[863] REVISTA AEDEM 01
(JUL.2016): PROPOSTAS PARA UM MARANHÃO MELHOR
Sebastião
Moreira Duarte
REVISTA AEDEM: POLÍTICA & CIDADANIA (Binômio do
Desenvolvimento Sustentável) no. 01; julho 2016.
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Editada
pela:
AEDEM
– ASSOCIAÇÃO DOS EX-DEPUTADOS ESTADUAIS DO MARANHÃO
Lema:
“Continuamos servindo nosso Estado”
Fundada em 17mar2007
CNPJ nº: 08.784.436/0001-20
Supervisão Geral: NAN SOUZA
Coordenação Editorial:
RONALD DE ALMEIDA SILVA
Arquiteto
Urbanista; Natural do Rio de Janeiro, RJ, 02jun1947; reside em São Luís, MA
desde 1976.
Graduação:
FAU-UFRJ 1968-1972; Pós-graduação: Universidade de Edimburgo, Escócia 1981-83
Registro
Prof. CAU-BR nº A.107-150-5.
e-mail: ronald.arquiteto@gmail.com
Assessoria
de Comunicação, Design Gráfico e Marketing; VYTRINE, Responsável: Jaqueline
Mouchereck
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SITE: http://www.aedem.org.br/
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PROPOSTAS PARA UM MARANHÃO MELHOR
CAMPANHA PARA A ELIMINAÇÃO DO ANALFABETISMO NO ESTADO DO MARANHÃO.
“Ninguém se incomoda com o
problema. É como se o problema não
existisse.”
SMD.
Sebastião Moreira Duarte
São Luís, MA, Agosto 2015
1.
O que vou propor é uma ação concreta, de alcance e envolvimento
social até aqui não excogitados, e que, por isso, poderá ser vista como ousada
demais, a ponto, mesmo, de não parecer factível.
2.
Proponho-a a uma associação de representantes, que o foram, do
povo maranhense no Congresso Estadual, o que, de saída, leva a entender:
I.
que a proposta pressupõe a conscientização e a coordenação do
maior número possível de agentes sociais, conforme se verá;
II.
que os seus destinatários imediatos continuam em franca e fácil
articulação com aqueles que hoje continuam o seu trabalho na Assembleia do Povo
maranhense.
3.
Estes, por sentirem o pulso da politeia que lhes delegou o poder
de representá-la, terão a mais clara consciência das carências e urgências
dessa comunidade política, e, como legisladores, haverão de oferecer os
elementos legitimadores da proposta, ademais de também se engajarem valorosamente
em sua implementação.
4. O que proponho é uma CAMPANHA PARA A
ELIMINAÇÃO DO ANALFABETISMO NO ESTADO DO MARANHÃO.
5.
Formulada em tão poucas palavras, a proposta poderá prejudicar-se,
de saída, e ser atravancada por duas objeções imediatas:
I.
seria tida por obsoleta: já não faz sentido incluir-se o
analfabetismo como problema social. Os
países avançados não mais o enfrentam, há quase dois séculos;
II.
seria tida por ineficaz: os países atrasados, em sua quase
totalidade, não têm como enfrentá-la.
6.
O analfabetismo continuará residual em muitos “sistemas de
educação” (entre aspas, por força da verdade), até desaparecer pela morte dos
analfabetos, apressada por sua “espontânea exclusão” dos benefícios sociais, justificada
esta, aliás, por sua não-participação nos meios de produção. Maquinaria cada
vez mais “de ponta” e recursos tecnológicos os mais variados se oferecem para
substituir e compensar a “inoperância” da fora de trabalho analfabeta e dar
conta do extermínio (quer dizer, do “esquecimento” social) dos analfabetos.
7.
Mas será preciso dizer da desumanidade de tal visão, assim como do
comportamento e das atitudes que dela possam decorrer? O analfabetismo é antes uma questão moral,
para que seja um problema econômico, político, social e educacional.
8.
Demonstremos isso com elementos da situação maranhense. (Para rapidez da compreensão, arredondemos as
estatísticas): o Maranhão tem 7 milhões de habitantes. Destes, 19,2% são analfabetos. Isso é o mesmo que dizer que temos 1 milhão e
400 mil maranhenses analfabetos. Como
números não se prestam a grande emoção, tenhamos em mente que tais dados
equivalem a figurarmos que as três primeiras cidades do Maranhão, começando
pela Capital, estão povoadas só de analfabetos.
