segunda-feira, 23 de março de 2020

[867] A REVOLTA DA VACINA [no Rio de Janeiro; de 10 a 16nov1904]





A REVOLTA DA VACINA

[no Rio de Janeiro; de 10 a 16nov1904]


A revolta deixa um saldo de 30 mortos, 110 feridos e 945 presos, dos quais 461 são deportados para o Acre.

Fonte: CCMS – Centro Cultural do Ministério da Saúde; sem data de publicação.
Acesso Edição RAS 2020-03-23

"Meu programa de governo vai ser muito simples.
Vou limitar-me quase exclusivamente ao SANEAMENTO e melhoramento do PORTO do Rio de Janeiro."
RODRIGUES ALVES, pouco antes de tomar posse do cargo de Presidente da República

  
Bonde virado na Praça da República. Acervo Casa de OSWALDO CRUZ / Fiocruz

O Rio de Janeiro, na passagem do século XIX para o século XX, era ainda uma cidade de ruas estreitas e sujas, saneamento precário e foco de doenças como FEBRE AMARELA, VARÍOLA, TUBERCULOSE e PESTE. Os navios estrangeiros faziam questão de anunciar que não parariam no porto carioca e os imigrantes recém-chegados da Europa morriam às dezenas de doenças infecciosas.
Ao assumir a presidência da República, FRANCISCO DE PAULA RODRIGUES ALVES instituiu como meta governamental o saneamento e reurbanização da capital da República.

Para assumir a frente das reformas nomeou FRANCISCO PEREIRA PASSOS para o governo municipal. Este por sua vez chamou os engenheiros FRANCISCO BICALHO para a reforma do porto e PAULO DE FRONTIN para as reformas no Centro. RODRIGUES ALVES nomeou ainda o médico OSWALDO CRUZ para o saneamento.

O Rio de Janeiro passou a sofrer profundas mudanças, com a derrubada de casarões e cortiços e o conseqüente despejo de seus moradores. A população apelidou o movimento de o “bota-abaixo”. O objetivo era a abertura de grandes bulevares, largas e modernas avenidas com prédios de cinco ou seis andares.

Ao mesmo tempo, iniciava-se o programa de saneamento de OSWALDO CRUZ. Para combater a peste, ele criou brigadas sanitárias que cruzavam a cidade espalhando raticidas, mandando remover o lixo e comprando ratos. Em seguida o alvo foram os mosquitos transmissores da febre amarela.

Finalmente, restava o combate à VARÍOLA. Autoritariamente, foi instituída a lei de vacinação obrigatória. A população, humilhada pelo poder público autoritário e violento, não acreditava na eficácia da vacina. Os pais de família rejeitavam a exposição das partes do corpo a agentes sanitários do governo.

A vacinação obrigatória foi o estopim para que o povo, já profundamente insatisfeito com o “bota-abaixo” e insuflado pela imprensa, se revoltasse. Durante uma semana, enfrentou as forças da polícia e do exército até ser reprimido com violência. O episódio transformou, no período de 10 a 16 de novembro de 1904, a recém reconstruída cidade do Rio de Janeiro numa praça de guerra, onde foram erguidas barricadas e ocorreram confrontos generalizados.

CRONOLOGIA DA REVOLTA DA VACINA [RIO, DF, 1904]


10 de novembro - Devido à proibição de reuniões públicas estabelecida pelo governo, a polícia investe contra estudantes que pregavam resistência à vacinação e são recebidos a pedradas, ocorrendo as primeiras prisões.

11 de novembro - As forças policiais e militares recebem ordens para reprimir comício da Liga contra a Vacinação Obrigatória e o confronto com a população se generaliza para outras áreas do centro da cidade, causando o fechamento do comércio.

12 de novembro - Sob o comando dos representantes da Liga, VICENTE DE SOUZA, LAURO SODRÉ e BARBOSA LIMA, cerca de 4 mil pessoas saem em passeata para o Palácio do Catete.

13 de novembro - Na praça Tiradentes, uma multidão se aglomera e não obedece à ordem de dispersar. Há troca de tiros e a revolta se espalha por todo o centro da cidade. A população incendeia bondes, quebra combustores de iluminação e vitrines de lojas, invadem delegacias e o quartel da rua Frei Caneca. Mais tarde, os tumultos chegam aos bairros da Gamboa, Saúde, Botafogo, Laranjeiras, Catumbi, Rio Comprido e Engenho Novo.

