Transporte ferroviário nos Estados Unidos
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Acesso em 2015-08-31
Mapa das ferrovias
Classe I na América do
Norte
A rede
ferroviária norte americana é a
mais extensa do mundo com cerca de 228.218 quilômetros (WB, 2014).[1] Em 1890 os EUA já tinham quase 130 mil km de
ferrovias.
Suas ferrovias são divididas em 3
classes (de acordo com cotas de lucro anual criadas pelo Surface Transportation Board):
I)
Ferrovia
Classe I: companhias
ferroviárias de grande
porte. São as companhias que obtêm uma receita operacional anual de US$ 250
milhões ,após terem sua margem de lucro corrigida pelo índice de preços do
frete ferroviário, desenvolvido pelo Bureau
of Labor Statistics. De acordo com a Association of American Railroads(AAR), as
ferrovias classe I tinham transportado em 2006 um mínimo de receitas operacionais de
US$ 346,8 milhões.
II)
Ferrovias
Classe II: companhias
ferroviárias de médio
porte. São as companhias que obtêm uma receita operacional anual entre US$ 20,5
milhões e US$ 277,7 milhões por no mínimo três anos consecutivos. Ferrovias com
tráfego e equipamentos compartilhados e terminais de carga não são considerados
de classe II.
III) Ferrovia
Classe III: companhias
ferroviárias de pequeno
porte. Segundo o Surface Transportation Board, são ferrovias que obtêm uma
receita operacional anual de é uma ferrovia com uma receita operacional anual
de até US$ 20 milhões.
Apesar de o transporte ferroviário ter nascido na Europa, os Estados Unidos adotaram esse meio de
transporte de tal forma que sua história se confunde com a história do país,
principalmente entre a metade do século XIX até a metade do século XX.
N.Ed: O Banco Mundial informa:
http://data.worldbank.org/indicator/IS.RRS.TOTL.KM
2010
228,513 km
|
2011
228,218 km
|
2012
228,218 km
|
|
BRAZIL [ = 13%
USA]
|
29,817 km
|
29,817 km
|
29,817 km
|
História: 1826-1850
O ex senador deMaryland,
Charles Carroll of Carrollton preside a cerimônia de lançamento da pedra
fundamental do primeiro trecho da Baltimore and Ohio Railroad, realizada em 4 de julho de 1829.
A criação da primeira ferrovia do
mundo na Inglaterra serviu de inspiração para os norte
americanos iniciarem planos de construção de ferrovias. Naquela época o
transporte de mercadorias era feito por carroças,
muares e
de forma fluvial.
A ferrovia foi considerada o maior feito tecnológico
estadunidense do século XIX. Ela serviu como uma ligação
vital para o comércio e as viagens que conectou as metades oriental e ocidental
ao fim do século XIX nos Estados Unidos.
O estado de Massachusetts chegou a elaborar um plano de rede
ferroviária em 1829,embora não tenha sido executada por
falta de recursos. Essa falta de recursos do estado obrigou a criação de cartas
de crédito e incentivos fiscais à iniciativa privada que acabou implantando a
maior parte das ferrovias norte americanas. Com isso muitas companhias
ferroviárias surgiram no país, viabilizando a construção de uma imensa rede
ferroviária no futuro.
A primeira companhia ferroviária
dos Estados Unidos foi a Baltimore and Ohio Railroad (B & O), fundada em 1827
que inaugurou seu primeiro trecho entre Baltimore e
Ellicott's Mills (hoje chamada de Ellicott City) em 24 de maio de 1830.
Posteriormente essa empresa levaria seus trilhos para a capital Washington D.C..
Após a B&O, surgiu a Boston and Providence Railroad, fundada
em 1831para construir uma ferrovia entre Boston, Massachusetts e Rhode Island que seria concluída em1835;
Novas ferrovias surgiram para fortalecer o transporte
intermodal hidrovia-ferrovia, principalmente no sul do páis, onde a crescente
produção agrícola precisava ser escoada com cada vez mais rapidez.
Entre 1829 -1830 foi iniciada a construção da Tuscumbia-Courtland-Decatur Railroad,
primeira ferrovia construída a oeste dos Apalaches. Ligava duas cidades do Alabama, Decatur eTuscumbia. A Pontchartrain
Rail-Road, ferrovia de 8 km de extensão, ligava o Lago Pontchartrain ao Rio Mississipi.
Como crescimento do transporte ferroviário, fusões e
falências e emcampações de empresas ferroviárias se tornaram inevitáveis,
formando grandes comporações ferroviárias.
Por exemplo, o Camden
e Amboy Railroad (C
& A), a primeira estrada de ferro construída em Nova Jersey, inaugurada em
1834, acabou sendo incorporado pela Pennsylvania
Railroad.
