segunda-feira, 25 de julho de 2016

[292] UNESCO - PATRIMÔNIO MUNDIAL: NIEMEYER E JK SE UNIRAM PARA CRIAR PAMPULHA. Jornal O Estado de Minas, 17jul2016.



Niemeyer e JK se uniram para criar Pampulha, agora Patrimônio Cultural da Humanidade [18jul2016]

 

Ø Talento de jovem arquiteto e espírito empreendedor de Juscelino Kubitschek construíram a obra que se tornaria semente de Brasília. Confira entrevista com bisneto de Niemeyer



Fonte: Portal EM - Jornal O ESTADO DE MINAS; postado em 18/07/2016 11:00 / atualizado em 18/07/2016 09:19
http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2016/07/18/interna_gerais,784673/niemeyer-e-jk-se-uniram-para-criar-pampulha-patrimonio-da-humanidade.shtml
Acesso RAS em 25jul2016.



De Belo Horizonte para o mundo, com paradas obrigatórias no Museu de Arte da Pampulha (MAP), antigo Cassino; na Casa do Baile, atual Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design; no Iate Golfe Clube, hoje Iate Tênis Clube; e na Igreja de São Francisco de Assis, integrantes do conjunto moderno reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

O título conquistado ontem era almejado há 20 anos, mas só ganhou impulso em 2012, na administração do prefeito Márcio Lacerda, com empenho do presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Leônidas Oliveira, e da ex-presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Jurema Machado, entre outras autoridades das áreas federal, estadual e municipal.

Mas, para entender melhor toda essa história, que teve o auge com a ousadia do prefeito Juscelino Kubitschek (1902-1976), mineiro de Diamantina, e os projetos do jovem arquiteto carioca Oscar Niemeyer (1907-2012), é preciso voltar no tempo: mais exatamente à década de 1930, quando foi construído o lago artificial da Pampulha.

Para dar forma à empreitada, o então prefeito Otacílio Negrão de Lima (1897-1960) mandou represar o Córrego Pampulha e pôs em prática o projeto do engenheiro Henrique de Novaes. A obra, para abastecimento de água da capital, ficou pronta em 1938.

Ao assumir a prefeitura em abril de 1940, o prefeito JK evidenciou sua preocupação com o controle urbano e o crescimento da cidade. Apelidado de “prefeito furacão”, ele convidou o urbanista francês Alfred Agache, então realizando vários trabalhos no Brasil, para estudar a potencialidade da região. O encontro de ideias não deu certo, pois enquanto JK via na Pampulha a vocação para o turismo, lazer e bairro de elites, Agache sugeria uma cidade-satélite, com a missão de absorver as novas demandas de habitação e de se tornar um cinturão de abastecimento agrícola.

No livro PORQUE CONSTRUÍ BRASÍLIA, de 1975, Juscelino explicou sua posição: “Discordei do ilustre urbanista, pois o que tinha em mente era capitalizar, em benefício de Belo Horizonte, a beleza daquele recanto com a formação de um lago artificial, rodeado de residências de luxo, com casas de diversões que se debruçassem sobre a área”.



As formas da Igrejinha da Pampulha já se destacavam no ambiente da lagoa ainda com poucos sinais de ocupação urbana em 1949 (foto: ArquivoEM)
O ENCONTRO

Ainda em 1940, JK decidiu ampliar a área da barragem e fazer um concurso para a construção de um cassino. Porém, o vencedor não convenceu com seu projeto, parecido com o Hotel Quitandinha, de Petrópolis (RJ). Sem perder o foco, JK pediu opinião a Gustavo Capanema (1900-1985), ministro da Educação do governo Getúlio Vargas. Capanema havia passou pela experiência de construir o prédio do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, hoje Palácio Gustavo Capanema, primeira construção moderna no país. 

