quarta-feira, 23 de março de 2016

[246] ROGER AGNELLI E A VALE: ENTREVISTA AO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO EM 08set2008. Posfácio questionário de Ronald Almeida.


Folha SP Entrevista: ROGER AGNELLI [VALE] 08set2008

[1] 61 perguntas e respostas sobre o presente da VALE e a Visão de Futuro do CEO que conduz a maior mineradora das Américas!

[2] O caso do licenciamento ambiental do bilionário (US$ 11 bilhões) Polo Siderúrgico da VALE na Ilha de São Luís em 2004-2005 e as pressões do Presidente LULA para agilizar a liberação das licenças antes do EIA-RIMA completo.


----- Original Message -----
Sent: Monday, September 08, 2008 1:57 PM
Subject: [Siderurgia Amazonia] Entrevista de Roger Agnelli, da Vale - FSP - 08/08
São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2008

São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2008
ENTREVISTA: ROGER AGNELLI
*SÉRGIO MALBERGIER* & *KENNEDY ALENCAR* / ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

Para o presidente da Vale, país tem vantagens competitivas, mas precisa ainda investir pesadamente em educação e infraestrutura.

Presidente da Vale defende reforma política


Roger Agnelli: “BRASIL NUNCA ESTEVE TÃO CONSCIENTE”

Rafael Andrade/Folha Imagem
[“Meu objetivo é ter uma Vale querida, admirada, que daqui a vários anos meus filhos possam olhar e dizer que o pai deles deixou algo perene para o país. No exterior, vemos a Vale respeitada. O desafio não é só gerir a maior empresa privada brasileira, mas gerir a maior empresa de mineração do mundo.”]

O presidente da Vale Roger Agnelli, na sede da companhia no centro do Rio

O presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, 49 anos, cujos negócios estão intrinsecamente ligados ao governo, se entusiasma ao falar do presidente Lula. 'Genial, genial', afirma ele, para quem o presidente e seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, são faces de uma mesma moeda.

Agnelli defende uma reforma política e diz que troca de celular toda semana. Cauteloso, faz elogios aos quatro principais presidenciáveis de 2010 e recrimina Getúlio Vargas e o regime militar pela ditadura política.

Um dos mais internacionais de nossos executivos, com cadeira em conselhos importantes como o da Bolsa de Nova York e o do Brookings Institution, Agnelli aconselha os empresários brasileiros a buscarem a África. Diz não se ver como um executivo estrela, o que, segundo ele, tem mais a ver com a cultura empresarial americana que a brasileira, mais "low profile", que "não celebra o sucesso".
Aos acionistas preocupados com a queda das ações da Vale neste ano, diz que os fundamentos da mineradora no longo prazo são muito positivos. Agnelli também é contra mudanças na legislação sobre a exploração mineral em estudo pelo governo, argumentando que o Brasil já taxa mais o setor do que outros países.
Agnelli conta ainda como é sua rotina à frente da maior empresa privada do país. Quando está no Rio, cidade que o paulistano palmeirense diz adorar, a primeira coisa que faz no dia é uma hora de fisioterapia para a coluna. Nos fins de semana que pode, vai para Angra dos Reis passear de barco pelo "lugar mais bonito do mundo".
No comando da mineradora Vale do Rio Doce, maior empresa privada do país, Roger Agnelli, 49, não poupa elogios ao presidente LULA: "Genial, genial. É a síntese de tudo. Impossível não gostar dele". Para um dos principais executivos do país, o Brasil nunca esteve tão apreciado no exterior e tão consciente de seus problemas e potencial. Mas ele reclama das dores do crescimento, como energia escassa e cara. Por isso, quer participar de um consórcio para disputar a construção da hidrelétrica de Belo Monte (PA), que será a segunda maior do país, depois de Itaipu.
Leia a seguir trechos da entrevista realizada na sede de Vale, no Rio de Janeiro, continuação da publicada na edição da Folha de S.Paulo (só para assinantes) desta segunda-feira [08/09/2008].

Nota do editor [RAS]: A (i) numeração das perguntas, bem como a citação abaixo da foto; (ii) os destaques em negrito e entre [colchetes] e (iii) os algarismos romanos entre (parênteses) não constam do original da FSP e foram acrescidas tão-somente com o objetivo de destacar pontos considerados mais relevantes.

1) FOLHA - Como o sr. vê o Brasil daqui a 20 anos?
ROGER AGNELLI *- O Brasil nunca esteve tão consciente dos seus problemas, da sua realidade e do seu potencial como hoje. A educação é a prioridade número 1 do país. O Brasil é muito sensível às questões sensíveis nos países desenvolvidos: a social e a ambiental. Estamos à frente de outros que têm o mesmo estágio de desenvolvimento ao priorizar essas questões. Se fizermos a lição de casa, investirmos pesado em educação e em infra-estrutura, vejo um país com um futuro brilhante. Já estamos num ciclo positivo de desenvolvimento. Viajo mundo afora e vejo que a sociedade brasileira está muito madura para dar um grande salto de qualidade. Há hoje consciência econômica de que inflação é ruim. Há preocupação em resolver a questão da segurança, que se trata também com educação e com crescimento. A inclusão social é importante ao desenvolvimento. Estamos entrando no capitalismo numa nova fase, a das grandes empresas dispostas a obedecer às regras internacionais. Para competir internacionalmente, essas empresas têm de se enquadrar dentro de padrões de gestão, de transparência, de ética. Ao mesmo tempo, grandes empresas familiares têm o seu controle acionário pulverizado. Empresas nesse estágio se diferenciam das estritamente familiares.

