Coxinho
Bartolomeu dos Santos
Ø Nasceu no lugarejo Fazenda Nova, nas proximidades de povoado Lapela, então município de
Vitória do Mearim, hoje cidade de Conceição do Lago-Açu, no dia 24 de agosto de
1910.
Ø Faleceu aos 80 anos e 7 meses em São
Luís, em casa, às 6:00 h do dia 03abr1991.
Ø Após o
falecimento do cantador, o governador Edison Lobão – mediante projeto de lei do
então deputado estadual José
Raimundo Rodrigues - oficializou o “URRO DO BOI”, a mais famosa toada do
cantador, como o Hino Cultural e Folclórico do Maranhão, através da Lei 5.299, de 12 de dezembro de
1991, cuja execução é obrigatória no início e no final de qualquer
evento cultural em qualquer parte do território maranhense. [Joel Jacinto]
COXINHO 100 ANOS [e o Boi de Pindaré;
26ago2010].
Fonte: Blog do Daffé; quinta-feira,
26 de agosto de 2010
http://daffema.blogspot.com.br/2010/08/coxinho-100-anos.html
Acesso RS em 06jun2017
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Natural da Baixada Maranhense, um dos
patronos da Academia
Arariense-Vitoriense de Letras, cadeira nº. 07, fundada e ocupada pelo
artista plástico AIRTON MARINHO (da
Secretaria de Cultura do Estado), BARTOLOMEU
DOS SANTOS, o popular COXINHO,
vem à luz em 24 de agosto de 1910, no lugarejo
Fazenda Nova, nas proximidades de Lapela
(considerado um dos maiores redutos de afrodescendentes no município de Vitória do Mearim).
Órfão de pai e mãe, ainda menino, logo
tem que “enfrentar sozinho as dificuldades que a vida oferece àqueles que bem
cedo perdem o doce convívio dos pais”, como bem o diz o escritor vitoriense ARIMATEA COELHO (1998).
Sua estreia como cantador de Boi dá-se
em 1924 (ano marcado por uma das maiores enchentes no Estado), no seu município
de origem, aos 14 anos, na condição de “vaqueiro perdido”, do boi de cofo “Reis do ano”, com a toada:
“Mas essa é que é a serpente marinha
Que conduz porco e saco de açúcar
E até panero de farinha”.
Aos 16 anos (1926), deixa a terra
natal, com destino a São Luís, onde começa a trabalhar como “moço de convés”,
em embarcações que fazem o périplo marítimo / fluvial São Luís-Grajaú.
Sempre envolvido com os folguedos
juninos do bumba-meu-boi, de porto em porto, por onde desembarca, na rota das
muitas viagens, angariando sempre muitas amizades com cantadores de boi (dentre
estes, ROSALVO SIMPLÍCIO MORENO, conhecido
nas rodas de guarnicê da Baixada por ROSALINO
ou ROSA BOBAGEM), aos poucos vai
ascendendo, na hierarquia da brincadeira, chegando, em 1938, ao status de amo.
A partir de 1940 (início do ano), BARTOLOMEU (Berto, no seu tempo de cantoria pelo interior maranhense), começa a
se destacar nas rodas de boi de São Luís.
A partir de 1945, integra-se a dois
grupos de bumba-boi da Baixada, dos mais famosos do Maranhão: o de Viana e o de
Pindaré – que, com o de São João Batista, compõem o subgrupo da baixada (uma
das divisões do chamado grupo indígena, que tem na matraca o diferencial
inconfundível do sotaque).
Sobre o assunto, vale ressaltar que,
segundo a pesquisadora MARIA MICHOL
PINHO DE CARVALHO (1995), em 1945, foi criado, em São Luís, o Boi de Viana, tendo como líder do batalhão
APOLÔNIO MELÔNIO, até 1959 – quando
este então, desligando-se do grupo de origem, organiza, em 1960, na Floresta
(Liberdade), ao lado de JOÃO CÂNCIO e
COXINHO, um outro boi, que, na força
da vox populi, ficou conhecido como Turma
do Pindaré, contando este com quatro amos: APOLÔNIO e COXINHO de um
lado, JOÃO CÂNCIO e COBRINHA do outro.
Em 1967, nova cisão: JOÃO CÂNCIO, separando-se de APOLÔNIO, leva parte do grupão original
para o Bairro de Fátima (onde reside). É quando Coxinho, até então meramente um
cantador brilhante, passa a dividir, com JOÃO
CÂNCIO, o encargo de amo do Boi de
Pindaré.
O ano de 1971 registra um momento muito
especial na vida deste admirável cantador da Baixada: da sua união com MARIA JOCELINA SOUSA DOS SANTOS, nasce
o primogênito do casal, JOSÉ PLÁCIDO
SOUSA DOS SANTOS (o Zequinha,
herdeiro do pai no dom da cantoria, continuando-o, como um dos cantadores do
Boi de Pindaré, cujo miolo é um dos seus irmãos, EDMILSON SOUSA DOS SANTOS).
