Folha SP Entrevista: ROGER AGNELLI [VALE] 08set2008
[1] 61 perguntas e respostas sobre o presente da VALE e a Visão de Futuro do CEO que conduz a maior mineradora das Américas!
[2] O caso do licenciamento ambiental do bilionário (US$ 11 bilhões) Polo Siderúrgico da VALE na Ilha de São Luís em 2004-2005 e as pressões do Presidente LULA para agilizar a liberação das licenças antes do EIA-RIMA completo.
[2] O caso do licenciamento ambiental do bilionário (US$ 11 bilhões) Polo Siderúrgico da VALE na Ilha de São Luís em 2004-2005 e as pressões do Presidente LULA para agilizar a liberação das licenças antes do EIA-RIMA completo.
----- Original Message -----
Sent: Monday, September 08, 2008 1:57 PM
Subject: [Siderurgia Amazonia] Entrevista de Roger Agnelli, da Vale - FSP -
08/08
São Paulo, segunda-feira, 08 de
setembro de 2008
São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de
2008
ENTREVISTA: ROGER AGNELLI
*SÉRGIO MALBERGIER* &
*KENNEDY ALENCAR* / ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO
Para o presidente da Vale, país
tem vantagens competitivas, mas precisa ainda investir pesadamente em educação
e infraestrutura.
Presidente
da Vale defende reforma política
Roger Agnelli: “BRASIL NUNCA ESTEVE TÃO
CONSCIENTE”
Rafael
Andrade/Folha Imagem
|
[“Meu objetivo é ter uma Vale querida, admirada, que daqui a
vários anos meus filhos possam olhar e dizer que o pai deles deixou algo
perene para o país. No exterior, vemos a Vale respeitada. O desafio não é só
gerir a maior empresa privada brasileira, mas gerir a maior empresa de mineração do mundo.”]
|
O
presidente da Vale Roger Agnelli, na sede da companhia no centro do Rio
|
O presidente da Vale do Rio Doce,
Roger Agnelli, 49 anos, cujos negócios estão intrinsecamente ligados ao governo, se
entusiasma ao falar do presidente Lula. 'Genial, genial', afirma ele, para quem
o presidente e seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, são faces de uma
mesma moeda.
Agnelli defende uma reforma política e diz que troca de celular
toda semana. Cauteloso, faz elogios aos quatro principais presidenciáveis de
2010 e recrimina Getúlio Vargas e o regime militar pela ditadura política.
Um dos mais internacionais de nossos executivos, com cadeira em
conselhos importantes como o da Bolsa de
Nova York e o do Brookings
Institution, Agnelli aconselha os empresários brasileiros a buscarem a
África. Diz não se ver como um executivo estrela, o que, segundo ele, tem mais
a ver com a cultura empresarial americana que a brasileira, mais "low profile",
que "não celebra o sucesso".
Aos acionistas preocupados com a queda das ações da Vale neste
ano, diz que os fundamentos da mineradora no longo prazo são muito positivos.
Agnelli também é contra mudanças na legislação sobre a exploração mineral em estudo
pelo governo, argumentando que o Brasil já taxa mais o setor do que outros
países.
Agnelli conta ainda como é sua rotina à frente da maior empresa
privada do país. Quando está no Rio, cidade que o paulistano palmeirense diz adorar, a primeira
coisa que faz no dia é uma hora de fisioterapia para a coluna. Nos fins de
semana que pode, vai para Angra dos Reis passear de barco pelo "lugar mais
bonito do mundo".
No comando
da mineradora Vale do Rio Doce, maior empresa privada do país, Roger Agnelli, 49, não poupa elogios ao
presidente LULA: "Genial,
genial. É a síntese de tudo. Impossível não gostar dele". Para um
dos principais executivos do país, o Brasil nunca esteve tão apreciado no
exterior e tão consciente de seus problemas e potencial. Mas ele reclama das
dores do crescimento, como energia escassa e cara. Por isso, quer participar de
um consórcio para disputar a construção da hidrelétrica
de Belo Monte (PA), que será a segunda maior do país, depois de
Itaipu.
Leia a seguir trechos da entrevista realizada na sede de Vale, no
Rio de Janeiro, continuação da publicada na edição da Folha de S.Paulo (só para assinantes)
desta segunda-feira [08/09/2008].
Nota do editor [RAS]: A (i) numeração das perguntas, bem como a citação abaixo da foto; (ii)
os destaques em negrito e entre [colchetes] e (iii) os algarismos
romanos entre (parênteses) não constam do original da
FSP e foram acrescidas tão-somente com o objetivo de destacar pontos considerados
mais relevantes.
1) FOLHA - Como o sr. vê o Brasil
daqui a 20 anos?
ROGER
AGNELLI *- O Brasil nunca esteve tão consciente dos seus problemas, da sua
realidade e do seu potencial como hoje. A educação é a prioridade número 1 do
país. O Brasil é muito sensível às questões sensíveis nos países desenvolvidos:
a social e a ambiental. Estamos à frente de outros que têm o mesmo estágio de
desenvolvimento ao priorizar essas questões. Se fizermos a lição de casa,
investirmos pesado em educação e em infra-estrutura, vejo um país com um futuro
brilhante. Já estamos num ciclo positivo de desenvolvimento. Viajo mundo afora
e vejo que a sociedade brasileira está muito madura para dar um grande salto de
qualidade. Há hoje consciência econômica de que inflação é ruim. Há preocupação
em resolver a questão da segurança, que se trata também com educação e com
crescimento. A inclusão social é importante ao desenvolvimento. Estamos
entrando no capitalismo numa nova fase, a das grandes empresas dispostas a
obedecer às regras internacionais. Para competir internacionalmente, essas
empresas têm de se enquadrar dentro de padrões de gestão, de transparência, de
ética. Ao mesmo tempo, grandes empresas familiares têm o seu controle acionário
pulverizado. Empresas nesse estágio se diferenciam das estritamente familiares.