2) FOLHA - E os problemas? O sr. mesmo já reclamou da insegurança energética, licenças ambientais que demoram, falta de mão-de-obra.
AGNELLI *- Dez anos atrás a Vale foi uma das primeiras empresas do Brasil a se jogar para o mercado internacional, a acelerar o seu crescimento. O crescimento alerta para carências. Uma empresa só cresce com pessoas, se houver uma criação constante de talentos. Uma empresa de mineração sem infra-estrutura -energia, porto, estrada- não vai a lugar nenhum. Eram problemas que não vinham à tona porque o país não estava crescendo. Vivo no dia-a-dia, na dianteira, problemas e carências porque a empresa cresce fortemente.

3) FOLHA - O presidente costuma dizer que a Vale devolve pouco ao Brasil na comparação com o que extrai, que tem de investir mais no país.
AGNELLI - O presidente tem uma posição privilegiada. E pode sem dúvida cobrar que a iniciativa privada faça mais. Se ele tem uma cabeça desenvolvimentista, ela cobra mais. Isso é extraordinariamente positivo, desafiador. Por outro lado, nunca se negou a resolver nenhum problema e a abrir portas para que a Vale possa crescer cada vez mais no país e no mundo. O Itamaraty e o presidente têm nos ajudado, nas relações internacionais, a enxergar oportunidades. Começamos a trabalhar em Moçambique a partir de uma viagem do presidente. Lá, ele disse: "Moçambique tem carvão. Vocês não têm interesse em carvão?". Ele cobra, mas ajuda. No Peru, ele nos ajudou com o [então] presidente [Alejandro] Toledo.

4) FOLHA - A produção de ALUMÍNIO no Brasil hoje é inviável?
AGNELLI - Na cadeia de alumínio, temos uma reserva de bauxita gigantesca, é uma das melhores e maiores reservas do mundo. E a Vale detém boa parte dessas reservas. O preço de venda da BAUXITA é US$ 30. Quando vai para ALUMINA, que é a fase seguinte da produção de alumínio, você vende por US$ 500. Quando vai para o ALUMÍNIO, US$ 3.000. Aí tem um problema. Há uma questão de "timing" do crescimento do país, que precisa de mais energia. Tem de ter energia para tocar um projeto na área de alumínio. Hoje não dá, porque não tem energia suficiente. Esses problemas surgem quando o país e a empresa estão crescendo. Nos últimos cinco anos, inauguramos oito hidrelétricas. Estamos querendo construir uma térmica. Estamos construindo uma nova hidrelétrica, no Maranhão. Temos interesse em Belo Monte. Isso dependerá de o governo colocá-la em licitação.

5) FOLHA - O sr. vê risco de faltar ENERGIA no médio prazo, até 2012, 2013?
AGNELLI - Temos de analisar energia em duas vertentes. A vertente da oferta está justa. Não vejo risco de faltar. Mas tem uma outra vertente que é o custo de energia, que está alto no Brasil. Não se resolve isso no curtíssimo prazo.

6) FOLHA - O negócio com a Xstrata não deu certo. A Vale fez uma captação de US$ 12 bilhões, e o sr. disse que a prioridade seria fazer pequenas aquisições.
AGNELLI - As prioridades mudam. A prioridade da Vale é crescer organizadamente. Não há nenhuma empresa de mineração no mundo com o potencial de crescimento que tem a Vale. Nenhuma empresa tem uma base de ativos e uma área de exploração tão fortes.

7) FOLHA - Analistas dizem que a Vale precisa diversificar, não ficar tão centrada no minério de ferro e no NÍQUEL. Dizem que COBRE seria a terceira perna. É por aí?
AGNELLI - O potencial de crescimento em cobre, de crescimento orgânico, é muito forte. O potencial em carvão, também crescimento orgânico, é muito forte na África, na Austrália, mesmo aqui na América Latina, no caso da Colômbia, onde a gente está fazendo pesquisas. Estamos furando para achar carvão e fazer a avaliação desses depósitos. No caso de minério de ferro, a Vale tem a posição de liderança forte e consolidada, com as maiores e melhores reservas de minério. No caso do níquel, temos as maiores e melhores reservas e somos os maiores produtores de níquel do planeta. Temos potencial de crescimento forte no alumínio, no qual temos uma base muito grande de bauxita. No alumínio em si, a restrição é a energia. No caso do cobre, as reservas no Brasil são relativamente limitadas. Outros países da América do Sul têm reservas com potencial, como o Chile, onde estamos abrindo uma nova mina. Tem a ÁFRICA, que é um mundo a ser explorado, a ser descoberto. E a gente está posicionado na África, buscando novos depósitos. Uma aquisição, só se for uma oportunidade.

