Baixada Ocidental Maranhense - BOM
Município de Pinheiro
(Facebook 1947) BAIXADA MARANHENSE E O RIO PERICUMÃ.
Homenagem à Profa. MOEMA ALVIM.
Revisão_05; 16jan2017
Artigo da Profa. MOEMA DE CASTRO ALVIM.
(nasceu em Pinheiro, MA: 22/08/1942 – faleceu em São Luís, MA:
17/10/2014), professora aposentada da Universidade Federal do Maranhão - UFMA)
Autora: Moema de Castro Alvim
Farmacêutica, Mestra em Parasitologia, com
especialização em Entomologia, Malacologia e Análises Clínicas.
Fonte: BLOG PINHEIRO EM PAUTA; quinta-feira, 5 de julho de 2012
Acesso RAS
em 05mai2016.
RIO
PERICUMÃ – Parte I
[1]
CONSIDERAÇÕES GERAIS
- Há
muito a Humanidade busca saber a origem da Vida, como e quando se iniciou.
Sabe-se que há 600-700 milhões de anos, várias formas de vida e até alguns
grupos já haviam sido diferenciados, surgindo as formas primitivas em
ambientes aquáticos.
- Loureno
Oken, filósofo naturalista alemão afirma de modo categórico a procedência
marinha da substância que deu origem à Vida, corroborando as hipóteses
emitidas por Thales de Mileto (640-548aC).
- Como
os animais mais simples e primitivos são aquáticos e como todas as células
e líquidos contém cloreto de sódio, infere-se que a Vida se originou nos
oceanos. Vários animais invadiram a água doce e a terra, alguns se
tornando marinhos, outros répteis e mamíferos como a foca e a baleia.
- Aceitando
ou não essas hipóteses o certo é que a dispersão das formas animais deu-se
através da água, tendo surgido os Peixes há 45 milhões de anos, de acordo
com informações obtidas no Google.
- O
vocábulo Peixe origina-se do grego ichthyes, passando para o Latim
com o nome de pisces. Cerca de 28.500 espécies já foram identificadas
das quais a maior parte vive em água salgada, representando mais da metade
de todos os vertebrados. A origem do Homem, no entanto, remonta há 10-12
milhões de anos.
- Todas
as civilizações pesquisadas e conhecidas surgiram nas proximidades de
rios, lagos e oceanos; entretanto as primeiras citações sobre criação de
peixes datam de 5.000 a.C., na China, enquanto no Egito há apenas 2.000
a.C. Os romanos há milênios adotavam essa prática, assim como os Astecas
na América Central.
- Muitas
comunidades antigas estabeleceram-se em lugares onde pudessem estar ao
abrigo das intempéries; outras em locais de fácil defesa, outras perto dos
recursos naturais, enquanto outras combinavam essas vantagens, o que levou
ao desenvolvimento antes mesmo da Revolução Industrial.
- À
medida que a população crescia, aumentava também o seu impacto no meio ao
seu redor, numa complicada interação da fauna e da flora, do clima e do
solo.
- As
recentes descobertas em Ciências Biológicas tornaram possível um nível
mais expressivo de produção de alimentos. Com a demanda crescente de
alimentos, muitas regiões passaram a interessar-se pela exploração da
pesca em lagos e tanques artificiais, nas proximidades dos mercados
consumidores, deixando-os mais expostos ao risco de poluição, geralmente
combinando essa prática com projetos de irrigação e de drenagem,
somando-se com a cultura de arroz.
- Principal
fonte de proteína animal das regiões ribeirinhas e das populações que
vivem às margens de lagos, os peixes desempenharam papel importante para a
humanidade, ao longo de sua trajetória terrestre, na busca incessante de
fontes de alimento para a sua sobrevivência, desde os tempos do homem
paleolítico que deixou ossos nos seus sambaquis.
- A
carne da maioria dos peixes é branca ou ligeiramente avermelhada, de
textura flocosa, contendo 13 a 20% de proteína e tem um valor alimentar de
660 a 3.500 kcal, dependendo do conteúdo de óleo, além de minerais como
fósforo e o fator antioxidante Ômega 3.
- A
pescaria para algumas pessoas constitui recreação (pesque-e-pague); para
outras representa grandes negócios, enquanto para
a maioria das populações, é a única fonte de
alimento disponível.
- Há
espécies de peixes que ocorrem somente na água salgada, desde a superfície
às mais diversas profundidades; em águas abertas com fundo arenoso,
rochoso, lodoso, em fendas de recifes de corais, em baias salgadas e
estuários; em rios e lagos de água doce ou alcalina, em águas de cavernas
e mesmo em fontes quentes com temperatura até 34°C.
