Obituário: João Madson [“Madinho”]
Fonte:
Blog ZEMA RIBEIRO; autor Zema Ribeiro; 17fev2016.
http://zemaribeiro.org/2016/02/17/obituario-joao-madson/
Nota RAS: Os
destaques em negrito, as palavras entre [colchetes] e a numeração de parágrafos
não constam da versão original disponível no Blog Zema Ribeiro.
João Madson em raro registro sem
cavanhaque. Foto: Arquivo O
Estado do Maranhão
- Conheci
João Madson há quase década e meia, ali pelas imediações do Bar de Seu Adalberto [bairro da] (Praia
Grande) [Centro Histórico de São Luís Patrimônio Cultural Mundial], onde,
à época, acontecia o evento semanal A
Vida é uma Festa!, capitaneado pelo poeta-músico Zé Maria Medeiros, há tempos transferido para a Companhia
Circense de Teatro de Bonecos. Já era uma lenda do underground local, sempre acompanhado de um copo, um cigarro e
um sorriso.
- “Se
melhorar, estraga”, sua voz talhada pelos vícios respondia sempre ao
invariável “como vão as coisas?” que eu disparava toda vez que o
reencontrava, sempre impecável cavanhaque (a antiga foto em p&b que
ilustra este post é exceção), amarelado de fumo, ele, há décadas, radicado
em São Paulo.
- Chegamos
a trabalhar juntos, na Faculdade
São Luís, onde ele prestava consultoria ou coisa que o valha em
marketing; tinha formação em jornalismo e publicidade e equilibrava-se
entre as áreas e a música, sua paixão.
- Compositor
menos conhecido do que deveria, é autor de um punhado de clássicos, ao
menos para mim. Um exemplo é Sinhá
Madona, sucesso de Rogéryo
du Maranhão, lembrada pela jornalista Andréa Oliveira, ao lamentar em uma rede social o falecimento
do artista, vítima de enfisema pulmonar, na madrugada de ontem (16) [fev2016,
em São Paulo, onde residia], aos 62 anos.
- O
compositor registrou a música com adesão de Gabriel Melônio em São
João Madson Com Vida, último disco gravado por ele, em 2003.
“Dorme
em sono perfeito/ minha antiga cidade/ sinhá, vou buscar o dia/ antes da
claridade// Corre, Sinhá Madona/ bem de frente da janela/ vem ver como é bela a
lua/ que se esconde no coqueiro/ vem ver como é bonito/ meu boi dançar no
terreiro”, diz a letra.
- O CD é
recheado de participações especiais: Didã,
Rosa Reis, Alê Muniz, Erivaldo Gomes, Eliésio, entre outros.
- Em
shows recentes a cantora Alexandra
Nicolas anunciou que gravará O
segredo do coco. “Essa, quem me ensinou a cantar foi Didã”
– intérprete da música em São João Madson Com Vida –,
geralmente anuncia, antes de começar:
“Tira
o coco do coqueiro/ bota pra quebrar/ tira o leite desse coco/ que eu quero
tomar/ rala o coco, soca o coco/ pra cunhã coar/ que o segredo do coco é
peneirar// O segredo do coco é o leite/ o azeite na hora de apurar/ é o
cheiro cheiroso na cozinha/ cunhãzinha preparando o jantar// Traz tucupi/ traz
tacacá/ taca o coco na cuia/ pra cunhã coar”, diz a letra.
- Uma vez
irrompeu Bagdad Café adentro,
em plena Praia Grande, cantando Stalone
Strauss, cujos vocais divide com o sobrinho Alê Muniz no disco derradeiro:
“Me dê
um tom e um tema/ que eu vou cantar um poema/ um roteiro pra cinema/ enredo de
carnaval// Me dê um tipo e um trato/ que eu faço mesmo é no ato/ só me assine
um bom contrato/ que eu quero é virar o tal// E vou gravar um cd/ do bom da eme
pê bê/ para estourar no Japão// Você só vai me ver/ em clipes da eme tê vê/ no
Domingão do Faustão// E vou trocar o meu nome/ por outro que se consome/ um
nome comercial/ um nome bem estrangeiro/ só pra ganhar mais dinheiro/ vou ser
Stalone Strauss”, transbordava irreverência.
- Em 2005 venceu o Festival Maranhense de Música Carnavalesca, promovido pelo Sistema Mirante de Comunicação, com seu Frevo na chuva: “E foi aí que eu te achei na chuva/ foi um barato muito legal/ você toda molhadinha/ só entrou na minha/ por que era carnaval// E era frevo na chuva/ quero ver, quero ver, quero ver/ você no meu guarda-chuva/ quero ver, quero ver, quero ver/ Venha, vamos botar pra moer/ eu e você fazendo o frevo ferver”.