14 de novembro – [Tentativa de Golpe dos Cadetes]. Os conflitos continuam por toda a cidade. O exército está dividido. Cerca de 300 cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha tentam depor o presidente. Recebem o apoio de um esquadrão da Cavalaria e uma companhia de Infantaria. Na Rua da Passagem, em Botafogo, encontram-se com as tropas governamentais. Segue-se um intenso tiroteio. A debandada é geral. O governo tem 32 baixas, nenhuma fatal. Os rebeldes, três mortos e sete feridos.

15 de novembro - Os tumultos persistem, sendo os maiores focos no Sacramento e na Saúde. Continuam os ataques às delegacias, ao gasômetro, às lojas de armas.
No Jardim Botânico, operários de três fábricas investem contra os seus locais de trabalho e contra uma delegacia. Estivadores e foguistas reivindicam junto às suas empresas a suspensão dos serviços. Há conflitos ainda nos bairros do Méier, Engenho de Dentro, Encantado, São Diego, Vila Isabel, Andaraí, Aldeia Campista, Matadouro, Catumbi e Laranjeiras.
HORÁCIO JOSÉ DA SILVA, conhecido como o Prata Preta, lidera as barricadas na Saúde. Os jornalistas acompanham os episódios e visitam alguns locais de conflito. Descrevem a “multidão sinistra, de homens descalços, em mangas de camisa, de armas ao ombro uns, de garruchas e navalhas à mostra”. A Marinha ataca os rebeldes e as famílias fogem com medo.

16 de novembro - O governo decreta o Estado de Sítio. Os conflitos persistem em vários bairros. As tropas do Exército e da Marinha invadem o bairro da SAÚDE [hoje bairro adjacente à Central do Brasil], aprisionando o Prata Preta.
O governo acaba por recuar e revoga a obrigatoriedade da vacinação contra a VARÍOLA. A polícia aproveita os tumultos e realiza uma varredura de pessoas excluídas que perambulam pelas ruas da capital da República. São todas enviadas à Ilha das Cobras, espancadas, amontoadas em navios-prisão e deportadas para o Acre, a fim de trabalharem nos seringais. Muitas não chegam ao seu destino e morrem durante a viagem.

16_20nov1904, o governo revoga a obrigatoriedade da vacina, mas continuam os conflitos isolados, nos bairros da Gamboa e da Saúde. Dia 20nov1904, a rebelião está esmagada e a tentativa de golpe, frustrada

[Nota RAS: SALDO DA REVOLTA: Além de uma capital federal semidestruída, com centenas de prédios, quiosques, veículos diversos e bondes vandalizados,] a revolta deixa um saldo de 30 mortos, 110 feridos e 945 presos, dos quais 461 são deportados para o Acre.

Fila de presos na Ilha das Cobras . Acervo Casa de OSWALDO CRUZ / Fiocruz

FONTES:
  • BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: um Haussmann tropical – A renovação urbana da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. Rio de Janeiro: Biblioteca carioca,1992.
  • CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário republicano no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
  • CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte imperial.São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
  • Discurso de posse de RODRIGUES ALVES realizado em 15 de novembro de 1902. In: Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
  • Discurso do senador Rui Barbosa realizado em 15 de novembro de 1904. In: Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 15/11/1904.
  • RIO, João do. O velho mercado. In: Cinematógrapho. Porto, Moderna, 1909.
  • ROCHA, Oswaldo P. A era das demolições: Cidade do Rio de Janeiro (1870-1920). Rio de Janeiro: Biblioteca Carioca, 1995.
  • SEVCENKO, Nicolau (org). História da vida privada no Brasil República: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.


A vacinação contra a VARÍOLA, entre os HINDUS, era considerada um ato profano por eles adorarem a deusa da VARÍOLA, SHITALA MATA.
Eles acreditavam que estavam sendo abençoados ao ficarem doentes.
As autoridades contornaram o problema alegando que receber a vacina era o mesmo que ser abençoado pela deusa.




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RONALD DE ALMEIDA SILVA
Rio de Janeiro, RJ, 02jun1947; reside em São Luís, MA, Brasil desde 1976.
Arquiteto Urbanista FAU-UFRJ 1972 / Registro profissional CAU-BR A.107.150-5
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