segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

[201] GOVERNADOR FLAVIO DINO: A TRAGÉDIA QUE VITIMOU O FILHO MARCELO DINO, AOS 13 ANOS, em 14fev2012.



MARCELO DINO
 

Filho do presidente da Embratur morre em [14fev2012] no Hospital Santa Lúcia de Brasília

Marcelo Dino, de 13 anos, estava internado após ter uma crise de asma

Fonte: Do Portal Rede Record R7, em Brasília, com TV Record; Publicado em 14/02/2012 às 12h30:
http://noticias.r7.com/brasil/noticias/filho-do-presidente-da-embratur-morre-em-hospital-de-brasilia-20120214.html
Acesso RAS em 01fev2016


Marcelo sofreu uma parada cardíaca. Ele foi internado ontem após ter uma crise de asma [Reprodução/Facebook]

Marcelo Dino Fonseca [de Castro e Costa], filho de 13 anos do presidente da Embratur, Flávio Dino, morreu de parada cardíaca às 6 horas da manhã desta terça-feira (14fev2012), em Brasília.
1.       A informação foi confirmada pela polícia civil do Distrito Federal, que abriu inquérito para apurar a morte. A assessoria do Hospital Santa Lúcia, onde ele estava internado desde segunda (13fev2012) após ter uma crise de asma na escola, se pronunciou por meio da assessoria de imprensa.
2.       De acordo com o hospital, Marcelo deu entrada no local na tarde de ontem com falta de ar, “provavelmente uma crise asmática”. Foi internado da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) pediátrica, sob supervisão de um médico e enfermeiros.
3.       O Ministério do Turismo, ao qual está vinculado a Embratur, distribuiu nota de pesar e informou que o velório de Marcelo acontece hoje, a partir as 19h, no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília. O enterro deve ocorrer nesta quarta-feira (15), às 10h.
4.       “O ministro Gastão Vieira, secretários e servidores se solidarizam com a família”, diz o comunicado.
5.       Segundo o Santa Lúcia, durante a madrugada o paciente teve uma “crise severa” e foi atendido por dois médicos e uma equipe de enfermeiros, que tentaram reanimá-lo com um “carrinho de parada”.
6.       Apesar do procedimento, ele faleceu. O hospital afirmou ainda que pediu a presença do Ministério Público após ter sido acusado de negligência pela imprensa, e reiterou que tem total confiança na qualidade do atendimento prestado.
  1. O centro médico é considerado um dos melhores de Brasília e é o mesmo que teria negado atendimento ao secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, morto na madrugada de 19 de janeiro, após sofrer um infarto. O hospital está sendo investigado pela morte de Duvanier.
  2. Flávio Dino, filiado ao PC do B do Maranhão, foi deputado federal entre 2007 e 2011. Em 2008, disputou a Prefeitura de São Luís. Perdeu para o candidato tucano João Castelo. Em 2010, disputou as eleições para o governo do Maranhão, mas foi derrotado pela atual governadora, Roseana Sarney (PMDB).
  3. Foi nomeado presidente da Embratur em 17 de junho do ano passado [17jun2011]. Marcelo Dino chegou a acompanhar o pai em alguns eventos políticos durante as campanhas de 2008 e 2010.
 
CRISE DE ASMA

Filho de Flávio Dino morreu nesta madrugada [14fev2012]

Fonte: Revista on line Consultor Jurídico, 14 de fevereiro de 2012, 12h50
http://www.conjur.com.br/2012-fev-14/filho-flavio-dino-presidente-embratur-morreu-nesta-madrugada
Acesso RAS em 01fev2016

