segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

[359] EIKE BATISTA: O "MENINO" QUE QUERIA SER O HOMEM MAIS RICO DO MUNDO. Série RECORDAR É VIVER. Reportagem EXAME; jan.2008.


“O empresário Eike Batista já declarou que pretende se tornar
O HOMEM MAIS RICO DO MUNDO”!!!
 [Fonte: Wikipedia].





“Sou o homem mais rico do Brasil”
Após a venda da MMX para a Anglo American, o empresário Eike Batista fez as contas e concluiu: hoje, sua fortuna pessoal é de 16,6 bilhões de dólares -- a 26ª maior do mundo
[Ranking FORBES Billionaires 2007]

Eike, no Rio: tão rico quanto os fundadores do Google

Marcelo Corrêa
EXAME; 24.01.2008
http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0910/negocios/m0149852.html
Por Samantha Lima e Carolina Meyer; EXAME 

  1. Eike Batista não esconde o prazer juvenil que sente ao calcular sua fortuna, na ponta do lápis, em seu escritório com vista para o Pão de Açúcar, na zona sul do Rio de Janeiro. Aos 51 anos, ele fechou em janeiro o maior negócio de sua vida, a venda de parte da mineradora MMX para a gigante multinacional Anglo American, por 5,5 bilhões de dólares.
  2. Do montante, aproximadamente 3 bilhões de dólares irão diretamente para seu bolso, quantia suficiente para comprar de uma só vez todas as ações da construtora Gafisa e da Marcopolo. Somando-se a esse montante sua participação nas outras empresas do conglomerado EBX, fundado por ele em 1983, Eike, como é mais conhecido, chega ao resultado final da conta: hoje, seu patrimônio é de 16,6 bilhões de dólares. "SOU O HOMEM MAIS RICO DO BRASIL", diz ele.
  1. Se os cálculos de Eike não estiverem inflados pelo otimismo em relação ao próprio patrimônio, ele seria o 26º homem mais rico do mundo na lista da revista americana Forbes, quase empatado com os fundadores do Google, Larry Page e Sergey Brin, e à frente de nomes como Michael Dell, fundador e presidente da Dell, e Helen Walton, viúva de Sam Walton, fundador do Wal-Mart. Mais impressionante ainda foi a velocidade com que esse império surgiu. Até 2005, seu patrimônio não passava de 1,6 bilhão de dólares. Ou seja: um crescimento de inacreditáveis 15 bilhões de dólares em apenas dois anos.

  1. Não são apenas o tamanho e a rapidez do crescimento de sua fortuna que fazem de Eike Batista um dos empresários de maior visibilidade no momento. O salto em seu patrimônio foi construído graças a um conjunto de características raramente encontrado na economia brasileira. Goste-se ou não de seu estilo, Eike é um empreendedor serial, que pensa grande, assume riscos e não se conforma com negativas. Ele criou a MMX prometendo torná-la uma mini-Vale. No ano passado, criou a OGX com o intuito de dar origem a uma mini-Petrobras.

  1. Nas duas ocasiões, foi chamado de aventureiro, insano e, sobretudo, megalomaníaco. O fato é que seus projetos, insanos ou não, estão saindo do terreno das idéias e atraindo grandes investidores. Em dezembro, ele espantou os mais otimistas funcionários da Agência Nacional de Petróleo ao pagar 1,5 bilhão de reais pelo direito de explorar 21 campos na bacia de Campos.

  1. Num leilão em que participaram líderes mundiais da exploração de petróleo, Eike foi responsável por 70% da arrecadação obtida pelo governo. A venda da MMX para a Anglo -- negócio já oficializado e que deverá ser concretizado em abril -- foi a maior aquisição do mercado brasileiro nos últimos 12 meses. Só nessa operação, Eike embolsou 3,3 bilhões de dólares (quase o mesmo valor recebido pelo trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira na venda da cervejaria Ambev para a belga Interbrew).