8) FOLHA - O sr. concorda com a necessidade de diversificação?
AGNELLI - Tem um pouco de moda nisso. Em alguns momentos, quando o mercado está muito bom, todo mundo quer diversificar porque está com dinheiro no caixa. Quando o mercado está ruim, todo mundo quer ficar concentrado, focado, o chamado "core business". A gente tem de buscar algum equilíbrio. A Vale é uma mineradora. Vamos crescer em cobre, em carvão. Se aparecer oportunidades, vamos analisar. O que a gente tem de ter é juízo. Os ativos hoje têm em seus preços uma expectativa de um ciclo longo de commodities. Acreditamos que essa ainda é uma tendência. Os mercados continuam ainda muito fortes. O mundo precisa cada vez mais de recursos naturais. A conta que tem de ser é: qual é a forma com a qual você cria mais valor para o seu organismo? Na nossa conta, através do crescimento orgânico. O crescimento orgânico da Vale vai gerar muito mais retorno do que uma aquisição a preços de hoje dos ativos. O mundo está passando, num horizonte de curto prazo, por uma crise financeira. Hoje, se alavancar, captar recursos no mercado, ficou mais caro. E estão mais escassos. Isso penaliza o retorno para o acionista. É uma fase com muito mais disciplina e cautela. Não é crescer por crescer. É crescer com qualidade. Ativos mineiros são a base da indústria. Você só é uma grande mineradora se você tiver grandes ativos.

9) FOLHA - As AÇÕES da Vale podem fechar em queda neste ano após anos de fortes altas. O que dizer aos acionistas?
AGNELLI - No mercado de ações, tem de ter visão de longo prazo. No longo prazo, não tenho dúvida. No curto prazo, sobe, cai. Ninguém vai acertar na loteria. Comprar ações como quem vai jogar na loteria está errado. Tem de olhar os fundamentos da empresa. Os da Vale são muito sólidos. Hoje, há uma crise no mercado financeiro, que está se ajustando. Hoje, o risco é maior do que era há dez meses. Isso não significa que daqui a dez meses vá estar maior. Pode ser que esteja menor do que hoje.

10) FOLHA - E as commodities?
AGNELLI* - *O ciclo das commodities será longo. Vários países estão crescendo, vão continuar crescendo e têm de investir pesadamente em infra-estrutura. Esses investimentos exigem muito minério de ferro, cobre, alumínio, níquel, requerem tudo. No caso de grandes descobertas de petróleo em alto-mar, o uso do níquel é necessário porque é um metal não-corrosivo. Muitas plataformas estão sendo construídas, muitos prédios estão sendo construídos. Nunca o mundo passou por um momento como este.

11) FOLHA - O sr. está parecendo o Lula, com essa história de nunca antes...
AGNELLI - [Rindo] Estou fazendo um plágio, mas é verdade. O número de pessoas que estavam fora e que estão entrando é brutal. O mundo sempre esteve dividido entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. A demanda sempre esteve nos desenvolvidos, no Ocidente. Só que o Ocidente hoje está com população madura e tem um crescimento modesto. Olhe os Estados Unidos, a Europa. Onde está o dinheiro do mundo hoje? Está na Ásia. O caixa do mundo está na Ásia. Onde está o maior mercado consumidor mundial? Está na Ásia. E onde os mercados mais crescem? Na Ásia. Onde está a base de tecnologia hoje? Está espalhada, mas eu diria que Ásia tem uma grande concentração. Onde estão sendo construídas novas economias? Na Ásia. A China é um exemplo, a Índia pode ser um outro exemplo, o Oriente Médio, o Vietnã, a Indonésia. O crescimento desses países tem sido forte. O investimento em infra-estrutura deles tem feito com que consumam mais da metade das commodities do mundo inteiro. E o Brasil precisará de uma barbaridade de aço, de cobre, de aço inox.

12) FOLHA - A Vale enviou ao ministro Tarso Genro (Justiça) uma carta com restrições à indicação de Arthur Badin para presidir o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Por quê?
AGNELLI - Primeiro ponto. Se tem governo, tem de procurar apoiar. Se tem autoridade, tem de respeitar. Antes da indicação de quem quer que seja para presidir o Cade, o nosso julgamento é que o Cade é uma instituição de extrema relevância, de extrema importância para o país. O mundo tem passado por um processo muito rápido de concentração empresarial, o que precisa ser analisado com muita profundidade. O nível das pessoas no Cade tem de ser um nível muito elevado. Tem de ter quilômetros rodados. O Cade não é simplesmente uma questão de decidir o que fazer e o que não fazer. Ele julga. Uma pessoa para julgar tem de ter muitos quilômetros rodados. Nós nos manifestamos de forma muito aberta, antes de qualquer indicação. Não é nada contra a pessoa. Pelo contrário. É um ótimo profissional, mas a gente entende que para julgar é preciso mais base, mais experiência. Se ele for eleito presidente do Cade, vamos respeitar, apoiar.

PARTE 2: Presidente da Vale defende REFORMA POLÍTICA

O presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, 49, cujos negócios estão intrinsecamente ligados ao governo, se entusiasma ao falar do presidente Lula. 'Genial, genial', afirma ele, para quem o presidente e seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, são faces de uma mesma moeda. Agnelli defende uma reforma política e diz que troca de celular toda semana. Cauteloso, faz elogios aos quatro principais presidenciáveis de 2010 e recrimina Getúlio Vargas e o regime militar pela ditadura política.

