segunda-feira, 28 de setembro de 2015

[116] REVISTA BULA: HQ - VIP - OS 10 MELHORES QUADRINHOS DE SUPER-HERÓIS DE TODOS OS TEMPOS

 [116] REVISTA BULA VIP: 

OS 10 MELHORES QUADRINHOS DE
SUPER-HERÓIS DE TODOS OS TEMPOS

Fonte: Revista bula; por EDSON ARAN; em COISAS PRA LER
Sem data. Acesso RAS em 28set2015
Site: http://www.revistabula.com/5079-os-10-melhores-quadrinhos-de-super-herois-de-todos-os-tempos/



Os quadrinhos de super-heróis são a narrativa épica do nosso tempo. Não temos mais Ulisses, Poseidon e Homero, mas temos Doom Patrol, a Irmandade Dadá e Grant Morrison. Não faça essa cara. As pessoas ouviam as narrativas de Homero para escapar do quotidiano chato da Grécia Clássica. Nós lemos quadrinhos de ação pelo mesmo motivo. Não há nada de novo sob o sol. Ou melhor, há sim: super-heróis com colãs multicoloridos!
Bang! Pflot! Zum!

[1] O CAVALEIRO DAS TREVAS
Texto e arte de Frank Miller
Esta HQ aparece em 10 entre 10 listas de melhores quadrinhos de todos os tempos, então vamos nos livrar dela logo de cara. Escrita e desenhada por Frank Miller na sua fase mais criativa, a série redefiniu o Batman como o vigilante psicótico e obsessivo que todos nós amamos. Numa Gothan City futura e violenta, um Bruce Wayne de 60 anos veste novamente o colã para combater o crime. A HQ mostra como a figura do Batman causa impacto na sociedade, com acalorados debates sobre direitos humanos e uma legião de imitadores que tomam a justiça em suas mãos com resultados desastrosos. A história termina em uma luta entre o morcego e Superman, que virou uma espécie de superagente do governo americano (é a inspiração para o filme “Batman Vs Superman”, de Zack Snyder, aquele indigente mental). Frank Miller usa o recurso do discurso interior, o que na época era uma novidade, mas que depois se transformou numa muleta pro autor em obras bastante inferiores como “Sin City” e o abominável “300”. Ainda hoje, é uma excelente novela gráfica, embora o reacionarismo de Miller já estivesse todo lá.


[2] WATCHMEN
Texto de Alan Moore e arte de David Gibbons
“Watchmen” sempre é citada junto com “O Cavaleiro das Trevas” como “as obras que redefiniram os super-heróis”. É um erro. Embora contemporâneas, são duas HQs completamente diferentes. “Watchmen” é libertária e irônica com os vigilantes mascarados, retratados como tipos perigosos e fascistas. O grande vilão da história (olha o spoiler) é o super-herói Ozymandias, que decide forjar uma invasão alienígena para acabar com uma guerra nuclear entre EUA e a União Soviética e, portanto, salvar o mundo. Mas esse ato heroico redime seus crimes? E, afinal, quem deu a ele o direito de decidir quem vive e quem morre? “Quem vigia os vigilantes? / Who watches the Watchmen?” é a pergunta que percorre e define a obra. Muito diferente de “O Cavaleiro das Trevas”, que faz apologia do vigilantismo. Detalhe: se você conheceu essa história pelo filme medonho de Zack Snyder, aquele indigente mental, você viu coisas que não podem ser desvistas. O quadrinho é a obra de um gênio (Alan Moore) e as alterações que Snyder faz na história destroem o conceito de toda a trama.





[3] DOOM PATROL
Texto de Grant Morrison, arte de Richard Case e outros
A “Doom Patrol” escrita pelo escocês Grant Morrison não costuma frequentar este tipo de “top ten”, o que é inexplicável, já que a HQ é, de muitas maneiras, superior até mesmo a “Watchmen”. Enquanto Alan Moore traz os super-heróis para o mundo real, Grant Morrison os leva para o mundo surreal. É um universo povoado por pinturas que engolem cidades, ruas conscientes e ônibus movidos a LSD. Criado em 1963, “Doom Patrol” nunca foi um quadrinho mainstream, mas Morrison levou a inadequação ao extremo quando assumiu o título em 1989. Ele acrescentou personagens bizarros como Crazy Jane (uma garota de múltiplas personalidades, cada uma com um poder diferente) e Danny, The Street, que é… bem, uma rua viva! Ah, sim. Danny também é gay. Os maiores adversários da Patrulha do Destino são a Irmandade Dadá comandada por Mr Nobody. Na primeira aparição, eles usam uma pintura que devora Paris. Na segunda, pegam a bicicleta de Albert Hofmann, o inventor do LSD, para fazer um tour pelos Estados Unidos. Por onde passa, a bicicleta transforma tudo em psicodelia. Até hoje, 26 anos depois, a “Doom Patrol” de Grant Morrison continua única, original e desconcertante.