2) FOLHA - E os problemas? O sr.
mesmo já reclamou da insegurança energética, licenças ambientais que demoram,
falta de mão-de-obra.
AGNELLI *-
Dez anos atrás a Vale foi uma das primeiras empresas do Brasil a se jogar para
o mercado internacional, a acelerar o seu crescimento. O crescimento alerta
para carências. Uma empresa só cresce com pessoas, se houver uma criação
constante de talentos. Uma empresa de mineração sem infra-estrutura -energia,
porto, estrada- não vai a lugar nenhum. Eram problemas que não vinham à tona
porque o país não estava crescendo. Vivo no dia-a-dia, na dianteira, problemas
e carências porque a empresa cresce fortemente.
3) FOLHA - O presidente costuma
dizer que a Vale devolve pouco ao Brasil na comparação com o que extrai, que
tem de investir mais no país.
AGNELLI - O
presidente tem uma posição privilegiada. E pode sem dúvida cobrar que a
iniciativa privada faça mais. Se ele tem uma cabeça desenvolvimentista, ela
cobra mais. Isso é extraordinariamente positivo, desafiador. Por outro lado,
nunca se negou a resolver nenhum problema e a abrir portas para que a Vale
possa crescer cada vez mais no país e no mundo. O Itamaraty e o presidente têm
nos ajudado, nas relações internacionais, a enxergar oportunidades. Começamos a
trabalhar em Moçambique a partir de uma viagem do presidente. Lá, ele disse:
"Moçambique tem carvão. Vocês não têm interesse em carvão?". Ele
cobra, mas ajuda. No Peru, ele nos ajudou com o [então] presidente [Alejandro]
Toledo.
4) FOLHA - A produção de ALUMÍNIO
no Brasil hoje é inviável?
AGNELLI - Na
cadeia de alumínio, temos uma reserva de bauxita gigantesca, é uma das melhores
e maiores reservas do mundo. E a Vale detém boa parte dessas reservas. O preço de venda da BAUXITA é US$ 30.
Quando vai para ALUMINA, que é a fase seguinte da produção de alumínio, você
vende por US$ 500. Quando vai para o ALUMÍNIO, US$ 3.000. Aí tem um
problema. Há uma questão de "timing" do crescimento do país, que
precisa de mais energia. Tem de ter energia para tocar um projeto na área de
alumínio. Hoje não dá, porque não tem energia suficiente. Esses problemas
surgem quando o país e a empresa estão crescendo. Nos últimos cinco anos,
inauguramos oito hidrelétricas. Estamos querendo construir uma térmica. Estamos
construindo uma nova hidrelétrica, no Maranhão. Temos interesse em Belo Monte. Isso
dependerá de o governo colocá-la em licitação.
5) FOLHA - O sr. vê risco de
faltar ENERGIA no médio prazo, até 2012, 2013?
AGNELLI -
Temos de analisar energia em duas vertentes. A vertente da oferta está justa.
Não vejo risco de faltar. Mas tem uma outra vertente que é o custo de energia,
que está alto no Brasil. Não se resolve isso no curtíssimo prazo.
6) FOLHA - O negócio com a
Xstrata não deu certo. A Vale fez uma captação de US$ 12 bilhões, e o sr. disse
que a prioridade seria fazer pequenas aquisições.
AGNELLI - As
prioridades mudam. A prioridade da Vale é crescer organizadamente. Não há
nenhuma empresa de mineração no mundo com o potencial de crescimento que tem a
Vale. Nenhuma empresa tem uma base de ativos e uma área de exploração tão
fortes.
7) FOLHA - Analistas dizem que a
Vale precisa diversificar, não ficar tão centrada no minério de ferro e no
NÍQUEL. Dizem que COBRE seria a terceira perna. É por aí?
AGNELLI - O
potencial de crescimento em cobre,
de crescimento orgânico, é muito forte. O potencial em carvão, também
crescimento orgânico, é muito forte na África, na Austrália, mesmo aqui na
América Latina, no caso da Colômbia, onde a gente está fazendo pesquisas.
Estamos furando para achar carvão e fazer a avaliação desses depósitos. No caso
de minério de ferro, a Vale tem a
posição de liderança forte e consolidada, com as maiores e melhores reservas de
minério. No caso do níquel, temos as
maiores e melhores reservas e somos os maiores produtores de níquel do planeta.
Temos potencial de crescimento forte no alumínio, no qual temos uma base muito
grande de bauxita. No alumínio em
si, a restrição é a energia. No caso do cobre,
as reservas no Brasil são relativamente limitadas. Outros países da América do
Sul têm reservas com potencial, como o Chile, onde estamos abrindo uma nova
mina. Tem a ÁFRICA, que é um mundo a ser
explorado, a ser descoberto. E a gente está posicionado na África, buscando
novos depósitos. Uma aquisição, só se for uma oportunidade.
8) FOLHA - O sr. concorda com a
necessidade de diversificação?