1.       Morreu às 6 horas da manhã desta terça-feira (14/2/2012), em Brasília, Marcelo Dino Fonseca de Castro e Costa, de 13 anos, filho mais novo do presidente da Embratur, Flávio Dino. O menino teve uma crise de asma, que levou a uma parada cardíaca.
2.       Um inquérito policial foi aberto para apurar a morte do garoto. Amigos da família registraram ocorrência nesta manhã pedindo investigação da morte. Eles suspeitam que houve demora no atendimento no Hospital Santa Lúcia.
3.       Marcelo era filho de Flávio Dino, que foi juiz e deputado federal, e da professora da Universidade de Brasília (UnB) Deane Fonseca, ex-mulher do presidente da Embratur. O casal teve outro filho, Vinícius, que tem 17 anos.
4.       O velório acontece nesta terça, a partir das 19h, na capela do Cemitério Campo da Esperança, em Brasília. O corpo será sepultado nesta quarta-feira (15/2/2012), às 10 horas, no mesmo cemitério.


Corpo do filho de presidente da Embratur [Flávio Dino] é enterrado [15fev2012]

Flávio Dino pediu ao governador Agnelo Queiroz (PT), presente no velório, que apure as causas da morte do menino de 13 anos após crise de asma; há suspeita de erro médico

Fonte: Portal IG – Últmo Segundo; AE | 15/02/2012; 18:26:16h
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/corpo-do-filho-de-presidente-da-embratur-e-enterrado/n1597629622231.html
Acesso RAS em 01fev2016

1.       Em clima de grande comoção dos familiares, foi sepultado na manhã desta quarta-feira (15) em Brasília o corpo do estudante Marcelo Dino Fonseca, filho do ex-deputado federal e atual presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), Flávio Dino.
2.       Marcelo, de 13 anos, morreu ontem na UTI do Hospital Santa Lúcia, onde havia sido internado na segunda-feira após sofrer uma crise de asma na escola. A polícia apura suspeitas de erro médico no socorro ao garoto.
3.       Inconsolável com a morte prematura do filho, Dino, que foi juiz federal por 12 anos e secretário-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), fez um desabafo emocionado.
4.       "Lutei a vida inteira por justiça para hoje sofrer uma injustiça dessas. Não pode haver dor maior do que o pai enterrar um filho tão jovem, morto de uma forma tão imbecil", disse. "Não é possível alguém morrer de asma dentro de uma UTI. Esse hospital matou meu filho. Por que não me mataram? Eu preferia mil vezes estar naquele caixão no lugar dele", desabafou.
5.       Transtornado, o dirigente teve de ser amparado por familiares e amigos, entre eles o ex-presidente do STF, ministro Gilmar Mendes. Dino pediu ao governador Agnelo Queiroz (PT), um dos presentes, empenho das autoridades na investigação sobre a causa da morte do menino. Essa é a segunda vez em menos de um mês que o Santa Lúcia é investigado por suspeita de responsabilidade na morte de pacientes. O hospital negou que a equipe tenha cometido erro ou atrasado o socorro.
6.       Em 19 de janeiro [2012], o secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva, morreu de ataque cardíaco em decorrência de omissão de socorro. O hospital foi um dos que se recusaram a interná-lo, mesmo diante dos sintomas de enfarte, porque ele não tinha em mãos, na hora, dinheiro nem cheque para deixar de caução. Ao chegar ao terceiro hospital, que o atendeu, já era tarde e ele morreu meia hora depois.
7.       Diversas autoridades estiveram presentes ao velório e enterro de Marcelo, entre elas o vice-presidente da República, Michel Temer; o procurador-geral da República, Roberto Gurgel; os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP) e da Câmara, Marco Maia (PT-ES); além de parlamentares de vários partidos.
8.       O PCdoB, partido ao qual Dino é filiado, mandou seus principais representantes, entre os quais o ministro do Esporte, Aldo Rebelo e o ex, Orlando Silva. Os ministros do Turismo, Gastão Vieira; das Relações Institucionais, Ideli Salvatti; e da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, também levaram solidariedade à família do dirigente.
9.       Portando faixas, centenas de amigos e colegas de Marcelo do Colégio Marista entoaram músicas dos grupos Legião Urbana e Paralamas do Sucesso, os preferidos de garoto, extrovertido, torcedor do Flamengo e amante de esportes. Ele praticava atividade física na escola quando desmaiou após crise asmática.
10.   Medicado na UTI do hospital Santa Lúcia, Marcelo passou a noite em observação e ontem acordou bem, às 5 horas. Tomou banho sozinho e mandou mensagem pelo celular para os amigos informando que logo receberia alta. Às 5h30, a equipe que o assistia aplicou o anti-inflamatório Solu-cortef no horário previsto, mas em vez de melhorar, Marcelo começou a passar mal e seu estado agravou-se rapidamente.
11.   O 1ª DP investiga se houve demora no socorro ao rapaz e se houve erro no tipo ou na dosagem do medicamento. Hoje foram intimadas a depor as primeiras cinco pessoas, entre médicos e assistentes que atenderam o paciente. A polícia também começou a analisar os prontuários e relatórios da equipe médica.