Para tanto, convidara o arquiteto franco-suíço Le Corbusier (1887-1965), que revolucionou a arquitetura mundial, sendo chamado de “pai da arquitetura moderna”. “Assim, foi Capanema que apresentou Niemeyer ao prefeito Juscelino Kubitschek”, conta a diretora do Conjunto Moderno da Pampulha / Fundação Municipal de Cultura (FMC), a arquitetura e urbanista Luciana Feres, que foi a Istambul representando o Executivo municipal no encontro da Unesco.

Niemeyer trabalhava na equipe que projetara o prédio do Ministério da Educação e, com o aval de Capanema e do arquiteto Lúcio Costa (1902-1998), JK o convidou para trabalhar em BH.
No livro A FORMA NA ARQUITETURA, de 1978, Niemeyer registrou: “Mas se o prédio do ministério projetado por Le Corbusier constituiu a base do movimento moderno no Brasil, é à Pampulha – permitam-me dizê-lo –, que devemos o início da nossa arquitetura, voltada para a forma livre e criadora que até hoje a caracteriza”.

onvite feito, convite aceito: Niemeyer trabalhou nove meses nos projetos das construções inauguradas em 16 de maio de 1943, com a presença do presidente Getúlio Vargas (1882-1954), que andou de barco na lagoa, nas imediações do Iate.

DESPERTAR

Em conversas com amigos – e nas páginas do seu livro AS CURVAS DO TEMPO: MEMÓRIAS, de 1998, Niemeyer disse que a Pampulha significou um despertar na sua carreira, servindo de referência até para o projeto de Brasília, inaugurada em 1960 e fruto da sua parceria com o urbanista Lúcio Costa (1902–1998). “A Pampulha foi o começo da minha vida de arquiteto”, registrou o mestre.

Enquanto o mundo ainda valorizava o ângulo reto, a Pampulha explodia em curvas. Com efeito, vai ficar na história uma das frases de Niemeyer que resumem esse pensamento: 
“Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein”. 
E evocou Minas, lembrando que as curvas estavam presentes nas “velhas igrejas barrocas”.


ArquivoEM

ENTREVISTA
Carlos Ricardo Niemeyer - bisneto do arquiteto
‘‘Niemeyer tinha um carinho especial pela Pampulha’’

“Oscar Niemeyer tinha um carinho especial pela Pampulha e dizia que ali foi verdadeiramente o início de sua arquitetura”, diz o superintendente da Fundação Niemeyer, Carlos Ricardo Niemeyer, bisneto do arquiteto. Nesta entrevista, ele fala ao Estado de Minas da satisfação pela conquista do título para a Pampulha e ressalta a necessidade de preservação da região.

[1] Qual o sentimento dos herdeiros de Niemeyer diante da conquista, pela Pampulha, do título de Patrimônio Cultural da Humanidade?
É uma felicidade muito grande, pois, além de mais um reconhecimento mundial da importância da arquitetura de Niemeyer, contribui para a preservação dessa obra. Brasília já recebeu esse título, sendo a primeira grande obra modernista a ser reconhecida como patrimônio mundial, e sabemos o quanto isso foi importante para que a cidade, as obras de Niemeyer e o Plano Piloto de Lucio Costa não sofressem uma descaracterização. Esse título, acreditamos, é fundamental para a preservação da Pampulha.

[2] Seu bisavô chegou algumas vezes a temer pelo futuro da Pampulha, principalmente quanto à Igreja de São Francisco de Assis, que tem pilares de madeira. Quais deverão ser os cuidados, de agora em diante, para a preservação?
Oscar Niemeyer tinha um carinho especial pela Pampulha e dizia que ali foi verdadeiramente o início de sua arquitetura. E ele manifestava sempre seu descontentamento com interferências no conjunto arquitetônico, em especial as mudanças feitas no Iate Tênis Clube. A preservação de suas obras, e mesmo dos espaços vazios em seu entorno eram motivo de preocupação constante.

