domingo, 8 de março de 2020

[862] REVISTA AEDEM 01 (JUL.2016): MARANHÃO 2020-2030 – O Desenvolvimento Planejado. João Rebelo Vieira



REVISTA AEDEM: POLÍTICA & CIDADANIA (Binômio do Desenvolvimento Sustentável) no. 01; julho 2016.
Editada pela:
AEDEM – ASSOCIAÇÃO DOS EX-DEPUTADOS ESTADUAIS DO MARANHÃO
Lema: “Continuamos servindo nosso Estado”
Fundada em 17mar2007
CNPJ nº: 08.784.436/0001-20
Supervisão Geral: NAN SOUZA

Coordenação Editorial: 
RONALD DE ALMEIDA SILVA
Arquiteto Urbanista; Natural do Rio de Janeiro, RJ, 02jun1947; reside em São Luís, MA desde 1976.
Graduação: FAU-UFRJ 1968-1972; Pós-graduação: Universidade de Edimburgo, Escócia 1981-83
Registro Prof. CAU-BR nº A.107-150-5.
e-mail: ronald.arquiteto@gmail.com

Assessoria de Comunicação, Design Gráfico e Marketing; VYTRINE, Responsável: Jaqueline Mouchereck

MARANHÃO 2030: O DESENVOLVIMENTO PLANEJADO
AUTOR:
João Rebelo Vieira*
Colaboradores:
Ronald de Almeida Silva
José Henrique Braga Polary

Porto do Itaqui


[1] A ORIGEM DO PLANO:

1.     O Plano Estratégico de Desenvolvimento Industrial do Maranhão – PDI-MA 2003-2020 [1º PDI-MA] foi elaborado em 2003 e revisado em 2010. Como ex-deputado federal e profissional da agronomia e do planejamento regional, tive a honrosa missão de coordenar a brilhante equipe que desenvolveu essa iniciativa pioneira. Idealizado pela Federação das Indústrias do Estado do Maranhão – FIEMA, o PDI-MA obteve na ocasião decisivo apoio da CNI – Confederação Nacional da Indústria.

2.     Esse Plano foi concebido com a visão lógica de se promover – sempre em convergência biunívoca com as ações de governo - mudanças estruturantes na economia estadual, sob a premissa de que a Indústria deveria ser o motor responsável pela aceleração do crescimento econômico do estado.

3.     O 1º PDI-MA brotou do reconhecimento de nossas deficiências estruturais enquanto Estado Produtor Moderno e do sentimento de urgência e Visão de Mercado dos empresários maranhenses, capitaneados pela FIEMA, visando à superação de gargalos históricos, já identificados desde os tempos da gênese da SUDENE, no início dos anos 60, no I Plano de Desenvolvimento do Nordeste - PDNE.

4.     Por exemplo, no citado I PDNE, concebido sob a inspiração de Celso Furtado, o Maranhão já era identificado como tendo um grande potencial pesqueiro, embora 100 % de sua produção fosse artesanal, situação que permanece inalterada, infelizmente, mais de meio século depois.

5.     Não obstante tratar-se de uma contribuição significativa do setor privado da área industrial, o 1º PDI-MA não foi absorvido pelo Setor Público, desperdiçando-se excelente oportunidade de uma grande PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA. (inclusive intelectual)


6.     O PDI-MA 2020-2030 = 2º PDI-MA está [em 2015] em fase de atualização pela FIEMA e espera-se um avanço nas prospecções de cenários até 2030. Essa meta cronológica corresponde ao período do atual governo e mais os três subsequentes, ou seja, nos próximos 15 anos, o que parece ser razoável para adoção eficaz de medidas estruturantes de médio e longo prazos.