- A
maioria, no entanto, vive em temperatura que oscila entre 9 e 21°C. Alguns
peixes litorâneos apresentam papel importante em relação à fauna
dulcícola, enriquecida por muitas espécies marinhas, na piracema, quando
muitas espécies procuram ambientes tranqüilos, geralmente igarapés, para
fazerem a sua desova, como a pirapema, o robalo ou camurim, chamados anádromos, enquanto, espécies,
como a manjuba ou enchova e o emboré, designados diádromos conseguem viver
nos dois ambientes. Dependendo da salinidade das marés, pode ser
encontrada uma variedade maior de peixes.
- Os
peixes da água doce estão na dependência da atuação do Homem que devido às
suas ações predatórias poderá reduzir drasticamente a piscosidade dos
rios, seja pela pesca excessiva, construção de barragens, contaminação das
águas com despejos domésticos e das fábricas. A fauna da água doce é
calculada em mais de 2.000 espécies, pertencentes a 68 ordens
diferentes.
- No
Brasil, as primeiras referências à fauna ictiológica se devem a Gabriel
Soares de Sousa, cronista português que em 1587 descreveu algumas espécies
de peixes de água doce e salgada encontradas no litoral pernambucano.
- O
Estado do Maranhão, praticamente desconhecido no século XVI e início do
século XVII, quando, como possessão portuguesa, estava sob o domínio
espanhol (1580-1640), teve a sua fauna e flora estudadas no século XVII,
por Frei Cristóvão de Lisboa, quando esse religioso aqui missionou, entre
1624-35, como Qualificador do Santo Ofício e Guardião do Convento de Santo
Antônio de Lisboa e fundador da Custódia do Maranhão.
- Embora
de valor inestimável, empenhando-se nesse trabalho durante longos anos, e
deixando-nos precioso legado, suas pesquisas só foram publicadas em 1967,
após o acesso aos desenhos feitos à bico de pena, pelo historiador João de
Paula Carvalho que identificou as plantas e os animais do Maranhão,
particularmente os peixes, tanto de água doce como da água salgada.
- Geralmente
a nomenclatura da maior parte dos nossos peixes deriva-se do tupy, segundo
Theodoro Sampaio, em 1901; mais tarde Câmara Cascudo (1938) levantou a
etimologia e sinonímia de 221 espécies de água doce e salgada.
- O litoral maranhense
é conhecido pelos seus grandes estoques pesqueiros, sendo considerada a
costa mais rica em cardumes de diversos espécies de peixes. Destacam-se
algumas regiões especiais como o Litoral Norte e Nordeste e a Baixada
Ocidental, para a pesca lacustre. Entre nós, a pesca ainda é
exercida de maneira artesanal e como atividade de subsistência.
- A nossa infra-estrutura pesqueira é
precária, sendo responsável apenas por cerca de 30% da produção do
Nordeste, não existindo em nosso Estado indústrias pesqueiras que
processem esse produto para exportá-lo.
- Como
é do conhecimento geral os peixes se deterioram muito rapidamente e seu
grau de qualidade é aferido pelo seu estado de conservação: quanto mais
frescos, melhores e mais caros, utilizando-se, para isso, mão-de-obra para
limpá-los, descamá-los, eviscerá-los, armazenando-os e conservando-os no
gelo.
RIO
PERICUMÃ – Parte II
[2]
PRIMÓRDIOS
- Origens
da nomenclatura. Embora conhecido desde tempos imemoriais pelos índios que
habitavam a região de Cumã, somente em 1613 os povos civilizados navegaram
o Rio Pericumã, nas pessoas dos invasores franceses, comandados por La
Ravardière e por De Pézieux, seu lugar-tenente, que estiveram naquela
área, levando nessa expedição quarenta soldados valentes, dez marinheiros
e vinte índios, reforçando esse contingente com mais sessentas escravos
selvagens recrutados em Tapuitapera e Cumã, para exploração de minerais no
Amazonas e no Gurupi.
- Após
a instalação, nas proximidades da sua foz, da Fazenda Guarapiranga que deu
origem ao município de Guimarães, o rio Pericumã passou a ser navegado,
sendo usado como rota entre as Capitanias do Maranhão e a do Pará.
- Mais
tarde, a partir de 1754, quando aquela região que constituía a
sub-Capitania de Cumã, deixou de ser hereditária, tornando-se real,
portanto pública e suas terras passaram a ser distribuídas (1768) por
dactas e sesmarias, seu curso, seus afluentes e seus peixes tornaram-se
conhecidos.
