FEBRE AMARELA: COMO OSWALDO CRUZ
DERROTOU A DOENÇA HÁ UM SÉCULO
Essa
infecção motivou uma das políticas públicas de saúde mais bem-sucedidas (e
polêmicas) de nossa história. Conheça os planos do sanitarista brasileiro
Fonte:
Revista SAÚDE; Grupo Abril; Por André Biernath; 28 nov 2019, 16h19 -
Publicado em 2 fev 2018, 12h30
Acesso
Edição RAS 2020-03-23
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OSWALDO
CRUZ, Diretor geral de Saúde Pública, cargo que corresponde atualmente ao de
Ministro da Saúde, em charge de 1904 para a revista "O Malho", por
ocasião das críticas à crise da vacinação contra a VARÍOLA.
(Ilustração: Revista "O Malho"/Divulgação)
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O
ano de 1903 não foi dos melhores para o presidente Rodrigues Alves. Na
economia, o Brasil ia de mal a pior, pois investidores se recusavam a vir para
os nossos portos buscar grãos de café,
principal produto de exportação nacional.
Na vida pessoal, ele passou pela
amarga experiência de encarar a morte de sua própria filha.
O curioso desses
dois fatos é que a culpa pode ser atribuída ao mesmo agente: o mosquito Aedes
aegypti. Muito antes de o mosquito transmitir dengue,
zika
e chikungunya em
terras brasileiras, ele era responsável por uma epidemia de FEBRE
AMARELA que atingia as grandes cidades do país.
As
ameaças de serem infectados por esse vírus afugentaram os empresários gringos
dos portos do Rio de Janeiro e de Santos, os dois pontos de saída do café para
o estrangeiro. Foi essa
mesma doença que matou a filha do quinto presidente da República.
O
presidente Rodrigues Alves
Rodrigues Alves resolveu dar um basta na
situação e convocou Francisco Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro, para
montar um plano de reestruturação da cidade.
O saneamento básico era um desastre
na então capital do Brasil. A coleta de lixo não funcionava. Grande parte da
população vivia em cortiços.
Quer cenário mais perfeito para
a proliferação não só de febre amarela, mas também de TUBERCULOSE, TIFO, PESTE BUBÔNICA e diversos
outros males infecciosos?
Passos promoveu uma gigantesca reforma na
cidade: alargou ruas e avenidas, destruiu os barracos e começou a estruturar um
projeto de saneamento condizente com o tamanho da capital fluminense. Para
comandar a missão na área da saúde, o time ganhou um reforço de peso: o
sanitarista Oswaldo Cruz.
E ele “chegou chegando”, como se diz no
popular: logo em seus primeiros discursos, prometeu erradicar a FEBRE AMARELA da Cidade Maravilhosa em
três anos.
Ao contrário de outros especialistas, que
acreditavam que a infecção passava por meio do contato com roupas e colchões
contaminados, Cruz apostava na ideia de que a doença era transmitida pela
picada do Aedes.
Apesar de ter sido ridicularizado por seus
pares e pelos jornais da época, o expert acertou na mosca (ou, melhor, no mosquito).
GUERRA CIVIL
O sanitarista recrutou soldados do exército e
prisioneiros para fazer uma verdadeira faxina. Os agentes, apelidados de “mata-mosquitos”,
tinham permissão para entrar nas casas (mesmo sem a autorização dos moradores)
e até internar compulsoriamente aqueles indivíduos que aparentavam sintomas da
moléstia.
Todos os 65
mil prédios do Rio de Janeiro passaram por uma vasculha. Vários foram
considerados insalubres e muitos acabaram demolidos.
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É óbvio que a ação gerou grande polêmica e
foi um dos motivos para a eclosão da famosa “Revolta da Vacina” entre os dias
10 e 16 de novembro de 1904. Além de toda a bagunça e a intromissão em
seus lares, todos os cidadãos eram obrigados a tomar a vacina
contra a varíola numa época que não existia campanha nenhuma deste
tipo. Claro que o povo ficou possesso e saiu para protestar, com direito a
barricadas, batalhas nas ruas e decreto de estado de sítio.
Apesar de tanta briga, os resultados da campanha
de Oswaldo Cruz são incontestáveis: em 1903, a febre amarela causou a morte de
469 pessoas. Um ano depois, os números caíram para 39 óbitos, segundo
informações do Acervo Estadão.
Em 1907, a doença
estava oficialmente erradicada do Rio de Janeiro. Em algumas décadas, ela seria
expulsa para sempre de todas as cidades do Brasil. O último caso urbano foi
registrado em 1942, no Acre. Oswaldo Cruz saiu vencedor dessa batalha e ganhou
tudo que é homenagem aqui e no exterior.
VOLTA AO PASSADO?
Passados 114 anos dessa história, a FEBRE
AMARELA volta a nos assombrar. Que fique claro: por ora, não foi registrado
nenhuma transmissão urbana da doença. Por enquanto, todos os casos estão
relacionados à versão silvestre, transmitida pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes.
A crise
atual se iniciou por Minas Gerais e se espalhou pelos estados vizinhos.
Nesse cenário, chama a atenção a falta de preparo
e planejamento de nossas autoridades em lidar com a questão de maneira mais
ágil e organizada.
Será que a situação justifica a formação de filas
quilométricas na frente dos postos de saúde para tomar a vacina?
Será que não
era possível organizar uma campanha de imunização desde o ano passado, para que
as pessoas fossem atendidas aos poucos e com dignidade?
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RONALD
DE ALMEIDA SILVA
Rio
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Arquiteto
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