AGNELLI -
Tem um pouco de moda nisso. Em alguns momentos, quando o mercado está muito
bom, todo mundo quer diversificar porque está com dinheiro no caixa. Quando o
mercado está ruim, todo mundo quer ficar concentrado, focado, o chamado
"core business". A gente tem de buscar algum equilíbrio. A Vale é uma
mineradora. Vamos crescer em cobre, em carvão. Se aparecer oportunidades, vamos analisar.
O que a gente tem de ter é juízo. Os ativos hoje têm em seus preços uma
expectativa de um ciclo longo de commodities. Acreditamos que essa ainda é uma
tendência. Os mercados continuam ainda muito fortes. O mundo precisa cada vez
mais de recursos naturais. A conta que tem de ser é: qual é a forma com a qual
você cria mais valor para o seu organismo? Na nossa conta, através do
crescimento orgânico. O crescimento orgânico da Vale vai gerar muito mais
retorno do que uma aquisição a preços de hoje dos ativos. O mundo está
passando, num horizonte de curto prazo, por uma crise financeira. Hoje, se
alavancar, captar recursos no mercado, ficou mais caro. E estão mais escassos.
Isso penaliza o retorno para o acionista. É uma fase com muito mais disciplina
e cautela. Não é crescer por crescer. É crescer com qualidade. Ativos mineiros
são a base da indústria. Você só é uma grande mineradora se você tiver grandes
ativos.
9) FOLHA - As AÇÕES da Vale podem
fechar em queda neste ano após anos de fortes altas. O que dizer aos
acionistas?
AGNELLI - No mercado de ações, tem de ter visão de
longo prazo. No longo prazo, não tenho dúvida. No curto prazo, sobe,
cai. Ninguém vai acertar na loteria. Comprar ações como quem vai jogar na
loteria está errado. Tem de olhar os fundamentos da empresa. Os da Vale são
muito sólidos. Hoje, há uma crise no mercado financeiro, que está se ajustando.
Hoje, o risco é maior do que era há dez meses. Isso não significa que daqui a
dez meses vá estar maior. Pode ser que esteja menor do que hoje.
10) FOLHA - E as commodities?
AGNELLI* -
*O ciclo das commodities será longo. Vários países estão crescendo, vão
continuar crescendo e têm de investir pesadamente em infra-estrutura. Esses
investimentos exigem muito minério de ferro, cobre, alumínio, níquel, requerem
tudo. No caso de grandes descobertas de petróleo em alto-mar, o uso do níquel é
necessário porque é um metal não-corrosivo. Muitas plataformas estão sendo
construídas, muitos prédios estão sendo construídos. Nunca o mundo passou por
um momento como este.
11) FOLHA - O sr. está parecendo
o Lula, com essa história de nunca antes...
AGNELLI -
[Rindo] Estou fazendo um plágio, mas é verdade. O número de pessoas que estavam
fora e que estão entrando é brutal. O mundo sempre esteve dividido entre países
desenvolvidos e países em
desenvolvimento. A demanda sempre esteve nos desenvolvidos,
no Ocidente. Só que o Ocidente hoje está com população madura e tem um
crescimento modesto. Olhe os Estados Unidos, a Europa. Onde está o dinheiro do
mundo hoje? Está na Ásia. O caixa do mundo está na Ásia. Onde está o maior
mercado consumidor mundial? Está na Ásia. E onde os mercados mais crescem? Na
Ásia. Onde está a base de tecnologia hoje? Está espalhada, mas eu diria que
Ásia tem uma grande concentração. Onde estão sendo construídas novas economias?
Na Ásia. A China é um exemplo, a Índia pode ser um outro exemplo, o
Oriente Médio, o Vietnã, a Indonésia. O crescimento desses países
tem sido forte. O investimento em infra-estrutura deles tem feito com que
consumam mais da metade das commodities do mundo inteiro. E o Brasil
precisará de uma barbaridade de aço, de
cobre, de aço inox.
12) FOLHA - A Vale enviou ao
ministro Tarso Genro (Justiça) uma carta com restrições à indicação de Arthur
Badin para presidir o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Por
quê?
AGNELLI -
Primeiro ponto. Se tem governo, tem de procurar apoiar. Se tem autoridade, tem
de respeitar. Antes da indicação de quem quer que seja para presidir o Cade, o
nosso julgamento é que o Cade é uma instituição de extrema relevância, de
extrema importância para o país. O mundo tem passado por um processo muito
rápido de concentração empresarial, o que precisa ser analisado com muita
profundidade. O nível das pessoas no Cade tem de ser um nível muito elevado.
Tem de ter quilômetros rodados. O Cade não é simplesmente uma questão de
decidir o que fazer e o que não fazer. Ele julga. Uma pessoa para julgar tem de
ter muitos quilômetros rodados. Nós nos manifestamos de forma muito aberta,
antes de qualquer indicação. Não é nada contra a pessoa. Pelo contrário. É um
ótimo profissional, mas a gente entende que para julgar é preciso mais base,
mais experiência. Se ele for eleito presidente do Cade, vamos respeitar,
apoiar.
PARTE 2:
Presidente da Vale defende REFORMA POLÍTICA
O presidente
da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, 49, cujos negócios estão intrinsecamente
ligados ao governo, se entusiasma ao falar do presidente Lula. 'Genial,
genial', afirma ele, para quem o presidente e seu antecessor, Fernando Henrique
Cardoso, são faces de uma mesma moeda. Agnelli defende uma reforma política e diz que troca de celular toda semana.