  1. SÃO MUITOS OS FATORES QUE AJUDAM a explicar a trajetória fulminante de Eike como um dos empresários brasileiros de maior evidência no momento. Dois deles se destacam. Basicamente, ele tem tirado proveito das duas mais importantes ondas da história recente na economia brasileira. A primeira delas é a explosão no preço das COMMODITIES. Desde 2004, o preço do minério de ferro no mercado internacional tem se valorizado, em média, 20% ao ano, em grande parte estimulado pelo aumento da demanda chinesa.

  1. Há três anos, Eike Batista tinha em mãos nada mais que um punhado de licenças de exploração de minério de ferro nos estados de Mato Grosso, Minas Gerais e Amapá. Foi quando decidiu criar a MMX. Na época, a tonelada do minério de ferro estava cotada a 65 dólares. O preço subiu para 85 dólares a tonelada em 2007, e a expectativa é que, neste ano, o preço da commodity suba mais 40%. Dada a falta de ativos de minério de ferro no mundo e a conhecida vantagem do Brasil nesse mercado, Eike criou uma alternativa para quem quisesse investir nesse segmento.

  1. Foi aí que ele surfou a outra onda, a do MERCADO DE CAPITAIS brasileiro. Até 2005, Eike tinha fama de prometer planos ambiciosos, mas não transformá-los em realidade. A oportunidade de abrir o capital de suas empresas deu a ele a chance de faturar com sua especialidade: a VENDA DE PROJETOS. No dia da abertura de capital da MMX, há um ano e meio, a companhia não produzia um grama de minério de ferro.

  1. Mesmo assim, seus planos conquistaram os investidores, que pagaram 1,1 bilhão de reais por 32% das ações. Desde então, as ações se valorizaram mais de 300%. No fim do ano passado, sua empresa de geração de energia, a MPX, seguiu o mesmo caminho e abriu o capital. A próxima da lista é a LLX, de logística. A OGX, de petróleo e gás, virá em seguida. "Em qualquer lugar do mundo, a bolsa existe para financiar capital de risco", afirma o executivo Paulo Carvalho de Gouvêa, que trabalha com Eike há mais de dez anos. "Por que no Brasil seria diferente?"

  1. Outro traço no modelo de Eike é a geração de riqueza para to dos que trabalham dentro ou em torno de suas empresas -- um processo que em seu final rende ainda mais dinheiro a ele próprio. Os primeiros beneficiados são os executivos à frente do grupo X, atraídos por polpudíssimos pacotes de participação no capital.

  1. Quando iniciou a operação da MMX, ele contratou cerca de 90 ex-funcionários da Vale. O diretor-geral da MMX, Rodolfo Landim, havia acabado de assumir uma diretoria do Pão de Açúcar quando recebeu o convite de Eike. Saiu apenas 15 dias depois da rede de Abilio Diniz. Com a venda dos ativos da MMX, 27 funcionários dividirão 440 milhões de dólares. Landim ficará com cerca de 10% desse valor, ou algo como 44 milhões de dólares. São profissionais como Landim que emprestam credibilidade aos ousados projetos de Eike.

  1. Outro grupo que se beneficia do crescimento do grupo X é o influente time de banqueiros de investimento, que depende das comissões pagas por empresários como ele para ganhar seus bônus no fim do ano. "Ele paga muito bem, o que deixa todo mundo muito feliz", diz o diretor de um banco de investimento estrangeiro. "Os banqueiros, então, vivem falando bem dele a investidores, os investidores botam dinheiro nas empresas dele e ele enriquece."

  1. Até dois anos atrás, Eike Batista era mais conhecido como ex-marido da ex-modelo Luma de Oliveira do que como empreendedor -- condição compreensível, porém injusta. A carreira de empresário começou cedo, aos 24 anos. Depois de passar uma década na Alemanha, terra natal de sua mãe, Eike voltou para o Brasil com planos de explorar ouro na Amazônia.

  1. Associou-se a um folclórico garimpeiro que controlava a região de Alta Floresta, em Mato Grosso. Fizeram um acordo nos seguintes moldes: o garimpeiro, conhecido como Ditão, deixava que Eike circulasse livremente pelo garimpo e, em troca, ele trazia compradores para o ouro. Satisfeito com o potencial do negócio, Eike comprou a mina de Ditão e, aos 25 anos, já tinha um patrimônio de 6 milhões de dólares.