9.
O quadro é estarrecedor? Por si mesmo, sem dúvida. Mas seria relativamente “cômodo” enfrentarmos
esse imenso contingente de analfabetos, se estivesse reunido em três grandes
“campos de concentração.” Na verdade, o
panorama nos aparece ainda mais sombrio, quando consideramos que a nossa população
analfabeta se dispersa pela extensão de um “país” (o território do Maranhão é
maior que quase todos os países da Europa ocidental), o que eleva a uma potência
difícil de calcular os obstáculos a vencer para a superação do problema.
10.Do ponto de vista econômico, não
será difícil configurar os estragos espelhados por nossa convivência com o
analfabetismo: o analfabeto, em qualquer área geográfica, é um peso-morto para
a economia. Está fora dela, quase por
inteiro.
11.Consumidor
estacionado no nível primário da sobrevivência (melhor diríamos subvivência),
sua contribuição é mínima ou nenhuma para a produção econômica. Não conta, mas
é contado: bota para cima o quantitativo populacional, bota para baixo os
indicadores econômicos. No caso
maranhense, quatro pessoas dividem com cinco o PIB e a renda per capita.
12.Pensar nisso já seria motivo de
vergonha, pois o PIB e a renda per capita não condensam apenas a fria aritmética
de quadros e curvas estatísticos. Atrás
deles, escondem-se a miséria e a exclusão, sob formas as mais desumanas.
13.Por essa razão, talvez, tocamos a
vida passando ao largo do problema: o tempo passa, governos se alternam, o
mundo avança, o Brasil força por se inserir no rol dos países desenvolvidos, e
a realidade berra sobre o asfalto, a poeira e a lama, negando bravatas,
ufanismos e falsas promessas de dias melhores.
14.Por um mecanismo de defesa,
vivemos como se as coisas fossem, ou devessem ser, assim mesmo, por imposição
de um acaso perverso ou por força de sua própria natureza. Ninguém se incomoda com o problema. É como se o problema não existisse.
15.Mas o problema existe e persiste,
porque, antes de ser um entrave ao crescimento econômico, o analfabetismo, ademais
de ser uma questão moral e um desafio de ordem econômica, é um problema
político. Podemos fazer de conta que não
temos familiaridade com os analfabetos, mas eles estão ao nosso lado, dividem
conosco ruas, escolas, hospitais, supermercados, meios de transporte, igrejas. Ignorá-los é um mau negócio para todos.
16.Curiosamente, um só governo não
passa que não assuma o “compromisso” de “erradicar” ou “exterminar” o
analfabetismo.
17.É visível em tal retórica o entendimento
– pelo menos isso, a revelar alguma consciência de culpa! – de que se trata de
uma “erva daninha” ou uma espécie de “aftosa mental”, que impede que um
segmento de nossa população tenha livre acesso ao mínimo de uma vida decente...
18.E daí que se enfrente o problema –
quando acontece de o problema incluir-se como política pública ou iniciativa
filantrópica – mediante iniciativas voluntaristas, parciais e paliativas, que
mais não serão, no fim das contas, que um renovado tormento de Sísifo...
19.Porque, sendo um problema essencialmente
político, o analfabetismo – ainda mesmo sob a forma do puro letramento ou da
alfabetização mecânica – não será superado sem uma vontade política, quer
dizer, de todo o corpo da cidadania, seja através de uma “explosão”
revolucionária igualitarista, seja pela conscientização, coletiva, de que a
sociedade vai mal enquanto todos não atingirem esse patamar mínimo para uma
efetiva “prática da liberdade”.
20.Aqui está – no condensado da
palavra conscientização – o sentido do contributo de Paulo Freire para se obter
eficácia em qualquer projeto de alfabetização: um projeto social, um projeto de
toda uma pólis.
21.O que proponho é então isto: que a
pólis maranhense, consciente que o analfabetismo é um grave problema econômico
e faz péssima imagem quanto ao nosso demos, pague a dívida moral e política,
cobrada à consciência de todos, para que toda a nossa comunidade de cidadãos
encare como responsabilidade sua, inalienável e inadiável, enfrentá-lo e
superá-lo.