- Yves
DÈvreux em sua Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614,
fala sobre peixes, pássaros e répteis, sem contudo especificá-los.
- Segundo
o Padre Claude d`Abbeville, o termo Cumã significa próprio para
pesca, enquanto Pericumã, deriva-se de piri+curimã, cumã=junco+curimã
(lugar coberto de juncos onde são abundantes e pescam-se curimãs ou
curimatãs).
- Com
uma extensão de 110 a 115 km, o
Rio Pericumã é o mais importante rio da Baixada Maranhense. Situa-se na
região noroeste do Estado a 1°00` - 4°00`s e 44°
21`-45°21`w com uma bacia
[hidrográfica] ocupando uma área de 4.500km2, drenando uma área de
3.888,55 Km2, o que corresponde a 1,71% do território maranhense.
- As
suas nascentes estão localizadas num complexo de lagoas e pequenos lagos
(Burigiativa) no município de Pedro do Rosário, desmembrado do município
de Pinheiro em 1994, nas proximidades da zona rural do município de São
Bento.
- Percorre
vários municípios, inicialmente na direção sul-norte, tomando depois a
direção noroeste até a sua foz. Em seu percurso corta os campos de
Pinheiro, Palmeirândia, São Bento, São Vicente Férrer, Olinda Nova,
Presidente Sarney, Matinha, Viana, Pedro do Rosário. Também, Mirinzal,
Central do Maranhão, Bequimão e Guimarães, antes de desaguar na Baia de
Cumã.
- A
Baixada, ocupa uma área de 1.775.035, ha ou 17.579.336 Km2 e é constituída
por 21 municípios, estendendo-se nos baixos cursos dos rios Pindaré e
Mearim e médios e baixos cursos dos rios Pericumã e Aurá, reunindo um dos
mais importantes sistemas lacustres das Regiões Norte/Nordeste do Brasil.
- De
estrutura geológica recente, provavelmente formada no Pleistoceno, com
terrenos terciários e quaternários, constitui uma depressão preenchida
por sedimentos quaternários, ainda em formação, sujeita a
inundações no período chuvoso pelo transbordamento dos rios, englobando
planícies aluviais e lagoas (Açu, Penalva, Viana, Cajari).
- Dessa
formação recente resulta um ecossistema vulnerável, frágil, que necessita
de proteção, passando a constituir, a partir de 1991, Área de Proteção
Ambiental da Baixada Ocidental Maranhense – Ilha dos Caranguejos (Cajapió)
pelo Decreto 11.900 de 11/6/91, reeditado em 05/10/91.
- A
Região do Golfão Maranhense, inserida em uma planície flúvio-marinha,
constituída pelos estuários afogados dos rios Mearim, Itapecuru e Mearim é
“o prolongamento das características geomorfológicas e ambientais desde o
estuário amazônico e a convergência das bacias hidrográficas desses rios
acrescida do Pindaré e Munim, para o golfão, interligando diferentes
domínios paisagísticos e ecossistemas (amazônicos, cerrados, cocais, etc)
qualificou a região como cenário estratégico para assentamento de
populações pretéritas” (Leite Filho, 2012).
- Essa
interação propiciou condições ideais, cujos resquícios constituem ainda,
nos dias atuais, os sítios lacustres, as estearias da Baixada e
os sambaquis, estes identificados na Ilha de São Luís por Jerônimo de
Albuquerque, desde a conquista, recomendando o cal extraido das conchas de
ostras para reparo do forte e construção das novas casas fora da
forlaleza, seguindo as plantas do engenheiro português Frias.
- A
partir de 1919 Raimundo Lopes passou a defender a teoria de que essas
ocupações foram devidas às migrações de grupos tardios amazônicos até o
limite ocidental de ambiente de floresta equatorial úmida, chegando a
publicar, em 1924, que esses assentamentos lacustres e os marajoaras
ocorreram no final da regressão do nível do mar e uma última fase de
ocupação, a proto-história, coincidindo com o declínio da cultura
marajoara, a subida do nível do mar, e permanência das culturas derivadas.
- AB`SÁBER,
1960, faz referência à reestruturação paisagística e ecossistêmica em
função dos processos eustásticos e instabilidades climáticas, sofridas na
porção norte do Maranhão, a nível do golfão, durante o Quaternário,
modelando em ambiente de pré-chapadas interiores a um complexo sistema de
colmatagem flúvio-lacustre.