Flávio Dino: "É uma amputação irreparável"

 

O ex-deputado viu o filho morrer de asma dentro de um hospital privado de Brasília. Diz que o menino foi vítima de um sistema ganancioso e desumano [no Hospital Santa Lúcia].


Fonte: Revista ÉPOCA, Rede Globo; Entrevista de MARCELO ROCHA; 23/03/2012; 17h09h
Atualizado em 23/03/2012; 21h15h
Acesso RAS em 01fev2016


VIGILÂNCIA: Flávio Dino, pai de Marcelo. Ele sugere que o SUS e a Anvisa fiscalizem os hospitais privados como o Ministério da Educação faz com as faculdades (Foto: Igo Estrela/ÉPOCA)
CENTRO DE SAÚDE
A fachada do Hospital Santa Lúcia, de Brasília. O filho de Dino morreu depois de 17 horas de internação na UTI pediátrica (Foto: Monique Renne/CB/D.A Press)

  1. Na manhã de 14 de fevereiro [2012], uma terça-feira, pouco depois das 6 horas, o ex-deputado federal Flávio Dino (PCdoB-MA), de 43 anos e pai de dois filhos, recebeu uma ligação da mulher, Deane Maria. Ela falava do Hospital Santa Lúcia, um dos maiores de Brasília, para informar que Marcelo, o caçula, sofria uma nova crise de asma depois de 16 horas de internação. Dino pegou o carro e, por ruas ainda vazias, chegou ao hospital em poucos minutos. No trajeto, o ex-deputado se manteve calmo. Previu que Marcelo passaria por uma sessão de nebulização e logo estaria bom de novo.
  2. Ao entrar na unidade de tratamento intensivo (UTI), deparou com uma cena bem diferente da que imaginara. Marcelo ocupava uma das cinco camas, cercado por três médicos – uma mulher e dois homens –, visivelmente tensos. O filho estava inconsciente, com o rosto roxo, e parecia não respirar. “Adrenalina”, disse um dos médicos, enquanto fazia massagens cardíacas. Poucos minutos depois, viram os dois médicos deixar a sala. A médica ficou inerte em frente a Marcelo por alguns instantes. Em seguida, dirigiu-se ao casal: “O Marcelo não resistiu”.
  3. O destino de Marcelo gera consternação porque, apenas dois dias antes, era um adolescente ativo. No domingo, Dino e Marcelo pedalaram 10 quilômetros pelo Eixão, principal avenida de Brasília. Na segunda-feira, de volta à rotina, Dino viajou a trabalho para São Paulo. Desde junho do ano passado, preside a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur).
  4. Marcelo foi para o colégio, onde cursava o 9o ano do ensino fundamental. No final da manhã, o flamenguista Marcelo teve uma crise aguda de asma durante uma partida de futebol de salão. Sentiu falta de ar, vomitou e desmaiou. Foi socorrido e levado para o Santa Lúcia. Por volta das 14 horas, foi internado na UTI adulta do hospital e, mais tarde, transferido para a pediátrica. O prontuário médico registrou que seu quadro exigia monitoramento e que o menino necessitava de oxigenação. A mãe, Deane, fazia companhia.
  5. No início daquela noite, quem assumiu o plantão do Santa Lúcia foi a médica Izaura Emídio. Aos 39 anos, especializada em pediatria e terapia intensiva, ela já vinha de uma jornada de 12 horas de plantão no Hospital Regional de Taguatinga. Ao chegar, foi informada sobre as condições de saúde dos três pacientes da UTI: dois bebês e Marcelo. “Ele estava conversando normalmente. Estava ansioso. Não estava cansado”, disse Izaura à polícia. A situação parecia tão tranquila que Deane aconselhou o marido, que pousava em Brasília de volta de São Paulo, a nem seguir para o hospital. Marcelo dormia em paz e, possivelmente, teria alta no dia seguinte, logo cedo. Durante a madrugada, a médica Izaura visitou a UTI pediátrica duas vezes. Avaliou que Marcelo e os demais pacientes apresentavam “saúde estável”.
