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AS MEMÓRIAS DO LIVRO*:
Centro Histórico de
São Luís do Maranhão, Brasil, Patrimônio Mundial, Unesco.
Ronald de Almeida Silva
Coautor do Livro CH-SLZ-MA-PM-Unesco
Arquiteto Urbanista FAU-UFRJ 1972
São Luís,
MA, 06dez2017.
Ano 20 da
Inscrição do CH-SLZ-MA na Lista dos Bens Culturais do Patrimônio Mundial da
Unesco, registrada em 06dez1997, em Nápoles, Itália.
NOTA do Autor: Este artigo foi publicado de forma resumida no Caderno Especial publicado (em 06dez2017) pelo jornal O ESTADO DO MARANHÃO em homenagem aos 20 Anos do título de Patrimônio Mundial concedido pela Unesco ao Centro Histórico de São Luís, mediante aprovação de proposta da Governadora Roseana Sarney.
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Design
gráfico do livro e capa: arq. Edson Fogaça, 1998.
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Fonte:
ARS – Arquivo Arquiteto Ronald de Almeida Silva
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- AS MEMÓRIAS DO LIVRO: Romance do Manuscrito do Hagadá de Sarajevo”, frase título que nos inspirou neste artigo, é também o título do livro homônimo (ótimo romance) da escritora australiana Geraldine Brooks, (Ed. Ediouro-RJ, 2008), que descreve a história pungente do HAGADÁ de Sarajevo, espécie de Bíblia judaica, um precioso e raríssimo manuscrito com iluminuras do Século XV que sobreviveu a centenas de anos de descaminhos, guerras e intempéries e que finalmente é recuperado e restaurado ao final do Século XX. Com inspiração desse nível, decidi-me a contar a história do nosso livro - meu, de Rafael Moreira e de Luiz Phelipe Andrès - que relata tecnicamente uma história muito recente, também de restauração de bens do patrimônio cultural da humanidade, no caso, o Centro Histórico da capital maranhense, cidade onde resido e trabalho desde nov.1976.
- O Centro Histórico de São Luís do Maranhão foi inscrito sob nº 821 na Lista dos Bens Culturais do Patrimônio Mundial da Unesco, formalidade registrada no Relatório final da XXI Sessão Plenária do Comitê do Patrimônio Mundial – CPM, no dia 06dez1997, no Palácio Real, em Nápoles, Itália.
- Esta é a data oficial do título. Celebramos hoje [06dez2017], portanto, os 20 anos desse momento relevante para a História contemporânea da cultura maranhense e brasileira, por extensão.
- Essa honraria - isto é, ser um Bem Cultural incluído na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco – é respeitada internacionalmente e pode ser considerada equivalente a um prêmio NOBEL cultural (ainda que sem premiação em dinheiro), ou a um OSCAR do Cinema, sendo o mais importante galardão na área de patrimônio histórico material e/ou natural em todo o mundo.
- A obtenção desse título foi fruto de um trabalho de muitos governos e sua gênese político – cultural começou em 1966, quando o então Gov. JOSÉ SARNEY solicitou à Unesco o envio de um especialista para avaliar e apresentar sugestões sobre as condições de preservação dos Centros Históricos de São Luís e Alcântara. A Unesco enviou o arquiteto francês MICHEL PARENT que elaborou um elenco de importantes recomendações para essa finalidade.
- Na sequência, em 1973, por demanda do IPHAN, a Unesco envia o arquiteto português VIANA DE LIMA, que também formula detalhadas proposições para a gestão patrimonial e intervenções visando a preservação dos CH de São Luís e Alcântara.
- Em 1979 assume o Gov. JOÃO CASTELO e logo toma conhecimento de uma ousada proposta de “renovação urbana do CH-SL”, de autoria do arquiteto americano radicado no Brasil, JOHN GISIGER, trabalho este apoiado pelos Secretários de Planejamento PAULO DE ASSIS MARCHESINI e depois JOÃO REBELO VIEIRA. Nesse momento, já colaborava com John o eng. LUIZ PHELIPE ANDRÈS, engajado no trabalho convergente de pesquisa dos Monumentos Históricos do MA, o que nos rendeu um imprescindível livro, sob a chancela da Fundação Rondon.
- Para discutir esse trabalho, o IPHAN, presidido pelo renomado designer ALUIZIO MAGALHÃES, em parceria com o Governo do Maranhão, promoveu em outubro 1979, em São Luís, a Iª Convenção Nacional do CH da capital maranhense, que ficou conhecida como Convenção Nacional da Praia Grande, alusiva ao microbairro mais importante dentre os 11 que integram o coração desse Centro Histórico.