22.Os cidadãos do Vietnã fizeram
ferrar com as letras do alfabeto os bois que puxavam o arado em suas plantações
de arroz. Um alfabetizador – que não era
apenas um ensinador das letras do alfabeto, mas um animador da consciência
coletiva sobre a necessidade de superação do atraso – “cobrava” a cada fim de
dia o cumprimento de cada tarefa de aprendizagem.
23.Cuba, nos anos iniciais de sua
Revolução, fechou a universidade e mandou mestres e alunos a alfabetizar a
todos os seus compatriotas que deviam a si mesmos esse direito/dever elementar
de todo cidadão. Foi uma
exorbitância? Sim, uma exorbitância e
uma violência, menores, porém, que a violência e a exorbitância de viver uma
vida analfabeta. Nós não teremos
necessidade de chegar a tal exagero.
24.Para não fugir ao que todos
fizeram, o atual Governo do Maranhão se propôs, como promessa de campanha,
eliminar o analfabetismo no Maranhão.
Eliminar, ou seja, diminuir as taxas de analfabetos do Estado... até que
um dia cheguemos a ter a nossa população toda alfabetizada.
25.Mas analfabeto também procria. O que proponho aqui, como cidadão e como
educador, é que a CAMPANHA PARA A ELIMINAÇÃO DO ANALFABETISMO NO ESTADO DO
MARANHÃO seja uma bandeira empunhada pelo Governo estadual, mas seja uma tarefa
de todos e cada um dos cidadãos maranhenses.
26.O Governo assumirá a Campanha,
através de todos os seus órgãos. O
Governo se empenhará numa publicidade nunca vista, para divulgar a Campanha e
para motivar o povo maranhense, letrados e iletrados, a se engajar nesse trabalho
de recuperação fundamental da dignidade humana de nossos alfabetos.
27.Mas todos os órgãos, instituições,
empresas privadas, não importando sua natureza e finalidade, além dos cidadãos
particulares, serão convocados a contribuir e participar dessa “jornada de
infinita luz”. Prêmios, bolsas,
incentivos, compensações financeiras, poderão ser pensados para que a Campanha
alcance os seus objetivos.
28.Fechemos os olhos e imaginemos os
resultados que tal empreendimento alcançará, à vista do Brasil e do mundo. O formulador desta proposta guarda a firme
convicção que, realizado o que aqui propõe, bastaria um período governamental,
para que nos quitarmos com uma das dívidas mais dolosas e culposas de nossa
vida como animais políticos.
***
BIOGRAFIA SITE AML: SEBASTIÃO MOREIRA DUARTE
Nasceu no sítio Olho d’Água do Melão, município de Baixio-CE, a 2
de março de 1944. Filho de Cícero Moreira da Silva e de Raimunda Alodias
Duarte. Fez o primário em Cajazeiras-PB e o secundário nos Aspirantados
Salesianos de Recife, Carpina e Jaboatão. Em São Paulo, frequentou a Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Lorena. Abandonando a vida religiosa,
radicou-se no Maranhão, a partir de 1965.
Licenciado em Filosofia e Pedagogia, é professor aposentado da
Universidade Federal do Maranhão, onde ingressou em 1972. Mestre em
Administração Universitária pela Universidade do Alabama, e doutor em
Literatura Latino-Americana pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.
No Brasil, exerceu atividades docentes e administrativas em universidades do
Maranhão e da Paraíba. Foi visiting scholar das universidades de San
Diego, na Califórnia, e de Illinois (Urbana-Champaign), além de professor da
Universidade do Tennesse, em Knoxville, nos Estados Unidos. Tem publicado
diversos trabalhos em periódicos educacionais e literários do Brasil e do
exterior. Entre 1999 e 2001 foi um dos colaboradores da coluna Sacada, de O
Imparcial. Coordenador editorial da coleção Maranhão Sempre, pela qual
foram publicados 24 títulos da bibliografia maranhense, com o selo da Editora
Siciliano (SP) e sob o patrocínio do Governo do Estado do Maranhão. Atualmente
presta colaboração editorial ao Instituto Geia, pelo qual tem trabalhado em
numerosas publicações.
FONTE: AML – ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS
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