Um dos mais internacionais de nossos executivos, com cadeira em conselhos importantes como o da Bolsa de Nova York e o do Brookings Institution, Agnelli aconselha os empresários brasileiros a buscarem a África. Diz não se ver como um executivo estrela, o que, segundo ele, tem mais a ver com a cultura empresarial americana que a brasileira, mais "low profile", que "não celebra o sucesso".

Aos acionistas preocupados com a queda das ações da Vale neste ano, diz que os fundamentos da mineradora no longo prazo são muito positivos. Agnelli também é contra mudanças na legislação sobre a exploração mineral em estudo pelo governo, argumentando que o Brasil já taxa mais o setor do que outros países. Agnelli conta ainda como é sua rotina à frente da maior empresa privada do país. Quando está no Rio, cidade que o paulistano palmeirense diz adorar, a primeira coisa que faz no dia é uma hora de fisioterapia para a coluna. Nos fins de semana que pode, vai para Angra dos Reis passear de barco pelo "lugar mais bonito do mundo".

Leia a seguir trechos da entrevista realizada na sede de Vale, no Rio de Janeiro, continuação da publicada na edição da Folha de S.Paulo <http://www1.folha.com.br/fsp/dinheiro/fi0809200818.htm> (só para assinantes) desta segunda-feira.

13) FOLHA - O Brasil vive um forte avanço econômico. A classe política está à altura dos desafios?
AGNELLI - Este é o Brasil. Está representado o que é o Brasil. Se você for ao Congresso, lá está o Brasil. Todos nós temos a evoluir. Há regiões que talvez não estejam tão evoluídas quanto outras. Com toda a tranqüilidade, já conversei isso com o próprio presidente. A democracia brasileira está num estágio em que precisa de uma reforma política. A gente não pode só criticar, tem de olhar também as melhorias que nós tivemos nos últimos anos. A democracia hoje é forte, profunda. A sociedade tem cobrado mais dos políticos.

14) FOLHA - Quais pontos teriam essa reforma política?
AGNELLI - Ter partidos fortes. Fortalecer os partidos políticos. A fidelidade partidária é outra aspecto importante. O financiamento público de campanha é outro passo.

15) FOLHA - O sr. defende apenas financiamento público ou um sistema misto?
AGNELLI* - Pode ser misto, mas uma coisa é certa: tem de ter maior transparência. É preciso ter uma aceitação muito claro do que é o financiamento.

16) FOLHA - Um aliança PT-PSDB faria bem ao país?
AGNELLI - Sim.

17) FOLHA - Ela é viável?
AGNELLI* - Se ela faz sentido, talvez em algum momento possa se tornar viável.

18) FOLHA - No /PT/, dizem que o sr. poderia ser um excelente vice para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) disputar a Presidência em 2010, algo parecido como o José Alencar e o Lula.
AGNELLI - [Risos] Não sou político. Sou executivo. Descarto, descarto.

19) FOLHA - O sr. tem medo de grampo?
AGNELLI - O respeito à individualidade, à vida privada, é fundamental. Eu não tenho medo, mas troco de celular toda semana [risos].

20) FOLHA - DE zero a dez, quanto dá a Getúlio Vargas?
AGNELLI* - Não gosto de ditadura. Pode ter feito o que tenha feito. Não daria mais de cinco.

21) FOLHA - JK.
AGNELLI* - Gosto de desenvolvimento. Daria bem mais de cinco.

22) FOLHA - Ditadura militar.
AGNELLI* - Não daria mais de cinco, por causa da ditadura, mas trouxe coisa positiva, como investimentos em infra-estrutura. Mas foi ditadura.

23) FOLHA - SARNEY.
AGNELLI* - Pegou uma época complicada, né? Prefiro não dar nota.

24) FOLHA - Collor.
AGNELLI* - [Rindo] Muito curto para dar nota.

25) FOLHA - Itamar Franco.
AGNELLI* - Também prefiro não dar.

26) FOLHA - FHC.
AGNELLI* - Bem mais de cinco. Consolidou muita coisa no país. O início da preocupação pelo social. A estabilização da economia, que exigiu medidas corajosas.

27) FOLHA - Lula.
AGNELLI - Olha... da forma como o país está indo, pelo crescimento do país, pelas questões sociais, pela liderança dele, eu daria perto de dez. [Rindo] E pela sorte também. É genial, genial. Ele é a síntese de tudo. Partir de onde ele partiu e onde ele está. É um exemplo em todos os sentidos. A intuição política é extraordinária. Impossível não gostar dele, impossível não gostar dele, impossível não gostar dele. Muito otimista, é otimista até com o Curingão dele. É carismático. Ando o mundo inteiro, e todos elogiam o presidente, me dá muito orgulho ser brasileiro.

28) FOLHA - Dilma Rousseff.
AGNELLI* - Determinada, eficiente, sabe o que quer. Briga bastante por aquilo que quer. Tem sido o esteio do governo Lula, um pilar de sustentação muito importante.