- Desse evento resulta a
proposição formal de se criar uma Comissão de Coordenação Institucional e
um Grupo de Trabalho (força-tarefa) com a participação de representantes e
especialistas de órgãos dos 3 níveis de governo, da iniciativa privada,
universidades e das comunidades e entes diretamente interessados nas
questões na preservação e revitalização do Centro Histórico, como parte
viva, dinâmica, icônica, mas também problemática, desafiadora e pulsante
da capital maranhense.
- Com esse propósito, já em
16dez1979 o Gov. JOÃO CASTELO assina o Decreto nº 7.435, formalizando os
procedimentos de gestão, participação e definição de políticas públicas
para o CH-SLZ (essência do chamado Projeto Praia Grande) e em junho 1980,
nomeia o primeiro Coordenador Geral do GT - o arquiteto RONALD DE ALMEIDA
SILVA - e instala oficialmente a equipe gestora do Programa de Preservação
e Revitalização do Centro Histórico de São Luís – PPRCHSL.
- Daí pra frente foram 17 anos de
trabalho intenso – com as naturais alternâncias de ritmo e comando do GT –
em vários governos, com especiais destaques para o Projeto REVIVER
1986-1989.
- No Gov. CAFETEIRA foram
realizadas, de forma inédita, grandes intervenções de infraestrutura,
restauro e reformas, dentre as quais se destacam:
i. retirada
do posteamento elétrico e das redes aéreas; construção de abrigos para subestações
e colocação de lampiões tipo coloniais, pela CEMAR com recursos do governo
federal destacados pelo Presidente José Sarney;
ii. restauração
de edificações de todos os portes, incluindo a reabilitação do Convento das
Mercês e a Fábrica Cânhamo;
- Esse complexo trabalho de
projetos e obras teve a coordenação geral do ex-vereador José Ribamar
CORDEIRO Filho, que de fato atuou como virtual Subprefeito do Centro Histórico,
a partir do núcleo gestor do Projeto Praia Grande / PPRCHSL, onde atuávamos
eu e PHELIPE ANDRÈS desde 1980.
- Posteriormente foram realizadas,
já no início do primeiro Governo ROSEANA SARNEY, outras etapas com amplas
intervenções, tais como Casa do Maranhão, Morada dos Artistas e outras, inclusive
além-Praia Grande, (ex: Viva Madre Deus;), muitos eventos de animação
cultural, até culminar na proposta ao Comitê do Patrimônio Mundial da
Unesco.
- Para obtenção desse título
muito contruibuiram o IPHAN (SÍLVIA LEAL, Superintendente no MA e o
Presidente GLAUCO CAMPELO); o Ministro da Cultura FRANCISCO WEFFORT; a
Delegação Permanente do Brasil junto à Unesco em Paris, Embaixador
FERNANDO PEDREIRA; e até o Presidente FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, que
intercedeu pessoalmente junto ao Diretor Geral da Unesco, FEDERICO MAYOR,
espanhol amigo do Brasil e admirador da cultura brasileira.
- Para marcar essa saga e
registrar os notáveis trabalhos de arquitetura, engenharia, pesquisas
históricas etc. e vultosos investimentos feitos pelo Poder Público
estadual e federal nesse período eu e PHELIPE ANDRÈS (como fizéramos ainda
no Gov. Cafeteira, que deu origem posterior ao livro “Projeto Reviver”,
edição do Senado Federal) propusemos ao diligente Secretário da Cultura,
ELIÉZER MOREIRA Filho e por este à Gov. ROSEANA SARNEY a edição de um
livro com conteúdo técnico de alto nível, o que foi prontamente acatado.
- E melhor: a governadora propôs ao
Diretor da Unesco no Brasil, Dr. JORGE WERTHEIN, uma parceria e o livro
foi produzido e editado com a chancela institucional da entidade cultural
da ONU, fato inédito no Maranhão.
- Os recursos para editar essa
obra literária foram viabilizados através do Projeto DOCUMENTA MARANHÃO,
pelo Governo do Estado em convênio com o Ministério da Cultura – MinC e
parceria com a ABC – Agência Brasileira de Cooperação (do Ministério das
Relações Exteriores - MRE) e a Unesco.
- Prosseguindo. Logo após o
retorno de Nápoles eu e Phelipe Andrès demos início a uma intensa pesquisa
de documentos, projetos técnicos e fotos para definir o escopo do projeto
editorial do livro. Após as tratativas iniciais com o escritório de
Representação da Unesco em Brasília, foi contratada a Audichromo Editora
(São Paulo) dirigida pelo renomado fotógrafo PETER MILKO, editor da
revista Horizonte Geográfico e coordenador editorial do livro, ao qual
demos o título: CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS – MARANHÃO – BRASIL -
PATRIMÔNIO MUNDIAL.
