A REVOLTA DA VACINA
[no Rio de Janeiro; de 10 a 16nov1904]
A revolta deixa um saldo de 30 mortos, 110
feridos e 945 presos, dos quais 461 são deportados para o Acre.
Fonte:
CCMS – Centro Cultural do Ministério da Saúde; sem data de publicação.
Acesso
Edição RAS 2020-03-23
"Meu programa de governo vai ser
muito simples.
Vou limitar-me quase exclusivamente ao SANEAMENTO
e melhoramento do PORTO do Rio de Janeiro."
RODRIGUES ALVES, pouco antes de tomar
posse do cargo de Presidente da República
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Bonde virado na Praça da
República. Acervo
Casa de OSWALDO CRUZ / Fiocruz
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O Rio de Janeiro, na passagem do século XIX
para o século XX, era ainda uma cidade de ruas estreitas e sujas, saneamento precário
e foco de doenças como FEBRE AMARELA, VARÍOLA, TUBERCULOSE e PESTE. Os
navios estrangeiros faziam questão de anunciar que não parariam no porto
carioca e os imigrantes recém-chegados da Europa morriam às dezenas de doenças
infecciosas.
Ao assumir a presidência da República, FRANCISCO
DE PAULA RODRIGUES ALVES instituiu como meta governamental o saneamento
e reurbanização da capital da República.
Para assumir a frente das reformas nomeou FRANCISCO
PEREIRA PASSOS para o governo municipal. Este por sua vez chamou os
engenheiros FRANCISCO BICALHO para a reforma do porto e PAULO DE
FRONTIN para as reformas no Centro. RODRIGUES ALVES nomeou ainda o
médico OSWALDO CRUZ para o saneamento.
O Rio de Janeiro passou a sofrer profundas
mudanças, com a derrubada de casarões e cortiços e o conseqüente despejo de
seus moradores. A população apelidou o movimento de o “bota-abaixo”. O
objetivo era a abertura de grandes bulevares, largas e modernas avenidas com
prédios de cinco ou seis andares.
Ao mesmo tempo, iniciava-se o programa de
saneamento de OSWALDO CRUZ. Para combater a peste, ele criou brigadas
sanitárias que cruzavam a cidade espalhando raticidas, mandando remover o lixo
e comprando ratos. Em seguida o alvo foram os mosquitos transmissores da febre
amarela.
Finalmente, restava o combate à VARÍOLA.
Autoritariamente, foi instituída a lei de vacinação obrigatória. A população,
humilhada pelo poder público autoritário e violento, não acreditava na eficácia
da vacina. Os pais de família rejeitavam a exposição das partes do corpo a
agentes sanitários do governo.
A vacinação obrigatória foi o estopim para
que o povo, já profundamente insatisfeito com o “bota-abaixo” e insuflado pela
imprensa, se revoltasse. Durante uma semana, enfrentou as forças da polícia e
do exército até ser reprimido com violência. O episódio transformou, no período
de 10 a 16 de novembro de 1904, a recém reconstruída cidade do Rio de
Janeiro numa praça de guerra, onde foram erguidas barricadas e ocorreram
confrontos generalizados.
CRONOLOGIA DA REVOLTA DA VACINA [RIO, DF, 1904]
10 de novembro - Devido à
proibição de reuniões públicas estabelecida pelo governo, a polícia investe
contra estudantes que pregavam resistência à vacinação e são recebidos a
pedradas, ocorrendo as primeiras prisões.
11 de novembro - As forças
policiais e militares recebem ordens para reprimir comício da Liga contra a
Vacinação Obrigatória e o confronto com a população se generaliza para outras
áreas do centro da cidade, causando o fechamento do comércio.
12 de novembro - Sob o
comando dos representantes da Liga, VICENTE DE SOUZA, LAURO SODRÉ e BARBOSA
LIMA, cerca de 4 mil pessoas saem em passeata para o Palácio do Catete.
13 de novembro - Na praça
Tiradentes, uma multidão se aglomera e não obedece à ordem de dispersar. Há
troca de tiros e a revolta se espalha por todo o centro da cidade. A população incendeia bondes,
quebra combustores de iluminação e vitrines de lojas, invadem delegacias e o
quartel da rua Frei Caneca. Mais tarde, os tumultos chegam aos
bairros da Gamboa, Saúde, Botafogo, Laranjeiras, Catumbi, Rio Comprido e
Engenho Novo.