29) FOLHA - José Serra.
AGNELLI* - É uma coisa interessante. Primeiro, é palmeirense, o que é uma virtude enorme. Outro lado que as pessoas não conhecem muito é que ele tem muito daquela figura do italiano, o italiano emocional, sentimental. Tem muito da solidariedade. É um gestor duro. Cobra muito. Muitas vezes interpretado como centralizador. Normalmente, quem cobra muito é centralizador. É um homem determinado, um bom governante.

30) FOLHA - Ciro Gomes.
AGNELLI* - Figura política importante para o país. Tem liderança. Tem algumas visões, às vezes, controversas. Um bom amigo.

31) FOLHA - Aécio Neves.
AGNELLI* - Carismático, um ótimo gestor, muito intuitivo, determinado, um gênio político.

32) FOLHA - Que conselho daria aos outros empresários brasileiros?
AGNELLI - Investir na ÁFRICA, que é uma nova fronteira. O futuro está na África. Os empresários chineses e indianos estão investindo brutalmente lá. O empresário brasileiro tem de olhar para a África. Tem muitas similaridades com o Brasil, inclusive com laços afetivos. Há muitos recursos naturais, muita coisa a ser descoberta Está no meio do caminho entre a Ásia e os maiores mercados do Ocidente. É um lugar lindo. Há países avançando institucional e economicamente, com bons arcabouços regulatórios. A África está andando para frente. A Vale está firme lá.

33) FOLHA - O governo vem falando que é preciso aumentar a tributação do setor mineral porque a rentabilidade é alta. O que o sr. acha?
AGNELLI - É como a máxima do futebol. Em time que está ganhando, não se mexe. O que o governo deve cobrar desses setores são os investimentos para continuar crescendo de forma auto-sustentável. A Vale tem priorizado o seu crescimento investindo, muito aqui no Brasil. Investimentos em mineração exigem um capital intensivo e de longo prazo, o que faz importante a estabilidade das regras. O nível de tributos aqui é dos maiores da indústria da mineração no mundo. Há outra vertente que defende igualar os tributos da mineração aos do petróleo. São duas indústrias completamente diferentes. Uma plataforma em alta explora um campo de petróleo que, normalmente, tem uma vida útil muito curta comparada a uma mineração. A plataforma usada pode ser tirada dali e levada para outro lugar. No caso da mineração, faz um investimento fixo que não se tira ao final da mineração.

34) FOLHA - Há a possibilidade de a ação da Vale fechar o ano em queda, após sete anos de altas muito fortes. O que o sr. diria aos acionistas?
AGNELLI* - Ele está investindo na melhor empresa de mineração do mundo, com os melhores ativos. Os fundamentos da indústria não se alteraram. Os preços das commodities flutuam. De janeiro a junho, os preços das commodities subiram. Todo mundo nadou em dinheiro. Aí vem o ajuste. Isso é normal. Uma empresa como a Vale não pode olhar o curto prazo. Tem de olhar o longo prazo. A saúde financeira da empresa nunca esteve tão boa. O volume de produção nunca esteve tão bem como está. A demanda continua muito forte. A empresa nunca teve o tamanho que tem hoje, e vai continuar crescendo. Inauguramos neste ano oito novos grandes projetos na companhia. Em 2010, também. Quem está investindo na Vale deve ter tranquilidade.

35) FOLHA - O negócio com a Xstrata não se realizou por quê? Houve veto ou pressão do Palácio do Planalto, preocupado com a mudança do centro de decisão da Vale do Brasil para o exterior?
AGNELLI* - Não houve [pressão ou veto]. O que posso dizer é o seguinte: era uma negociação absolutamente privada e fechada. Pouquíssimas pessoas tiveram acesso à estratégia da Vale na negociação. Muitas pessoas emitiram opiniões sem saber do que se tratava. É normal isso acontecer. Da parte do presidente, as preocupações aconteceram. Mas jamais houve por parte da Vale, da diretoria, dos acionistas, a falta de *visão de que a Vale é uma empresa brasileira e vai continuar sendo uma empresa brasileira.

36) FOLHA - Depois daquele jantar do sr. com o Lula aqui no Rio, o governo ficou mais calmo em relação à negociação com a Xstrata.
AGNELLI* - A relação com o presidente é ótima. Eu o admiro como presidente e como pessoa. Além de tudo, tem sorte, o que é fundamental. Na conversa, nós não entramos em detalhes da negociação, mesmo porque não cabia. O presidente nunca colocou uma posição contrária. Algumas desinformações sobre o episódio Xstrata nasceram dentro do mercado de capitais. Com a velocidade da informação hoje, houve efeitos internacionais. Houve desinformações e fofocas que a gente, pela obrigação do sigilo, não podia esclarecer. Da parte do governo, naquilo que é pertinente e necessário, nunca faltou apoio à Vale.

37) FOLHA - O sr. fez críticas ao plano do governo de mudar a Lei de Petróleo? O que acha de a União querer arrecadar mais com uma descoberta da magnitude do petróleo do pré-sal?
AGNELLI* - Não critiquei. Disse que havia espaço no atual arcabouço regulatório para atender aos interesses legítimos da sociedade e do próprio governo em ter mais recursos para investir em educação. Deus queira que a descoberta do pré-sal faça dar tudo certo, porque a dimensão fará do Brasil outro país. Não há necessidade de rasgar contratos.

