Street.


[8] PUB DAVY BYRNES

Um dos pontos altos da Irlanda são os pubs. Joyce não se esqueceu disso. O pub Davy Byrnes, na 21 Duke Street, funciona até hoje. A rua é cheia de restaurantes e cafés. O lado gastronômico da cidade aparece no capítulo 8 (Lestrygonians) do livro, onde o leitor acompanha Bloom na hora do almoço e as associações que ele faz com os cheiros enquanto busca algo satisfatório para comer. Ele acaba no pub, onde pede um sanduíche de queijo acompanhado de uma taça de vinho Borgonha.

O interior do pub Davy Byrnes, que todos os anos tem uma programação especial para o Bloomsday (Divulgação)


[9] MUSEU E BIBLIOTECA NACIONAL DA IRLANDA

Após o almoço, Bloom segue para o Museu Nacional (National Museum), enquanto outro personagem, Stephen Dedalus, está na Biblioteca Nacional (National Library), tentando vender sua teoria sobre Hamlet a um grupo de estudiosos. Os dois têm um breve encontro já que as duas instituições estão localizadas no mesmo endereço. Para quem não estiver em Dublin, a Biblioteca Nacional oferece três tours virtuais.

Prédio que abriga o Museu Nacional da Irlanda, em Dublin (Reprodução)


[10] ST. MARY’S ABBEY

abadia de Santa Maria é um dos segredos mais bem guardados de Dublin. Hoje apenas duas salas seguem abertas: a Chapter House e Slype. O local aparece no capítulo 10 do livro e é descrito pelo personagem Ned Lambert como “o local mais histórico de Dublin”. Nesta parte de Ulisses, Bloom passa e registra sua visão de várias ruas de Dublin, mostrando sua interpretação da cidade e de seus moradores.


[11] THE ORMOND HOTEL

O The Ormond Quay Hotel, de apenas três estrelas, é o mais antigo de Dublin. No bar do hotel (ou The Concert Room), Joyce ambientou uma das cenas de Ulisses que aparece no capítulo 11 (Sirens). 

Ali, Bloom testemunha Blazes Boylan, empresário de sua mulher, flertando com as garçonetes sedutoras do bar, Douce e Miss Kennedy, antes de partir para conquistar a sua mulher. 

Em 2014, o prédio do hotel que está fechado desde 2006 quase foi demolido. A prefeitura mudou de ideia para evitar transtornos na região. O futuro do prédio ainda é incerto.



O prédio do The Ormond Quay Hotel, em Dublin


[12] MATERNIDADE E O BORDEL BELLA COHEN

Capítulo 14. Bloom vai parar na maternidade (National Maternity Hospital), onde encontra Stephen novamente (não vamos falar sobre a relação dos dois, o que você descobrirá lendo Ulisses). Quando o relógio bate meia-noite do dia 17 de junho, ele está no bordel Bella Cohen, localizado em uma área que na época de Joyce tinha muitas casas de “má reputação”.

[13] PONTE FERROVIÁRIA LOOPLINE

No capítulo 16, após encontrarem-se, Bloom leva Stephen para um abrigo perto da Loop Line Bridge. A ponte ferroviária atravessa o rio Liffey e várias ruas em Dublin.

A ponte ferroviária Loopline (WikiCommons)



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NOTA DO EDITOR do Blog Ronald.Arquiteto e do Facebook Ronald Almeida Silva:
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RONALD DE ALMEIDA SILVA
[Rio de Janeiro, RJ, 02jun1947; reside em São Luís, MA, desde 1976]
Arquiteto Urbanista FAU-UFRJ 1972
Registro profissional CAU-BR A.107.150-5
Blog Ronald.Arquiteto (ronalddealmeidasilva.blogspot.com)
Facebook ronaldealmeida.silva.1


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