ARTIGO DE MARCO
POLO DEL NERO – CBF [08set2015]
A
ditadura do erro zero e o preço da intolerância
FONTE: SITE OFICIAL DA
CBF; 08/09/2015 às 18:08 | Assessoria CBF
“Não se busca o diálogo, mas a ofensa. (...)
Entrei aqui para fazer amigos e não para brigar, para ter inimizades. Não faz
bem, não quero isso. Vou cuidar da minha vida.”
O desabafo caberia perfeitamente na boca de qualquer
pessoa que vive o futebol ou nele milita, por dever de ofício ou paixão.
Poderia ser de um atleta bem remunerado ou de um dirigente amador. De um
árbitro achincalhado por ter cometido um erro decisivo ou de um treinador
chamado de burro por dezenas de milhares de pessoas que não concordam com uma
convocação ou substituição.
Mas a frase é de alguém acostumado às penas. Um
profissional renomado, consagrado e calejado, com décadas de serviços prestados
ao esporte. O jornalista ANTERO GRECO,
um dos pontos de lucidez da mídia especializada, foi alvo da irracionalidade
que parece ter invadido de vez o nosso futebol.
“Isso machuca, decepciona, entristece. Nos
últimos dias, me empenhei em pedir bom senso, ponderação, PAZ, até porque o
país anda tenso. Mas, em vez de compreensão, recebi mais xingamentos (...) De repente, virei inimigo, desonesto, mau
caráter. Recebi até ameaças. Não é justo isso comigo, com minha família”, escreveu
o colunista da “ESPN Brasil” e de “O Estado de S. Paulo” ao abandonar o
Twitter.
GRECO não
foi o primeiro a ver seu nome maculado por indivíduos que julgam sem
conhecimento, que destroem nomes sem ao menos dar direito ao contraditório.
Antes dele, outros expoentes do jornalismo esportivo, como ANDRÉ RIZEK, LEDIO CARMONA
e MARCELO BARRETO, todos do Grupo
Globo, e FLÁVIO GOMES, do “Fox
Sports”, tiveram que enfrentar a barbárie e a fúria de fanáticos e extremistas.
A intolerância faz vítimas diariamente no futebol. O
equívoco deixou de ser admitido como algo humano. Juízes, jogadores,
treinadores, diretores – e agora até jornalistas – todos estão no mesmo barco
do julgamento coletivo e instantâneo, à deriva da ditadura do erro zero.
A emoção que é a alma do futebol não pode ser desculpa
para declarações irresponsáveis de dirigentes, técnicos, jornalistas e
torcedores que jogam em terceiros suas próprias frustrações. Pessoas que usam
microfones ou as redes sociais para, sem qualquer indício ou prova, “denunciar”
uma teoria conspiratória de que um campeonato com a história e o equilíbrio do
Brasileirão já tem um vencedor antes mesmo de seu terço final.
É um erro chamar de torcedores os selvagens que se
escondem atrás da multidão, do anonimato ou da internet para expurgar seus
descontentamentos à custa do desassossego de pessoas que apenas estão exercendo
seu direito de trabalhar, opinar ou simplesmente se divertir.
A ira desmedida alveja presidentes de clubes impedidos
de sair de casa após uma derrota em um clássico. Fere à queima-roupa árbitros
apontados como ladrões antes mesmo do primeiro apito.
A CBF pretende
iniciar um Debate Nacional que permita às pessoas envolvidas no futebol a
preservação de sua imagem até que se prove o contrário. É a hora da cruzada
pelo respeito não só aos juízes dentro de campo, mas a todos aqueles que torcem
e se esmeram por um futebol brasileiro melhor.
O “fair play” que pregamos em campo
pode ser seguido por todos os segmentos do esporte, inclusive os torcedores,
protagonistas deste espetáculo. No futebol, sempre haverá vencedores e
vencidos, faz parte do jogo. Só não podemos mais admitir a agressão, a ameaça a
famílias ou a destruição de reputações com a justificativa rasa e primária de
que futebol é paixão.
Marco Polo Del Nero
Presidente da CBF”
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