Cauteloso, faz elogios aos quatro principais presidenciáveis de 2010 e
recrimina Getúlio Vargas e o regime militar pela ditadura política.
Um dos mais
internacionais de nossos executivos, com cadeira em conselhos importantes como
o da Bolsa de Nova York e o do Brookings Institution, Agnelli
aconselha os empresários brasileiros a buscarem a África. Diz não se ver como
um executivo estrela, o que, segundo ele, tem mais a ver com a cultura
empresarial americana que a brasileira, mais "low profile", que
"não celebra o sucesso".
Aos
acionistas preocupados com a queda das ações da Vale neste ano, diz que os
fundamentos da mineradora no longo prazo são muito positivos. Agnelli também é
contra mudanças na legislação sobre a exploração mineral em estudo pelo
governo, argumentando que o Brasil já taxa mais o setor do que outros países.
Agnelli conta ainda como é sua rotina à frente da maior empresa privada do
país. Quando está no Rio, cidade que o paulistano palmeirense diz adorar, a
primeira coisa que faz no dia é uma hora de fisioterapia para a coluna. Nos
fins de semana que pode, vai para Angra
dos Reis passear de barco pelo "lugar mais bonito do mundo".
Leia a seguir trechos da
entrevista realizada na sede de Vale, no Rio de Janeiro, continuação da
publicada na edição da Folha de S.Paulo
<http://www1.folha.com.br/fsp/dinheiro/fi0809200818.htm> (só para
assinantes) desta segunda-feira.
13) FOLHA - O Brasil vive um
forte avanço econômico. A classe política está à altura dos desafios?
AGNELLI -
Este é o Brasil. Está representado o que é o Brasil. Se você for ao Congresso,
lá está o Brasil. Todos nós temos a evoluir. Há regiões que talvez não estejam
tão evoluídas quanto outras. Com toda a tranqüilidade, já conversei isso com o
próprio presidente. A democracia brasileira está num estágio em que precisa de
uma reforma política. A gente não pode só criticar, tem de olhar também as
melhorias que nós tivemos nos últimos anos. A democracia hoje é forte,
profunda. A sociedade tem cobrado mais dos políticos.
14) FOLHA - Quais pontos teriam
essa reforma política?
AGNELLI -
Ter partidos fortes. Fortalecer os partidos políticos. A fidelidade partidária
é outra aspecto importante. O financiamento público de campanha é outro passo.
15) FOLHA - O sr. defende apenas
financiamento público ou um sistema misto?
AGNELLI* -
Pode ser misto, mas uma coisa é certa: tem de ter maior transparência. É
preciso ter uma aceitação muito claro do que é o financiamento.
16) FOLHA - Um aliança PT-PSDB
faria bem ao país?
AGNELLI -
Sim.
17) FOLHA - Ela é viável?
AGNELLI* -
Se ela faz sentido, talvez em algum momento possa se tornar viável.
18) FOLHA - No /PT/, dizem que o
sr. poderia ser um excelente vice para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil)
disputar a Presidência em 2010, algo parecido como o José Alencar e o Lula.
AGNELLI -
[Risos] Não sou político. Sou executivo. Descarto, descarto.
19) FOLHA - O sr. tem medo de
grampo?
AGNELLI - O
respeito à individualidade, à vida privada, é fundamental. Eu não tenho medo,
mas troco de celular toda semana [risos].
20) FOLHA - DE zero a dez, quanto
dá a Getúlio Vargas?
AGNELLI* -
Não gosto de ditadura. Pode ter feito o que tenha feito. Não daria mais de
cinco.
21) FOLHA - JK.
AGNELLI* -
Gosto de desenvolvimento. Daria bem mais de cinco.
22) FOLHA - Ditadura militar.
AGNELLI* -
Não daria mais de cinco, por causa da ditadura, mas trouxe coisa positiva, como
investimentos em
infra-estrutura. Mas foi ditadura.
23) FOLHA - SARNEY.
AGNELLI* - Pegou uma época complicada, né? Prefiro não dar nota.
24) FOLHA - Collor.
AGNELLI* -
[Rindo] Muito curto para dar nota.
25) FOLHA - Itamar Franco.
AGNELLI* -
Também prefiro não dar.
26) FOLHA - FHC.
AGNELLI* -
Bem mais de cinco. Consolidou muita coisa no país. O início da preocupação pelo
social. A estabilização da economia, que exigiu medidas corajosas.
27) FOLHA - Lula.
AGNELLI -
Olha... da forma como o país está indo, pelo crescimento do país, pelas
questões sociais, pela liderança dele, eu daria perto de dez. [Rindo] E pela
sorte também. É genial, genial. Ele é a síntese de tudo. Partir de onde ele
partiu e onde ele está. É um exemplo em todos os sentidos. A intuição política é
extraordinária. Impossível não gostar dele, impossível não gostar dele,
impossível não gostar dele. Muito otimista, é otimista até com o Curingão dele.
É carismático. Ando o mundo inteiro, e todos elogiam o presidente, me dá muito
orgulho ser brasileiro.
28) FOLHA - Dilma Rousseff.
AGNELLI* -
Determinada, eficiente, sabe o que quer. Briga bastante por aquilo que quer.
Tem sido o esteio do governo Lula, um pilar de sustentação muito importante.