  6. Tudo seguia bem até as 4 horas, quando o menino deveria receber dois remédios para asma. Isso não aconteceu. Aí começaram as complicações. Às 5h30, a médica Izaura foi chamada para ajudar num parto no centro obstétrico, ao lado da UTI pediátrica. Marcelo só foi tomar o remédio às 6 horas. Em seguida, começou a passar mal. A mãe, Deane, pediu à auxiliar de enfermagem que chamasse a médica. Izaura não chegou.
  7. Depois de terminar o parto, ela foi trocar o uniforme. Enquanto isso, a crise de Marcelo se agravou. “Ele disse que não estava conseguindo respirar”, afirmou Deane. Segundo a mãe, os lábios já estavam roxos. A médica, finalmente, chegou e pediu equipamento para colocar um tubo de oxigênio no menino. O material veio, segundo o hospital, mas o procedimento não foi executado naquele momento.
  8. A médica pediu à auxiliar de enfermagem que chamasse o anestesista, que trabalha com entubação. Ele estava no centro cirúrgico, em outra área do hospital. A essa altura, já alertado pela mulher, Dino corria para o Santa Lúcia. O anestesista chegou à UTI pediátrica às 6h20. Pouco depois, pediu à equipe de enfermagem que substituísse o equipamento de entubação. Às 7 horas, Marcelo foi considerado morto.
  9. Procurada por ÉPOCA, Izaura afirmou que qualquer informação sobre o caso compete à direção do hospital. “O paciente recebeu todo o atendimento que a situação exigia e no tempo adequado”, diz o médico Cícero Dantas Neto, diretor técnico do Santa Lúcia. Segundo ele, havia uma situação de risco. “A asma é uma doença extremamente grave.” Mas, segundo especialistas, casos fatais são incomuns. “Com os medicamentos e tratamentos modernos, esses eventos (mortes em hospitais por asma) são muito raros”, afirma o médico Adalberto Sperb Rubin, diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e pneumologista da Santa Casa de Porto Alegre.
  10. O menino foi enterrado no dia seguinte em Brasília. No velório, passaram o vice-presidente da República, Michel Temer, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, o governador de Brasília, Agnelo Queiroz, e o ex-presidente José Sarney (PMDB), principal adversário político de Dino no Maranhão.
  11. No dia 19 de março, acompanhado de Deane, Dino recebeu É-POCA num hotel de Brasília e deu a primeira entrevista com detalhes sobre a morte do filho. Desde a tragédia, está licenciado da Embratur. Com experiência de juiz federal aposentado, Dino é comedido quando fala do inquérito policial que apura o caso, sob a responsabilidade do delegado Anderson Espíndola. Só então decidirá o que fazer para que a morte prematura de Marcelo ajude a mostrar as falhas do sistema de saúde brasileiro.
  12. Apesar da tristeza, Flávio Dino falou com firmeza por mais de uma hora. No final, cedeu à emoção e sucumbiu ao choro.
“Sinto muita indignação nos momentos em que racionalizo o que aconteceu. Os últimos 30 dias não existiram para mim.”