O ano seguinte (1972) é ainda melhor: o
batalhão de JOÃO CÂNCIO, ou seja, o
Boi de Pindaré, é sagrado campeão, com a toada de Coxinho – a até hoje
insuperável “Urrou do Boi”, adotada oficialmente, anos mais tarde, pelos órgãos
administradores da cultura do Estado, como hino do folclore maranhense.
Nesse mesmo ano, o cada vez mais famoso
Boi de Pindaré, grava o seu primeiro disco (long-play) com toadas de Coxinho.
Disco “antológico, no cancioneiro popular, projetando a cultura maranhense no
cenário nacional”, como observa Airton Marinho (2002), de quem ainda o
acréscimo: “...versões e regravações daquelas toadas foram feitas,
sucessivamente, inclusive por intérpretes de prestígio nacional, como por
exemplo, o conjunto Boca Livre. Reedições, na voz de Coxinho, também foram
feitas.
Mas o Boi de Pindaré e seu principal
cantador nunca receberam o respectivo pagamento pelos direitos autorais”.
Em 1977, com o falecimento de JOÃO CÂNCIO, nosso protagonista passa a
assumir, inteiramente, a responsabilidade de amo do Boi de Pindaré.
Em 1979, por obra e graça do governador
JOÃO CASTELO (1979-1982), este
exímio cantador é contemplado com um emprego na Secretaria de Desportos e Lazer
(SEDEL), a partir do qual consegue, anos mais tarde, a aposentadoria de um
salário mínimo – seu pão de cada dia por muitos anos.
É, também, às expensas do Estado, ainda
no governo de JOÃO CASTELO (segundo
o depoimento de JOSÉ PLÁCIDO, filho
mais velho de Coxinho, ao acadêmico Airton Marinho – 2002), que obtem a sua
casa própria (nº. 435, rua 10, Bairro de Fátima, também cognominada de Rua João
Henrique – ), ainda hoje pertencente à família.
Nesse contexto, surge a toada:
“Meu vaquero, vamo dá uma vorta
Até o Palácio dos Leões
Eu vou falá com João Castelo
Que é o governo do Maranhão
Que eu vou dá um passeio em Brasília
Pra conhecê João Figeiredo
O chefe da nossa nação”.
No parágrafo a seguir, ainda AIRTON MARINHO (2002) em um tocante
depoimento sobre o nosso herói... Ei-lo que recorda:
“Em 1987, uma cena constrangeu São Luís
do Maranhão: COXINHO, fustigado pela
pobreza, pela enfermidade e pelo abandono, voltava às ruas como pedinte, o que
já fizera outras vezes. Doente, perambulava como mendigo e fazia ‘ponto’ na Rua
Grande, buscando o sustento dos nove filhos, abandonado como estava, desde o
ano anterior, pela mulher MARIA
JOCELINA. Foi nessa época que, num certo dia, chegando à casa de minha mãe,
na Rua de Santa Rita, no centro da cidade, deparei com ele fazendo um lanche,
rodeado pelos filhos pequenos. Ele descobrira a morada de sua amiga de
infância, a filha de MAMEDE BARROS de
Lapela e Vitória do Mearim. Sua presença na casa de mamãe, para merendar e
conversar, tornou-se uma constante durante aquele período de mendicância que,
tudo indica, terminou somente quando o Governo do Estado, chefiado por EPITÁCIO CAFETEIRA, ainda naquele ano, lhe
concedeu uma pensão vitalícia de cinco salários mínimos”.
E enfim, a última década do século XX,
próximo passado. No dia 24 de abril de 1990, sob os auspícios da Prefeitura de
Vitória do Mearim, Coxinho faz-se presente na cidade-sede, para a festa comemorativa
do aniversário do município. Quase cego, e em cadeira de rodas, grande foi a
sua alegria ao rever o velho parceiro Rosa Bobagem e com este cantar, em uma
breve apresentação na Praça Rio Branco.
Em agosto desse mesmo ano [1990],
quando do seu 80º aniversário, toda a comunidade boieira de São Luís reúne-se,
em um show [no TAA] (cuja renda lhe é destinada) comemorativo dessa data.
Contando com a participação de
cantadores como MANÉ ONÇA (Boi da Madre
Deus), JOÃO CHIADOR (Boi da Maioba), INALDO (Boi de Axixá), SABIÁ (Boi de São
José de Ribamar), GAGO (Boi da Floresta), o evento teve um encerramento
inesquecível, com a presença viva do próprio COXINHO, cantando com SEBASTIÃO
AROUCHA (o novo amo do Boi de
Pindaré), seguindo-se a exibição espetacular do respectivo Batalhão.
