EU* E VIOLLET-LE-DUC NOS TELHADOS DA CATEDRAL DE NOTRE-DAME
DE PARIS** A CONVITE DE BERNARD FONQUERNIE. (março 1997)
* (ainda de bigode)
** (construção principal: ano 1163 a 1250),
Ronald de Almeida Silva
Arquiteto Urbanista, SLZ-MA, 15abr2019.
Em 1997 tive oportunidade de fazer uma das visitas
profissionais mais importantes da minha vida de arquiteto urbanista, que hoje estou
rumo aos 47 anos de graduação (FAU-UFRJ 1972).
Esse evento inesquecível foi uma visita técnica “au
grand complet” guiada pelo Arquiteto Chefe da Restauração da Catedral Notre-Dame de Paris, o renomado
arquiteto francês BERNARD FONQUERNIE,
um dos maiores especialistas europeus em preservação de sítios, jardins clássicos
e monumentos históricos de grande porte.
Em 1988 BERNARD FONQUERNIE
esteve em visita acadêmica ao Brasil e veio ao Maranhão, numa bem organizada
Missão Cultural organizada por um dos mais importantes amigos do Patrimônio e
grande historiador, o incansável historiador e cidadão do mundo JEAN-PIERRE HALÉVY, que adorava vir a
São Luís e Alcântara e onde veio celebrar o seu aniversário de 70 anos. Tive
oportunidade de recebe-los e acompanhar suas atenciosas e honrosas visitas às
nossas cidades históricas.
Fui a Paris (março 1997) em Missão Oficial do Governo do
Maranhão para entregar no ICOMOS, órgão consultivo da UNESCO, o dossiê com a
proposta de inclusão do Centro Histórico de São Luís na Lista do Patrimônio
Cultural Mundial daquela entidade das Nações Unidas
Missão cumprida dentro do prazo junto ao ICOMOS, no dia
seguinte fui visitar meu colega arquiteto e amigo BERNARD FONQUERNIE em seu escritório próximo ao Arco do Triunfo (6,
rue du Colonel Moll), o qual me reservou após o almoço uma experiência
extraordinária: convidou-me para visitar novamente os trabalhos de restauração
da Catedral de Norte-Dame de Paris, um excepcional esforço de quase duas
décadas de projetos, pesquisas, obras e serviços.
FONQUERNIE era nada mais nada menos que o Chefe de todas as
empresas, consultores especialistas, engenheiros, arquitetos e artesãos que
deveriam restaurar (dos porões ao topo do pináculo de Eugene Violet-le-Duc) um
dos mais importantes monumentos religiosos do mundo, deixando a imensa catedral
apta a receber os mais de 10 milhões de turistas que a visitaram 8 anos antes
por ocasião do BICENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO FRANCESA 1989.
Não podemos esquecer que a celebração do BICENTENÁRIO DA
REVOLUÇÃO FRANCESA 1989 foi um momento raro na histórica cultural da Humanidade
pois o Presidente Mitterrand, idealizador e mentor dos Grand Travaux
necessários à essa celebrações, dedicou-se com todo o empenho durante grande
parte do seu governo de 14 anos (2 períodos de 7 anos) para que todas as
grandes obras na capital e interior fossem conduzidas com a melhor qualidade e
dentro do cronograma.
O conjunto de obras arrojadas do BICENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO
FRANCESA 1989 foi um excepcional show mundial de arquitetura e urbanismo, que
dentre dezenas de importantes realizações incluiu: a restauração da Catedral de
Notre-Dame; o Grand Louvre (restauração, ampliação e modernização do maior
museu do mundo); a restauração da Torre Eiffel; a construção da Ópera da
Bastilha; a construção do Arco de La defense, o novo Museu D’Orsay; o Parque de
La Villete;
Depois da primeira visita em 1988, em 29mar1997 tive a
oportunidade de refazer a pedagógica e emocionante experiência que meu colega francês me proporcionou. Em
companhia do bom amigo NAPOLEÃO SABOIA visitei pela segunda vez a catedral de
Notre-Dame de Paris, percorremos as lajes de pedra sob os delgados e elegantes
arcos botantes e vimos as dezenas de gárgulas talhadas em pedra, tudo com a
vista das águas mansas do rio Sena ali em baixo, sendo todo esse maravilhosos
percurso obviamente inacessível para o turista comum!