Entrevista de MARCELO ROCHA; 23/03/2012; 17h09m.

[1] ÉPOCA – Como o senhor enfrenta a morte de seu filho?
Flávio Dino – Estou tentando organizar a vida. Marcelo é insubstituível. Ele era muito amoroso, carinhoso, afetuoso com a gente e na escola. Sinto muita indignação nos momentos em que racionalizo o que ocorreu. Os últimos 30 dias não existiram para mim. O que existe é 14 de fevereiro às 7 horas da manhã. É onde estou. Marcelo foi uma vítima indefesa de um sistema desumano e ganancioso. Foi uma tragédia de proporções inimagináveis. É uma amputação irreparável de uma parte de nossa vida. É uma dor incurável, que vai nos acompanhar sempre. É a negação do direito de Marcelo viver, de ser feliz.

[2] ÉPOCA – Que explicação o hospital deu à família?
Dino – Eles não responderam às perguntas principais. O hospital soltou uma nota. Deram a entender que o Marcelo chegou do colégio e morreu. Não. Se ele tivesse chegado do colégio muito mal e tivesse morrido na recepção, eu não estaria aqui. O prontuário diz que Marcelo estava bem, falando, mandando e-mail, com oxigênio lá acima de 95% o tempo todo. O que mudou entre as 6 horas e as 6h30 da manhã do dia 14 de fevereiro é o que a gente não sabe.

[3] ÉPOCA – O que o senhor pretende fazer em relação ao hospital?
Dino – Não quero um centavo do hospital. Não recebo dinheiro da indústria da morte. Só quero a verdade. O hospital, em vez de nos trazer a verdade, fica querendo esconder, para não ter de pagar indenização.

[4] ÉPOCA – O senhor está próximo de saber a verdade?
Dino – Prefiro aguardar o que as autoridades vão dizer. Se você me perguntar se houve crime, vou dizer que não sei. Quem vai dizer isso é a polícia e o Ministério Público. Pelo fato de ser juiz, prefiro aguardar o desfecho das investigações para falar sobre elas.

[5] ÉPOCA – O que ocorreu durante o período em que seu filho ficou internado?
Dino – É uma longa sequência de má conduta. Meu filho chegou ao Santa Lúcia consciente, andando, tomou banho sozinho. No período em que lá esteve, nenhum exame específico foi feito. Sequer um pneumologista o avaliou. Eles minimizaram o quadro do Marcelo e, por isso, não se deram conta de que ele poderia ter outra crise. Outra questão são as condições de trabalho da médica, Izaura Emídio. Ela assumiu o plantão na noite anterior depois de 12 horas de outro plantão. Ela não tinha plenas condições de trabalho por uma questão óbvia, orgânica.

[6] ÉPOCA – O que foi feito para tentar salvar Marcelo?
Dino – Quando ele teve a crise, a Deane (mãe), que o acompanhava no hospital, chamou a auxiliar de enfermagem. A auxiliar de enfermagem foi chamar a médica. A médica não veio. Passado algum tempo, meu filho tinha parado de respirar. Começou a ficar roxo. A auxiliar de enfermagem voltou a chamar a médica. A médica relatou à polícia que demorou porque fora se trocar.

[7] ÉPOCA – Quanto tempo transcorreu até ela chegar?
Dino – Uns quatro minutos. Quando a médica chegou, o Marcelo estava roxo nos lábios e começou a ficar roxo no rosto também. O que a literatura médica diz? Só existe uma conduta absoluta: entubar na hora, porque significa que o paciente está em parada respiratória. Um pneumologista que está me assistindo diz que são quatro ou cinco minutos para você salvar uma vida nessas condições.