[3] Um título não é garantia de conservação, tanto que Ouro Preto, no início da década passada, esteve perto de perdê-lo. Qual o maior significado dessa chancela da Unesco, tendo em vista que, recentemente, o painel feito por Portinari para a Igreja de São Francisco de Assis foi pichado?
O título realmente não é uma garantia. Mas é fundamental para destacar a importância dessa obra arquitetônica como patrimônio histórico e cultural, ajudando na conscientização da população. São ações como essas que contribuem para educar as pessoas e as novas gerações. Esse título, conjugado a ações de educação patrimonial e atividades turísticas, forma uma consciência coletiva e diminui as chances de atos de vandalismo.

[4] Os olhos do mundo estarão, a partir de agora, voltados para a Pampulha. De que forma Oscar Niemeyer gostaria que os visitantes vissem a sua obra?
Niemeyer, quando desenhava, buscava fazer sempre algo diferente, que causasse surpresa. Esse era um objetivo de sua criação. Acho que é isso que ele gostaria: que as pessoas tivessem uma grande surpresa ao ver sua obra cheia de beleza e liberdade.

[291] UNESCO - PATRIMÔNIO MUNDIAL: CONJUNTO MODERNO DA PAMPULHA E OBRAS COMPLEMENTARES DE URBANIZAÇÃO E INFRAESTRUTURA DO BAIRRO DA PAMPULHA 1936-1947: FICHA TÉCNICA




CONJUNTO MODERNO DA PAMPULHA E OBRAS COMPLEMENTARES DE URBANIZAÇÃO E INFRAESTRUTURA DO BAIRRO DA PAMPULHA 1936-1947: FICHA TÉCNICA
Pesquisa e Edição: Ronald de Almeida Silva
Fonte: Prefeitura Municipal de BH; Arquivo Público de BH.
Livro: A PAMPULHA DO ACERVO FAZENDÁRIO DO ARQUIVO PÚBLICO DA CIDADE DE BELO HORIZONTE – Catálogo de Fontes. BH, 2005.
Ordem alfabética do Catálogo, referentes aos pagamentos dos projetos, serviços e obras.



CONJUNTO MODERNO DA PAMPULHA [obras iniciadas em 1942; inauguradas em maio.1943; finalizadas em 1947]

CONJUNTO MODERNO DA PAMPULHA, BH, MG
1942-inauguradas en 16.maio.1943
Prefeito nomeado:
Juscelino Kubitscheck de Oliveira
Governador nomeante:
Benedito Valadares

PROFISSIONAL / FIRMA
OBRA / MONUMENTO / PROJETO / SERVIÇO
OSCAR NIEMEYER
Arquiteto Engenheiro;  



Artistas, engenheiros e firmas que edificaram e/ou complementaram os edifícios e espaços livres concebidos por Oscar Niemeyer:

PROFISSIONAL / FIRMA
OBRA / MONUMENTO / PROJETO / SERVIÇO
Ajax c. Rabello
Empreiteiro das obras do Cassino
Alfredo Ceschiatti
Escultor
Augusti Zamoyski
Escultor polonês
Cândido Portinari
Painéis artísticos
Henrique Lahmeyer De Mello Barreto
Botânico
José Alves Pedrosa
Escultor
Laubisch & Hirth
Firma fornecedora do mobiliário em pau -marfim e outros itens de decoração
Marcel Gautherot
Fotógrafo
Marco Paulo Rabello
Engenheiro das obras do Cassino
Paulo Rossi Osir (Oficina Osirarte)
Artesão dos azulejos pintados por Portinari
Paulo Werneck
Painéis da Casa Kubitscheck
Roberto Burle Marx
Paisagismo, jardins; Cassino, Casa do Baile; Ilha da Pampulha; ETE *
Santa Rosa
Pintor e decorador
Fonte: Catálogo de Fontes do Arquivo da Cidade de BH, 2005.
(*) 331 Dossiê. Pagamento a Roberto BURLE MARX. Ref. Serviços prestados no ajardinamento da Pampulha: Cassino, Casa do Baile, ilha da Pampulha e Estação de Tratamento de Água - 06/05/1942, p. 357 a 358




