terça-feira, 31 de janeiro de 2017

[366] EIKE BATISTA, O JOGADOR, APOSTA NO RIO DE JANEIRO COMO SUA MECA DE INVESTIMENTOS. Revista VEJA Rio, março 2007.



RIO: A NOVA BANCA DE APOSTAS DE EIKE BATISTA [14mar2007]

Ø Bilionário da mineração, o empresário quer deixar sua marca em projetos no Rio de Janeiro.

Fabio Brisolla 14/03/2007.
http://veja.abril.com.br/vejarj/140307/capa.html


Leo Pinheiro/Valor
Ag. O Globo
RAIO X [março 2007]
Nome: EIKE BATISTA
Idade: 49 anos
Formação: engenheiro metalúrgico
Patrimônio: fortuna estimada em 1 bilhão de dólares* [em março 2007]
Empresas: o grupo EBX reúne a MMX, empresa de mineração de capital aberto avaliada em 2,5 bilhões de dólares; a ETX, empresa responsável pela exploração de água no Deserto de Atacama, no Chile; e a REX, empresa do setor imobiliário.
Investimentos: o grupo EBX mobiliza projetos no valor de 4,5 bilhões de dólares
(*) Nota RAS: Fortuna estimada em US$ 16 bilhões em março 2008

  1. Quando decidiu montar um restaurante, há quase três anos, Eike Batista encantou-se com um endereço em São Conrado. Pagou 150.000 reais de luvas, alugou o espaço e, só então, percebeu que aquele não era o lugar que procurava. Perdeu o dinheiro, mas não o entusiasmo. A casa onde funcionava o restaurante Antonino, na Lagoa, foi o objetivo seguinte. Fechou o negócio com os donos do imóvel e, novamente, mudou de idéia. Foram mais 50.000 reais perdidos em luvas.
  2. Pouco tempo depois, enquanto jantava no Lake Sushi, também na Lagoa, soube pelo garçom que a casa ia fechar. Rapidamente, assinou um novo contrato e, enfim, resolveu tocar a longa obra que resultaria no Mr. Lam, restaurante cujo cardápio foi criado pelo chef chinês que Eike conhecera em Londres.
  3. Os 200.000 reais que deixou pelo caminho são insignificantes na conta de Eike. Para ele, o risco sempre fez parte do negócio. "Já torrei 500 milhões de dólares pesquisando ouro e não achei p... nenhuma. É um aprendizado difícil de passar", confessa Eike com sua voz grave, no tom de locutor de rádio AM.
  4. A experiência com o restaurante foi o primeiro passo de uma nova vertente – pequena, é verdade – dos negócios do homem que acumulou uma fortuna estimada em 1 bilhão de dólares no setor de mineração. "Eu me dei conta de que nunca tinha feito nada pelo Rio de Janeiro. E decidi fazer a minha parte como empresário", explica.
  5. O traumático episódio do ouro, aquele em que Eike perdeu meio bilhão de dólares, ocorreu durante o período em que o empresário se associou a uma companhia de mineração canadense. Descontraído, Eike conta a história quase em tom de galhofa, na sala de reuniões de seu escritório com vista para a Baía de Guanabara. Não hesita em falar sobre fracassos por um motivo simples: ele ganha bem mais do que perde. Quanto exatamente? A resposta é sempre a mesma. "O suficiente", repete o empresário.
  6. Em seguida, ele congela o sorriso no rosto e dá uma risadinha fina, com os olhos arregalados. Eike é do tipo que faz um comentário engraçado e ri antes mesmo dos que estão à sua volta. Ele tem motivos. Mesmo assim, durante treze anos, exerceu papel de coadjuvante. Era reconhecido pelo grande público apenas como o marido da Luma de Oliveira. Separado há três anos, ele decidiu ser protagonista.
  7. E a vontade de investir no Rio é uma das formas de alcançar o objetivo. Além do restaurante, a EBX, empresa de Eike, está investindo 14 milhões de dólares no projeto de um hospital particular [MDX] na Barra e outros 14 milhões em um navio projetado para passeios e festas na Baía de Guanabara (veja quadros nesta página).
  8. Seus negócios "cariocas" são pequenos para os padrões de suas empresas. Não é à toa que todas elas têm um X no nome. É o sinal de multiplicação, um misto de superstição com uma forma de o empresário dizer que pensa grande. E a mesa de apostas de Eike esteve movimentada nos últimos dias. Tudo por causa de um projeto no BALNEÁRIO DE BÚZIOS, esse, sim, um investimento mais próximo da Escala Eike. Ele planeja transformar a Marina de Búzios num complexo com dois hotéis seis-estrelas, lotes residenciais e uma badalada área comercial.
  9. O investimento inicial previsto é de 150 milhões de dólares, sem incluir aí o custo dos hotéis. "Faremos uma nova Rua das Pedras com cafés, bares, restaurantes, lojas e boates", anunciou um empolgado Eike na primeira de duas entrevistas concedidas a Veja Rio. No intervalo entre as duas conversas, houve um impasse na negociação com Eduardo Modiano, proprietário do terreno da marina.
  10. Na manhã de terça-feira (6), os representantes de Eike enviaram um comunicado a EDUARDO MODIANO. "Fui surpreendido por uma carta de desistência. O negócio não estava totalmente fechado e ele tinha essa possibilidade de desistir", conta Modiano. A notícia foi publicada na quarta-feira (7) pelo colunista Ancelmo Gois, do jornal O Globo. No mesmo dia, Eike, bem a seu estilo, encontrou pessoalmente Modiano para tentar remediar a situação. Até então, o contrato vinha sendo tratado entre advogados e representantes das duas partes. "Nós não saímos da mesa de negociação", frisa Eike. Segundo ele, a carta de desistência não era bem uma desistência, apenas uma etapa do processo de negociação.
  11. Eike é esperto, conhecido pelo talento de lidar com situações adversas. E elas não são poucas. O empresário parece ter vocação para se meter em confusão. "Meu pai sempre achou que eu era bem doido. Tem muita loucura aí, muita loucura", diz, sorridente, referindo-se à ousadia de alguns projetos da EBX.