29) FOLHA - José Serra.
AGNELLI* - É
uma coisa interessante. Primeiro, é palmeirense, o que é uma virtude enorme.
Outro lado que as pessoas não conhecem muito é que ele tem muito daquela figura
do italiano, o italiano emocional, sentimental. Tem muito da solidariedade. É
um gestor duro. Cobra muito. Muitas vezes interpretado como centralizador.
Normalmente, quem cobra muito é centralizador. É um homem determinado, um bom
governante.
30) FOLHA - Ciro Gomes.
AGNELLI* -
Figura política importante para o país. Tem liderança. Tem algumas visões, às
vezes, controversas. Um bom amigo.
31) FOLHA - Aécio Neves.
AGNELLI* - Carismático,
um ótimo gestor, muito intuitivo, determinado, um gênio político.
32) FOLHA - Que conselho daria
aos outros empresários brasileiros?
AGNELLI - Investir na ÁFRICA, que é uma nova
fronteira. O futuro está na
África. Os empresários chineses e indianos estão investindo brutalmente lá. O empresário
brasileiro tem de olhar para a África. Tem muitas similaridades com o Brasil,
inclusive com laços afetivos. Há muitos recursos naturais, muita coisa a ser
descoberta Está no meio do caminho entre a Ásia e os maiores mercados do
Ocidente. É um lugar lindo. Há países avançando institucional e economicamente,
com bons arcabouços regulatórios. A
África está andando para frente. A Vale está firme lá.
33) FOLHA - O governo vem falando
que é preciso aumentar a tributação do setor mineral porque a rentabilidade é
alta. O que o sr. acha?
AGNELLI - É
como a máxima do futebol. Em time
que está ganhando, não se mexe. O que o governo deve cobrar desses setores são
os investimentos para continuar crescendo de forma auto-sustentável. A Vale tem
priorizado o seu crescimento investindo, muito aqui no Brasil. Investimentos em
mineração exigem um capital intensivo e de longo prazo, o que faz importante a
estabilidade das regras. O nível de tributos aqui é dos maiores da indústria da
mineração no mundo. Há outra vertente que defende igualar os tributos da
mineração aos do petróleo. São duas indústrias completamente diferentes. Uma
plataforma em alta explora um campo de petróleo que, normalmente, tem uma vida
útil muito curta comparada a uma mineração. A plataforma usada pode ser tirada
dali e levada para outro lugar. No caso da mineração, faz um investimento fixo
que não se tira ao final da mineração.
34) FOLHA - Há a possibilidade de
a ação da Vale fechar o ano em queda, após sete anos de altas muito fortes. O
que o sr. diria aos acionistas?
AGNELLI* -
Ele está investindo na melhor empresa de mineração do mundo, com os melhores
ativos. Os fundamentos da indústria não se alteraram. Os preços das commodities
flutuam. De janeiro a junho, os preços das commodities subiram. Todo mundo
nadou em dinheiro. Aí
vem o ajuste. Isso é normal. Uma empresa como a Vale não pode olhar o curto
prazo. Tem de olhar o longo prazo. A saúde financeira da empresa nunca esteve
tão boa. O volume de produção nunca esteve tão bem como está. A demanda
continua muito forte. A empresa nunca teve o tamanho que tem hoje, e vai
continuar crescendo. Inauguramos neste ano oito novos grandes projetos na
companhia. Em 2010, também. Quem está investindo na Vale deve ter
tranquilidade.
35) FOLHA - O negócio com a
Xstrata não se realizou por quê? Houve veto ou pressão do Palácio do Planalto,
preocupado com a mudança do centro de decisão da Vale do Brasil para o exterior?
AGNELLI* -
Não houve [pressão ou veto]. O que posso dizer é o seguinte: era uma negociação
absolutamente privada e fechada. Pouquíssimas pessoas tiveram acesso à
estratégia da Vale na negociação. Muitas pessoas emitiram opiniões sem saber do
que se tratava. É normal isso acontecer. Da parte do presidente, as
preocupações aconteceram. Mas jamais houve por parte da Vale, da diretoria, dos
acionistas, a falta de *visão de que a Vale é uma empresa brasileira e vai
continuar sendo uma empresa brasileira.
36) FOLHA - Depois daquele jantar
do sr. com o Lula aqui no Rio, o governo ficou mais calmo em relação à
negociação com a Xstrata.
AGNELLI* - A
relação com o presidente é ótima. Eu o admiro como presidente e como pessoa.
Além de tudo, tem sorte, o que é fundamental. Na conversa, nós não entramos em
detalhes da negociação, mesmo porque não cabia. O presidente nunca colocou uma
posição contrária. Algumas desinformações sobre o episódio Xstrata nasceram
dentro do mercado de capitais. Com a velocidade da informação hoje, houve
efeitos internacionais. Houve desinformações e fofocas que a gente, pela
obrigação do sigilo, não podia esclarecer. Da parte do governo, naquilo que é
pertinente e necessário, nunca faltou apoio à Vale.
37) FOLHA - O sr. fez críticas ao
plano do governo de mudar a Lei de Petróleo? O que acha de a União querer
arrecadar mais com uma descoberta da magnitude do petróleo do pré-sal?
AGNELLI* -
Não critiquei. Disse que havia espaço no atual arcabouço regulatório para
atender aos interesses legítimos da sociedade e do próprio governo em ter mais
recursos para investir em
educação. Deus queira que a descoberta do pré-sal faça dar
tudo certo, porque a dimensão fará do Brasil outro país. Não há necessidade de
rasgar contratos.