[4] QUARTETO FANTÁSTICO
Texto de Stan Lee e Jack Kirby, arte de Jack Kirby
O “Quarteto Fantástico” é o quadrinho que dá origem ao Universo Marvel. Além de ser o primeiro gibi de super-heróis da editora, também introduz o conceito da continuidade. Ou seja, se Nova York é destruída numa edição, a cidade permanece aos cacos na revista seguinte. Isso foi a grande revolução proposta por Lee-Kirby, já que as histórias da DC, então hegemônica no gênero super-heróis, eram todas autocontidas. Mas a série fica realmente boa, quando Lee deixa o roteiro também aos cuidados de Jack Kirby. A imaginação prodigiosa de Kirby cria os Inumanos, Galactus — O Devorador de Mundos, Pantera Negra e o reino de Wakanda e mais um monte de tramas cósmicas variadas. Dizem que os roteiros escritos por Stan Lee são mais humanos e cheios de dilemas morais, enquanto os de Jack Kirby são fluxos criativos tão intensos que deixam essas coisas em segundo plano. É verdade. Mesmo assim, o “Quarteto Fantástico” é um dos melhores quadrinhos de super-heróis de todos os tempos. Talvez o melhor.


[5] OS ETERNOS
Texto e arte de Jack Kirby
Nos anos 70, o livro “Eram os Deuses Astronautas”, do escritor suíço Erich von Däniken, virou um best-seller mundial. O autor buscava na arqueologia e mitologia evidências de que alienígenas haviam feito contato com os seres humanos no passado distante. Kirby parte dessa premissa para criar uma trama que contrapõe duas raças manipuladas geneticamente por extraterrestres: os Eternos e os Deviantes. Os Eternos são os deuses e heróis da nossa mitologia e os Deviantes, claro, os monstros e demônios. A história começa com a descoberta de uma pirâmide asteca que contém armas bizarras e avançadas. Descobre-se que os deuses cósmicos, chamados Celestiais, estão a caminho da Terra para julgar suas criações e decidir se o planeta merece existir ou não. Pena que a história não termina, pois a revista não vendia e acabou cancelada depois de um ano. Muita gente tentou retomar a história sem sucesso. Até Neil Gaiman quebrou a cara com uma HQ insossa e preguiçosa em 2007. Os Eternos ainda esperam autores que tenham respeito pelo conceito original de Jack Kirby.

[6] A LIGA EXTRAORDINÁRIA
Texto de Alan Moore e arte de Kevin O’neill

A Liga não é o melhor trabalho de Alan Moore, mas é o mais divertido. O autor reúne heróis da literatura da Belle Époque numa espécie de “Liga da Justiça” steampunk. O grupo é formado por Allan Quartermain (de “As Minas do Rei Salomão”), Mina Murray (de “Drácula”), Capitão Nemo (de “Vinte Mil Léguas Submarinas”), Mr Hyde (de “O Médico e o Monstro”) e Hawley Griffin (de “O Homem Invisível”). Eles são recrutados pelo serviço secreto inglês, comandado por um misterioso homem chamado “M”, que eles supõe ser Mycrof Holmes, o irmão de Sherlock, que desapareceu nas cataratas de Reichenbach, na Suíça. Sua missão é encontrar um combustível chamado “carborite” que pode fazer o Império Britânico vencer a corrida espacial que disputa com a França. Isso os leva a se meter numa guerra no submundo de Londres entre Fu Manchu (dos livros de Sax Rohmer) e James Moriarty (o arquinimigo de Sherlock Holmes). A série tem ainda inúmeros personagens secundários pinçados da literatura da época e encontrá-los é um jogo dos mais divertidos. Por exemplo: o segundo em comando no submarino Náutilus é Ishmael, o narrador de “Moby Dick”. Kevin O’Neill não é apenas um ilustrador, mas um co-autor. Sua Londres é gótica, industrial, suja. Sua Paris é azul, cheia de chaminés e fumaça. A Liga teve várias continuações, mas a primeira série é a melhor de todas. As demais são inferiores, mas valem a leitura.