  12. O mineiro EIKE FUHRKEN BATISTA, 49 anos, é filho de ELIEZER BATISTA, 82, ex-presidente da Companhia Vale do Rio Doce e ministro das Minas e Energia durante o governo João Goulart. Eike formou-se em engenharia metalúrgica na Alemanha e começou a colecionar histórias inusitadas. Iniciou a carreira de empresário do setor de mineração como intermediário na venda de diamantes. Primeiro, ele identificou os vendedores da pedra preciosa na selva amazônica.
  13. Em seguida, fez uma escala em Antuérpia, Bélgica, onde se apresentou a compradores de diamante. "Falei para eles: 'Venham ao Brasil que consigo os diamantes'. E eles vinham, confiavam em mim. Tem alguma coisa que faz o pessoal confiar em mim, não sei o que é!", diz, às gargalhadas.
  14. O passo seguinte foi comprar e vender ouro. O garoto de 22 anos, recém-saído da universidade, pediu 500.000 dólares emprestados a dois joalheiros judeus. "E ganhou 6 milhões de dólares em um ano", conta ROBERTO COSTA, um dos diretores da EBX, presente na entrevista a Veja Rio. No momento de falar sobre seu histórico profissional, Eike levantou-se da cadeira e saiu da sala.
  15. E Roberto prosseguiu, relatando a carreira do chefe com empolgação, detalhadamente. O funcionário destaca a visão empresarial de Eike Batista. "Quando não tinha capital suficiente para entrar no negócio, ele trazia um operador grande, ficava com uma participação menor e era carregado. Eike sempre fala que era bunda de baleia", conta Roberto. "É importante conhecer a história do Eike para saber apresentar o grupo a outros investidores", explica FLÁVIO GODINHO, veterano diretor da EBX.
  16. É inegável o fascínio que Eike exerce sobre seus discípulos. "Ele brinca dizendo: 'Quero fazer vocês ricos e quero ficar mais rico ainda'", diz RODOLFO LANDIM, ex-presidente da BR Distribuidora e atual presidente executivo da MMX. A brincadeira, nesse caso, tem um fundo considerável de verdade.
  17. A MMX é a empresa do grupo EBX especializada na área de mineração. No ano passado, a companhia abriu capital na bolsa de valores e atualmente está avaliada em 2,5 bilhões de dólares.
  18. De volta à entrevista, Eike fala sobre o projeto polêmico da MMX. A tentativa de construir uma usina siderúrgica na Bolívia resultou em fiasco. A empresa foi expulsa do país pelo presidente Evo Morales. Atualmente, ele negocia a retirada dos equipamentos avaliados em 50 milhões de dólares e, se tudo der certo, Eike só vai perder nessa jogada 20 milhões de dólares. Para conversar com os bolivianos, o empresário chegou a contratar o consultor JOSÉ DIRCEU, ex-chefe da Casa Civil do governo Lula. "Foi um contrato de quatro meses, que infelizmente não funcionou. Mas ele é um excelente consultor", diz Eike. José Dirceu preferiu não falar sobre o assunto. Eike aposta em políticos.
  19. Nas últimas eleições, desembolsou 4,5 milhões de reais em doações para partidos e candidatos. O senador DELCÍDIO DO AMARAL, de Mato Grosso do Sul, recebeu 400.000 reais. "Ele ajudou políticos de vários estados do Brasil. E foi uma contribuição pessoal. Ele separa as coisas", elogia Delcídio.
  20. Em Mato Grosso do Sul, a MMX está construindo uma usina siderúrgica na cidade de Corumbá. Em Minas Gerais, há um complexo projeto de exploração de minério. Além de comprar a mina, Eike adquiriu uma área no litoral norte do estado do Rio para construir um porto e planeja criar um mineroduto com 125 quilômetros de extensão para escoar a produção até o mar. "Não tem nada que a gente considere impossível. Talvez ir para a Lua, porque foguete é um negócio complicado", diz o empresário. Eike adora falar sobre trabalho. Mesmo fora do trabalho. Se tem uma idéia nova, costuma ligar no fim de semana ou de madrugada para seus diretores para discutir o assunto com eles.
  21. E, na hora da diversão, o espírito de competição é marcante. Em 1989, numa viagem a Angra dos Reis, foi desafiado por um vizinho para uma corrida de lancha. Eike tinha uma de passeio. Já o vizinho, uma boa lancha esportiva. "Na largada veio uma onda, bebi água, quase quebrei o barco e fiquei bem p...", lembra.
  22. Pouco tempo depois, Eike voltou a Angra a bordo de uma lancha esportiva construída por um famoso fabricante americano e equipada com um potente motor italiano Lamborghini. "Ganhei todas as provas que disputei, logo depois me casei e parei de competir. Era muito arriscado."
  23. Com LUMA DE OLIVEIRA, Eike teve dois filhos e muita exposição. Chegou a ir ao programa do Faustão para dar lances em um biquíni de Luma posto em leilão. "Ela me pediu e eu fui. É aquele negócio, todo mundo tem um patrão, e as esposas mandam na gente", resume. Na separação, Luma ficou com a casa onde eles moravam no Jardim Botânico e a residência em Búzios. O valor da pensão, segundo Eike, é "o suficiente".
  24. Namorando há quase um ano a ex-modelo Flávia Sampaio, de 26 anos, Eike pondera sobre os tempos de Luma e avalia os danos causados à sua imagem. "Eu sempre fui o marido da Luma de Oliveira e, quando se falava nela, era só Carnaval. Parecia que só me vinculavam ao Carnaval." Distante da folia, o empresário quer aparecer no Rio de Janeiro por seus próprios méritos e finalmente ser reconhecido apenas como Eike Batista.