[8] ÉPOCA – Como exigir transparência dos hospitais privados?
Dino – Esse é um papel do Poder Público. Faço analogia com a educação. Se existe um sistema público de avaliação das faculdades, deve existir para os hospitais também. No caso específico de erros, de crimes, deve haver regras específicas que hoje não existem, de preservação da cena do crime. O hospital tem uma relação com seu corpo profissional e outra com seus pacientes. Eles só olham a relação com o corpo profissional. Tanto que os advogados dos médicos são os advogados do hospital. Eles não veem que existe um paciente que pagou pelo serviço que não foi prestado.

[9] ÉPOCA – O que existe do outro lado do balcão?
Dino – Existe um sistema que se caracteriza pela impenetrabilidade e pela desumanidade. Quem domina todas as informações é o hospital. É preciso haver transparência no controle dessas informações, e esse direito do paciente deve ser respeitado.


[10] ÉPOCA – O consumidor brasileiro tem a quem recorrer numa hora como essa?
Dino – Você tem de recorrer à polícia e ao Ministério Público. Por isso, defendo o fortalecimento da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e dos órgãos do Sistema Único de Saúde. Há os Conselhos Regionais, das próprias profissões. Nos hospitais privados, médicos e enfermeiros são obrigados, segundo eles, a se submeter a situações desumanas porque também não têm quem os proteja.

[11] ÉPOCA – Numa situação de emergência, onde buscar socorro: no hospital público ou privado?
Dino – No caso dos hospitais particulares, o mais grave é a ganância. A busca do lucro máximo impede a prestação adequada dos serviços. Afinal, um hospital é uma empresa como outra qualquer, feita para lucrar, ou tem compromisso com a qualidade? E quem fiscaliza essa qualidade? Na rede pública, temos o debate sobre verbas e sobre a corrupção. Por cima de tudo, existe a desumanidade, a coisificação da vida humana. É como se fosse produção de estatística. Nos hospitais públicos, é uma dificuldade histórica, que não distingue governos. Nos particulares, o problema é empresarial, que chamo de indústria da morte.

[12] ÉPOCA – O senhor pretende fazer alguma campanha?
Dino – A morte dele (de Marcelo) tem de servir para alguma coisa, para dar sentido à vida dele. Não sou movido por sentimento de vingança. Luto por justiça. Nesse caso, existe uma singularidade, que é a justiça para o meu filho, mas tenho a esperança de que a morte dele sirva para a adoção de medidas que previnam ocorrências similares.

[13] ÉPOCA – No que essa campanha pode ajudar?
Dino – Por exemplo: hoje existe o sistema de avaliação de qualidade das faculdades. O Ministério da Educação vai lá, inspeciona, atribui nota, verifica o currículo dos profissionais e, no limite, se a instituição não preencher determinados parâmetros de qualidade, ela poderá deixar de funcionar. Nos hospitais não existe isso. É como se fosse um comércio qualquer. Não é hora de existir um sistema de avaliação de qualidade, conduzido pelo SUS, pela Anvisa, para que os consumidores possam afinal saber o que os hospitais oferecem?




Flávio Dino levará ao STF processo que investiga a morte do filho [Marcelo, 13 anos]

Ex-presidente da Embratur, Flávio Dino não se conforma com a decisão do STJ de arquivar investigação sobre as circunstâncias da morte do garoto, há dois anos, vítima de asma, em uma UTI de hospital particular. A estratégia agora é levar o caso ao Supremo

Fonte: Jornal CORREIO BRAZILIENSE
postado em 11/12/2014;  07:30h / atualizado em 11/12/2014; 07:09h; Roberta Pinheiro
Acesso RAS em 01fev2016