[7] ARCHER & ARMSTRONG
Texto de Fred Van Lente, arte de Cleyton Henry
A dupla foi criada por Barry Windsor Smith nos anos 90, mas só decolou em 2012, com a recriação de Fred Van Lente. Armstrong é Aram Anni-Padda, um imortal de 10.000 anos que nasceu na antiga Suméria e está por aí bebendo e correndo atrás de mulheres. Archer é um perito em artes marciais treinado por uma seita cristã fundamentalista para matar Armstrong, considerado um demônio. Naturalmente, eles acabam virando amigos e juntos enfrentam sociedades secretas das mais bizarras como monges budistas-nazistas, os black blocs (que usam um bloco quadrado como máscara), o 1% (o 1% mais rico da população mundial) e freiras travestis assassinas. Os roteiros misturam todo tipo de teoria conspiratória numa trama que nunca se leva muito a sério. Até agora, um dos melhores quadrinhos da década.

[8] THE UMBRELLA ACADEMY
Texto de Gerard Way e arte de Gabriel Bá

Esse quadrinho é surpreendente por muitos motivos. O principal deles é que o autor do texto é Gerard Way, cantor da bandinha emocore “My Chemical Romance” e que todo mundo acreditava ser uma espécie de Michel Teló que fala inglês. Surpreendentemente, Way se revelou um autor culto e inovador. Inspirado pela “Doom Patrol”, de Grant Morrison, ele inventou uma família disfuncional de super-heróis cheia de personagens cativantes, entre eles, Spaceboy, Number Five, the Horror e The White Violin. Em 1977, um evento desconhecido e inexplicável faz com que nasçam 43 bebês com superpoderes. A maioria das crianças morre, mas sete delas são adotadas por Richard Hargreeves, o Mr. Monocle, que as educa na The Umbrella Academy. Dezessete anos mais tarde, os “irmãos” se reúnem no velório de Mr. Monocle e descobrem que um deles se transformou em super-vilão. Imagine um filme dos “Vingadores” escrito e dirigido por Wes Craven. É isso. A arte é do brasileiro Gabriel Bá que, assim como O’Neil em “A Liga”, é quase um co-autor.


[9] PLANETARY
Texto de Warren Ellis e arte de John Cassaday

Planetary é um delírio pop pós-moderno que junta numa mesma trama monstros japoneses, super-heróis, pulp fiction, cinema de ação chinês e mais um monte de referências do cinema, quadrinhos e literatura. O “Planetary” do título é uma organização misteriosa que financia um grupo de “arqueólogos do impossível” composto por Elija Snow, Jakita Wagner e “Drummer”. Os três saem pelo mundo em busca de objetos estranhos e fora de contexto, como, por exemplo, o martelo de um deus nórdico que dá superpoderes a quem o empunha. Neste mundo meta-ficcional, eles enfrentam a oposição de outro grupo superpoderoso, “Os Quatro”, uma versão distorcida e maléfica do “Quarteto Fantástico”. A partir daí, Ellis-Cassaday exploram e satirizam elementos de toda a ficção pop produzida no século 20. “Planetary” é um filhote de “A Liga Extraordinária”, mas tem vigor suficiente para ficar de pé sozinho.


[10] SUPREME
texto de Alan Moore e arte de Rob Liefeld e outros








“Supreme” é uma cópia do Superman criada em 1992 por Rob Liefeld para a editora Image. Liefeld é considerado o pior desenhista de super-heróis do mundo (é verdade), mas em 1997, ele fez a coisa certa: convidou Alan Moore para assumir o título e “Supreme” finalmente voou. Em vez de se afastar de Superman, Moore fez o oposto: “transformou” “Supreme no Superman. Ele inventou um passado para o personagem recriando não apenas histórias ao estilo dos anos 50 e 60, mas também as capas dessas revistas “falsas”, tiras de jornais da época e até “cartas de leitores”. Na história, o autor assume que o atual “Supreme” é apenas a versão “reformulada” mais recente do personagem. Com esses truques metalinguísticos e uma trama ao mesmo tempo contemporânea e saudosista, Moore transformou o “Superman Wanna Be” num herói melhor que o original. A DC, claro, não aprendeu a lição. A versão atual do Superman que usa camiseta de marombeiro e calça jeans é uma abominação perante Deus e os homens.