Porto do Itaqui: Terminal Petroleiro Transpetro


[2] A ESTRATÉGIA DO PLANO [1º PDI-MA]

7.     Com horizonte e estudo de cenários de longo prazo, o 1º PDI-MA foi concluído indicando quatro Macro-Objetivos:

        I.            Aumento da competitividade sistêmica do Maranhão, para o que seria necessário elevar o nível de escolaridade, a qualificação dos recursos humanos e educação técnica e profissional, a ampliação e fortalecimento da capacidade de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico, (por meio da dinamização dos centros tecnológicos e universitários maranhenses), além da ampliação e qualificação das infraestruturas econômica e logística do Estado;

     II.            Melhoria da qualidade de vida da população, mediante aumento das oportunidades de renda e ocupação, bem como da ampliação do acesso aos serviços sociais urbanos, principalmente quanto ao provimento de Habitação, Transportes Públicos, Saneamento Básico (coleta e tratamento de resíduos sólidos, abastecimento de água e esgotamento sanitário), Infraestrutura e Serviços de Saúde, Segurança e Educação, visando à eliminação da miséria, redução da pobreza e melhoria das condições do ambiente natural;

   III.            Dinamização da economia do Maranhão, a ser conseguida com o aumento da competitividade sistêmica, a disseminação da “Marca Maranhão”, a melhoria da qualidade dos produtos e aumento do valor agregado da produção estadual, com expansão da indústria e das exportações, incluindo a prioridade do comércio internacional, em função da extraordinária logística portuária do Maranhão;

  IV.            Industrialização e diversificação produtiva, ampliando e modernizando as cadeias produtivas e alicerçando-as com adequada infraestrutura logística (em especial nos distritos industriais e cidades-polo), visando a reduzir a tradicional dependência da economia estadual em relação a uma pequena cesta básica de produtos e setores pouco eficientes.

8.     Embora esses Macro Objetivos tenham maturação de Médio e Longo prazos, há empreendimentos privados cujo decision making process é de curto prazo e é preciso ajustar o leme das políticas públicas para maximizar as potencialidades desses projetos. Como ajustar esse relógio burocrático dos governos ao relógio dinâmico do mercado?

9.     O segundo passo, portanto, depois da elaboração do 1º PDI-MA, foi buscar sincronizar e ajustar essas demandas de curto prazo (até 4 anos) ao um possível acelerador de políticas públicas, buscando atender a grande expectativa da classe empresarial e da sociedade em geral.

10.10. Esse acelerador político se daria por meio de decisão do Governo do Estado - cumprindo suas promessas de avaliar e traduzir as aspirações das classes produtoras – para incorporar essas contribuições e estudos de cenários ao Plano de Desenvolvimento do Estado do Maranhão, garantindo 
(i) a sua implementação no rol das políticas públicas estaduais
(ii) sua viabilização prática por meio das leis orçamentárias – LDO, LOA e PPA - Planos Plurianuais.

11.Embora o PDI-MA 2020 não tenha sido aproveitado pelas autoridades estaduais, passados doze anos [até 2015], é indispensável uma revisão mais abrangente, para o horizonte 2030, inclusive da sua concepção estratégica e de sua inserção no plano internacional, até mesmo como foco de atração de investidores dos BRICs.

12.Alguns indicadores reforçam essa premência. O percentual da distribuição da população do Estado entre urbana e rural, de quase 50%, e o lento ritmo de desenvolvimento, especialmente o industrial, requer a incorporação de novos conceitos na busca da aceleração do processo de desenvolvimento e, assim, melhor qualidade de vida da população.

EFC-VALE

[3] UMA NOVA ESTRATÉGIA: A IMPORTÂNCIA DAS CIDADES COMO POLOS ECONÔMICOS DIFUSORES DE ALTA TECNOLOGIA, INOVAÇÃO, EMPREENDEDORISMO E RENDA

13.Já perdura por longos anos a distribuição espacial da população maranhense de quase 50% entre urbana e rural. É preciso tirar proveito desta situação, mesmo que para alguns analistas o percentual de população urbana deva ser bem mais alto. O Equilíbrio Cidade-Campo (complementariedade econômica entre zonas urbanas e rurais) representa a síntese da nossa sociedade.

14.O arquiteto Jaime Lerner, ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba, diz que é mais fácil mudar o País a partir das cidades, principal núcleo econômico de cada município.

15.Uma boa e eficaz estratégia de desenvolvimento deve se apoiar nos setores produtivos (industrial e agropecuário), incluindo-se aí, medidas de salvaguardas para a agricultura familiar. O setor terciário deve se apresentar como consequência do processo, mesmo que seja o grande absorvedor de mão-de-obra.