Na primeira visita tive acesso a todas as dependências
internas e externas da Catedral. Estive na torre sineira e toquei o sino Emmanuel (Torre Sul) de 27
toneladas que há séculos anuncia eventos para toda Paris; fui apresentado do
Corcunda de Notre-Dame em “pessoa”, na época em fase de restauração, devido
aos estragos das chuvas ácidas.
Visitei a grande nave que fica sobre o teto da catedral para ver a portentosa estrutura de madeira que sustenta o telhado e a grande flecha que ali encravou VIOLLET-LE DUC por volta de 1860.
Parecia um imenso cavername de um navio galeão francês invertido, com obras de arte de arquitetura e engenharia de madeira, construção de mais de oito séculos, uma época em que a imensidão que depois seria chamada Brasil ainda era um continente só de florestas, bichos e índios.
Visitei a grande nave que fica sobre o teto da catedral para ver a portentosa estrutura de madeira que sustenta o telhado e a grande flecha que ali encravou VIOLLET-LE DUC por volta de 1860.
Parecia um imenso cavername de um navio galeão francês invertido, com obras de arte de arquitetura e engenharia de madeira, construção de mais de oito séculos, uma época em que a imensidão que depois seria chamada Brasil ainda era um continente só de florestas, bichos e índios.
Pude na ocasião me confraternizar e agradecer ao grande
mestre da arquitetura gótica, ali presente por sua estátua de bronze (que
encima um conjunto com outras 11 estátuas) o que FONQUERNIE eternizou para
minha imensa satisfação nas fotos que ele fez dessa minha conversação com o
genial VIOLLET-LE DUC!
Passados 22 anos, vejo hoje na TV, por volta das 14 horas, a
notícia em edição extraordinária de que aquela fabulosa construção e obra de
arte do engenho humano, a Catedral de Notre-Dame de Paris, ardia em chamas
violentes, que pareciam estar concentradas nesse espaço do gigantesco cavername
onde havia o maior número de peças de madeira, logo abaixo da base da flecha de
VIOLLET-LE-DUC.
Levei um choque tremendo ao ver o tamanho da destruição e me
deu um sentimento profundo de tristeza, tal como em 02 setembro 2018 ao ver as
chamas absurdas devorarem o nosso Museu Nacional, por causa da criminosa SÍNDROME DE LEHER-KELLNER.
Lembrei das minhas
fotos e das minhas visitas em 1988 e 1997 ao cenário que Victor Hugo
imortalizou em 1831, a convite de ilustre arquiteto FONQUERNIE, e até agora não
consigo parar de pensar no quanto foi destruído desse patrimônio cultural
mundial.
Ainda estou muito perturbado com tamanha destruição e imaginando que
esse um fogaréu medonho poderia ter sido debelado na origem, caso...
RONALD DE ALMEIDA SILVA
Arquiteto Urbanista FAU-UFRJ 1969-1972.
Especialização em Desenho Urbano e Planejamento Regional (Universidade
de Edimburgo, Escócia, 1981-83).
Rio de Janeiro, RJ, 02jun1947; reside em São Luís, MA, Brasil desde
1976.
Registro profissional (1972-2012 = 40 anos) CREA-RJ 21.900-D
Registro profissional (2013 em diante) CAU-BR A.107.150-5
e-mail: ronald.arquiteto@gmail.com
Blog Ronald.Arquiteto (ronalddealmeidasilva.blogspot.com)
Facebook ronaldealmeida.silva.1
Nenhum comentário:
Postar um comentário