38) FOLHA - O governo diz que respeitará os contratos, mas estabelecerá novas regras para os contratos futuros.
AGNELLI* - Sem problema.

39) FOLHA - Concorda com a criação da petro-sal, uma estatal não-operacional para administrar as reservas do pré-sal ainda não leiloadas?
AGNELLI* - Temos a Petrobras, que é extremamente eficiente. Para desenvolver o pré-sal, vai requerer muito dinheiro. Temos esse dinheiro? Não serão necessária parcerias público-privadas?

40) FOLHA - E uma nova estatal?
AGNELLI* - Não sei se é uma estatal ou se é fundo. Na Noruega, é um fundo administrado por agentes privados.

41) FOLHA - Tem a Petoro, que é um escritório na prática.
AGNELLI* - Tem, mas quem administra os recursos são bancos que cuidam do fundo. O fato é que já começou uma discussão acalorada. As informações que tenho são de que vai requerer muito investimento, mas ninguém tem os dados exatos de quanto será necessários. Só se sabe que serão investimentos vultuosos pelo tamanho e a complexidade de explorar petróleo a 7 mil metros de profundidade. O governo não precisa investir. Faz e estabelece o arcabouço. E dentro do atual arcabouço existe espaço para acelerar a implantação dos projetos, buscando recursos lá fora. Ninguém precisa se preocupar, porque o petróleo está aqui. Ninguém vai pôr na mala e levá-lo embora.

42) FOLHA - É um prioridade enfrentar o aquecimento global?
AGNELLI* - A gente vive numa bolinha. Tudo o que se passa nela merece preocupação. O mundo está consciente desse problema, e o Brasil está na linha de frente. O planeta está super-habitado, o crescimento das economias acontece num ritmo forte, o nível de interferência no meio ambiente é forte. é preciso se desenvolver com responsabilidade. Os recursos naturais são escassos. O equilíbrio do planeta é delicado. No entanto, o ser humano é criativo. Supera desafios. Sou otimista em relação à resposta que será dada. A resposta.

43) FOLHA - O sr. é um paulistano e palmeirense que diz que virou carioca. O que é isso?
AGNELLI* - Sou apaixonado pelo Rio. Quando se chega aqui, você quer ajudar que o Rio melhore a cada dia. O Rio é lindo. Tem uma paisagem fantástica. Morar no Rio é um privilégio. Ser carioca é um estado de espírito mais leve, mais alegre. É ter um relacionamento mais intenso pelo lado humano. Nasci em São Paulo, sou cidadão fluminense e cidadão carioca. Brinco com meus amigos paulistas, dizendo que sou carioca. Eles ficam bravo. Agora, de time não mudo, não. Meu time é o PALMEIRAS.

44) FOLHA - Tem medo de morar no Rio? Sente diferença na segurança pública em relação a São Paulo?
AGNELLI* - Com toda a franqueza, acho que a gente se sente mais seguro no Rio do que em São Paulo. No Rio, há os lugares que você sabe que não deve ir. Em São Paulo, como a cidade é muito maior, aberta, não tem as montanhas, não há locais de insegurança tão identificados como no Rio, há uma sensação maior de segurança no Rio. O problema de segurança não é só do Rio ou de São Paulo. É do Brasil inteiro. Há problemas de tráfico de drogas em pequenas cidades.

45) FOLHA - Qual a receita para melhorar o Rio?
AGNELLI* - Já está melhorando. De novo, é uma receita para o Brasil. Investir mais em educação. O Rio tem uma vocação turística, que deve ser sempre ressaltada e priorizada. O petróleo é outra realidade. O Rio tem todas as condições de ser muito mais do que é em todos os sentidos.

46) FOLHA - É mais difícil ser diretor do BRADESCO ou presidente da Vale?
AGNELLI* - Com paixão e dedicação pelo que se faz, a dificuldade é a mesma. Trabalhei 22 anos no Bradesco, com um ritmo de trabalho intenso, como é aqui na Vale. Minha esposa diz que, se eu for para outro lugar, o ritmo de trabalho vai ser intenso do mesmo jeito.

47) FOLHA - Quantas horas o sr. trabalha por dia?
AGNELLI* - Bastante, o necessário. Se tiver de trabalhar 15 horas, trabalho. Se tiver de trabalhar, 20 horas, trabalho.

48) FOLHA - Como é o dia do Agnelli?
AGNELLI* - Quando estou no Brasil, levanto e faça fisioterapia das 6h30 até as 7h30. Tomo banho, café e venho para a empresa. Chego entre 8h30 e 9h. Almoço na Vale. Procuro não jantar fora de casa. Se estou no Brasil, procuro sempre dormir em casa.

49) FOLHA - Fisioterapia para quê?
AGNELLI* - Coluna. Tô ficando velho e tenho de cuidar da minha coluna.

50) FOLHA - O sr. dorme quantas horas por noite?
AGNELLI* - Cinco, seis horas.

51) FOLHA - É suficiente?
AGNELLI* - Se eu passar o final de semana em Angra [dos Reis, litoral do Rio], é suficiente. Se estou no Brasil, vou passar o final de semana lá. É o lugar mais lindo do mundo.

