JOSÉ DIRCEU:
O OVO DA SERPENTE NO NINHO PETISTA [03jan2003]
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Leia o discurso de posse do ministro-chefe da
Casa Civil, JOSÉ DIRCEU [03jan2003]
Fonte: Folha de São Paulo; Folha Online; 03/01/2003 - 07h00
Leia a
seguir a íntegra do discurso de posse do novo ministro-chefe da Casa Civil,
José Dirceu:
- "Um bom dia a todos. Estou muito
emocionado, vou falar de improviso. Vejo aqui, praticamente, várias fases,
vários momentos da minha vida e das nossas vidas.
- Quiseram o protocolo e o destino que eu
subisse, ontem, a rampa junto com o general JORGE ARMANDO FÉLIX, que é o responsável pelo Gabinete de
Segurança Institucional.
- E, ao subir a rampa, evidentemente que,
em primeiro lugar, subir com a minha geração. Então, a minha primeira
palavra, sem rancor, sem ressentimento, é para aqueles que viveram,
lutaram e não puderam estar conosco no dia de ontem.
- Não os esqueço, trago em meu coração, em
minha memória, a imagem de cada um e os ideais de todos. E quero dizer,
hoje, aos seus familiares, que sintam todos, aqui, nesta cerimônia.
- Quero agradecer a presença do
ex-presidente JOSÉ SARNEY,
senador da República, e o faço de maneira especial.
- Quero agradecer a presença do meu amigo,
conterrâneo, ex-presidente ITAMAR
FRANCO, ex-governador do meu Estado, prefeito, senador da República, a
quem como ao presidente SARNEY,
o Brasil deve, também, pela consolidação da nossa democracia.
- São muitos os amigos e as amigas que
estão aqui, mas quero cumprimentar o meu companheiro WELLINGTON DIAS, governador do Estado do Piauí.
- O meu presidente, amigo e companheiro JOSÉ GENOINO, do meu partido.
- O RENATO
RABELO, presidente do PC do B, e VALDEMAR
COSTA NETO, do PL.
- A nossa companheira TELMA, secretária-geral do PMN. E, na pessoa deles, a todos
que estão aqui, porque o protocolo não foi suficiente para me trazer o
nome de todos.
- Faço um agradecimento especial ao
presidente RAMEZ TEBET, do
nosso Congresso Nacional e do Senado, que me dá a honra da sua presença.
- O meu líder, JOÃO PAULO CUNHA.
- O meu amigo e companheiro,
secretário-geral do nosso partido, hoje ministro de Estado, chefe da
Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, LUIZ GUSHIKEN,
- TARSO
GENRO,
secretário especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social,
- General JORGE ARMANDO FÉLIX, que já citei, que é o ministro do Gabinete
de Segurança Institucional.
- Do ministro MAURÍCIO CORRÊA, que está aqui, também.
- Do meu companheiro e amigo JOSÉ FRITSCH, secretário especial
da Pesca. A todos o meu agradecimento pela presença.
- Assumo com essa transmissão de posse e
quero deixar registrado que aprendi a admirar e a respeitar o ministro PEDRO PARENTE, nesses dias e meses
de trabalho. Primeiro, pelo seu caráter, pelo espírito público e pela
dedicação no processo de transição. O ministro PEDRO PARENTE deu um exemplo a todos os servidores públicos
brasileiros. Eu sou grato pelo apoio que me deu e pela ajuda que nos deu
na transição.
- Todos sabem que chego por determinação,
por delegação do presidente LULA
a este posto, a este cargo, de ministro-chefe da Casa Civil, com uma marca
do PT. Sou e sempre serei um filiado ao PT.
- Devo a todos os petistas,
particularmente à nossa militância, a todos aqueles que me apoiaram,
trabalharam comigo, primeiro em São Paulo, na década de 80, quando fui
secretário de Formação Política do Diretório Regional, depois
secretário-geral do Diretório Regional, depois secretário-geral do PT e,
por fim, presidente do PT.
- A todos aqueles que me acompanharam na
direção do PT, na assessoria, na administração do PT, devo o fato de estar
aqui, hoje, ocupando este cargo. Como deputado estadual e federal também
aprendi, como no PT, o que hoje posso trazer de experiência para este
cargo.
- Como todos aqui sabem, minha vida foi
marcada pela geração de 68 e pelo movimento estudantil, pelo banimento e
pela cassação de minha nacionalidade e por minha vida em Cuba.
- Sou
eternamente grato ao povo de Cuba, particularmente ao presidente FIDEL
CASTRO, pela solidariedade e apoio que me deram e que deram a todos
aqueles que viviam momentos que, sem a solidariedade e sem o apoio, não
teriam passado.
- Minha vida foi marcada pela presença do
meu pai, que já faleceu. Infelizmente a vida política me ausentou durante
dez anos de minha família, da minha cidade natal, Passa Quatro, que fica
em Minas Gerais.
- Os paulistas insistem em dizer que é
Santa Rita do Passa Quatro, que é uma bela cidade, também, mas que fica no
meu Estado, hoje, de São Paulo.