Edição / Publicação sem fins lucrativos.
Copyright by Revista BULA

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

[115] URBANISMO E MOBILIDADE URBANO-RURAL (23): MOBILIZE - CONSTRUIR A MOBILIDADE SEM DESTRUIR A CIDADE

[115] URBANISMO E MOBILIDADE URBANO-RURAL (23): EDITORIAL MOBILIZE

CONSTRUIR A MOBILIDADE SEM DESTRUIR A CIDADE
 Fonte: Portal MOBILIZE; 11 de setembro de 2015
Acesso em 2015-09-11
  

Corredores de ônibus (BRTs) e bondes modernos (VLTs) são considerados sistemas de transporte de média capacidade. Operam na faixa de 10 mil a 40 mil passageiros por hora em cada sentido e, desta forma, servem muito bem como estruturadores do transporte público em cidades médias, com população de 300 mil, no máximo 500 mil habitantes. A curto prazo, os sistemas com ônibus são mais baratos, enquanto os bondes elétricos envolvem investimentos bem mais elevados, porém com a vantagem de maior durabilidade, acima de 50 anos. Além disso, os BRTs exigem largas faixas de tráfego, gerando maior impacto ao meio urbano.

É o caso [do município] de FEIRA DE SANTANA, na Bahia, que está implantando um desses corredores de ônibus, com cerca de 10 km de extensão a um custo de 87 milhões de reais. A obra parou em julho passado porque a Justiça considerou que o sistema não iria atender à população carente da cidade e, em especial, porque a construção dos corredores exigirá o corte de dezenas de árvores de grande valor afetivo e ambiental para a cidade. Derrubada a ação judicial, os trabalhos enfrentam agora a mobilização de ativistas que decidiram acampar sob a área arborizada para evitar a remoção do patrimônio vegetal.


O episódio de Feira tem se repetido às dúzias, em várias cidades do país, e aponta para um dilema que todos teremos que enfrentar nos próximos anos. Como melhorar a circulação das pessoas e cargas sem que para isso seja necessário rasgar as cidades com grandes corredores de tráfego? Não estaríamos repetindo - em outra escala - o mesmo erro que sacrificou os espaços de convívio para a construção das vias expressas para automóveis?

A resposta passa certamente por um planejamento cuidadoso que inclua um amplo diálogo com a sociedade antes de iniciar qualquer obra urbana. Enquanto isso - porque esse processo de negociação é sempre demorado -, um caminho alternativo talvez esteja na melhoria da mobilidade ativa ou "micromobilidade", em uma série de ações que permitam às pessoas circular mais a pé e de bicicleta. A receita é simples: reformar e alargar as calçadas, melhorar as faixas e tempos de travessia dos pedestres, priorizar a sinalização para quem caminha ou circula em cadeiras de rodas.

Para os ciclistas, os exemplos estão disponíveis no Brasil e pelo mundo afora: criar ciclorrotas, ciclofaixas e ciclovias, melhorar a sinalização para a bicicleta e estimular a integração entre o sistema cicloviário e os terminais de transportes, com bicicletários e estações de bicicletas compartilhadas. Por fim, mas não menos importante, quando for possível, reduzir a velocidade do tráfego motorizado e desenvolver campanhas permanentes de educação para o trânsito.

São intervenções simples e de baixo custo relativo. Um metro quadrado de calçada, por exemplo, custa cerca de cem reais, muito menos do que o pesado pavimento de concreto necessário para um BRT. Mas, com essas intervenções leves vai ser possível estimular que as pequenas viagens de até 1 km para a escola, o mercado ou a academia de ginástica possam ser feitas a pé, com segurança e conforto. E trajetos um pouco mais longos, de 2 a 3 km, podem ser feitos de bike. Com isso, pode-se obter um certo desafogo no transporte público e até no tráfego de automóveis.

A propósito, aproveite o final de semana, caminhe, pedale e fotografe a mobilidade urbana em sua cidade.
Depois, inscreva-se no concurso #ClickMobilidade.

Mas atenção, o prazo termina na terça-feira, dia 15 de setembro 2015.