- Dias
em 1907 vai mais além: “o soerguimento da faixa costeira propiciou a
gênese na formação dos lagos durante o Pleistoceno, tornando-se essa
região receptora de sedimentos carreados pelos rios Pindaré, Grajaú e
Mearim e das vertentes dos tabuleiros costeiros, configurando os ambientes
de sedimentação que são as bacias lacustres”.
- A
Baixada representa, também, extenso refúgio para aves aquáticas e é de
grande importância principalmente na época seca. Há aves nativas como a
garça, o jaburu, a marreca, o jacu, o paturi, o carão, o biguá, o socó, o
mutum e muitas outras, mas as mais cobiçadas pelos caçadores são as
migratórias, dentre as quais: jaçanãs, maçaricos, japiaçocas, pirulicos,
guarás que escolhem os campos como local de descanso, parada, alimentação
e nidificação. A caça a essas pernaltas e palmípedes, assim como a coleta
de ovos são considerados crimes ecológicos, inafiançáveis.
- Os
campos da Baixada, constituem biomas de fisionomia pouco variável.
Conhecidos como campos de várzeas ou campos baixos recobrem a maior parte
dos municípios, e desde os tempos coloniais são utilizados para criação de
bovinos, principalmente, graças a excelência dos seus pastos, com
numerosas espécies de gramíneas, piperáceas e alguns arbustos como
algodão, canarana, arroz brabo, junco, varias espécies de mururus,
capim-marreca, capim-do-pará.
- Na
década de 1960 foram introduzidos búfalos, cuja criação fora feita de
maneira extensiva, por serem de manejo mais fácil, pois em relação à
alimentação são menos exigentes que os bovinos; entretanto compensam a
qualidade pela quantidade de gramíneas e ciperáceas consumidas, diminuindo
a biomassa vegetal, com sérios reflexos na diminuição de nutrientes do
meio límnico e conseqüente redução do pescado.
- Por
serem mais pesados e dotados de menor mobilidade causam, também, problemas
na compactação do solo. O número de queixas têm aumentado nos últimos
vinte anos, principalmente da parte de pescadores e pequenos lavradores
cujas redes de pesca e plantações tem sido destruídas, respectivamente,
reduzindo-se, por conseguinte, o rebanho bubalino.
- Há
evidências arqueológicas de que os primeiros habitantes da região, ora
conhecida como Baixada Maranhense, estabeleceram-se na região dos lagos,
principalmente de Pindaré, Penalva, Cajarí, e Turiaçú há
6.000-8000 anos atrás, conforme atestam as estearias, descritas pelo
Cel. Antonio Bernardino Pereira do Lago em 1820 e mais tarde
(1879) mencionadas por Celso Magalhães, promotor público do
Maranhão e por Mariano Raimundo Correia, morador da cidade de Penalva.
- Entre
os anos de 1919-30 o naturalista Raimundo Lopes, pesquisou os
assentamentos de populações pré-históricas e sua interação com as
paisagens na Baixada, verificando “in loco” as estearias do Encantado, no
vale do Pericumã, nas imediações de Pinheiro, alí encontrando fragmentos
dos utensílios de barro utilizados nas tarefas do cotidiano por aqueles
povos, chamados por ele de cacaria, assim como as do Lago Cajari,no
município de Penalva.
- Outras estearias como
a do rio Turi, nas proximidades da Chapada de Pinheiro: a do lago
Jenipapo; a da Ponta da Estrela; a do Cabeludo no Parauá; a da Volta do
Arlindo; a do lago do Sousa e a da boca do igarapé Florante, também foram
localizadas.
- Recentemente
um grupo de arqueólogos paraenses do Museu Emilio Goeldi e da Universidade
Federal do Pará e maranhenses dentre os quais o Dr. Deusdeti Carneiro
Leite Filho, Diretor do Centro de Pesquisas de História Natural e
Arqueologia do Maranhão, pesquisando com as novas técnicas disponíveis,
inclusive com a datação por Carbono 14, constataram que os esteios usados
na feitura das moradias dos povos primitivos anteriores às populações
indígenas teriam sido utilizados há 10.000 anos.
- Foram
identificados 16 sítios arqueológicos nos municípios de Santa Helena,
Pinheiro, São João Batista e Penalva (lago Cajarí), com a tipificação de 6
estearias, resquícios das casas adaptadas às regiões alagadas e que
evoluíram para as nossas palafitas, assim como preciosa cacaria.