- Trouxemos para a equipe
produtora do livro a construibuição essencial do criativo arquiteto e
designer EDSON FOGAÇA, responsável pelo projeto gráfico, capas,
diagramação e as belas ilustrações, mapas e gráficos.
- Destacamos as contribuições
iconográficas dos fotógrafos ALBANI RAMOS, CHRISTIAN KNEPPER e Peter
Milko, que retrataram em grande estilo a pródiga fotogenia de São Luís, em
especial seus telhados cromáticos de singelo barro colonial.
- Os textos do livro foram
integralmente redigidos por mim e Phelipe Andrès, a exceção do brilhante
Capítulo 1 – Breve História de São Luís, de autoria do culto e simpático
historiador luso-maranhense, o Prof. Dr. RAFAEL MOREIRA, (da Universidade
Nova de Lisboa), o qual contribuiu também como Consultor especial para o
Dossiê da Unesco.
- De minha parte, busquei
registrar também os fatos e eventos mais importantes relativos ao Centro
Histórico de São Luís, em especial os 16 Tombamentos Federais – TF feitos
pelo IPHAN (há outro TF em Paço do Lumiar e outro em Alcântara, ambos de
1940, o dois primeiros no MA). Esses registros estão detalhados nos Anexos
(p.104-111):
- Anexo I: Histórico da
Preservação e Conservação do CH-SLZ (SLZ é a sigla oficial de designação
aeronáutica internacional referente ao aeroporto de São Luís).
- Anexo II: Cronologia Histórica
(1513-1950) de autoria do Prof. MÁRIO MEIRELLES, decano e mestre dos
historiadores maranheses contemporâneos.
- Por dever de ofício, revisei e
editei a versão final da Bibliografia do livro, à p. 112.
- Fiz também, com a colaboração
de PHELIPE ANDRÈS, alentada Lista de Agradecimentos (p.113) aos
profissionais e personalidades que mais se destacaram direta e
indiretamente pela preservação da imagem, da memória e da preservação do
CH-SLZ.
- Apesar de planejada e edificada
pelo talento lusitano, mas tendo sido São Luís fundada como proto-núcleo
urbano da França Equinocial, por ato formal dos franceses em 08set1612,
decidimos por incluir 14 páginas de nossos textos com sinopses em francês,
revisados pelo profissional EDGAR HERMES PAIXÃO. Os textos em português
tiveram a revisão de INGRID BASÍLIO.
- A produção do nosso livro teve
a Coordenação Geral de LUIZ PHELIPE ANDRÈS e foi editado em 5.000 volumes
(capa dura e brochura), com esmerada impressão da Gráfica Camargo Soares
(São Paulo), sob Coordenação Editorial da Audichromo Editora.
- Como foi editado e impresso em
São Paulo, a Governadora Roseana Sarney decidiu por um lançamento prévio
do livro no MIS – Museu da Imagem e do Som de São Paulo, com bela
exposição sobre a cultura maranhense. O evento ocorreu em 24nov1988, mesmo
dia do lançamento simultâneo, no Jockey Club, do melhor livro (2 volumes)
de culinária maranhense, de autoria de Da. ZELINDA LIMA, grande
memorialista da cultura maranhense. Esses eventos foram produzidos pelo
premiado publicitário maranhense FÁBIO GOMES.
- Finalizando, quero assegurar,
convicto, que sem a firme vontade política da Gov. ROSEANA SARNEY e o
apoio objetivo e franco dos Secretários de Estado (i) da Cultura Eliézer
Moreira Filho; (ii) da Comunicação Social, ANTONIO CARLOS LIMA e (iii) do
Planejamento, JORGE MURAD, acreditamos que não teríamos a honra de ter
chegado ao sonhado título da Unesco e nem ter publicado o livro em
questão.
- Muito contribuiu para agregar
esse proativo esforço conjunto a habilidade, o talento e o empenho de LUIZ
PHELIPE ANDRÈS, mineiro de Juiz de Fora que adotou o Maranhão como segunda
“pátria” e foi pelos maranhenses muito bem adotado.
- Por último, para o bem do
mérito e do crédito intelectual, entendemos que as referências
bibliográficas e catalográficas a esse livro (esgotado há mais de 10 anos)
devem seguir a seguinte notação:
ANDRÉS,
Luiz Phelipe; MOREIRA, Rafael; SILVA, Ronald de Almeida. Centro Histórico de São Luís, Maranhão, Brasil, Patrimônio Mundial. São Paulo: Audichromo
Editora, 1998.
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Centro Histórico de São Luís, MA.
Vista aérea. 2005.
Arquitetura religiosa e civil.