[114] REFUGEE CRISIS (03) – CRISE EUROPEIA DOS REFUGIADOS DE GUERRAS NA ÁFRICA E ORIENTE MÉDIO: Revista Época - Seis perguntas para entender a crise humanitária de refugiados na Europa – 2015-09-04

[114] REFUGEE CRISIS (03) – CRISE EUROPEIA DOS REFUGIADOS DE GUERRAS NA ÁFRICA E ORIENTE MÉDIO:


Seis perguntas para entender a crise humanitária de refugiados na Europa!


Milhares de refugiados chegam às fronteiras europeias fugindo de guerras, pobreza e violência, em sua maioria, oriundos de regiões do Oriente Médio e da África


FONTE: REVISTA ÉPOCA; TERESA PEROSA
04/09/2015 - 23h02 - Atualizado 05/09/2015 00h33; Acesso em 2015-09-11





A imagem que chocou o mundo: Aylan Kurdi, de 3 anos, foi encontrado morto em praia turca. Menino sírio morreu em naufrágio com outros refugiados (Foto: AP Photo/DHA)


A imagem do menino sírio Aylan Kurdi em uma praia turca, morto afogado em um naufrágio, chocou e sensibilizou o mundo todo para a crise vivida pelos refugiados que buscam abrigo na Europa. O aumento na procura pelo continente por parte de imigrantes e pleiteantes de asilo não é de hoje. O que explica, então, a súbita eclosão do caos humanitário na região?


As respostas revelam a permanência da incapacidade dos governos europeus em lidar com um fato recorrente e previsível do mundo contemporâneo – o trânsito de pessoas fugindo de guerras, pobreza, desastres naturais e da falta de perspectiva de uma vida decente. Elas são refugiadas em um mundo que foi capaz de derrubar as barreiras para o alcance e livre circulação de capitais e de informação, mas que multiplicou o número de muros e cercas divisórias entre fronteiras físicas e regiões de tensão.

[1] O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA EUROPA?
Nos últimos meses, milhares de refugiados e pleiteantes de asilo chegaram às fronteiras europeias, fugindo de guerras, pobreza e violência, em sua maioria, oriundos de regiões do Oriente Médio e da África. Trata-se de uma tendência que se verificava pelo menos desde o ano passado. Em 2014, o número de pessoas que chegou à Europa em busca de asilo e refúgio aumentou significativamente em relação aos anos anteriores. Mais de 700 mil pessoas pediram asilo na Europa no ano passado, um aumento de 47% em relação ao ano anterior, de acordo com dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).


Em 2015, só no primeiro quadrimestre, o número de pedidos já ultrapassava 184 mil, segundo o bureau estatístico da União Europeia, o Eurostat. Além dos pedidos de asilo, este ano, o número de pessoas que chegou ao continente por meios considerados irregulares foi estimado em 340 mil pela agência europeia Frontex, responsável pelo monitoramento de fronteiras dos países do continente. Em julho, esse fluxo atingiu seu pico – mais de 107 mil pessoas chegaram ao continente buscando abrigo.


Em agosto, com o aumento do fluxo, a Alemanha, principal receptora de pedidos de refúgio na região, estimou que deve registrar pelo menos 800 mil pedidos de asilo até o fim de 2015. Caos, falta de acomodações e desespero são agora parte da rotina em locais como a cidade francesa de Calais, na fronteira com o Reino Unido; em Lampedusa, na Itália; nas ilhas gregas de Kos e Lesbos e, mais recentemente, em Budapeste, na Hungria; onde imigrantes acampam nas proximidades da principal estação de trem da cidade, a espera do embarque rumo ao norte, em direção à Alemanha, aos países nórdicos e ao Reino Unido.

[02] QUEM SÃO ESSES REFUGIADOS?
Dentre os principais grupos de refugiados que chegam atualmente à Europa estão sírios, afegãos, iraquianos, paquistaneses, eritreus, somalianos e nigerianos. Fugindo de guerras, violência, pobreza e falta de perspectivas, não hesitam em optar por rotas de alto risco, a pé ou pelo Mediterrâneo, na expectativa de uma vida melhor, na Europa.