14 de novembro – [Tentativa de Golpe dos Cadetes].
Os conflitos continuam por toda a cidade. O exército está dividido.
Cerca de 300 cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha tentam depor o
presidente. Recebem o apoio de um esquadrão da Cavalaria e uma companhia de
Infantaria. Na Rua da Passagem, em Botafogo, encontram-se com as tropas
governamentais. Segue-se um intenso tiroteio. A debandada é geral. O governo
tem 32 baixas, nenhuma fatal. Os rebeldes, três mortos e sete feridos.
15 de novembro - Os tumultos
persistem, sendo os maiores focos no Sacramento e na Saúde. Continuam os
ataques às delegacias, ao gasômetro, às lojas de armas.
No Jardim Botânico, operários de três
fábricas investem contra os seus locais de trabalho e contra uma delegacia.
Estivadores e foguistas reivindicam junto às suas empresas a suspensão dos
serviços. Há conflitos ainda nos bairros do Méier, Engenho de Dentro, Encantado,
São Diego, Vila Isabel, Andaraí, Aldeia Campista, Matadouro, Catumbi e
Laranjeiras.
HORÁCIO JOSÉ DA SILVA, conhecido como o Prata
Preta, lidera as barricadas na Saúde. Os jornalistas acompanham os
episódios e visitam alguns locais de conflito. Descrevem a “multidão sinistra,
de homens descalços, em mangas de camisa, de armas ao ombro uns, de garruchas e
navalhas à mostra”. A Marinha ataca os rebeldes e as famílias fogem com medo.
16 de novembro - O governo
decreta o Estado de Sítio. Os conflitos persistem em vários bairros. As tropas
do Exército e da Marinha invadem o bairro da SAÚDE [hoje bairro adjacente à
Central do Brasil], aprisionando o Prata Preta.
O governo acaba por recuar e revoga a
obrigatoriedade da vacinação contra a VARÍOLA. A polícia aproveita os
tumultos e realiza uma varredura de pessoas excluídas que perambulam pelas ruas
da capital da República. São todas enviadas à Ilha das Cobras, espancadas,
amontoadas em navios-prisão e deportadas para o Acre, a fim de trabalharem nos
seringais. Muitas não chegam ao seu destino e morrem durante a viagem.
16_20nov1904, o governo revoga
a obrigatoriedade da vacina, mas continuam os conflitos isolados, nos bairros
da Gamboa e da Saúde. Dia 20nov1904, a rebelião está esmagada e a
tentativa de golpe, frustrada
[Nota RAS: SALDO DA REVOLTA: Além de uma
capital federal semidestruída, com centenas de prédios, quiosques, veículos diversos
e bondes vandalizados,] a revolta deixa um saldo de 30 mortos, 110 feridos e
945 presos, dos quais 461 são deportados para o Acre.
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Fila de presos na Ilha das Cobras . Acervo
Casa de OSWALDO CRUZ / Fiocruz
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FONTES:
- BENCHIMOL, Jaime
Larry. Pereira Passos: um Haussmann tropical – A renovação urbana da
cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. Rio de Janeiro:
Biblioteca carioca,1992.
- CARVALHO, José
Murilo de. A formação das almas: o imaginário republicano no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 1990.
- CHALHOUB,
Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte imperial.São Paulo:
Companhia das Letras, 1996.
- Discurso de
posse de RODRIGUES ALVES realizado em 15 de novembro de 1902. In: Anais da
Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
- Discurso do
senador Rui Barbosa realizado em 15 de novembro de 1904. In: Jornal do
Brasil, Rio de Janeiro, 15/11/1904.
- RIO, João do. O
velho mercado. In: Cinematógrapho. Porto, Moderna, 1909.
- ROCHA, Oswaldo
P. A era das demolições: Cidade do Rio de Janeiro (1870-1920). Rio de
Janeiro: Biblioteca Carioca, 1995.
- SEVCENKO,
Nicolau (org). História da vida privada no Brasil República: da Belle
Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
A vacinação contra a VARÍOLA,
entre os HINDUS, era considerada um ato profano por eles adorarem a deusa da VARÍOLA,
SHITALA MATA.
Eles acreditavam que
estavam sendo abençoados ao ficarem doentes.
As autoridades
contornaram o problema alegando que receber a vacina era o mesmo que ser
abençoado pela deusa.
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RONALD
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Rio
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