Rodrigo Queiroz
Silvana Graça
Modelos: Luma de Oliveira ficou com a casa e Flávia Sampaio (à dir.) assumiu o coração de Eike Batista
Velocidade: lanchas esportivas são o brinquedo favorito do empresário


PINK FLEET : O navio com 55 metros de comprimento está em reforma num estaleiro alemão para abrigar restaurante para 160 pessoas,
salão de festas, lojas e bares. Serão seis ambientes com capacidade para 550 passageiros. A EBX pretende promover passeios pela Baía de Guanabara e alugar a embarcação para festas. O investimento é de 14 milhões de dólares.
MARINA BÚZIOS : No lugar já existe uma marina e um belo campo de golfe. Eike promete ampliar a capacidade da marina e construir um centro comercial com lojas, supermercado, restaurantes e boates. O projeto prevê ainda lotes para casas e a construção de dois hotéis de seis estrelas, um perto do campo de golfe e outro, com bangalôs, na ilha próxima à marina. A negociação com o proprietário, Eduardo Modiano, está intricada.

Fotos divulgação
MDX Day Hospital: Eike define o projeto como um shopping médico. A idéia é reunir num mesmo local centros cirúrgicos, consultórios e laboratórios de análises clínicas. Todas as salas serão alugadas. O hospital está sendo construído na Avenida das Américas, na Barra, ao lado do Outback. A obra está avaliada em 14 milhões de dólares.
Mr. Lam : O restaurante londrino Mr. Chow é um dos favoritos de Eike. Por isso, ele decidiu convidar o chef da casa, o chinês Mr. Lam, para comandar um restaurante no Rio de Janeiro. Apenas com a compra do espaço onde funciona o restaurante ele gastou 7 milhões de dólares. A construção da casa consumiu outros 3 milhões de dólares.



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