[829] A VIRTUDE DA INDIGNAÇÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS: Ronald Almeida

BLOG RONALD.ARQUITETO sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

 

A VIRTUDE DA INDIGNAÇÃO

PROJETO PRAIA GRANDE. PPR-CH-SLZ-MA: Programa de Preservação e Revitalização do Centro Histórico de São Luís do Maranhão. Sede: Rua do Giz esquina com Escadaria da Rua Humberto de Campos. 1º Coordenador Geral: Arq. Ronald de Almeida Silva. Desenho de Luiz Phelipe Andrès. Out. 1984. Centro Histórico de São Luís Patrimônio Mundial UNESCO (desde 06dez1997).

A VIRTUDE DA INDIGNAÇÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS.

Ronald Almeida, 10jan2020.

Arquiteto Urbanista

Durante décadas residentes e visitantes (em geral indignados) assistiram uma lenta e gradual degradação do tecido urbano e dos bens arquitetônicos do Centro Histórico de São Luís.

Apesar das ações de tombamento e diligências do IPHAN (desde a década de 40) visando a proteger (de início) monumentos e bens isolados e, posteriormente, conjuntos urbanos, o Centro Histórico de São Luís sofreu perdas contínuas, de todos os tipos: de casas porta-e-janelas até nobres sobrados e prédios públicos, que se deterioraram ou desmoronaram por força da incúria e insensibilidade (às vezes ganância) de seus proprietários privados ou gestores públicos.

Um dos casos mais traumáticos foi a tentativa de demolição integral da quadra entre a Praça da Alegria e a Rua Grande (fora do perímetro de Tombamento do IPHAN) para instalação das LOJAS AMERICANAS, no período 1986-87. Foi preciso que pessoas indignadas (como eu me senti na ocasião e em várias outras), JOSÉ LOUZEIRO, FERREIRA GULLAR e vários outros intelectuais no Rio de Janeiro acionassem o Jornal do Brasil que fez denúncia de repercussão nacional em página inteira, com matéria intitulada “TRAMA-SE O ESTUPRO ARQUITETÔNICO, no Centro Histórico de São Luís”. Isso gerou um processo de indignação cívica que impediu a perda total, salvando-se ao menos as fachadas e a volumetria do entorno dessa quadra, o que pude formalizar na condição de Secretário Municipal de Urbanismo à época (1985-88), na gestão da Prefeita Gardênia Gonçalves.

Desde então, a situação mudou de modo significativo. Obrigado a todos que contribuíram para a reversão desse processo de degradação, o que se consolidou a partir dos anos 80 nos períodos dos Projetos Praia Grande, Reviver, Prodetur, UFMA e Viva (dentre outros). 

Registro meu reconhecimento grato aos trabalhos e às companhias profissionais e intelectuais de LUIZ PHELIPE ANDRÈS, JOHN GIZIGER, DANILO ROCHA, SILVIA LEAL, IVAN SARNEY, JOSÉ RIBAMAR CORDEIRO FILHO, além de nossas dedicadas equipes e do IPHAN, os quais (com apoio de mitos outros) tornaram possível a realização de tantos projetos, incluindo a elaboração do dossiê que nos permitiu obter o galardão da inclusão do Centro Histórico de São Luís na Lista dos Bens Culturais do Patrimônio Mundial da Unesco (em Nápoles, 06dez1997). 

Obviamente tudo isso ocorreu em função de decisões políticas dos Governadores João Castelo (e do Secretário de Planejamento João Rebelo Vieira), Epitácio Cafeteira e Roseana Sarney, os quais deram explícitas prioridades (e garantiram dotações e verbas orçamentárias) aos trabalhos de preservação.

Recentemente, na década de 2010-2019, podemos destacar o notável elenco de obras do Programa PAC Cidades Históricas São Luís, o qual foi viabilizado pelo IPHAN sob a gestão diligente e feliz de KATIA BOGEA, atuante (e não raro indignada) Presidente Nacional até ao final de 2019.

Parodiando o sempre indignado CLAUDIO ABRAMO:

“De modo que acho sinceramente que, se quisermos acertar as coisas neste País, [e no Centro Histórico de São Luís] devemos colocar na Presidência da República [e na Prefeitura de São Luís e no Governo do Maranhão] um(a) brasileiro(a) que possa permanecer em estado permanente de indignação. Sem uma boa dose dose dela não vamos consertar nada aqui.”

Ronald Almeida, 10jan2020.

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RONALD DE ALMEIDA SILVA

Rio de Janeiro, RJ, 02jun1947; reside em São Luís, MA, Brasil desde 1976.

Arquiteto Urbanista FAU-UFRJ 1972 / Registro profissional CAU-BR A.107.150-5

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