16.Em novembro 2015 o IBGE informou o mais recente valor do PIB – Produto Interno Bruto do Maranhão: R$ 67,5 bilhões em 2013, sendo assim o 4º do Nordeste  e o 17º do país. No acumulado 2010-2013 o PIB-MA cresceu 15,7 %, sendo superior em 6,6 % à média nacional (BR=9,1%).

17.No entanto, apesar desse crescimento excepcional nesses quatro anos, ainda persiste no Maranhão um desequilíbrio intersetorial da economia que enseja grande preocupação. Senão, vejamos:
        i.            O setor terciário responde por 66% do PIB (média de 2008-2012), próximo ao brasileiro com 67%.
      ii.            O setor secundário é de 16% do PIB, enquanto no Brasil é de 27% e o setor primário representa 18% do PIB enquanto no Brasil é de 6%.
   iii.            O setor primário no Maranhão concentra-se na produção de dois produtos, a soja e o milho.

18.Baseados nesses parâmetros e preocupados com a celeridade do processo de desenvolvimento do Maranhão, sugere-se que esse processo seja apoiado em uma REDE DE CIDADES selecionadas por um estudo de regionalização do território estadual, inclusive sobre o aspecto ambiental, que indique aquelas que tenham maior potencialidade de crescer e de distribuir esse crescimento na sua área de influência. Seriam as cidades POLOS as quais devem ser selecionadas e hierarquizadas pela quantidade e qualidade dos serviços públicos e privados já existentes e pelos fluxos econômicos e sociais, que recebam e ofereçam.

19.Uma cidade com essas características vai se transformar em um polo de desenvolvimento e melhor apoiar as indústrias que nela irão se instalar. Como é sabido, existe uma permanente troca entre a Cidade e o Campo. A cidade, fortalecendo a sua infraestrutura, vai oferecer mercado e induzir um rápido processo de industrialização, que é o produto desejado e, ao mesmo tempo, incentivar a produção rural porque este processo precisa de matéria prima. Com mercado garantido, o homem do campo vai se estimular a produzir. Assim, se estabelece um circulo virtuoso de grandes perspectivas.

20.As cidades organizadas produzam mais e desperdiçam e poluem menos. Desde 1989 temos um ente metropolitano criado pela Constituição do Maranhão: a Grande São Luís, agora composta por 13 municípios, conforme determina a Lei Complementar nº 174, de 25.05.2015. A Governança Metropolitana é um forte instrumento de captação de recursos de gestão de projeto urbanos integrados.

21.Este caminho requer duas decisões políticas de fundamental importância:

       i.            Implementação das Parcerias Público-Privadas (PPP) e contratos assemelhados como as Concessões de Serviços Públicos para Operação pela Iniciativa Privada; que também se justificam como forma de captação de recursos e redução de custos de implantação da infraestrutura necessária e de gestão profissionalizada mais qualificada e menos sujeita a ingerências políticas;

     ii.            Implementação de programas de incentivos à modernização e aumento da produtividade da agroindústria para acelerar o processo, com redução dos passivos ambientais.

22.Com esta tríade – (i) POPULAÇÃO – (ii) CIDADE (Município organizado com produção rural integrada) – (iii) INDÚSTRIA (força motriz da Economia) e Agroindústria - certamente poder-se-á elevar a produção e a produtividade do campo e o IDH dos municípios maranhenses, condição esta sine qua non para entramos de fato (em termos de Distribuição de Renda e Qualidade de Vida) no Século XXI.

23.O Maranhão como um todo vai agradecer. Esse novo processo vai mobilizar toda a infraestrutura: a ampliação do Complexo Portuário da Ilha de São Luís - COMPORT, incluindo Porto público do Itaqui e o TEGRAM, o novo TUP – Terminal de Uso Privado, do grupo WTorre e demais unidades privadas, tais como o Terminal da Alumar e o Terminal da Ponta da Madeira, da Vale, que deverá ser o maior do mundo até 2018.

24.Nesse bojo ainda há expectativas razoáveis para se prever a construção de uma refinaria de petróleo e um polo petroquímico; 3 TUPs; e um complexo industrial siderúrgico no município de Bacabeira, o principal eixo logístico da Grande São Luís, composto por uma rodovia federal BR-135; duas ferrovias; e 3 linhões de alta tensão; ligando a Ilha de São Luís ao continente. Esse território já foi classificado em 1998 como DIBAC - Distrito Industrial para Complexos de Grande Porte.