O escritor MANOEL DOS SANTOS NETO comenta o fato em artigo jornalístico, como
o veremos a seguir:
“Hoje, ao chegar aos 80 anos, ele exibe
as marcas do tempo e a voz, calejada, denuncia uma vida de penúria e
atribulações. Quase cego e com as pernas corroídas por uma chaga implacável,
que o acompanha há vários anos, COXINHO
não resiste e não quer parar. Indiferente às dores, continua compondo e
produzindo toadas, com o seu conhecido poder de expressão. ‘Fico no Boi de
Pindaré até o dia de morrer’, afirma o cantador, feliz com seu talento, mas
amargurado com as suas condições de vida.
A pensão que lhe foi concedida pelo
governo do Estado, em 1987, foi parar nas mãos de sua ex-mulher e COXINHO, mais uma vez, está a ver
navios. ‘Estou vivendo arrastado, jogado no mundo, e a mulher me jogou no
lixo’, ressentido, afirma COXINHO,
que durante 21 anos viveu com MARIA
JOCELINA DOS SANTOS”. [...].
(Manoel dos Santos Neto. Uma festa para
Coxinho. Jornal O Estado do Maranhão, Caderno Alternativo. São Luís, 24.08.1990).
No ano seguinte (1991), a 3 de abril, BARTOLOMEU DOS SANTOS despede-se deste
mundo para ir “morar no céu”. Logo no primeiro domingo, depois de sua partida,
no espaço dominical que lhe é reservado, na última página d’O Estado do
Maranhão, o cronista e poeta IVAN SARNEY
registra o fato, evocando a figura de Coxinho, conforme o excerto:
“Apesar da idade avançada, quase
privado do sentido da visão, aquele homem, de corpo franzino e enfermo,
redobrava as forças na brincadeira do boi, atravessando as manhãs, no ofício de
puxar as toadas, adornado pelo brilho dos paetês, das miçangas e das
lantejoulas, ostentados em suas vestes de cantador. Naqueles momentos,
sacudindo o maracá e trinando o apito, era a própria imagem da emoção,
traduzida em melodia e ritmo, espalhando a sedução, o encantamento e a magia”.
(Ivan Sarney. Um cantador na eternidade
– crônica. Jornal O Estado do Maranhão. São Luís 09.03.1991 – última página).
E na cantiga Coxinho (gravada pelo Boi
Barrica em 1992, no CD Bem Maranhão), o poeta e compositor popular, JUCA DO BOLO, imortaliza o
acontecimento com muita emoção. Fiquemos por aqui, cantarolando a toada in
memoriam ao grande cantador da Baixada...
“Companheiro
Coxinho foi morar no céu
Deixou o brilho no chapéu
Do cantador da Baixada
Eu fiquei com pena dele/ por não poder
fazer nada
Mas quando chegar mês de junho/ Eu vou
lembrar na boiada”.
“Lá vem meu boi urrando/ Subindo o vaquejadô
Deu um urro na portera/ Meu vaquero s’ispantô/
E o gado lá da fazenda/ Com isso se alevanto
Urrou, urrou!/ Urrou, urrou!
Meu nuvilho brasilero/ Que a natureza criô.
[...]
Por aqui vô saindo/ São horas d’eu viaja
Adeus, até par’ o ano/ Quando eu aqui vortá
Vou ficá ao seu dispô/ Os tempo que precisa
A turma de Pindaré/ É pesada no boiá
O conjunto é brasilero/ E a força Deus é quem dá”.
(Coxinho. Urrou do Boi – 1ª. e últ.
estrofes)
“Coxinho, porém, como artista,
encantou-se em estado de glória: amado pelo seu público, a gente simples de sua
terra; imortalizado por suas toadas gravadas em disco e na memória do povo que
o conduziu pelas ruas até o seu último abrigo e ali cantou em sua homenagem.
Poucos homens têm essa consagração, espontânea e comovente, e alcançam essa
imortalidade. Permanece, no entanto, em relação ao Estado, uma dívida para com esse
seu filho ilustre, que tanto ajudou a divulgá-lo, ressaltando, de forma
apaixonada e poética, suas belezas e seus encantos. A pensão para a viúva e
filhos; o nome em um logradouro ou monumento; a medalha do Mérito Timbira. Tudo
isso, aparentemente tão pouco, significa muito para a comunidade, por ver
reparada uma injustiça e por colocar o Estado no cumprimento do seu dever”.
(Airton Marinho. O Cantador)
É de magna importância reverenciar o "Mestre Coxinho" folclorista e amo do boi de Pindaré MA.
ResponderExcluirParabéns, meu caro Ronald, pelo louvável trabalho de garimpar a biografia desse ícone da cutura popular do Maranhão.