"A morte bárbara de uma criança não é um fato banal que possa ser arquivado como papéis velhos. Temos ainda vários processos contra o Hospital Santa Lúcia e inclusive temos obtido êxito em várias questões"

No começo de 2014, Flávio Dino deixou a presidência do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) para se candidatar ao governo do Maranhão. Foi eleito no primeiro turno, pelo PCdoB, com mais de 60% dos votos. Mas, ao seu lado, faltava alguém importante para celebrar a vitória. Em 2012, o filho caçula do governador, Marcelo Dino, à época com 13 anos, não resistiu a uma forte crise de asma e teve uma parada cardiorrespiratório durante internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Lúcia.

A família registrou ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) sob a alegação de erro médico. A polícia deu início à investigação e, dois meses depois, indiciou a médica e a enfermeira que atenderam o jovem com a justificativa de que houve falhas no atendimento. Em agosto, os pais deram entrada em uma ação penal privada contra a médica Izaura Costa Rodrigues e a enfermeira Luzia Cristina dos Santos Rocha. Segundo eles, havia indícios suficientes para subsidiar a denúncia, e o Ministério Público do DF e dos Territórios (MPDFT) perdera prazos para oferecer a acusação.

No entanto, todas as tentativas de desqualificar o atendimento a Marcelo Dino foram até agora infrutíferas. Em novembro, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) extinguiu o processo que apurava as circunstâncias da morte de Marcelo.

A decisão da Corte confirmou o entendimento do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT) de arquivar o inquérito que apurava suposta imperícia da médica e da enfermeira que atenderam Marcelo.

No entanto, os pais do menino não se conformam. Decidiram prosseguir com o processo e recorrer da decisão ao Supremo Tribunal Federal (STF).


[1] Como foi viver uma superação pessoal como a eleição para o governo do Maranhão numa situação de perda do filho?
Não há superação total para quem é vítima de uma violência dessa dimensão. Quando tudo ocorreu, disse que iria sobreviver para transformar o luto em luta. É o que tenho feito: lutado por justiça para o meu filho, por um futuro melhor para as crianças do Maranhão, por um país mais justo.

[2] pós o arquivamento de um dos processos, quais são os próximos passos? O que o senhor vai alegar para levar o caso ao Supremo?
Apesar dos estranhos esforços de um promotor do DF, nenhum processo criminal foi arquivado ainda. Há recursos da procuradoria geral de justiça e da família de Marcelo pendentes no STJ. Note-se: a procuradoria geral de justiça recorreu contra o arquivamento do caso. Na ação penal privada, movida por mim contra a médica Izaura, há recurso pendente no Supremo. Interessante notar que jamais o mérito do caso do meu filho foi julgado. Há apenas filigranas processuais inventadas para impedir exatamente que o Judiciário julgue o mérito, ou seja, avalie os disparates que ocorreram no hospital Santa Lúcia no dia 14 de fevereiro de 2012.

[3] Quais processos tramitam hoje?
O inquérito policial, que não foi arquivado, pois existem recursos no STJ, inclusive do próprio Ministério Público do DF. Existe a ação penal privada, em exame no Supremo. E uma ação indenizatória movida contra o hospital Santa Lúcia, ainda em primeira instância. Além disso, o hospital foi multado pelo Ministério do Trabalho e pela Vigilância Sanitária, além de responder a uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do Trabalho.

[4] Quais provas e argumentos o senhor tem usado para alegar que houve erro médico no caso da morte do seu filho?
Meu filho tinha asma moderada. No dia 13 de fevereiro, teve uma crise na escola, jogando futebol, e então foi levado ao Santa Lúcia, onde ficou por 19 horas consecutivas, sem nenhuma nova crise. Nesse período, nenhum exame específico foi realizado nele. Sequer um pneumologista o avaliou. Mas confiávamos no hospital. Na manhã do dia 14, todos os parâmetros dele estavam ótimos, saturação de oxigênio excelente. Estava bem disposto. Mandou mensagem de celular aos amigos avisando que estava saindo do hospital. Às 6 horas da manhã, ele tomou uma dose de SoluMedrol aplicado por uma auxiliar de enfermagem, que legalmente não poderia estar ali nem fazer aquele procedimento. O remédio pode causar parada respiratória, sobretudo quando aplicado muito rapidamente. A mãe de Marcelo estava presente à hora da aplicação e relatou que ela durou alguns segundos. Imediatamente, meu filho teve uma crise respiratória que nunca havia tido na vida.