52) FOLHA - Quantos dias por ano o sr. passa fora do Brasil?*
*AGNELLI* - Tenho voado em média entre 900 e 1.000 horas por ano. Faça a conta.

53) FOLHA - Jato da Embraer?
AGNELLI* - [Rindo] Um da Embraer e outro canadense.

54) FOLHA - Tem um hobby?
AGNELLI* - Passear de barco nas ilhas todas de Angra.


55) FOLHA - O sr. é religioso?
AGNELLI* - Ah, tenho minha Nossa Senhora por tudo quanto é lado.

56) FOLHA - Que tipo de filme prefere?
AGNELLI* - Gosto de filme leve, de documentário. Adorei um seriado que passou na Globo, sobre a Revolução de 32, aquela Semana de Arte Moderna. Que delícia, que coisa linda de ver. Passei um final de semana vendo.

57) FOLHA - Vê TV?
AGNELLI* - Não muito.

58) FOLHA - É viciado em notícia?
AGNELLI* - Já fui aquele fanático, quando era do mercado financeiro. Ficava ligado no terminal de computador, lia tudo quanto é jornal, o diabo a quatro, ficava ligado. Hoje, tô mais light, tô focado.

59) FOLHA - Essa vida na Vale é boa, hein?
AGNELLI* - [Rindo] Boa, né? Recebo meu clipping diário. De alguma forma, participo mais da notícia do que leio.

60) FOLHA - O sr. comanda a maior empresa privada do Brasil. Teremos no país a cultura dos executivos estrelas, como nos EUA?
AGNELLI* - Não me vejo como estrela, mas como trabalhador. Tenho vontade de fazer as coisas e deixar as coisas para o país. A cultura brasileira não é uma cultura que celebra sucesso. É uma cultura um pouco mais "low profile".

61) FOLHA - Qual será o seu próximo desafio profissional já que não vai entrar na política?

AGNELLI* - Meu objetivo é ter uma Vale querida, admirada, que daqui a vários anos meus filhos possam olhar e dizer que o pai deles deixou algo perene para o país. No exterior, vemos a Vale respeitada. O desafio não é só gerir a maior empresa privada brasileira, mas gerir a maior empresa de mineração do mundo.

[FIM DA ENTREVISTA]




AIDE-MÉMOIRE: 28mar2005: 
REUNIÃO DO GOVERNADOR DO MARANHÃO E DO PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO MARANHÃO COM A DIRETORIA DA CVRD E SEU PRESIDENTE ROGER AGNELLI VISANDO A DIRIMIR IMPASSES RELATIVOS A IMPLANTAÇÃO DO POLO COM 5 USINAS SIDERÚRGICAS NO VALOR DE US$ 11 BILHÕES NA ILHA DE SÃO LUÍS.



São Luís, Patrimônio Mundial, Maranhão, 14 setembro 2008; domingo.

Caros colegas da AEP & CLM da Assembleia Legislativa do Maranhão;
Caros amigos do PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO / FIEMA;
Caro Secretário de Planejamento da Prefeitura de São Luís.

Recebi as duas partes da longa entrevista com ROGER AGNELLI, ex-Diretor e funcionário de carreira do Bradesco e atual CEO e Presidente da VALE [ex-CVRD] que o jornal Folha de São Paulo publicou na edição de 08/09/2008.

Aproveitei para editar esse texto em forma de “nota técnica” e o estou enviando em anexo à presente mensagem, pois se trata do PENSAMENTO [formado no mercado financeiro] do presidente da maior empresa privada do Brasil e da segunda maior mineradora do mundo. Portanto, recomendo a leitura crítica e completa do texto, pois Roger Agnelli, apesar de muito jovem [49 anos], é hoje o PRINCIPAL CONSELHEIRO (da iniciativa privada) junto ao Presidente LULA.

Exemplo: Na reunião que o Governador José Reinaldo e o Presidente da ALEMA, Dep. João Evangelista mantiveram com o Roger Angelli em 28/03/2005, [na qual estive presente] na sede da então CVRD no Rio de Janeiro, o Presidente da VALE saiu mais cedo do almoço dizendo que recebera um telefonema do Presidente LULA e que iria (no jato particular da empresa) imediatamente para Brasília.

A nossa reunião tinha sido agendada com muita antecedência para tentar dirimir dúvidas e os crescentes impasses quanto à instalação do Pólo Siderúrgico na Ilha de São Luís, o que não deu em nada até a presente data.

Antes de sua saída inopinada, Roger Agnelli, CEO da então CVRD, hoje VALE (desde 29nov2007) afirmou ao Governador José Reinaldo e ao Presidente da Assembleia, Dep. João Evangelista, que não sabia que a CVRD ainda não havia entregue o EIA-RIMA completo essencial ao Licenciamento Ambiental e à obtenção das Licenças e Alvarás municipais do mega empreendimento de 5 usinas siderúrgicas na Ilha de São Luís, no valor de US$ 11 bilhões.
Esse é o valor do empreendimento levado pelo Diretor da VALE, Dalton Nosé, ao BNDES com pedido e financiamento e incentivos à VALE e eventuais parceiros.

