sexta-feira, 8 de maio de 2015

[67] ARQUITETURA: MINHA CASA MINHA VIDA - MAIOR PROGRAMA HABITACIONAL DO SECULO XXI EXCLUI ARQUITETOS E URBANISTAS - VIGLIECCA & ASSOCIADOS


Arquitetos foram excluídos do plano habitacional do país

Departamento: IAB RJ; Data: 29/04/2015;



  1. O uruguaio Héctor Vigliecca, radicado no Brasil há mais de 40 anos, lançou na terça-feira, 28 de abril, no IAB-RJ, o livro “O Terceiro Território – Habitação Coletiva e Cidade”. A obra trata da habitação social através dos projetos desenvolvidos pelo escritório Vigliecca & Associados.
  2. Antes da sessão de autógrafos, o arquiteto discutiu o tema com o público, que lotou o auditório do Instituto de Arquitetos. Para Vigliecca, o atual plano de habitação do país exclui os arquitetos. Ele destacou a importância da participação popular no desenvolvimento de projetos, mas alertou que nem tudo deve ser incorporado ao trabalho.
  3. “O Minha Casa Minha Vida (MCMV) é um plano extraordinário. Estou há 45 anos no Brasil, acho que o país não nunca teve um plano como esse e com tantos recursos federais. No entanto, quem está excluído desse processo? Somos nós, os arquitetos”, criticou Vigliecca.
  4. De 2009 até hoje, o MCMV investiu R$ 248,4 bilhões. Foram contratadas 3,8 milhões de unidades habitacionais e entregues 2,09 milhões de casas em todo o país. As cifras e os números surpreendem, mas os arquitetos e urbanistas, entre outros profissionais, têm inúmeras críticas ao programa habitacional do governo federal.
  5. Vigliecca aponta, por exemplo, que o programa deveria estar conjugado com um avanço tecnológico e ter capacitado recursos humanos suficientes para lidar com um plano do volume do MCMV:
  6. “Quando se faz qualquer empreendimento, principalmente com esse volume de construção, tem que existir um desenvolvimento tecnológico que permita fazer as obras. Porém, o que observamos é que não se definiu onde o programa seria feito e quais os recursos humanos, que são os arquitetos, necessários para a sua sustentação. Os arquitetos não estavam preparados.”
  7. O arquiteto se diz triste ao ver os recursos investidos e a quantidade de casas já construídas. “O Brasil perdeu a grande oportunidade de fazer uma grande transformação, principalmente uma transformação no pensamento. Esse era o momento de se pensar numa nova urbanidade, pois os arquitetos e urbanistas são obrigados a pensar em grandes escalas. Não se teve essa sensibilidade. Isso foi assustador”, lamentou.
  8. Questionado sobre o processo criativo do Vigliecca & Associados nos projetos de habitação de interesse social e sobre como o profissional faz para conciliar suas propostas com as demandas da comunidade, Vigliecca explicou que o arquiteto não deve responder literalmente a uma problemática apenas com o desejo da comunidade. Ele diz que o profissional deve ter a capacidade de interpretar a realidade para fazer o seu trabalho.
  9. O arquiteto não precisa, necessariamente, fazer tudo o que a comunidade pede. O papel do profissional é fazer a ponte, mas não atender literalmente a situação. Atender a todos os desejos da comunidade só pode gerar desastre. Muita gente acredita que deve ser feito tudo que eles pedem. Eu não. Nunca fizemos isso”, afirmou Vigliecca.
  10. Para Vigliecca, o que o arquiteto produz, ou tenta produzir, é um acontecimento. Uma mudança no paradigma. A mudança do paradigma urbano ocorre quando se muda a maneira de o público se relacionar com o privado. “Para que a mudança de paradigma realmente funcione, é preciso contar com a participação de todos, inclusive da comunidade”, disse.
  11. O Terceiro Território – Habitação Coletiva e Cidade
  12. Terceiro livro produzido pelo Vigliecca & Associados e primeiro sobre o tema da habitação social, a obra conta com organização e análise da pesquisadora e professora do Mackenzie Lizete Rubano e apresentação do professor doutor da FAU-USP Luiz Recamán.
  13. “O Terceiro Território – Habitação Coletiva e Cidade” se aprofunda nas reflexões adotadas durante o processo de criação arquitetônica de Héctor Vigliecca e apresenta parâmetros para o debate da habitação como política pública.
  14. Ilustrado com material gráfico inédito, como croquis do arquiteto, o livro trata ainda do papel da arquitetura na construção da sociedade brasileira, contextualizando e discutindo a importância do trabalho de Vigliecca nessa realidade.
  15. O livro, bilíngue (português e inglês), está à venda na Amazon.com e, em breve, estará disponível nas melhores livrarias do Brasil.


(Crédito das fotos é Divulgação/Vigliecca & Associados)

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