[5] O que houve a seguir?
Não havia nenhum médico na UTI Infantil do Santa Lúcia. Meu filho morreu por uma aplicação errada de medicamento e por demora no atendimento dentro de uma UTI no suposto melhor hospital de Brasília. O inquérito conduzido pela Polícia Civil constatou, a partir dos depoimentos de enfermeiras, que a médica Izaura Costa Rodrigues estava auxiliando um parto no momento em que meu filho teve a crise. Ela era a única plantonista, responsável pela UTI, mas não estava presente no momento. Simplesmente saiu, e não deixou nenhum substituto. Isso é absolutamente ilegal. Quando chamada, tardou cerca de cinco minutos para chegar, pois foi trocar de roupa, que estava suja da sala de parto. Pode parecer pouco, mas para uma pessoa que está sem respirar é determinante. E quando ela chegou, sequer fez a intubação orotraqueal, provavelmente porque não sabia fazer. Ela esperou a chegada de um anestesista, que demorou mais 10 minutos. Enquanto isso meu filho agonizava na nossa frente. A mangueira do oxigênio quebrou. Enfim, um caos. Essa é a verdade, apurada claramente no inquérito policial.

[6] O senhor, como ex-juiz federal, não confia na Justiça brasileira?
Sim, confio. Por isso mesmo que sei que a impunidade não vai prevalecer nesse bárbaro caso. Pode levar a minha vida inteira, mas algum tipo de justiça será feita. A justiça possível vai ocorrer. A justiça plena será feita por Deus.

[7] O que mudou na vida dos senhor nos últimos três anos? Como tem sido esse tempo?
Tempo de muita dor e sofrimento. Nó na garganta diariamente. E muita saudade de um menino maravilhoso e feliz, grande jogador de futebol e guitarrista.

[8] Alguma dessas decisões seria capaz de reduzir o sofrimento da família?
Não, jamais. Lutamos por justiça sobretudo por causa de outras famílias. Creio que chegará o tempo de esses crimes não serem tão banais como são atualmente em Brasília. No caso de Marcelo queremos apenas que o poder Judiciário possa julgar o que ocorreu, coisa que até aqui nunca foi possível, por conta de filigranas processuais. Temos direito à verdade.


Reaberto o caso da morte do filho [Marcelo] do governador do Maranhão Flávio Dino

Fonte: Blog realidade na Tela
Acesso RAS em 01fev2016


Três anos após a morte de Marcelo Dino, filho caçula do governador Flávio Dino, o STF autorizou a reabertura da investigação do caso. Em 2012, aos 13 anos, Marcelo não resistiu a uma forte crise de asma e teve uma parada cardiorrespiratória ao ser internado na UTI do Hospital Santa Lúcia, em Brasília.

Na época, a médica e a auxiliar de enfermagem que atenderam o menino foram indiciadas por suposto erro médico, mas o MP do Distrito Federal perdeu o prazo para oferecer a denúncia.
No mesmo ano, diante da falta de ação do MP, Flávio e a mulher deram entrada com uma ação penal privada contra as duas. Mas a ação não prosseguiu porque o TJ do Distrito Federal entendeu que não estava provada a inércia do MP.
O STJ manteve a decisão de trancamento da ação.
Agora, o Supremo autorizou o prosseguimento da ação penal privada, por quatro votos a dois.

Por Lauro Jardim


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