FACEBOOK RAS 26out2017 (n° 2.786): ESPANHA EM GUERRA
POLÍTICA. PARTE 2.
Catalunha tem
referendo pela independência neste domingo; entenda o movimento separatista [30set2017]
Ø Governo espanhol
considera o referendo ilegal, reivindicando que a Constituição declara que o
país é indivisível, e diz que ele não irá ocorrer
Fonte: Portal Rede Globo; Por G1; 30/09/2017
05h00
RAS 2017-10-27
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A Catalunha pretende realizar, neste domingo (1ºout2017),
um referendo pela independência dessa região autônoma da Espanha.
O governo
regional afirma que "está tudo pronto" para a realização do referendo
nas mais de 2 mil seções eleitorais, e os organizadores dizem que 60 mil
pessoas já se inscreveram.
No entanto, o governo espanhol considera o referendo
ilegal, reivindicando que a Constituição declara que o país é indivisível, e
diz que ele não irá ocorrer. 5,3 milhões de cidadãos estão convocados a votar.
Nesta sexta, o chefe da polícia da Catalunha ordenou que os policiais
desalojem sem violência todos os centros de votação no domingo às 6h (horário
local).
Alguns colégios
eleitorais foram ocupados por defensores do referendo para impedir que os
locais fossem fechados, como foi solicitado pela juíza que
investiga o governo regional por desobediência, desfalque e prevaricação.
O governo espanhol também confiscou
cédulas e materiais de propaganda eleitoral, ordenou o bloqueio
dos sites oficiais com informações sobre a votação, e deteve membros
importantes do governo regional na organização do referendo, que foram
colocados em liberdade condicional. Para o domingo, enviou à região 10 mil
policiais como reforço para impedir as pessoas de votarem.
O organismo criado para supervisionar o sufrágio
foi dissolvido quando seus membros receberam multas diárias de 12.000 euros por
desobedecer ao Tribunal Constitucional, e o departamento governamental
encarregado de contar os votos foi revistado na semana anterior pela polícia.
SENTIMENTO SEPARATISTA
Os separatistas são maioria no Parlamento catalão
desde 2015, mas as pesquisas indicam que a sociedade catalã está muito
dividida. A última pesquisa feita pelo governo catalão, em junho, mostrou que
49% eram contra a independência e 41% a favor.
No referendo de 2014, que também foi declarado inconstitucional por
Madri, quase 1,9 milhão (80%) de catalães votaram pela independência, embora a
participação tenha sido de 37%.
O embate entre autoridades da Catalunha e do governo central da Espanha
em torno do referendo independentista desperta a curiosidade sobre o movimento
separatista na região e suas motivações.
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O
sentimento separatista surge de uma soma de diversos fatores, entre eles
históricos, culturais e econômicos. Veja a seguir 3 fatos para entender o
movimento separatista da região:
1.Território
perdeu governo próprio e foi integrado à Espanha na guerra de sucessão.
Assim como outras regiões da Espanha, a Catalunha
foi incorporada a um reino da Península Ibérica por meio de um casamento. Na
Idade Média, com a expulsão do domínio árabe, passou a fazer parte do Reino de
Aragão, depois que o Rei Ramiro II de Leão casou sua filha Petronila com o
conde de Barcelona, Ramón Berenguer.
Três séculos depois, os reis católicos Fernando e
Isabel estreitaram a união entre as coroas de Castela e Aragão, da qual a Catalunha
dependia, firmando os pilares da coroa espanhola e do nascimento do Estado
espanhol.
Foi em 1714, na guerra de sucessão pelo trono da Espanha, que estava
vago por falta de herdeiros, que Barcelona sucumbe após um longo cerco às
tropas franco-espanholas e a Catalunha perde suas instituições e leis próprias.
A data deste episódio, 11 de setembro, é celebrada desde então como o Dia da
Catalunha.
2. Catalães têm
identidade cultural e língua próprias, além de sentimento de nação.
As instituições de autogoverno foram recuperadas
em 1931, com a proclamação da Segunda República Espanhola. Então foi aprovado
um Estatuto de autonomia, e o idioma catalão ganhou status oficial ao lado do
castelhano.
Durante a ditadura de Francisco Franco, o uso
público do catalão, assim como outras línguas, foi proibido e o poder ficou
centralizado. Mas em 1979, já na democracia, um novo estatuto de autonomia
voltou a instituir o catalão como língua oficial e permitiu à região assumir
competências em educação, saúde, política linguística e cultura, além de criar
uma polícia própria.
Assim como sua língua, os catalães são conhecidos por promover e
preservar suas tradições culturais, marcando sua diferença com o resto da
Espanha. Um exemplo é a proibição das touradas, aprovada em 2010, em um
referendo.
O sentimento de nação foi expresso em 2006 com a
aprovação de um novo estatuto que deu mais autonomia à região e definia a
Catalunha como uma nação. O estatuto foi aprovado pela Justiça espanhola, mas
foi levado pelo Partido Popular, do chefe de governo Mariano Rajoy, ao Tribunal
Constitucional, que anulou a categoria de “nação” à região. Segundo análise do
jornal “El País”, a partir dessa decisão só aumentou a escalada do embate entre
nacionalistas catalães e o governo central.
3. A Catalunha é
uma das regiões mais ricas da Espanha e sofre com déficit orçamentário.
A Catalunha representava 19% do PIB espanhol em
2016, competindo com Madri (18,9%) pelo posto de região mais rica do país. Em
PIB per capita, está em quarto lugar (28.600 euros frente a uma média de 24.000
nacional), atrás de Madri, País Basco e Navarra. A região é líder em
exportações, indústria, pesquisa e turismo, apesar de uma dívida elevada -- de
75,4 bilhões de euros no fim de março.
Um dos argumentos pela separação defendidos pelos
independentistas é o déficit orçamentário. A Catalunha entrega mais dinheiro ao
governo central do que recebe.
O executivo catalão estima esse déficit em cerca
de 16 bilhões de euros (8% do PIB regional), e o Estado, com outra metodologia,
em 10 bilhões (5% do PIB regional).
O sentimento separatista aumentou durante a crise econômica de 2010,
que elevou o nível de desemprego na região e em todo o país.
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