38) FOLHA - O governo diz que
respeitará os contratos, mas estabelecerá novas regras para os contratos
futuros.
AGNELLI* -
Sem problema.
39) FOLHA - Concorda com a
criação da petro-sal, uma estatal não-operacional para administrar as reservas
do pré-sal ainda não leiloadas?
AGNELLI* -
Temos a Petrobras, que é extremamente eficiente. Para desenvolver o pré-sal,
vai requerer muito dinheiro. Temos esse dinheiro? Não serão necessária parcerias público-privadas?
40) FOLHA - E uma nova estatal?
AGNELLI* -
Não sei se é uma estatal ou se é fundo. Na Noruega, é um fundo administrado por
agentes privados.
41) FOLHA - Tem a Petoro, que é
um escritório na prática.
AGNELLI* -
Tem, mas quem administra os recursos são bancos que cuidam do fundo. O fato é
que já começou uma discussão acalorada. As informações que tenho são de que vai
requerer muito investimento, mas ninguém tem os dados exatos de quanto será
necessários. Só se sabe que serão investimentos vultuosos pelo tamanho e a
complexidade de explorar petróleo a 7 mil metros de profundidade. O governo não
precisa investir. Faz e estabelece o arcabouço. E dentro do atual arcabouço
existe espaço para acelerar a implantação dos projetos, buscando recursos lá
fora. Ninguém precisa se preocupar, porque o petróleo está aqui. Ninguém vai pôr
na mala e levá-lo embora.
42) FOLHA - É um prioridade
enfrentar o aquecimento global?
AGNELLI* - A
gente vive numa bolinha. Tudo o que se passa nela merece preocupação. O mundo
está consciente desse problema, e o Brasil está na linha de frente. O planeta
está super-habitado, o crescimento das economias acontece num ritmo forte, o
nível de interferência no meio ambiente é forte. é preciso se desenvolver com
responsabilidade. Os recursos naturais são escassos. O equilíbrio do planeta é
delicado. No entanto, o ser humano é criativo. Supera desafios. Sou otimista em
relação à resposta que será dada. A resposta.
43) FOLHA - O sr. é um paulistano
e palmeirense que diz que virou carioca. O que é isso?
AGNELLI* -
Sou apaixonado pelo Rio. Quando se chega aqui, você quer ajudar que o Rio
melhore a cada dia. O Rio é lindo. Tem uma paisagem fantástica. Morar no Rio é
um privilégio. Ser carioca é um estado de espírito mais leve, mais alegre. É
ter um relacionamento mais intenso pelo lado humano. Nasci em São Paulo , sou cidadão
fluminense e cidadão carioca. Brinco com meus amigos paulistas, dizendo que sou
carioca. Eles ficam bravo. Agora, de time não mudo, não. Meu time é o PALMEIRAS.
44) FOLHA - Tem medo de morar no
Rio? Sente diferença na segurança pública em relação a São Paulo?
AGNELLI* -
Com toda a franqueza, acho que a gente se sente mais seguro no Rio do que em São Paulo. No Rio,
há os lugares que você sabe que não deve ir. Em São Paulo , como a cidade
é muito maior, aberta, não tem as montanhas, não há locais de insegurança tão
identificados como no Rio, há uma sensação maior de segurança no Rio. O
problema de segurança não é só do Rio ou de São Paulo. É do Brasil inteiro. Há
problemas de tráfico de drogas em pequenas cidades.
45) FOLHA - Qual a receita para melhorar
o Rio?
AGNELLI* -
Já está melhorando. De novo, é uma receita para o Brasil. Investir mais em educação. O Rio
tem uma vocação turística, que deve ser sempre ressaltada e priorizada. O
petróleo é outra realidade. O Rio tem todas as condições de ser muito mais do
que é em todos os sentidos.
46) FOLHA - É mais difícil ser diretor do BRADESCO ou presidente da
Vale?
AGNELLI* - Com paixão e dedicação pelo que se faz,
a dificuldade é a mesma. Trabalhei 22
anos no Bradesco, com um ritmo de trabalho intenso, como é aqui na Vale.
Minha esposa diz que, se eu for para outro lugar, o ritmo de trabalho vai ser
intenso do mesmo jeito.
47) FOLHA - Quantas horas o sr.
trabalha por dia?
AGNELLI* -
Bastante, o necessário. Se tiver de trabalhar 15 horas, trabalho. Se tiver de
trabalhar, 20 horas, trabalho.
48) FOLHA - Como é o dia do
Agnelli?
AGNELLI* -
Quando estou no Brasil, levanto e faça fisioterapia das 6h30 até as 7h30. Tomo
banho, café e venho para a empresa. Chego entre 8h30 e 9h. Almoço na Vale.
Procuro não jantar fora de casa. Se estou no Brasil, procuro sempre dormir em
casa.
49) FOLHA - Fisioterapia para
quê?
AGNELLI* -
Coluna. Tô ficando velho e tenho de cuidar da minha coluna.
50) FOLHA - O sr. dorme quantas
horas por noite?
AGNELLI* -
Cinco, seis horas.
51) FOLHA - É suficiente?
AGNELLI* -
Se eu passar o final de semana em Angra [dos Reis, litoral do Rio], é
suficiente. Se estou no Brasil, vou passar o final de semana lá. É o lugar mais
lindo do mundo.