- Na região
do Pericumã já foram catalogadas mais de 1.700 espécies de peixes,
das quais 700 pertencem à família dos Caracídeos ou
peixes de escamas, como o jeju, a piaba, a piranha e a traira, seguidos
pelo grupo dos Nematognatos que abrangem os cascudos com quase
300 espécies. Com 350 espécies, encontram-se os verdadeiros peixes de
couro, onde estão os bagres, mandis, burejas, surubins, providos de 2 a 3
pares de bigodes de tamanho variável. Os Ciclídeos ou acarás
abrangem 120 espécies, enquanto os Gimnotídeos, dentre os quais o sarapó,
possuem cerca de 30 espécies.
- Nos
campos de São Bento e Palmeirândia os Simbranquídeos representados pelos MUÇUNS são bastante apreciados.
Esses peixes apresentam reversão sexual: nascem espécimes com sexos
separados, mas após o primeiro período reprodutivo as fêmeas tornam-se machos.
- No
município de Pinheiro mais de 90% do pescado consumido vem do Rio Pericumã
e apenas 10% é atribuída à criação em tanques e açudes, ou procedem do
Lago Turi ou do município de Cururupu. Dentre as espécies preferidas na
cidade de Pinheiro, as mais comuns são: traira (tarira), jeju,
pirapema, curimatá e piranha, descritas em 1625 pelo Frei Cristóvão de
Lisboa que veio de Portugal para o Maranhão com a missão de evangelizar os
índios.
- Outras
espécies, também consumidas pela população são: cabeça gorda, bagre,
piaba, jandiá, cascudo e acará. Mais raros: surubim e camurim. Peixes de
valor comercial mais baixo, como tapiaca, piau, mandi, pacu, bodó, são
procurados pela população mais pobre.
- Pode
afirmar-se, sem quaisquer dúvidas, que a comercialização do pescado foi um
dos fatores primordiais para o povoamento da região de Pinheiro: desde
fins do século XVIII homens nômades viviam entre os rios Pericumã e o Turí
pescando, salgando e secando peixes para vender em Guimarães e Alcântara,
possibilitando o intercâmbio entre os campos alagados e a região
litorânea.
- O
rio Pericumã nivela ricos e pobres, pois todos se alimentam dos mesmos
peixes nele gerados e criados.
RIO
PERICUMÃ – Parte III
[3]
TIPOS DE PEIXES
- Dentre
os peixes mais comuns, isto é, aqueles que consumidos com mais freqüência
quando residia em Pinheiro, são as piabas as minhas preferidas. Eram
vendidas às pratadas. Deliciosas quando cozidas, com um pouco de sal,
cheiro verde e cebolinha podem ser acompanhadas com arroz branco ou pirão
de farinha seca, sem esquecer a pimenta de cheiro e o limão. Algumas
pessoas preferem comê-las fritas ou assadas no espeto, podendo ser
servidas como tira-gosto ou para acompanhar uma tigela de juçara com ou sem
açúcar.
- Os
bagrinhos, desdenhados tempos atrás quando eram chamados
anojados passaram, a partir da década de 1960, a figurar no
cardápio pinheirense, principalmente quando há convidados ilustres: são as
afamadas ceias de bagres, instituição oficializada por Nhô Di
(Waldir Soares) e Edésio Castro, regadas a vinho tinto e saboreadas em
clima festivo. Eram vendidos em cofos.
- Os
jejus e as trairas são preferidos pela maioria da população. Vendidos em
cambadas eram cozidos, fritos, grelhados ou à escabeche, e comidos com
arroz e farinha, no almoço e no jantar de segunda-feira a sábado. Aos
domingos são substituídos por frango ou galinha, carne de porco ou de rês
(vaca). A traira é o peixe de maior valor comercial. Quando aberto ou
escalado para retirar-lhe as vísceras, salgado e seco,
chamado jabiraca, chega, às vezes, a ser comercializado por valor
superior ao do bacalhau.
- Historicamente
foi de grande importância, contribuindo para o povoamento da região, ao
lado dos peixes provenientes do Turi, como o surubim, o mandubé e o bagre
de São Pedro. Inicialmente os pescadores armavam seus ranchos à beira dos
rios e lagos, feitos com pindoba, as chamadas rancharias de
salga que deram origem a muitos povoados.
- O
acará, a cabeça-gorda, o jandiá, e camurim são excelentes
quando cozidos. Menos freqüente na mesa dos pinheirenses: a piranha de
papo vermelho, o cascudo, o piau, mandi, pacu, bodó.
- Além
desses processos mais comuns na preparação dos pratos à base de pescados,
fazem-se tortas, assados, moqueados, recheados com ovas. Para
transportá-los, geralmente socam-se, em pilão, os peixes previamente
dessecados e desfiados, enrolados com folhas de mandairi e acondicionados
em cofos.
