[885] TRAGÉDIA DA CHAPECOENSE 29nov2016: OS MINUTOS FINAIS DO AVIÃO DA CHAPECOENSE. Revista Época. 02dez2016.
Os
minutos finais do avião da Chapecoense
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Plano arriscado, resultado trágico 3 (Foto:
Época )
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Os
minutos finais do avião da Chapecoense
O avião da LaMia decolou sem autonomia
adequada para a viagem e demorou a ter prioridade para o pouso de emergência
FONTE: REVISTA ÉPOCA; MARCELO MOURA
02/12/2016 - 18h38 - Atualizado
02/12/2016 22h46
Acesso RAS 2020-04-21
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Destroços do avião da LaMia. Ele caiu a cerca de
30 quilômetros do aeroporto de Medellín (Foto: Fredy Builes / Reuters)
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Miguel
Quiroga, piloto: “Voo LaMia CP2933 em
aproximação. Solicitamos prioridade para a aproximação, pois enfrentamos um
problema de combustível”.
Yaneth
Molina, controladora de voo: “Entendo.
Solicita prioridade para sua aterrissagem por problema de combustível.
Correto?”.
Quiroga: “Afirmativo”.
Yaneth: “Ok. Darei instruções para a aproximação. Em
aproximadamente sete minutos, iniciarei a confirmação
O
diálogo acima dá início aos dramáticos minutos finais do voo que levava o time
da Chapecoense. A partir dele, a tragédia foi tomando forma até
o desfecho que todos conhecemos.
YANETH
MOLINA – ou “Yankee Mike” – era a
controladora de tráfego aéreo, com mais de 22 anos de
experiência. Naquele momento – 21h41 do dia 28nov2020, no horário da Colômbia,
ou 0h41 do dia 29, no horário de Brasília –, cabia a YANETH organizar e
orientar a chegada dos aviões ao Aeroporto Internacional José Maria Cordova,
nos arredores de Medellín.
Aviões
voam em movimentos circulares, cada um a uma altitude, à espera de autorização
para pousar. Eram três aeronaves na fila – entre elas, um Airbus A320 da
empresa VivaColômbia com vazamento de combustível que desviou para Medellín.
Em caso de pouso com vazamento, é procedimento-padrão fechar a pista para
vistoria, por alguns minutos.
MIGUEL
ALEJANDRO QUIROGA MURAKAMI – ou
comandante Miguel Quiroga – era piloto do avião Avro RJ85,
prefixo CP2933, da LaMia. Tinha 36 anos de idade e 14 de
carreira. Morava num sítio em Epitaciolândia, no Acre. QUIROGA deixara a
Força Aérea Boliviana para se dedicar aos três filhos – o mais velho com 4
anos, o mais novo com 5 meses.
Em
2015, tornou-se sócio da LaMia – uma empresa aérea criada na Venezuela pelo
ex-parlamentar RICARDO ALBACETE VIDAL –, que mudou sua sede para a
Bolívia conforme as benesses do governo venezuelano cessaram.
Com
quatro aviões médios na frota – três deles parados para manutenção –, a empresa especializou-se
em voos fretados para equipes de futebol.
Em
11 de novembro [2016], o mesmo avião transportou a seleção da Argentina. No dia
28, coube à LaMia levar o time da Chapecoense para Medellín, para disputar a
primeira partida da final da Copa Sul-Americana.
“É
uma satisfação para nós ter sido escolhidos por eles, entre tantas empresas
aéreas sul-americanas, disse QUIROGA
ao canal de TV boliviano Gigavisión, dentro da aeronave.
“É
um momento muito importante para a Chapecoense. Já trabalhamos com a LaMia, nos
atenderam muito bem”, disse o
técnico do time, CAIO JÚNIOR.
“Esperamos
que nos tragam sorte como na primeira vez.” “¿Qué tal el vuelo, qué tal el
servicio de LaMia?”, perguntou um repórter boliviano, com sotaque
carregado, ao jogador EVERTON KEMPES. “Entendi p... nenhuma”, respondeu
o jogador, arrancando risos.
A
LaMia planejava decolar com a equipe da Chapecoense de São Paulo, às 15 horas,
reabastecer em Cochabamba, na Bolívia, e chegar a Medellín às 20 horas (hora
local).
Mas
foi impedida pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) – a lei exige que a empresa
de fretamento tenha sede no país de origem ou de destino da viagem. O time
pegou então um voo comercial até o aeroporto Viru Viru, em Santa Cruz de la
Sierra, na Bolívia, com uma hora de atraso.
A fim de ganhar tempo na viagem, o
despachante da LaMia, ALEX QUISPE, apresentou ao aeroporto de Santa Cruz um PLANO
DE VOO de quatro horas e 22 minutos – tanto quanto a autonomia do avião. VOAR
SEM MARGEM DE SEGURANÇA É PROIBIDO.
A
Associação Internacional de Aviação Civil (ICAO) diz que todo avião deve ter
combustível suficiente para: (i) completar o percurso previsto no plano de voo + (ii) 30 minutos à espera de autorização para pouso, em
viagens diurnas, ou (iii) 45 minutos, em viagens noturnas, + (iv) 5 minutos de reserva para enfrentar condições climáticas adversas e (v) alcançar um aeroporto alternativo em casos de emergência.