História: 1851-1900
Na metade do século XIX o transporte de mercadorias
no oeste americano passou das diligências para as ferrovias.
Ferrovia norte americana em 1860.
Nas décadas de 1850 e 1860 o sistema
ferroviário norte americano viveu seu auge no século XIX. Naquela época
construir ferrovias era o melhor negócio do pais, atraindo milhares de
investidores privados.[2]
A Primeira
Ferrovia Transcontinental, aberta ao tráfego em 10 de maio de 1869,
com o "Prego de Ouro" (em inglês: Golden Spike) em Promontory, Utah,[3] a
rota estabeleceu uma rede de transportes transcontinental mecanizado que
revolucionou a população e a economia do Oeste Americano.
Expansão da malha ferroviária
por grupos ou estados
|
|||||
1850
|
1860
|
1870
|
1880
|
1890
|
|
2,507
|
3,660
|
4,494
|
5,982
|
6,831
|
|
3,202
|
6,705
|
10,964
|
15,872
|
21,536
|
|
2,036
|
8,838
|
11,192
|
14,778
|
29,209
|
|
1,276
|
11,400
|
24,587
|
52,589
|
62,394
|
|
23
|
1,677
|
4,080
|
9,804
|
||
Totals
|
9,021
|
30,626
|
52,914
|
93,301
|
129,774
|
História: 1970-presente
Historicamente, onde uma companhia
ferroviária teve um monopólio incontestável de transporte de passageiros, os
serviços de transporte foram realizados de forma espartana e ou com péssima
qualidade, além de serem mais caros do que determinava a Interstate Commerce
Commission.
Já em outros lugares onde duas ou três
ferrovias mantinham uma concorrência, os serviços de transporte de passageiros
foram utilizados como uma forma de propagandear a eficência das empresas no
transprote de passageiros (que servia para atrair novos clientes para os
serviços de transporte de carga) que investiam quantias cada vez mais altas
para proporcionar serviços de passageiros luxuosos e ao mesmo tempo populares,
já que contavam com preço acessível.
Para defender o transporte de
passagerios foi criada em 1967 a National Association of Railroad Passengers,
mas seus esforços foram prejudicados pelos Partido Democrático,
de oposição política a qualquer tipo de subsídios para ferrovias de propriedade
privada, e Republicano que mantinha oposição política a
nacionalização da indústria de transporte ferroviário.
A situação do transporte de passageiros
nos Estados Unidos se tornou insustentável em 21 de junho de 1970 com o pedido de falência da Penn Central Transportation Company que dominava o transporte da região
noroeste dos Estados Unidos.
Nesse mesmo ano o governo americano
edita o Rail Passenger Service Act of 1970, sendo
que o congresso criou a National Railroad Passenger Corporation (renomeada Railpass até assumir seu
nome definitivo Amtrak) para subsidizar e supervisionar os serviços de
transporte ferroviário de passageros.
Referências
3.
Ir para cima↑ Cerimônia
no “Casamento dos Trilhos”, 10 de maio de 1869 no Promontory Point, em Utah (1869-05-10).
Visitado em 2013-07-21.
[EUA] Primeira Ferrovia Transcontinental [1869]
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Acesso em 2015-08-31
Este artigo refere-se a ferrovia construída nos Estados
Unidos entre Omaha e Sacramento, concluída em 1869. Para outras ferrovias
transcontinentais, ver ferrovia
transcontinental.
O histórico
encontro das linhas da Primeira Ferrovia Transcontinental, em 1869.
A Primeira
Ferrovia Transcontinental (em inglês: First Transcontinental Railroad) é o nome popular da linha ferroviária dos Estados Unidos (conhecida à época como
"Pacific Railroad") completada em 1869 entre Council Bluffs, Iowa/Omaha, Nebraska (via Ogden, Utah e Sacramento,
Califórnia) e Alameda, Califórnia.
Essa ligação conectou as costas do Atlântico e Pacífico por
via ferroviária pela primeira vez na história. Aberta ao tráfego em 10 de maio de 1869,
com o "Prego de Ouro" (em inglês: Golden Spike) em Promontory, Utah, a rota estabeleceu uma
rede de transportes trancontinental mecanizado que revolucionou a população e a
economia do Oeste Americano.[1]
Autorizada pelo Ato Ferroviário
do Pacífico de 1862 e sustentada pelo governo estadunidense, ela foi a
culminação de um movimento de longas décadas para a construção de tal linha e
foi uma coroação das façanhas da presidência de Abraham Lincoln, apesar de completada
quatro anos após sua morte.