- Sou filho de Minas Gerais e isso tem
grande e importante significado no nosso país, mas sou paulistano e sou
paranaense também. E isso é muito importante, porque aprendi a ter uma
visão nacional do nosso Brasil, vivendo nesses Estados.
- O Paraná me deu guarida, me deu um filho
que está presente, hoje, aqui, JOSÉ
CARLOS, e uma neta, já, CAMILA.
Sou grato ao povo e ao Estado do Paraná e particularmente à mãe do meu
filho, JOSÉ CARLOS, CLARA BECKER, pelo apoio e
solidariedade que me deram naqueles anos.
- Aprendi com meu pai que na vida o mais
importante são os valores éticos e os valores morais, e o mais importante
é o Brasil. Sou filho de um homem conservador, udenista, mas que amava
profundamente o Brasil.
- Naqueles anos, os brasileiros e as
brasileiras pagavam impostos em dia para construir Três Marias e Furnas,
para que a Petrobrás se consolidasse, para que o Brasil se
industrializasse.
- Meu pai trabalhou 47 anos e se aposentou
sem ter sequer uma casa própria, pagando aluguel. Porque honrado, com o
sentido firme e claro do interesse nacional e do interesse público, me
transmitiu esses valores que acredito que são essenciais para a vida numa
sociedade civilizada e democrática.
- Por isso, apesar de ter um caráter
pessoal reiterado, rendo uma homenagem à memória de meu pai, CASTORINO DE OLIVEIRA E SILVA, que
faleceu no dia 5 de outubro de 1998 e não teve a alegria de ver o
presidente LULA tomar posso no
dia de ontem.
- Portanto, venho marcado pela minha
geração de 68, por Minas Gerais, por Passa Quatro, pela minha militância
do PT e pela minha vida parlamentar.
- Tenho um compromisso com a democracia. A
minha geração aprendeu o valor da democracia, a duras penas aprendemos
como é importante para o nosso Brasil a democracia, particularmente para o
nosso povo, porque é a democracia, e essa lição nos foi definitivamente
ensinada nos dias 6 e 27 de outubro passados, é a democracia que dá a
oportunidade única para que o povo escolha o seu destino de forma
soberana.
- E temos um compromisso de aperfeiçoar,
desenvolver e radicalizar a democracia brasileira. Chegamos ao governo com
esse compromisso e, tenho certeza, nós o faremos realidade.
- Não é pouca coisa: a democracia cada vez
mais ampliada cria as condições, todos nós sabemos, para a participação
política. E participação política, de forma institucional e de forma
organizada, cria as condições para que o país possa avançar no sentido da
justiça, da igualdade social.
- Quando o nosso povo tem a oportunidade
de participar nos assuntos políticos do nosso país, ele passa a ser o ator
principal. E a história do Brasil já demonstrou que, nesses momentos, o país
consegue resolver os seus problemas históricos.
- Todos nós sabemos que assumimos o
governo do Brasil num momento difícil, do ponto de vista internacional,
com risco de uma guerra e com uma situação, na economia e nas finanças
internacionais, que agrava a situação do nosso país.
- Portanto, a nossa responsabilidade é
maior, mas, exatamente, seremos capazes de superar esse momento se houver
participação popular, se houver uma mobilização nacional.
- O presidente LULA, em seu pronunciamento, deixou claro esse compromisso:
somente com um novo contrato social, somente com um pacto social, somente
com a mobilização nacional, somente com a participação popular, o Brasil
enfrentará os seus problemas neste começo de milênio.
- Somos uma nação _e eu sempre repito, mais
do que uma nação e um povo, uma civilização nos trópicos. Temos a
obrigação e o dever de transformar a herança que recebemos de nossos pais
e dos nossos avós, esse imenso e rico país, numa nação civilizada e com
presença no mundo.
- Talvez o maior desafio do nosso governo
e dos próximos anos seja esse: que o Brasil ocupe o seu lugar no mundo.
Mas para que o Brasil ocupe o seu lugar no mundo, é preciso que o nosso
povo ocupe o seu lugar no Brasil. Isso só é possível com uma grande
transformação social, com uma verdadeira revolução social.
- Não tenho medo de dizer essa palavra:
uma verdadeira revolução social. Nós devemos isso ao nosso povo. Vejam
bem, o nosso Brasil - e o presidente LULA,
ontem, descreveu historicamente este processo - enfrentou grandes desafios
e superou a todos, mas não superou o desafio da justiça e da igualdade
social.
- A pobreza, a miséria e a fome estão aí
para nos envergonhar, como disse o presidente LULA. Eu tenho dito e quero repetir: nós fizemos uma aliança
político-eleitoral ampla, generosa, e graças a ela vencemos as eleições.
- O senador JOSÉ ALENCAR, vice-presidente da República, representa essa
aliança. Nós, um partido de esquerda socialista, e é sempre bom lembrar
isso, estendemos a mão para o empresariado brasileiro e propusemos, estamos
propondo um pacto, mas é preciso que se deixe claro que esse pacto tem
duas direções é preciso defender o interesse nacional, a produção, o
desenvolvimento do país, mas a contrapartida é a distribuição de renda, a
justiça social, a eliminação da pobreza e da miséria.