Nem
era o caso: apesar da chuva fina no destino, Medellín, as condições climáticas
foram descritas pela Aeronáutica Civil da Colômbia como “ótimas”.
Funcionária
da Aasana, autoridade de aeronavegação da Bolívia, CELIA CASTEDO MONASTERIO registrou
em um relatório interno sua discordância: “Mas é ‘cabalito’ (gíria boliviana
para algo na medida exata), o tempo de rota e a autonomia”. “Fazemos em
menos tempo, não se preocupe”, respondeu QUISPE, segundo
o relatório. O PLANO DE
VOO FOI MANTIDO.
“Mamãe:
vou saindo do aeroporto Viru Viru, de Santa Cruz. Irei até Medellín. Ligo
quando chegar”, disse QUIROGA a sua
família, numa mensagem de WhatsApp. Minutos depois, às 20h18 (horário de
Brasília), QUIROGA e QUISPE, entre 77 pessoas – funcionários da
LaMia, jogadores da Chapecoense e jornalistas –, decolaram.
Montar
um plano de voo com tempo de rota e autonomia iguais é uma flagrante
irregularidade. É
precipitado afirmar, contudo, que QUIROGA adotou um comportamento homicida.
O
piloto é livre para descumprir a rota planejada e pousar para reabastecimento
caso necessário. Essa parada é cara, mas um pouso de emergência por pane seca
expõe o piloto a pesadas multas e suspensão da licença para voar.
“Se
o piloto visse que tinha uma deficiência de combustível, tinha todo o poder
para fazer o reabastecimento”,
disse depois GUSTAVO VARGAS, diretor da LaMia. “Ele tomou a
decisão de não parar porque pensou que o combustível daria.”
A
autonomia declarada do Avro RJ85 é um valor de referência, sujeito a variações
conforme as condições do voo. Amparado nos dados de consumo observados durante
a viagem, QUIROGA pode ter concluído que havia combustível suficiente.
Falhas
em medidores de distância e combustível podem ter levado a um erro de
julgamento. Outra hipótese é o piloto ter sido surpreendido pelo fim repentino
do combustível – causado por vazamento ou aumento do consumo dos motores.
A leitura das caixas-pretas, nas
próximas semanas, poderá determinar o tamanho da irresponsabilidade de QUIROGA.
Quando
QUIROGA disse a YANETH que “enfrentava um problema de
combustível”, às 21h41, não teve autorização para furar a fila dos
outros aviões e talvez salvar a Chapecoense. Na ocasião, ele não deixa claro
que estava sem combustível e que a situação era de emergência.
A
gravação do diálogo entre QUIROGA e YANETH mostra que apenas às
21h52, quando ela perguntou quanto tempo mais o avião poderia permanecer em
espera, o piloto declarou a situação crítica:
“Tenho
emergência de combustível, senhorita. Peço de uma vez um curso final”.
Após
o aviso de emergência [da LAMIA], YANETH começou a abrir caminho para o
avião LaMia: “Lan Colombia 3020, cancelada a autorização para
aproximação”.
Trinta
segundos depois, QUIROGA insistiu: “Peço-lhe a descida imediata.
Com emergência de combustível, senhorita. Por isso lhe peço de uma vez um
trajeto final”.
YANETH atendeu: “LaMia 2933, você pode efetuar um
desvio à direita para iniciar uma descida? Há tráfego 1 milha abaixo de você”.
Logo
depois, a aeronave sumiu do monitoramento do site FlightRadar24. Voava a
263 quilômetros por hora, lento demais para a altitude de 3.000 metros
acima do aeroporto. Estava planando e perdendo altura.
“Senhorita,
LaMia 2933 está em falha elétrica total, sem combustível”,
disse QUIROGA.
Sem combustível para os motores, a
bateria de reserva do avião mantém apenas o essencial, como o rádio e
indicadores de altitude e velocidade. QUIROGA voava às cegas.
“Vetores,
senhora! Vetores!”, implorou por
orientação.
“O
sinal do radar se perdeu”,
respondeu YANETH. “Não tenho você. Notifique o rumo agora.”
Essa
informação, QUIROGA ainda tinha: “Rumo 3-6-0. Rumo 3-6-0”.
“Você
está a 8,2 milhas da pista”,
disse YANETH.
Faltavam
13 quilômetros. Na aviação, é pouca coisa. Mas QUIROGA precisava desviar
das montanhas no escuro. Sua última palavra não mostra pânico, só um suspiro de
surpresa. Quiroga: “Jesus!”.
YANETH: “Você disse o que agora?”.
(Vozes
masculinas na torre de controle):
“Não responde”. “Não.” “Já caiu. Já
caiu.”
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Plano arriscado, resultado trágico 1 (Foto:
Época )
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Plano arriscado, resultado trágico 2 (Foto:
Época )
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Plano arriscado, resultado trágico 3 (Foto:
Época )
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DE ALMEIDA SILVA
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