[03] O QUE CAUSOU A CRISE ATUAL?
As autoridades europeias têm sido acusadas de protelarem a implementação de soluções eficazes, que passariam por uma aceleração do processo de concessão de asilos. Dentre as estratégias adotadas desde o ano passado, destacou-se a tentativa de impedir a chegada dos refugiados ao território europeu. Optou-se, por exemplo, por intensificar o combate às gangues de coiotes, que transportavam os refugiados por terra ou por mar. O governo italiano também reduziu suas operações de resgate no Mediterrâneo, uma vez que a lei marítima internacional obriga qualquer navio a prestar socorro a uma embarcação que pede socorro – caso dos precários botes e barcos lotados de refugiados que tentam chegar do norte da África e da Turquia. O resultado foi um aumento no número de fatalidades: segundo estimativas da Organização Internacional para Migração (IOM, em sua sigla em inglês), foram 2.081 mortos no Mediterrâneo em 2014 e, até agora, o número de vítimas da travessia entre Europa e África já ultrapassa 2.700 em 2015.


Além disso, países da fronteira do continente, como Itália e Grécia, têm arcado com a maior parte do ônus da crise humanitária, normalmente, sem condições operacionais para fazê-lo. Só na última semana de agosto, 23 mil refugiados aportaram no litoral grego, segundo a Frontex. Em um último desdobramento, o fluxo repentino de imigrantes que chegam via países do leste europeu foi o elemento final para a eclosão da crise humanitária vista hoje. “Os Estados europeus estavam muito focados em um único ponto nos últimos meses – o Mediterrâneo – e perderam de vista novos desenvolvimentos e novas rotas que se abriram no leste. Foram pegos de surpresa pelo fluxo repentino de pessoas pela região ocidental dos Bálcãs, em Estados que têm sistemas de asilo fracos e não têm a capacidade necessária de lidar com números grandes de migrantes e refugiados. A abordagem pautada por acontecimentos levou a um jogo de culpa entre os Estados membros, sem unidade”, diz Martijn Pluim, diretor do Centro Internacional para o Desenvolvimento de Política Migratória (ICMPD, em sua sigla em inglês), baseado em Viena.


Imigrantes lutam por comida durante a saída de Budapeste. Impedidos de embarcar em trem, milhares de refugiados seguiram para a Áustria a pé nesta sexta-feira (4) (Foto: AP Photo/Frank Augstein)


A falha em agilizar o processo e oferecer segurança no trânsito de refugiados virou terreno fértil para os coiotes e traficantes de pessoas. Além dos mortos no Mediterrâneo, a recente descoberta na Áustria de um caminhão com 71 pessoas mortas, vítimas abandonadas por seus transportadores, somou-se como mais um trágico exemplo da falência da política de repressão aos fluxos migratórios. “Gangues de contrabandistas são um sintoma, um resultado das fronteiras fechadas. É por isso que ter uma abordagem de aplicação da lei, de arrocho nas fronteiras e combate ao crime organizado não será suficiente para solucionar o problema e salvar vidas”, afirma Pluim. “Refugiados fugindo da guerra não vão parar de vir porque há um controle maior nas fronteiras. A União Europeiadeve aumentar os caminhos legais para refugiados na Europa, garantindo a eles passagem segura”, diz o especialista.

[4] POR QUE A CRISE HUMANITÁRIA ATINGIU A PROPORÇÃO ATUAL?

O maior obstáculo para uma solução ágil ao caos humanitário na Europa é a falta de unidade entre os países do continente na resposta tanto ao trânsito de refugiados quanto aos pleitos de asilo. De acordo com determinação da União Europeia, o pedido de asilo deve ser realizado no país em que o imigrante chega. No entanto, ao avaliar as diferenças entre o tratamento dado aos pleiteantes e à agilidade do processo em locais como Alemanha e países nórdicos, refugiados têm optado por arriscar a travessia do continente em rotas pelo leste europeu, na esperança de chegar a locais nos quais serão mais bem recebidos e terão mais chance em conseguir asilo. A situação levou a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, a anunciar na semana passada, junto à França, que exigirá de países integrantes da União Europeia o estabelecimento de cotas para receber refugiados.
“Com algumas notáveis exceções, há no momento uma falta de liderança e vontade política para lidar com os desafios da migração que a Europa é capaz de lidar”, diz Ryan Schroeder, da Organização Internacional para Migração (IOM). “Por muito tempo, migração tem sido uma questão pela qual políticos podem perder ou ganhar eleições. Políticos na Europa tem infelizmente culpado imigrantes por problemas estruturais e geopolíticos que não são sua culpa. Eles estão ganhando votos nas cotas de imigrantes e estão piorando o clima contra migração no continente”, afirma.
Na Hungria, por exemplo, desde esta sexta-feira (4), refugiados e pleiteantes de asilo se encontram sob o risco de prisão – um pacote de leis aprovado pelo parlamento húngaro prevê uma pena de até três anos para quem cruze a fronteira do país de maneira ilegal. O primeiro-ministro do país, Viktor Órban, de extrema direita, argumenta que precisa “proteger o cristianismo europeu”.