  1. De mina em mina, reuniu ativos que atraíram o interesse da mineradora canadense Treasure Valley, no início dos anos 90. Em troca dos ativos no Brasil, seus sócios lhe deram participação na empresa. Eike tornou-se então seu principal acionista, com 11% de participação, e presidente. A companhia foi rebatizada de TVX. Iniciou-se, assim, a série de empresas batizadas com a letra X no fim -- "símbolo de multiplicação de riqueza", costuma justificar Eike. Saiu do negócio em 1998, por se desentender com os sócios, com mais de 1 bilhão de dólares para investir.
  2. NOS ANOS QUE SE SEGUIRAM AO FIM DA SOCIEDADE com os canadenses, Eike acumulou alguns fracassos empresariais. A JPX, fábrica de jipes construída na cidade de Pouso Alegre, em Minas Gerais, encerrou suas operações em 2002, depois de dez anos em funcionamento. Durante o período em que funcionou, a JPX enfrentou problemas com o fornecimento de motores, a rede de concessionários estava virtualmente falida e, de quebra, o governo brasileiro, principal cliente, cortou as encomendas pela metade.

  1. Depois disso, outro fracasso. Eike montou uma empresa de entregas expressas, a EBX Express. A companhia chegou a ser líder de mercado, mas o empresário acabou subestimando o poder de reação dos Correios, seu principal concorrente. A empresa faliu em três anos. Destino semelhante teve a franquia de cosméticos que levava o nome de sua mulher na época, a atriz, modelo e rainha da bateria de escola de samba Luma de Oliveira.

  1. Apesar de toda a visibilidade proporcionada pela beleza de Luma, o empreendimento nunca chegou a decolar e acabou vendido na bacia das almas a um grupo português, em 2002. Ao todo, entre jipes, perfumes e encomendas, Eike perdeu aproximadamente 160 milhões de dólares. A seqüência de reveses só acabaria quando ele iniciou os projetos em infra-estrutura, paixão que herdou do pai, Eliezer Batista, ex-presidente da Vale.

  1. Eike Batista obedece a um padrão de comportamento pouco comum em plagas brasileiras. Em primeiro lugar, fala com desenvoltura -- e indisfarçável orgulho -- do patrimônio que acumulou ao longo da carreira. Num país em que as reações mais comuns ao lucro são a vergonha e o medo de ser seqüestrado, trata-se de uma diferença e tanto.

  1. Finalmente, é um tomador de risco nato. "Eike faz parte de um grupo de empresários que não se encontra com freqüência no Brasil", afirma Betânia Tanure, professora da Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte. "Trata-se de um tipo de empreendedor que não se contenta em administrar um único negócio." Pesquisas realizadas com profissionais desse gênero nos Estados Unidos e na Europa mostram que se trata de um grupo especial de empreendedores, que não se abatem facilmente com derrotas profissionais.

  1. O principal expoente desse tipo de profissional é o britânico Richard Branson, dono da Virgin. Seu conglomerado mistura companhias bem-sucedidas, como a de aviação, com fracassos grosseiros, como a empresa de TV a cabo. "O arrojo muitas vezes se confunde com certa dose de loucura", afirma Wayne Stewart, professor de administração da Universidade Clemson, nos Estados Unidos, especializado em empreendedorismo.

  1. A série de projetos inventada por Eike, sua desmedida ambição e o histórico inicial de insucessos deram ao empresário uma fama da qual ele encontra dificuldades de se livrar -- a de aventureiro e fanfarrão (a relação com Luma de Oliveira e negócios inusitados como o Pink Fleet, um barco para transportar turistas pela baía de Guanabara, não ajudaram).

  1. Mesmo depois dos últimos movimentos de Eike, a venda da MMX e o desempenho no leilão da ANP, muita gente ainda desconfia da solidez de seus projetos. Os investimentos em petróleo, por exemplo, são considerados arriscados, já que é impossível prever com exatidão a quantidade de óleo a ser extraída de cada área de concessão.