25.No campo energético o Maranhão tem excepcionais expectativas, com uma nova Matriz de energias limpas já estabelecidas: Eólica, Fotovoltaica e Gás, o que coloca o estado como um dos mais atraentes do país em termos de investimentos para geração de energia.

26.Destaque relevante deve ser dado ao papel do CLA – Centro de Lançamento de Alcântara, o mais estratégico de todos os projetos em solo maranhense, ainda que hoje demonstre uma certa inércia operacional e sem previsão de investimentos a altura de seu potencial de desenvolvimento industrial. Além de ser o de melhor localização em todo o mundo, o CLA teria papel fundamental na expansão das telecomunicações e nos sistemas de segurança aeroespacial e militar, para o que já dispõe de aeroporto com pistas e classificação internacional.

27.Além disso, Aeroportos, Ferrovias, Rodovias devem ser modernizados e ampliados, assim como o nosso patrimônio intelectual: Escolas, Hospitais, Núcleos de Treinamento de mão-de-obra e Universidades.


CLA – Centro de Lançamento de Alcântara, o mais estratégico de todos os projetos em solo maranhense


[4] O CEMA E A CONSTRUÇÃO DA CONVERGÊNCIA INTELIGENTE

28.As diretrizes propostas no PDI-MA 2030 devem ser incorporadas ao processo de desenvolvimento preconizado pelas políticas públicas, por serem pertinentes à superação do estágio atual, retomando a prática do planejamento responsável e baseada numa nova cultura de gestão da economia estadual.

29.Este caminho pode quebrar o paradoxo da abundância – aquele longevo lugar-comum que diz que temos muito potencial, mas ainda somos pobres, em alguns casos, muito pobres, como naqueles tantos municípios maranhenses inseridos na lista dos 50 mais baixos IDHM-Renda dentre os 5.570 municípios brasileiros.

30.Um processo estruturante, como o aqui proposto, vai ajudar a mitigar e eliminar muitos dos gargalos internos e externos ao Maranhão, contribuir para o aproveitamento efetivo das vantagens competitivas que o estado possui e superar o status de economia dependente, distante do padrão médio do Brasil e mais distante ainda do comércio internacional, pois sequer temos infraestrutura satisfatória para operar contêineres e nem mesmo terminais frigoríficos de frutas e de pescados.

31.De positivo, temos no alvorecer de um novo governo a proposta de implementar mudanças radicais na gestão das políticas públicas, como o firme compromisso já materializado por meio da implantação do CEMA – Conselho Empresarial do Maranhão.

32.Entendemos, assim, que no âmbito de um colegiado em que participam as maiores autoridades do setor público estadual e os mais renomados representantes dos órgãos das classes produtoras, chegou a hora de se aproveitar as relevantes contribuições do PDI-MA 2030.

33.Essa Convergência Inteligente, entre Políticas do Setor Privado e Políticas do Setor Governamental (federal, estadual e municipal) pode resultar em Parcerias Público-Privadas e Concessões com excelentes resultados para toda a sociedade maranhense, conforme exemplos dos mais bem sucedidos e variados no país e no exterior.

34.Esses cenários são mais que oportunos, em especial nessa hora presente em que o Brasil experimenta grave crise orçamentária e de descrença nos poderes públicos e sofre um impiedoso ajuste fiscal e impactante redução de receitas tributárias que afetam todas as unidades da Federação. O Maranhão tem pressa e não podemos desperdiçar tantos talentos e tantos recursos naturais. A hora é esta.

São Luís, MA. Março 2016

(*) Autor: JOÃO REBELO VIEIRA. Eng. Agrônomo, Professor Titular da UEMA, Ex-Secretário de Coordenação e Planejamento do Estado do Maranhão, Ex-Deputado Federal, Técnico Aposentado do Estado do Maranhão e Economista Emérito do Maranhão. Consultor da FIEMA, coordenador geral (2002-2003) do PDI-MA 2020; colaborador (2015-2016) da revisão do PDI-MA Cenário 2030.

(**) Colaborou Ronald de Almeida Silva, arquiteto urbanista, especialista em Desenho Urbano e Planejamento Regional.

(***) Os dados econômicos usados neste trabalho foram fornecidos pelo economista José Henrique B. Polary.


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