[5] O QUE A EUROPA DEVE FAZER?
Entidades defensoras de direitos humanos e centros de pesquisa sobre migração reiteraram: a crise não se refere à capacidade da Europa em receber essas pessoas – a crise é política. “Trata-se de um desafio político que requer liderança política como resposta – e não uma questão de capacidade de absorver os imigrantes recentes”, escreveu em artigo Kenneth Roth, diretor executivo da Human Rights Watch (HRW). Roth aponta que os mais de 300 mil recém-chegados ao continente representam em torno de 0,06% da população da União Europeia – refutando a tese de que a Europa se encontra ameaçada por uma “invasão”.
Além disso, de acordo com relatório de 2014 do Acnur, os países que mais abrigam refugiados no mundo ainda são Paquistão, Líbano, Irã, Turquia e Jordânia – nações com condições econômicas e de desenvolvimento evidentemente inferiores a dos países europeus. Em termos per capita, Líbano e Jordânia são os líderes no quesito abrigo a refugiados. “A Europa está enfrentando a hora da verdade. Este é o momento de reafirmar os valores em cima dos quais ela se ergueu”, afirmou nesta semana o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, Antonio Guterres.

[6] O QUE VOCÊ PODE FAZER PARA AJUDAR?
O Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas (Acnur), um dos principais órgãos globais a atuar com a questão dos refugiados, recebe doações direcionadas às suas operações em áreas como Síria, Iraque e Sudão. Clique aqui para saber mais.
No Brasil, organizações como a Cáritas em São Paulo e a Cáritas no Rio de Janeiro também atendem populações migrantes em risco e refugiados e aceitam doações.
Outras organizações podem ser encontradas  aqui.



[113] REFUGEE CRISIS (02): UN Secretary-General discusses refugee, migrant crisis with UK Prime Minister - 9 September 2015

[113] REFUGEE CRISIS (02):

UN Secretary-General discusses refugee, migrant crisis with UK Prime Minister

Source: ONU; UN News Centre; 9 September 2015
http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=51838#.VfL1XxFViko
Access in 20150-09-11

A group of people walking on a dirt road near the town of Gevgelija in the former Yugoslav Republic of Macedonia, after crossing the border at Idomeni in Greece. Photo: UNICEF/Gjorgji Klincarov
 
9 September 2015 – Secretary-General Ban Ki-moon today discussed the refugee and migrant crisis with Prime Minister David Cameron of the United Kingdom, as he continued to confer with European leaders on what has become the biggest influx of people into the continent in decades.

“This has been part of a series of calls he has made to European leaders in recent days, in which the Secretary-General has stressed the individual and collective responsibility of European States to respond responsibly and humanely to the arrival of refugees and migrants in Europe,” UN spokesperson Farhan Haq told reporters.

Mr. Ban has spoken recently with the leaders of Austria, Czech Republic, Germany, Greece, Hungary, Poland, and Slovakia, appealing to them to be “the voice of those in need of protection” and to quickly find a joint approach to address their basic needs.
“The Secretary-General,” Mr. Haq added, “has assured European leaders of the United Nations readiness, through its agencies, in particular UNHCR [the UN refugee agency], to continue supporting their efforts to develop a response that is effective, feasible and in line with universal human rights and humanitarian standards, including the right to claim asylum.”

In a separate development, the UN chief welcomed the initiative by the International Olympic Committee (IOC) to make $2 million available to National Olympic Committees for programmes focused on refugees. The IOC already works with a number of UN agencies, notably UNHCR.
Mr. Ban has repeatedly underscored the great work done by civil society organizations in bringing help and support to refugees worldwide, including through the support provided to the activities of the Secretary-General’s Special Envoy for Youth Refugees and Sport, Jacques Rogge.


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