52) FOLHA - Quantos dias por ano
o sr. passa fora do Brasil?*
*AGNELLI* - Tenho voado em média entre 900 e 1.000 horas por ano. Faça a conta.
*AGNELLI* - Tenho voado em média entre 900 e 1.000 horas por ano. Faça a conta.
53) FOLHA - Jato da Embraer?
AGNELLI* -
[Rindo] Um da Embraer e outro canadense.
54) FOLHA - Tem um hobby?
AGNELLI* -
Passear de barco nas ilhas todas de Angra.
55) FOLHA - O sr. é religioso?
AGNELLI* -
Ah, tenho minha Nossa Senhora por tudo quanto é lado.
56) FOLHA - Que tipo de filme
prefere?
AGNELLI* -
Gosto de filme leve, de documentário. Adorei um seriado que passou na Globo,
sobre a Revolução de 32, aquela Semana de Arte Moderna. Que delícia, que coisa
linda de ver. Passei um final de semana vendo.
57) FOLHA - Vê TV?
AGNELLI* -
Não muito.
58) FOLHA - É viciado em notícia?
AGNELLI* -
Já fui aquele fanático, quando era do mercado
financeiro. Ficava ligado no terminal de computador, lia tudo quanto é
jornal, o diabo a quatro, ficava ligado. Hoje, tô mais light, tô focado.
59) FOLHA - Essa vida na Vale é
boa, hein?
AGNELLI* -
[Rindo] Boa, né? Recebo meu clipping diário. De alguma forma, participo mais da
notícia do que leio.
60) FOLHA - O sr. comanda a maior
empresa privada do Brasil. Teremos no país a cultura dos executivos
estrelas, como nos EUA?
AGNELLI* -
Não me vejo como estrela, mas como trabalhador. Tenho vontade de fazer as
coisas e deixar as coisas para o país. A cultura brasileira não é uma cultura
que celebra sucesso. É uma cultura um pouco mais "low profile".
61) FOLHA - Qual será o seu
próximo desafio profissional já que não vai entrar na política?
AGNELLI* -
Meu objetivo é ter uma Vale querida,
admirada, que daqui a vários anos meus filhos possam olhar e dizer que o
pai deles deixou algo perene para o país. No exterior, vemos a Vale respeitada.
O desafio não é só gerir a maior empresa privada brasileira, mas gerir a
maior empresa de mineração do mundo.
[FIM DA
ENTREVISTA]
AIDE-MÉMOIRE: 28mar2005:
REUNIÃO DO GOVERNADOR DO MARANHÃO
E DO PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO MARANHÃO COM A DIRETORIA DA CVRD E
SEU PRESIDENTE ROGER AGNELLI VISANDO A DIRIMIR IMPASSES RELATIVOS A IMPLANTAÇÃO
DO POLO COM 5 USINAS SIDERÚRGICAS NO VALOR DE US$ 11 BILHÕES NA ILHA DE SÃO LUÍS.
São
Luís, Patrimônio Mundial, Maranhão, 14 setembro 2008; domingo.
Caros
colegas da AEP & CLM da Assembleia Legislativa do Maranhão;
Caros amigos
do PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO / FIEMA;
Caro Secretário de Planejamento da Prefeitura de São Luís.
Recebi as
duas partes da longa entrevista com ROGER
AGNELLI, ex-Diretor e funcionário de carreira do Bradesco e atual CEO e Presidente da VALE [ex-CVRD] que o jornal Folha
de São Paulo publicou na edição de 08/09/2008.
Aproveitei
para editar esse texto em forma de “nota
técnica” e o estou enviando em anexo à presente mensagem, pois se trata do PENSAMENTO [formado no mercado
financeiro] do presidente da maior
empresa privada do Brasil e da segunda maior mineradora do mundo. Portanto,
recomendo a leitura crítica e completa do texto, pois Roger Agnelli, apesar de muito jovem [49 anos], é hoje o PRINCIPAL CONSELHEIRO (da
iniciativa privada) junto ao Presidente LULA.
Exemplo: Na reunião que o Governador José Reinaldo e o Presidente da ALEMA,
Dep. João Evangelista mantiveram com
o Roger Angelli em
28/03/2005, [na qual estive presente] na sede da então CVRD no Rio de Janeiro, o Presidente da VALE saiu mais cedo do
almoço dizendo que recebera um telefonema do Presidente LULA e que iria (no
jato particular da empresa)
imediatamente para Brasília.
A nossa
reunião tinha sido agendada com muita antecedência para tentar dirimir dúvidas
e os crescentes impasses quanto à instalação do Pólo Siderúrgico na Ilha de São Luís, o que não deu em nada até a
presente data.
Antes de sua saída inopinada, Roger
Agnelli, CEO da então CVRD, hoje VALE (desde 29nov2007) afirmou ao Governador
José Reinaldo e ao Presidente da Assembleia, Dep. João Evangelista, que não
sabia que a CVRD ainda não havia entregue o EIA-RIMA completo essencial ao Licenciamento
Ambiental e à obtenção das Licenças e Alvarás municipais do mega empreendimento
de 5 usinas siderúrgicas na Ilha de São Luís, no valor de US$ 11 bilhões.
Esse é o valor do empreendimento
levado pelo Diretor da VALE, Dalton Nosé, ao BNDES com pedido e financiamento e
incentivos à VALE e eventuais parceiros.