- É dele
também um dos mais astutos jingles de propaganda político-partidária que
já ouvi: quando candidata a prefeita em 2004, Helena Heluy (PT) tinha como adversários Ricardo Murad, João Castelo e Tadeu Palácio. Madinho, como era carinhosamente
chamado pelos amigos, mandou bem:
- “Não
quero Murad Castelo/ nem mesmo erguer Palácio/ amo demais São Luís/ eu
quero é ser feliz/ é 13 de cima abaixo// Helena, o Lula lá já falou/ eu
voto em quem vale a pena/ por isso eu voto em Helena/ pra nossa ilha do
amor” – cito de memória, a exemplo das outras letras lembradas
neste post.
- Este obituário traz alguns poucos exemplos da genialidade de João Madson. Sua perda é, em si, uma tragédia. E revela outra: nossa falta de cuidados com a memória, em tempos virtuais. Experimentem “dar um google” com o nome dele (o que fiz, à cata de foto para ilustrar esta singela homenagem póstuma): as ocorrências são insignificantes (inclusive demorei a publicar este texto em busca de foto decente para ilustrá-lo).
Nota
RAS: Os destaques em negrito, as palavras entre [colchetes] e a numeração de
parágrafos não constam da versão original disponível no Blog Zema Ribeiro.
DEPOIMENTOS
[1] Ronald de Almeida Silva
(1216) JOÂO MADSON. NOSSO ARTISTA MULTIMÍDIA COM ENERGIA CRIATIVA E PULITRICAS DE FAZER INVEJA AO RAUL SEIXAS. PARTIU (na madrugada de 16fev2016, em Sampa). MAS FICOU POR AQUI DE ALGUM MODO, RINDO E FAZENDO RIR COM SUAS ETERNAS ARTES E ARTIMANHAS.
Na foto com o irmão DELMO MUNIZ MENDES.
João Madson foi o primeiro músico maranhense com quem tive contato logo que cheguei ao Maranhão em 1980. Ele tocava no American Bar do Hotel Vila Rica e eu curtia muito. Ficamos amigos. A última vez que o vi foi quando ele veio a São Luís trazendo o violinista polonês Jerzy Milevsky no início dos anos 1990. Suas composições eram realmente brejeiras - "Foi numa festa lá na casa da crioula, que a negra temperava com alho e cebola... tem nhambu seca, nhambu fresca, nhambu cru, tem muito cheiro no tempero da Juju..." Saudades, amigo!
[3]
TV Mirante; Portal G1.
http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2016/02/morre-aos-62-anos-o-cantor-e-compositor-joao-madson.html
Morreu, às 7h
desta terça-feira (16), em São Paulo (SP), o cantor e compositor maranhense
João Madson, de 62 anos. Ele sofria de enfisema pulmonar e faleceu em casa. O
artista foi vencedor do Festival de Música Carnavalesca promovido pelo Grupo
Mirante, em 2005, com a música "Frevo na Chuva". O corpo do cantor será cremado na quarta-feira
(17fev2016), na capital paulista. As cinzas serão trazidas para São Luís. Ele
deixa seis filhos.
[4] Blog Djalma Rodrigues:
Cantor maranhense João Madson morre em São
Paulo
http://www.djalmarodrigues.com.br/2016/02/17/cantor-maranhense-joao-madson-morre-em-sao-paulo/
Faleceu
às 7h da manhã de ontem, em São Paulo, o cantor e compositor maranhense João
Madson. O artista, que há mais de 30 anos estava radicado naquela cidade, teve
como causa da morte insuficiência respiratória. O corpo será cremado hoje e as
cinzas serão trazidas ao Maranhão pela família.
João
Madson tinha 62 anos e há algum tempo sofria de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Ele deixa esposa e seis
filhos. Natural de Penalva, o artista gravou apenas um disco, o CD “São João
Madson com Vida”, lançado em 2005.
O
trabalho registra três décadas de produção voltada para o período junino, com
músicas compostas nas décadas de 1970, 1980 e 1990.
O
trabalho foi lançado em São Luís, durante o São João de 2005 e o show contou
com a presença de vários artistas que também fizeram participações no álbum a
exemplo de Roberto Brandão Didan, Cláudio Pinheiro, Eliézio, Gabriel Melônio,
Rosa Reis e Inácio Pinheiro, entre outros.
A
produção do disco foi assinada por Alê Muniz. “Esse disco é fruto do incentivo
de pessoas que acreditaram no meu trabalho. É um projeto feito com muito
carinho, afinal são três décadas de músicas”, disse, João Madson em entrevista
concedida ao Alternativo na época do lançamento.
Também
em 2005, o artista foi o vencedor do Festival Maranhense de Música Carnavalesca
com a música “Frevo na Chuva”.
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