PAMPULHA E AS OBRAS ACESSÓRIAS DE URBANIZAÇÃO DO NOVO BAIRRO [obras contratadas a partir de 1936 – Barragem - até 1947]
(**) Engenheiros Civis construtores:
Ø  AJAX C. RABELLO, empreiteiro que construiu a Barragem da Pampulha e diversas outras obras; ver placa da obra na foto da construção do Cassino;
Ø  e MARCO PAULO RABELLO, seu sobrinho, o engenheiro, de apenas 22 anos na época, e que mais tarde, já amigo de JK, seria um dos principais construtores de Brasília, 1956-60. Fundador da Construtora Rabello. Faleceu em 07jun2010.

(**) Outros empreiteiros:
Francisco Dobscha
Empreiteiro e/ou engenheiro
Benito Muradas
Empreiteiro e/ou engenheiro
Geraldo De Oliveira
Empreiteiro e/ou engenheiro
Vitor Gonçalves De Souza
Empreiteiro e/ou engenheiro

PROGRAMA DE URBANIZAÇÃO E EDIFICAÇÕES DO BAIRRO PAMPULHA, BH,MG [1940-47]
Fonte: Prefeitura Municipal de BH; Arquivo Público de BH.
Livro: A PAMPULHA DO ACERVO FAZENDÁRIO DO ARQUIVO PÚBLICO DA CIDADE DE BELO HORIZONTE – Catálogo de Fontes. BH, 2005.
Ordem alfabética do Catálogo, referentes aos pagamentos dos projetos, serviços e obras.

[1] Avenida Álvares Cabral;
[2] Avenida da Pampulha;
[3] Avenida Dom Cabral;
[4] Avenida Getúlio Vargas:


[5] Aviário da Pampulha:
[6] Barragem da Pampulha:
[7] Campo de aviação [militar; depois de ampliado, tornou-se Aeroporto] da Pampulha
[8] CASA DO BAILE:


[9] Casa do Químico:
[10] CASSINO DA PAMPULHA



[11] Cidade Universitária [hoje UFMG]
[12] Estação de Tratamento de Água da Pampulha
[13] Ferraria da Pampulha:
[14] Garagem da Pampulha:
[15] Garagem de lanchas:
[16] Grupo escolar da Pampulha Velha:
[17] Guarda da Pampulha:
[18] Horta da Pampulha
[19] HOTEL DA PAMPULHA
[20] IATE GOLFE CLUBE DE MINAS GERAIS:




[21] IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS


[22] Ilha da Pampulha:
[23] Lagoa da Pampulha:
[24] Pampulha Esporte Clube:
[25] Parque da Pampulha
[26] Posto médico da Pampulha
[27] Posto policial da Pampulha
[28] RESIDÊNCIA [CASA DO PREFEITO] DA PAMPULHA

[29] Viveiro de plantas da Pampulha





quinta-feira, 21 de julho de 2016

[290] LÍNGUA PORTUGUESA: SÃO LUÍS COM S OU Z? Autor: Benedito Buzar. 09out2011



SÃO LUÍS COM S OU COM Z?
Etimologia ludovicense
Revisão_02: 2016-07—20


Prezados Leitores [21jul2016]

1) Uma polêmica que floresceu e morreu em 1984 vez por outra volta a baila: São Luís se escreve com S ou com Z?

2) No dia 20jul2016, no bojo das celebrações da inclusão do Conjunto de Edificações Modernas da PAMPULHA, BH, MG, na Lista dos Bens Culturais da Unesco, comuniquei àquela prestigiosa guardiã da Educação, Cultura e Ciências internacionais, que o site da mesma mantinha grafado erroneamente o nome da Cidade e do Centro Histórico de São Luís e alertei sobre a necessidade de correção dessa falha.