- Yves
dÈvreux se refere à prática adotada pelos índios em assar os peixes
recém-apanhados com escamas e vísceras. Para consumi-los retiravam a pele,
secavam-na ao sol, pisando-as em um pilão, reduzindo-a a pó, com que
preparavam mingaus.
- Nos
últimos 50 anos foram introduzidos, para alimento e esporte, peixes da
região amazônica como o tambaqui (Rio Negro) e até espécies do
continente africano como a tilápia.
- Os
tambaquis não se reproduzem em cativeiro; os criadores adquirem os
alevinos gerados em laboratório e os criam em tanques e açudes. Chegam a
alcançar 20cm de comprimento e 13-20kg de peso. São considerados
competidores biológicos pois alimentam-se do fito e
zooplancton, larvas de camarões, frutos terrestres, larvas de insetos
aquáticos e alevinos de espécies autóctones. As tilápias são de diversas
procedências: a do Congo Belga fora introduzida em 1953, prolífera,
reproduz-se quatro vezes por ano. As mais conhecidas foram introduzidas no
Brasil no início da década de 1970 e procedem da Costa do Marfim.
- Excelente
fonte de proteínas, esses peixes podem ser consumidos após cozimento ou
dissecando-os para transformá-los em farinha. Atualmente constituem verdadeira praga, pois a sua grande
voracidade destrói o plâncton que funciona como termômetro dos sistemas
aquáticos e representa a base da cadeia alimentar, assegurando condições
ecológicas produtivas, imprescindíveis à dinâmica da fauna ictiológica.
[4]
TÉCNICAS DE CAPTURA
- Dependem
do tipo de peixe que se pretende adquirir e dos locais escolhidos para
pescaria. Os especialistas classificam em dois os métodos adotados, determinados pelos apetrechos
utilizados:
Ø DINÂMICO
– anzol de linha ou caniços, rede de arrasto, tarrafa, puçá e espinhel. As
tarrafas e redes de arrasto atualmente são tecidas com fio de nylon pelos
próprios pescadores, em substituição ao fio de algodão. O puçá ou socó fora herdado
dos indígenas, assim como o arpão e o arco e flecha. Os bagres são apanhados à
noite, com caniços. Outros peixes, também são fisgados com anzol de linha,
principalmente no inverno; para peixes maiores, como o curimatá são usados
arpões;
Ø ESTÁTICO
– zangaria, malhadeira, curral e tapagem. Este último artefato, feito com talos
e folhas de palmeira é prejudicial, portanto predatório, pois apanha
indiscriminadamente peixes no período da piracema, quando procuram ambientes
lênticos para a desova.
- Nos
currais também feitos com talos e pindoba os peixes ficam aprisionados,
sendo depois apanhados com as mãos. São geralmente armados nos campos,
poções, pequenas lagoas e lagos inundados pelas águas das grandes chuvas
que transbordam dos rios, riachos, igarapés. Outros métodos quase em
desuso, pois são totalmente condenáveis, consistem no uso de timbó e
dinamite.
[4]
TIPOS DE ISCAS
- São
várias as iscas usadas para atrair os peixes, dependendo da espécie que se
deseja fisgá-la. As mais comuns são: minhocas, bichos de coco (larvas de
insetos encontradas em tucuns), pedaços de peixes sem grande valor
econômico, peixes miúdos. Alguns pescadores usam bolotas de angu, feitas
com farinha seca ou tapioca; outros lançam mão de cupinzeiros,
formigueiros, enquanto outros utilizam insetos como moscas, gafanhotos. Em
pescarias esportivas são usadas iscas artificiais.
[5]
OUTRAS UTILIDADES DOS PEIXES
- Além
do lazer, há pessoas que se dedicam à criação de peixes exóticos, de
efeito ornamental para criação e exibição em aquários. Os peixes, também
são usados para extração do óleo e para confecção de cola, farinha ou
conservados em recipientes para alimentação. Algumas espécies estão sendo
testadas para controle biológico de larvas de anofelinos, vetores dos
agentes da malária.
A
BARRAGEM DO PERICUMÃ – Parte IV
- Segundo
Leite Soares as águas do Pericumã atingem seu apogeu nos meses de chuva,
quando as águas correm em direção ao mar, levando consigo mururus e
aguapés. A força das águas em certas ocasiões fora tão forte que as canoas
procedentes do Armazém eram rebocadas por numerosos homens ou mantidas às
margens até que a correnteza amainasse.
- Após
o período do inverno, as águas do rio baixavam, devido ao forte calor que
provocava a evaporação das mesmas, os campos secavam, o solo rachava. O
gado enfraquecido pela carência de capim, ficava preso nos atoleiros,
morrendo de sede, causando grande prejuízo aos criadores.