- Não pode haver uma estrada só, em uma
direção só. Não é aceitável que, novamente, o país resolva os seus
problemas financeiros, resolva os seus problemas econômicos, tenha um
crescimento, e esse crescimento não se transforme em maior participação do
trabalho na renda nacional. Porque essa participação caiu pela metade nos
últimos 20 anos.
- E, sem uma distribuição de renda, uma
revolução na educação, sem o combate à pobreza, também não haverá
crescimento econômico duradouro e sustentável.
- Todos nós sabemos que a atual
concentração de renda e as desigualdades sociais levarão o país a um
impasse social, cultural e institucional. E que não é possível viabilizar
o desenvolvimento econômico do país sem uma ampla distribuição de renda.
Porque essa concentração de renda é impeditiva do crescimento econômico.
- Essa é uma realidade que nós devemos
dizer, em alto e bom som, que é uma crença, pode-se dizer uma doutrina
nossa: nós não acreditamos que é possível desenvolver o Brasil, no atual
estado de desigualdade que existe no nosso país, de concentração de renda.
Porque ela se expressa sempre, também, na concentração do poder político,
na elitização do poder político, nas oligarquias do poder político.
- Povo educado, povo alimentado é o povo
soberano, que exerce o poder, além de delegá-lo.
- Já falei demais para um ministro-chefe
da Casa Civil, que deve manter um perfil discreto. Mas quero dizer,
particularmente, aos ministros e secretários que estão aqui, aos
parlamentares do meu partido e de todos os partidos, ao presidente do
nosso Congresso, que o presidente LULA
deu uma determinação clara e expressa, e todos aqui sabem que eu sou,
antes de mais nada, disciplinado: vamos trabalhar em equipe.
- Já quero dizer, de maneira transparente,
simples e objetiva: todos podem ter certeza absoluta de que me comportarei
com humildade, ainda que muitos não acreditem, como o PAULO DELGADO, que é a minha consciência crítica, meu amigo, e
pode tomar essa liberdade.
- E vamos trabalhar em equipe. Vou
procurar, na Casa Civil, exercer de forma humilde, discreta, essa
articulação política, governamental e a função de guardião da legalidade
e, principalmente, da nossa Constituição. E procurar assessorar, colaborar
com o nosso presidente.
- Todos sabem que chegamos ao governo, depois
de décadas e décadas de luta e 23 anos, praticamente, do nosso partido.
Eu, particularmente, depois de quase oito anos na presidência do PT.
- Mas, quero dizer a todos que nós, como o
presidente Lula, até pela postura do presidente, estamos muito otimistas,
dispostos a trabalhar mais e mais, e muito esperançosos, como nosso povo.
- Sabemos da responsabilidade que temos,
que é muito grande. Não temos o direito de fracassar. Temos o dever de
trabalhar, trabalhar e trabalhar.
- E é com essa disposição que eu, hoje,
com muita honra, tomo posse e tenho, também, o prazer de fazê-lo das mãos
do ministro PEDRO PARENTE,
quero repetir, olhando para o futuro, não para o passado. Precisamos olhar
para a frente.
- E o nosso povo quer assim. O nosso povo
nos elegeu para trabalhar e resolver os problemas do Brasil.
- E o presidente LULA já disse: não é para ficar se lamentando das
dificuldades, dos problemas, dos obstáculos. Nós estamos aqui para
resolver os problemas. Nós estamos aqui para resolver as crises. Nós
estamos aqui para fazer o país crescer, se desenvolver e fazer justiça ao
nosso povo, que nos deu esse mandato.
- Quero agradecer à minha esposa e
companheira MARIA RITA, pelo
apoio que tem me dado nesses anos todos. Minhas filhas CAMILA e JOANA não estão aqui, mas agradeço a elas, também, por terem
me suportado, na ausência, todos esses anos.
- Tenho procurado ser um bom pai, mas
reconheço que a vida política tem me afastado muito delas.
- Quero dizer ao meu presidente JOSÉ GENOINO que o PT tem, no
governo do presidente LULA, um
filiado, e você tem, aqui, um amigo e um companheiro com quem você sabe
que pode contar em todos os momentos.
- E quero dar uma mensagem especial - meu companheiro e amigo ANTONIO PALOCCI não está aqui -,
mas eu quero dizer ao país e, de maneira especial, a ele, que contará,
como já está contando, com meu apoio, para o exercício desse difícil cargo
de ministro da Fazenda.
- PALOCCI, pode
ter certeza de que você terá, no JOSÉ
DIRCEU, na Casa Civil, uma fortaleza para defender a política
econômica decidida pelo presidente LULA.
- Que o país saiba que o governo está
unido, que o presidente LULA já
deu as orientações para o início do governo e que nós vamos cumpri-las.
- Muito obrigado a todos pela presença e
vamos, como dizíamos antes, à luta, porque a nossa causa é justa e o nosso
povo merece.
MUITO OBRIGADO.
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