3) Por outro lado, os órgãos de gestão internacional da aviação comercial, entre esses a IATA, registraram o Aeroporto de São Luís como sendo a sigla SLZ, (que eu uso sempre) sem que isso signifique ultraje à nossa etimologia. Trata-se apenas de uma sigla técnica obrigatória com 3 letras, que em muitos casos nem existem no nome da cidade ou do aeroporto.

4) A polêmica "SÃO LUÍS COM S OU Z" parece-me encerrada desde 1984 quando a Academia Maranhense de Letras, sob a presidência do incansável estivador das letras, JOMAR MORAES, criou Comissão especial para estabelecer o crivo correto em que tal celeuma devia ser peneirada.

5) A conclusão formal da AML, secundada pela Câmara Municipal (a qual compete estabelecer a toponímia oficial do município, incluindo o topônimo São Luís, por meio de leis específicas) está descrita de modo objetivo pelo escritor BENEDITO BUZAR, um dos maiores memorialistas da nossa terra, em artigo que segue abaixo.
SÃO LUÍS COM S OU COM Z?
Um grande abraço

Ronald Almeida

SÃO LUÍS COM S OU Z?

Autor: Benedito Buzar
Membro da Academia Maranhense de Letras, onde tomou posse em 10ago1990. Atual presidente da AML, desde 17mar2010. Nasceu em Itapecuru-MA, a 17 de fevereiro de 1938. Jornalista, advogado, professor, pesquisador.

Fonte: RODA VIVA - BENEDITO BUZAR
DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
AVISO AOS NAVEGANTES: Grifos, nomes próprios em caixa alta, destaques em negrito e/ou itálico, textos entre [colchetes] e numeração de parágrafos  não constam do texto original disponível em:

1.    Nas proximidades da cidade festejar seus 400 anos* de vida, um assunto que parecia adormecido ou esquecido, volta à ordem do dia, ainda que requentado.
[* - em 08set2012]

2.     Recorrente pela sua natureza ressurge nestes dias como a exigir prioridade à questão da grafia do nome da capital maranhense, com vistas a esclarecê-la em caráter definitivo.
3.     Os que assim pensam, o fazem na convicção de que este é o momento oportuno para, de uma vez por todas, acabar a controvérsia em torno do topônimo São Luís que a grande maioria escreve com S, mas uma minoria teima em grafar com Z.
4.     Os que advogam a elucidação dessa questão não sabem que, anos atrás, um amplo debate eclodiu em São Luís, por conta de uma proposta apresentada na Câmara Municipal, que passou pela Universidade Federal do Maranhão, e chegou à Academia Maranhense de Letras [AML]-, a quem cabe, em última instância, zelar e defender os interesses da cultura maranhense.
5.     Tudo começou quando o vereador e professor de Português, UBIRAJARA RAYOL, no dia 8 de março de 1984, apresentou projeto à Câmara Municipal com apenas três artigos, dois dos quais se reportavam ao topônimo São Luís.
6.     O Art. 1º determinava que “Voltará a ser escrito com “z” o topônimo São Luiz, que se refere ao Município do mesmo nome, no Estado do Maranhão.
7.     O Art. 2º dizia que “O Poder Executivo promoverá, dentro e fora do Município, a divulgação da grafia restaurada”.
8.     O projeto, como não poderia deixar de acontecer, suscitou controvérsia e os jornais se encarregaram de explorar o assunto, já que o autor da matéria, invocando a condição de magister dixit, sustentava seu ponto de vista em eventuais estudos da Academia Brasileira de Letras e na legislação federal.
9.     Diante da celeuma criada, o escritor IVAN SARNEY, que ainda não era vereador, mas já fazia parte da Academia Maranhense de Letras, trouxe o assunto para o âmbito da Casa de ANTÔNIO LOBO, da qual solicitou manifestação de seus pares.
10.                       Na presidência da AML, o escritor JOMAR MORAES não hesitou: assinou Portaria, no dia 15 de março de 1984, criando a Comissão Especial formada dos acadêmicos MÁRIO MEIRELES, MANUEL LOPES e JOSÉ CHAGAS, para, sob a presidência do primeiro, “produzir parecer circunstanciado acerca da correta grafia da Capital do Estado do Maranhão”, recomendando ainda que os trabalhos da Comissão fossem “concluídos no menor prazo possível, tendo em vista o oferecimento de subsídios à discussão e votação do projeto de lei apresentado à Câmara Municipal desta cidade.”
11.                       Sentindo-se na obrigação de participar da questão, que já dominava a opinião pública, o reitor da Universidade Federal do Maranhão, professor JOSÉ MARIA CABRAL MARQUES, resolveu baixar Portaria, determinando que “o parecer sobre a correta grafia do topônimo São Luís seja publicada pela Gráfica Universitária”, considerando que o assunto era de relevância cultural e dizia respeito à defesa e preservação de nossas tradições.
12.                       A Comissão, depois de estudos acurados e criteriosos, em que foram analisados os aspectos referentes à história, à tradição, à etimologia e à ortografia, apresentou no dia 5 de abril de 1984 parecer conclusivo e estribado em quatro itens.