- Por
essa época o prefeito mobilizava-se, recrutando trabalhadores que munidos
de enxadas e pás, tentavam conter as águas, construindo as
tradicionais tapagens. Estas eram feitas com talos de pindoba e
barro, à semelhança das paredes de pau-a-pique, para manter algum volume
de água, evitando assim, que o rio secasse totalmente.
- Esse
serviço era executado nas marés baixas para tentar vencer as correntes de
refluxo, concluindo com sucesso a feitura das barragens. Ainda seguindo o
texto de Leite Soares a principal barragem era feita nas imediações do
Barro Vermelho, cerca de mil metros à montante do antigo Armazem, ou Porto
Santa Cruz, um pouco antes da atual Barragem do Pericumã. Essa fora a
maior preocupação de prefeitos e da população que tinha nos peixes a única
fonte de subsistência, pois quando a construção dessas barragens atrasava
havia o perigo da água salgada invadir os campos nas marés de sizígia e
causar grande mortandade de peixes.
- Após
estudos preliminares sobre o impacto ambiental causado pela construção de
uma barragem e suas conseqüências nas alterações da fauna e flora, foi
finalmente construída a Barragem do Pericumã, pelo DNOS, para proteger a
cunha salina que sofre constante influência da maré, represando tanto o
fluxo de montante nas cheias do rio quanto a de jusante na maré enchente.
A sua construção começou em 1978 tendo sido concluída em 1982. Tem 100 m
de comprimento por 25m de largura, represando 63 milhões de metros cúbicos
de água. Tem três comportas, uma eclusa e dois diques laterais, fornecendo
água e pescado para os municípios de Pinheiro, Palmeirândia, Perimirim e
Pedro do Rosário. À montante da Barragem situam-se: Pinheiro,
Palmeirândia, São Bento, São Vicente Férrer, Olinda Nova, Presidente
Sarney, Matinha, Viana e Pedro do Rosário, enquanto à jusante ficam
Mirinzal, Central do Maranhão, Bequimão e Guimarães. Uma das eclusas
permite o tráfego das embarcações que podem navegar até Pinheiro, cerca de
50Km da foz.
- Sem
manutenção a Barragem que fora o grande sonho dos baixadeiros vem
transformando-se em pesadelo, exigindo a dragagem do rio à montante da
barragem numa extensão de 35km, aproximadamente. A abertura das eclusas
resulta em grande impacto ecológico, causando significativo desequilíbrio
com conseqüente alteração dos ecossistemas aquáticos, e em determinados
períodos resultando em grande mortandade de peixes ovados, com reflexos na
diversificação e abundância da fauna ictiológica.
- As
principais críticas referem-se à falta de estudos preliminares quanto ao
ciclo biológico das espécies nativas, seus hábitos alimentares, fatores
que influenciam seu crescimento, os processos de migração, época da
piracema, disponibilidade de alimentos e rendimento sustentável. Há
referências ao turvamento das águas misturadas com água salobra, que
reduzem a diversidade do plâncton, comprometendo a circulação da fauna,
formando ambientes lênticos, enquanto o aumento do espelho d`água à
montante, inunda os sítios reprodutivos, modificando a estrutura trófica.
[6]
CONSIDERAÇÕES FINAIS
- Este
texto resultou de pesquisas bibliográficas cujas fontes estão
abaixo relacionadas. Não o fiz com a pretensão de suprir prováveis
lacunas; também não há quaisquer interesses de ordem científica, geoeconômica,
tampouco relacionados às técnicas de pescaria.
- À guisa de
posfácio, trata-se tão-somente de um artigo de cunho saudosista
sobre Pinheiro, quando ainda era uma pequena cidade pacata e ordeira,
ideal para formar família, criar e educar nossos filhos, pois todos se
conheciam e os espectros das drogas, da violência, da pedofilia não eram
sequer cogitados pelos seus habitantes.
- Eram
os primeiros cinquenta anos da antiga vila, elevada à cidade em 1920,
orgulhosa do seu jornal “Cidade de Pinheiro”, do seu Ginásio Pinheirense,
o primeiro instituído em toda a Região e ostentando orgulhosamente uma
plêiade de jovens inteligentes e promissores que a transformariam em
celeiro de talentos e pólo intelectual de toda a Baixada.
- Atualmente as suas avenidas e ruas
vivem congestionadas por um trânsito caótico, perigoso e barulhento. É
como se a cidade tivesse perdido a sua inocência, a sua alma, o seu
espírito, para uma modernidade equivocada, confundida com progresso,
evidenciada pelo crescimento desorganizado e sem planejamento que se
expandiu além de sua capacidade física e ambiental, destruindo e invadindo
seus campos, profanando e poluindo a sua aprazível Faveira.