É inimaginável que o CEO da maior
mineradora das Américas não soubesse que o seu maior projeto ainda não estava
em condições de ter seu licenciamento ambiental examinado por falta de
EIA-RIMA.
Mesmo assim, o Governo do Maranhão havia sido pressionado pelo
Governo Federal para agilizar a liberação do empreendimento bilionário, pois Roger Agnelli se queixara
ao Presidente Lula pela "demora do licenciamento sem informar o Presidente da República
que o documento sine qua non para a liberação das licenças sequer havia sido
entregue ao governo estadual.
Portanto,
consideramos que a Folha SP foi muito simpática, muito branda com o Sr. Roger Agnelli
e deixou de fazer algumas perguntas que considero cruciais e que seriam
bastantes elucidativas para o leitor brasileiro e para os maranhenses em particular. Vejam
abaixo as 10 perguntas que compõem o primeiro “Decálogo que não quer calar”, que anexei ao final da entrevista.
Como a FIEMA em boa hora está atualizando o único PLANO ESTRATÉGICO existente no
Maranhão – o PLANDIN 2003-2020 - que tem formulação técnica e científica
e visão estruturada de longo prazo, penso que a leitura dessa entrevista
pode trazer algumas boas contribuições para a percepção de novas estratégias de
relacionamento com a VALE e o delineamento de cenários de desenvolvimento
sustentável.
Cordialmente,
Ronald
Almeida
Arquiteto
Urbanista
Chefe
da Assessoria Especial de Planejamento Estratégico da Presidência da ALEMA -
Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão.
Conselheiro suplente no Conselho
Estadual de Cultura do Estado do Maranhão – CONSEC/MA; Representante do
Poder Público - Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão.
P.S.
Comentários e questionário de Ronald Almeida:
O DECÁLOGO QUE NÃO QUER CALAR
A Folha SP foi muito leve e
passou ao largo de várias questões fundamentais ao entrevistar o CEO - Diretor
Presidente da VALE, Roger Agnelli. A FOLHA, em benefício dos seus milhões de
leitores, tal como faz a BBC TV no programa HARD TALK, deveria ter perguntado,
também, ao Sr. R. Agnelli:
1.
Quantos acidentes [e vítimas fatais] houve na Estrada de Ferro Carajás (i) durante o
período como estatal e (ii) agora como VALE empresa privada, após o “enxugamento”
= demissão de pessoal experiente e imposição brutal de metas de produção
em cima dos empregados remanescentes e novatos e das empresas terceirizadas que trabalham no limite da irresponsabilidade?;
2.
Por que Roger
Agnelli não quis dar nota
de avaliação pessoal sobre o Presidente
José Sarney? [pergunta 23 na entrevista].
3.
Qual o percentual do faturamento que a
VALE investe efetivamente (i) em Preservação Ambiental e (ii) em Marketing e (iii) se os recursos de marketing
de responsabilidade socioambiental são contabilizados como despesas com
“ações de Preservação Ambiental?
4.
(i) Quantos empregados a VALE tem hoje; (ii)
qual o salário médio; (iii) qual o total mensal da folha de pagamentos de
pessoal (e (iv) de serviços terceirizados; (v) compras em fornecedores
nacionais e estrangeiros; (vi) qual o volume de impostos pagos anualmente?
5.
Por que o Projeto CELMAR [papel e celulose; 1994] no
Maranhão não deu certo?
6.
(i) Qual o
volume de investimentos na África e
(ii) onde – quais projetos e países - está investindo e (iii) se esses países
africanos são regimes democráticos consolidados ou são regiões onde a
exploração de recursos naturais se assemelha aos “diamantes de sangue”?
7.
(i) Qual a
influência institucional e (ii) participação acionária do Bradesco na VALE; (iii) quantos Diretores e dirigentes de 2º
escalão são egressos do Bradesco?
8.
Se a VALE
paga as multas e qual o montante de dívidas relativas a multas ambientais e trabalhistas?
9. Sobre o Pólo Siderúrgico na Ilha de São Luís, Maranhão:
(i)
Por que a
VALE e os chineses da Baosteel não concluíram o acordo para
construir a primeira siderúrgica de aço no Maranhão, a qual daria início a um
Pólo Siderúrgico (apresentado ao BNDES no valor de US 11 bilhões, com 5 usinas e um porto siderúrgico)
na Ilha de São Luís para produzir 20 milhões de toneladas de placas de
aço/ano;
(ii)
(ii) Por que
a VALE nunca apresentou o EIA-RIMA
desse Pólo Siderúrgico ao Governo do Maranhão?
(iii)
(iii) Se o ponto
de discórdia com os chineses foi o controle do porto siderúrgico; e
(iv)
Se esse novo
porto seria parte da estratégia de limitar o crescimento autônomo do Porto estatal do Itaqui, para que,
em futuro próximo, a VALE possa adquirir a sua concessão de privatização e monopolizar o conjunto portuário
ITAQUI-PONTA DA MADEIRA e o sistema das ferrovias FNS e EFC, o que lhe
permitiria controlar, assim, todo o Corredor
Centro-Norte e os mercados de 08 estados do hinterland da Amazônia
Oriental, Centro-Oeste e Nordeste e as exportações de commodities para todo o
Hemisfério Norte?
10.
Quais são os
salários, bonificações e fringe
benefits do Presidente e dos Diretores da VALE?
RAS; São
Luís, Patrimônio Mundial, MA; set. 2008.
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