  1. Outros empreendimentos, como a BFX (Brazilian Forest), ainda são um sonho distante. A idéia é produzir álcool de celulose, tecnologia que até agora não se provou viável comercialmente. "Vamos produzir florestas em todo o país", diz Eike. Por enquanto, a empresa tem 10 milhões de mudas no Centro-Oeste. "Eike ainda tem um longo caminho a trilhar até que possa ser incluído no mesmo time de capitalistas de Jorge Paulo Lemann", afirma um banqueiro de investimento que trabalha para as empresas do grupo EBX.

  1. Se ainda é tido como aventureiro por alguns, Eike Batista conseguiu na gigante Anglo American uma inegável chancela de seriedade. Que empresa com o conhecimento de mercado da Anglo investiria 5,5 bilhões de dólares num negócio feito para enganar acionistas descuidados? Trata-se do maior investimento já feito pela Anglo American fora do território britânico. Para viabilizar o projeto, que prevê, na primeira fase, a extração de 27 milhões de toneladas de minério de ferro, estima-se que a mineradora terá de investir outros 3 bilhões de dólares.

  1. Na transação envolvendo a Anglo American, Eike contou com um misto de sorte e competência. Apesar de se tratar da terceira maior mineradora do mundo, a empresa não dispõe de nenhum grande projeto de extração de minério de ferro. Os maiores ativos desse minério estão concentrados nas mãos de apenas três companhias: Vale do Rio Doce, BHP Billiton e Rio Tinto. "A Anglo estava desesperada para entrar no Brasil", afirma um executivo de uma grande mineradora. "Eike era o único que dispunha de um projeto nessa área."

  1. Montado no dinheiro obtido com a transação, Eike -- novidade -- prepara passos audaciosos. Dos 3,3 bilhões de dólares que recebeu, separará 2 bilhões de dólares para a criação de um superfundo de private equity, dedicado a projetos de infra-estrutura na América do Sul. Além de seus 2 bilhões de dólares, ele planeja levantar outros 18 bilhões com investidores estrangeiros. A BFX, das mudas do Centro-Oeste, vai ficar com 300 milhões de dólares. A fase está tão boa que ele vai separar uns trocados para investir em empreendimentos no setor de serviços.

  1. Eike destinará 200 milhões de dólares a um segmento completamente novo -- cinema. "Queremos fazer filmes com a participação de atores americanos para atrair o interesse deles em distribuir e assistir", diz. "Quem sabe não criaremos uma Riollywood?" Ele também pretende trazer para o Brasil a grife de restaurantes japoneses Nobu, do chef Nobu Matsuhisa. O plano final, claro, não poderia ser menos ambicioso. "Minha meta é ser o homem mais rico do mundo em cinco anos", afirma ele. "Ser bilionário num setor em que se tem um monopólio, como o Carlos Slim, é fácil. Quero ver ficar rico correndo riscos, como eu." Parece desvario, mas os 16,6 bilhões de dólares que ele acumulou até agora lhe dão o benefício da dúvida.


A FORTUNA DE EIKE BATISTA
Desde a abertura de capital da MMX, em julho de 2006, o patrimônio de Eike Batista aumentou de 1,6 bilhão de dólares para 16,6 bilhões. Veja como a fortuna está distribuída, segundo o próprio empresário (em dólares)
Patrimônio pessoal (1): 5 bilhões
Participação de 60% na nova MMX: 1 bilhão
Participação de 51% na empresa de logística LLX(2): 1 bilhão
Participação de 65% na empresa de energia MPX: 2,6 bilhões
Participação de 75% na empresa de gás e petróleo OGX(2): 7 bilhões
Total: US$ 16,6 bilhões
Fonte: Revista EXAME, 24/01/2008.
(1) Inclui os 3,3 bilhões de dólares provenientes da compra de parte da MMX pela Anglo American
(2) Empresa de capital fechado, com valor estimado




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