- Estes
textos publicados neste blog refletem a
nossa inconformidade com as modificações atuais,
incapazes de conviver harmoniosamente com uma arquitetura humanizada que
deu à nossa cidade o título de Princesa da Baixada.
BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA
Abeville, Claude D. – História da Missão
dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão, 3@ Ed.2002
Abreu, Josias Peixoto – Coisas de Antanho,
2006
Alvim, Aymoré de Castro – Pinheiro em
foco, 2006
Evreux, Yves – Viagem ao Norte do Brasil
feita nos anos de 1613 a 1614 - 3@ Ed. 2002
Frei Cristóvão de Lisboa – Hstória dos
animais e árvores do Maranhão
Lago, Antônio Bernardino – Itinerário da
Província do Maranhão, 2001
Leite Soares, José Jorge - Lugar das
Águas, 2006
Leite Filho, Deusdeti Carneiro – Ocupações
Pré-Coloniais no Litoral e nas Bacias Lacustres do Maranhão,
Lopes, Antônio – Alcântara, 2@ Ed. 2002
Lopes, Raimundo Lopes – O torrão
maranhense, 1970
Lopes, Raimundo – Uma Região Tropical, 1970
Lopes, Raimundo – Antropogeografia – 1956
Nomura, Hitoshi – Dicionário dos Peixes do
Brasil, 1984
Rios, Luiz – Geografia do Maranhão – 3@
edição
Secretaria de Estado do Meio Ambiente e
Turismo – Diagnóstico dos Principais Problemas Ambientais do Estado do
Maranhão, 1991
Viveiros, Jerônimo – Quadros da vida
pinheireirense, 2006
Postado por Pinheirando às 10:53
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IBGE: PINHEIRO - FICHA TÉCNICA [acesso em 03ago2015]
População
estimada 2014 (1)
|
80.917
|
População
2010
|
78.162
|
Área
da unidade territorial (km²)
|
1.512,965
|
Densidade
demográfica (hab/km²)
|
51,67
|
Código
do Município
|
2108603
|
Gentílico
|
pinheirense
|
Prefeito
|
FILADELFO MENDES
NETO
|
Fonte:
IBGE. Compilação: ARS – Arquivo Biblioteca Ronald de Almeida Silva.
http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=210860&search=||infogr%E1ficos:-informa%E7%F5es-completas
IBGE – SÍNTESE DAS INFORMAÇÕES MUNICIPAIS –
PINHEIRO, MA 2014
ÁREA DA UNIDADE TERRITORIAL
|
1.512,965
|
km²
|
Estabelecimentos de Saúde SUS
|
26
|
estabelecimentos
|
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO
HUMANO MUNICIPAL - 2010 (IDHM 2010)
|
0,637
|
|
Matrícula - Ensino fundamental - 2012
|
15.324
|
matrículas
|
Matrícula - Ensino médio - 2012
|
4.975
|
matrículas
|
Número de unidades locais
|
945
|
unidades
|
Pessoal ocupado total
|
5.119
|
pessoas
|
PIB per capita a preços correntes - 2012
|
5.368,16
|
reais
|
POPULAÇÃO RESIDENTE CENSO 2010
|
78.162
|
pessoas
|
População residente - Homens
|
38.079
|
pessoas
|
População residente - Mulheres
|
40.083
|
pessoas
|
População residente alfabetizada
|
57.849
|
pessoas
|
População residente que frequentava creche ou escola
|
27.127
|
pessoas
|
População residente, religião católica apostólica romana
|
59.664
|
pessoas
|
População residente, religião espírita
|
175
|
pessoas
|
População residente, religião evangélicas
|
12.505
|
pessoas
|
Valor do rendimento nominal mediano mensal per capita dos domicílios
particulares permanentes - Rural
|
132,50
|
reais
|
Valor do rendimento nominal mediano mensal per capita dos domicílios
particulares permanentes - Urbana
|
287,22
|
reais
|
Valor do rendimento nominal médio mensal dos domicílios particulares
permanentes com rendimento domiciliar, por situação do domicílio - Rural
|
788,64
|
reais
|
Valor do rendimento nominal médio mensal dos domicílios particulares
permanentes com rendimento domiciliar, por situação do domicílio - Urbana
|
1.491,00
|
reais
|
Fonte:IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística
http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=210860&idtema=16&search=maranhao|pinheiro|sintese-das-informacoes
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