É inimaginável que o CEO da maior mineradora das Américas não soubesse que o seu maior projeto ainda não estava em condições de ter seu licenciamento ambiental examinado por falta de EIA-RIMA. 

Mesmo assim, o Governo do Maranhão havia sido pressionado pelo Governo Federal para agilizar a liberação do empreendimento bilionário, pois Roger Agnelli se queixara ao Presidente Lula pela "demora do licenciamento sem informar o Presidente da República que o documento sine qua non para a liberação das licenças sequer havia sido entregue ao governo estadual.

Portanto, consideramos que a Folha SP foi muito simpática, muito branda com o Sr. Roger Agnelli e deixou de fazer algumas perguntas que considero cruciais e que seriam bastantes elucidativas para o leitor brasileiro e para os maranhenses em particular. Vejam abaixo as 10 perguntas que compõem o primeiro “Decálogo que não quer calar”, que anexei ao final da entrevista.

Como a FIEMA em boa hora está atualizando o único PLANO ESTRATÉGICO existente no Maranhão – o PLANDIN 2003-2020 - que tem formulação técnica e científica e visão estruturada de longo prazo, penso que a leitura dessa entrevista pode trazer algumas boas contribuições para a percepção de novas estratégias de relacionamento com a VALE e o delineamento de cenários de desenvolvimento sustentável.

Cordialmente,
Ronald Almeida
Arquiteto Urbanista
Chefe da Assessoria Especial de Planejamento Estratégico da Presidência da ALEMA - Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão.

Conselheiro suplente no Conselho Estadual de Cultura do Estado do Maranhão – CONSEC/MA; Representante do Poder Público - Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão.

P.S. Comentários e questionário de Ronald Almeida:

O DECÁLOGO QUE NÃO QUER CALAR

A Folha SP foi muito leve e passou ao largo de várias questões fundamentais ao entrevistar o CEO - Diretor Presidente da VALE, Roger Agnelli. A FOLHA, em benefício dos seus milhões de leitores, tal como faz a BBC TV no programa HARD TALK, deveria ter perguntado, também, ao Sr. R. Agnelli:

1.     Quantos acidentes [e vítimas fatais] houve na Estrada de Ferro Carajás (i) durante o período como estatal e (ii) agora como VALE empresa privada, após o “enxugamento” = demissão de pessoal experiente e imposição brutal de metas de produção em cima dos empregados remanescentes e novatos e das empresas terceirizadas que trabalham no limite da irresponsabilidade?;

2.     Por que Roger Agnelli não quis dar nota de avaliação pessoal sobre o Presidente José Sarney? [pergunta 23 na entrevista].

3.     Qual o percentual do faturamento que a VALE investe efetivamente (i) em Preservação Ambiental e (ii) em Marketing e (iii) se os recursos de marketing de responsabilidade socioambiental são contabilizados como despesas com “ações de Preservação Ambiental?

4.      (i) Quantos empregados a VALE tem hoje; (ii) qual o salário médio; (iii) qual o total mensal da folha de pagamentos de pessoal (e (iv) de serviços terceirizados; (v) compras em fornecedores nacionais e estrangeiros; (vi) qual o volume de impostos pagos anualmente?

5.     Por que o Projeto CELMAR [papel e celulose; 1994] no Maranhão não deu certo?

6.     (i) Qual o volume de investimentos na África e (ii) onde – quais projetos e países - está investindo e (iii) se esses países africanos são regimes democráticos consolidados ou são regiões onde a exploração de recursos naturais se assemelha aos “diamantes de sangue”?

7.     (i) Qual a influência institucional e (ii) participação acionária do Bradesco na VALE; (iii) quantos Diretores e dirigentes de 2º escalão são egressos do Bradesco?

8.     Se a VALE paga as multas e qual o montante de dívidas relativas a multas ambientais e trabalhistas?


9.     Sobre o Pólo Siderúrgico na Ilha de São Luís, Maranhão:
(i)                Por que a VALE e os chineses da Baosteel não concluíram o acordo para construir a primeira siderúrgica de aço no Maranhão, a qual daria início a um Pólo Siderúrgico (apresentado ao BNDES no valor de US 11 bilhões, com 5 usinas e um porto siderúrgico) na Ilha de São Luís para produzir 20 milhões de toneladas de placas de aço/ano;
(ii)              (ii) Por que a VALE nunca apresentou o EIA-RIMA desse Pólo Siderúrgico ao Governo do Maranhão?
(iii)            (iii) Se o ponto de discórdia com os chineses foi o controle do porto siderúrgico; e
(iv)            Se esse novo porto seria parte da estratégia de limitar o crescimento autônomo do Porto estatal do Itaqui, para que, em futuro próximo, a VALE possa adquirir a sua concessão de privatização e monopolizar o conjunto portuário ITAQUI-PONTA DA MADEIRA e o sistema das ferrovias FNS e EFC, o que lhe permitiria controlar, assim, todo o Corredor Centro-Norte e os mercados de 08 estados do hinterland da Amazônia Oriental, Centro-Oeste e Nordeste e as exportações de commodities para todo o Hemisfério Norte?

10.                       Quais são os salários, bonificações e fringe benefits do Presidente e dos Diretores da VALE?


RAS; São Luís, Patrimônio Mundial, MA; set. 2008.

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