[I] – Historicamente, o topônimo da Capital maranhense é de origem estrangeira – vem de Saint Louis, apelido hagiográfico de Louis IX, o Santo, Rei de França (1242/1270) – e lhe dado em homenagem a Louis XIII, o Justo.

[II] -Tradicionalmente, a grafia do topônimo São Luís sempre foi objeto de controvérsia, desde o século XVII, quando se fundou a cidade, até os nossos dias, conforme documentos históricos e obras de escritores antigos e modernos, não se tendo por onde afirmar a existência de uma forma consagrada pelos brasileiros que justifique a grafia São Luiz com Z.

[III] - Etimologicamente, a palavra Luís é de origem germânica (Hluodowig) que deu em italiano Ludovico e Luigi; no Francês, Louis e no Português e Espanhol, Luís. Cabe ainda ressaltar que se o Latim Eclesiástico já apresentava formas Ludovicus e Aloisius (com S), nada levaria a que, na sua passagem para o Português, Ludovicus, que não é patronímico, justificasse o Z, como se justificou em Ramirez, Lopez, Rodriguez, etc., hoje também grafado com S, contrariando, por força do atual Sistema Ortográfico, a própria razão etimológica.

[IV]Ortograficamente, como nome próprio de introdução eclesiástica, do mesmo modo que Dominicus, Marcus, Lucas, etc., Ludovicus inclui-se entre aqueles nomes cujas consoantes latinas finais se conservam. Esta é, aliás, a razão pela qual Gonçalves Viana, em seu Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, grafa Luis e Luisa com s. E o Vocabulário Onomástico da Língua Portuguesa registra Luís, Luísa, São Luís do Purunã, São Luís do Quitude, etc., todos com S e não com Z.

13.                       O espaço desta coluna é limitado, por isso, não posso alongar-me em outras considerações apontadas pela Comissão, mas faço questão de pinçar estas, por não deixarem qualquer dúvida a respeito da grafia da Capital do Maranhão:
Ø “com S se grafou São Luís, quando La Ravardière entregou aos portugueses o Forte de Saint-Louis;
Ø com S se grafou São Luís, quando Alexandre de Moura dele tomou posse;
Ø com S está São Luís registrada nos mais primitivos mapas que se conhecem;
Ø com S está São Luís nas mais antigas atas de reunião do Senado da Câmara;
Ø com S está São Luís no auto de juramento do Maranhão à Independência e ao Império do Brasil;
Ø com S está São Luís em todos os documentos oficiais, sendo de destacar a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, órgão competente para fixar a grafia dos topônimos”.

Benedito Buzar

São Luís, MA, 09out2011