Detalhes: No alto, vista da
fachada principal da Igreja Nossa
Senhora do Rosário dos Pretos, na Rua do Egito esquina com Rua de Santo
Antônio;
À
direita, vê-se o prédio da antiga
Assembleia Legislativa (prédio “moderno” com sua cobertura descaracterizante
de telhas de fibrocimento).
Ao
lado, imponente, vê-se o famoso anexo da ALEMA - o Sobrado Lord Cochrane (encimado por amplo mirante), - na esquina
da ladeira da Rua Zaque Pedro, que desemboca na Rua Parque XV de Novembro,
bem próximo ao Cais da Sagração (ou Av. Beiramar).
Foto: Albani
Ramos para ALEMA, 2005.
Produção do
levantamento fotográfico aéreo: Arq. Ronald de
Almeida Silva
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Fonte: ARS – Arquivo Arquiteto
Ronald de Almeida Silva
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Sobre o autor: Ronald de Almeida Silva, (Rio de Janeiro, RJ, 02jun1947) é Arquiteto Urbanista pela FAU-UFRJ
1972 e morou na capital fluminense durante quase 30 anos. Reside em São Luís
desde nov. 1976, para onde se mudou como chefe do escritório regional da
empresa de consultoria de engenharia SEEBLA, exercendo também a coordenação
técnica de extenso elenco de projetos de infraestrutura viária e de
transportes, contratados pela Prefeitura de São Luís. Em maio 1980, a convite
do Secretário de Planejamento do MA, João
Rebelo Vieira (acatando indicação de Luiz
Phelipe Andrès e John Gisiger)
foi nomeado pelo Governador João Castelo
como primeiro Coordenador Geral do GT
– Grupo de Trabalho de Coordenação Integrada do Projeto Praia Grande, nome popular do PPRCHSL – Programa de Preservação e Revitalização do Centro
Histórico de São Luís, estabelecido na forma do Decreto nº 7.435, de 16dez1979. No período 1984-97 participou ativamente das
tratativas e projetos das Fases do Programa PRODETUR-SLZ; do Projeto REVIVER
e foi Coordenador Técnico e Consultor “ad hoc” da Proposta de Inclusão do
Centro Histórico de São Luís na Lista dos Bens Culturais do Patrimônio Mundial
da Unesco, tendo participado de todos os eventos no Brasil, na França e na
Itália. É coorganizador e coautor do
Livro CH-SLZ-MA-PM-Unesco, o qual foi redigido, produzido (via parceria Unesco
e Gov. MA) e editado (em nov.1998) juntamente com Luiz Phelipe Andrès, sendo o 1º capítulo de autoria do eminente
Prof. Dr. Rafael Moreira, da
Universidade Nova de Lisboa.
(*) AS MEMORIAS
DO LIVRO: ROMANCE DO MANUSCRITO HAGADÁ DE SARAJEVO; de Geraldine Brooks, Vencedora do Prêmio Pulitzer Ficção 2005; (Ed. Ediouro,
2008)
SINOPSE
Da Espanha de 1480 até a enfraquecida
Sarajevo de 1996, um livro sagrado de valor incalculável é caçado por fanáticos
políticos e religiosos. O destino desse raríssimo livro está nas mãos de uma
talentosa especialista conservadora de livros – a charmosa protagonista, no
caso consultora da Unesco, Dra. Hanna, e sua recuperação resulta em um mistério
histórico arrebatador.
Quando
a Dra. Hanna é chamada a Sarajevo para examinar o HAGADÁ [HAGGADAH], um código
judaico do século XV que havia desaparecido durante a guerra da Bósnia, ela
não pode acreditar que um documento tão maravilhoso estava preservado (com
risco de morte para muitas pessoas) depois de tantas guerras e tanto
preconceito. A partir de pistas encontradas no próprio manuscrito – uma asa de
inseto, manchas de vinho e um pêlo branco – a Dra. Hanna desvenda uma série de
enigmas fascinantes e reconstrói as memórias do livro. E o resultado é um
verdadeiro épico, uma corrida contra o tempo para revelar o passado e dar
espaço à crônica da história do livro, enquanto Hanna procura a cura para uma
criança vítima da intolerância da guerra, um amor impossível, sua própria
identidade e proteção: do Hagadá e de sua própria vida.
Inspirado
na história verídica do HAGADÁ [HAGGADAH]
de Sarajevo, As Memórias do Livro é
ao mesmo tempo um romance com importantes e envolventes fatos históricos e
profunda intensidade emocional, num ambicioso e eletrizante trabalho realizado
por uma premiada e aclamada escritora.
Fonte: Livraria Travessa
https://www.travessa.com.br/as-memorias-do-livro-romance-manuscrito-de-sarajevo/artigo/5bd5f79d-9fc4-42d3-8c9e-82798b56fe5d
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