A construção da ferrovia requereu enormes feitos da engenharia e do trabalho na
passagem de planícies e altas montanhas pela Union Pacific
Railroad e Central Pacific
Railroad, que construíram a linha ocidental e oriental,
respectivamente.[2]
A ferrovia foi considerada o maior feito tecnológico
estadunidense do século XIX. Ela serviu como uma ligação vital para o comércio
e as viagens que conectou as metades oriental e ocidental ao fim do século XIX
nos Estados Unidos.
Ligações externas
As grandes ferrovias e o capitalismo monopolista nos EUA do século
XIX*
Fonte: (*) Publicado em Topoi, v. 14, n. 26,
jan./jul. 2013, p. 179-183 | www.revistatopoi.org
Autor: José Augusto Drummond**
** Doutor em Land Resources pela University of Wisconsin, Estados
Unidos, professor associado da Universidade de Brasília, bolsista de
produtividade científica do CNPq, nível 1D. Brasília, DF, Brasil.
E-mail: jaldrummond@uol.com.br.
Acesso em 2015-08-31
[Crítica acadêmica do livro de] WHITE, Richard. RAILROADED: THE TRANSCONTINENTALS AND THE
MAKING OF MODERN AMERICA. Nova York:
Norton, 2011.
1)
Richard
White (n. 1947) é professor de história da Stanford University, Califórnia
(EUA). É um dos fundadores do campo da história ambiental e um conhecido
historiador revisionista do Oeste dos EUA. Publica artigos e livros incisivos e
influentes. Seus melhores livros de história ambiental são
Ø Land use, environment
and social change (Seattle: University of Washington Press, 1980) e
Ø The organic machine
(Nova York: Hill and Wang, 1995),
mas suas obras
principais até 2011 eram
Ø “It’s your misfortune
and none of my own” (Norman: University of Oklahoma Press, 1991) e
Ø The middle ground (Nova York: Cambridge
University Press, 1991),
que pertencem à sua produção sobre o Oeste
dos EUA. Este recém-lançado Railroaded também pertence a essa segunda linhagem
e se candidata a ser a obra de maior fôlego de sua carreira.
2)
A temática
de White nesse novo livro pode ser assim resumida: trata da história política
do nascimento do capitalismo monopolista dos EUA, em sua dimensão ferroviária,
na segunda metade do século XIX. De fato, o conteúdo de história ambiental é
diminuto perante a extensa atenção que o autor dedica à história política das
grandes ferrovias dos EUA, seus dirigentes, financiadores, trabalhadores,
amigos e inimigos políticos, e seus problemas financeiros, de engenharia e de
logística. O mantra do livro, interpretado por mim, seria esse: Como alguns
empreendedores construíram, com dinheiro alheio, ferrovias enormes e
desnecessárias, e como eles acumularam fortunas pessoais enquanto as ferrovias faliram.
3)
Esclarecer
dois pontos ajuda a entender a posição do autor e o conteúdo do livro. Primeiro [ponto 1]: o título (Railroaded) é uma gíria-trocadilho
intraduzível. O substantivo railroad (ferrovia) é transformado em verbo
(railroaded), termo que indica que alguém muito forte “passou por cima” de
alguém mais fraco. O termo não foi criado por White, mas ele o usa também como
trocadilho no título de um livro sobre ferrovias. Ou seja, White sugere que as
poderosas ferrovias transcontinentais passaram por cima de tudo e todos.
4)
O segundo ponto [2] é o significado de transcontinentals, palavra que
aparece como substantivo no subtítulo. White estuda as ferrovias transcontinentais, cinco ou seis linhas cujo traço
distintivo era interligar as costas atlântica e pacífica dos EUA. Esse adjetivo
virou um substantivo no linguajar da época e na literatura histórica, e é assim
que White o usa no título. É verdade que a ligação interoceânica passava
primeiro por uma densa malha de ferrovias mais antigas, localizadas nos estados
do litoral atlântico, do Meio-Oeste e do Sudeste dos EUA. As transcontinentais,
construí- das depois da Guerra Civil (1861-1865), tinham seus pontos de partida
não na costa atlântica, mas em cidades situadas no eixo do rio Mississipi
(Saint Paul, Duluth, Chicago, Des Moines, Omaha, Kansas City, Saint Louis, Nova
Orleans etc.).
5)
Essas
cidades já se conectavam aos estados do Leste e do litoral atlântico. De toda
forma, quem partia de Nova York, por exemplo, fazia uma conexão em Chicago e
dali podia cruzar todo o restante do território dos EUA, na direção Oeste. Ou
seja, as transcontinentais, quase paralelas entre si, corriam por cerca de
2.500 km, dois terços da largura do território dos EUA, chegando a San Diego,
San Francisco, Seattle e outras cidades portuárias do Pacífico.
6)
Reduziram o
tempo da travessia terrestre entre os dois litorais de vários meses a apenas
cinco ou seis dias. A essa enorme dimensão geográfica e ao seu efeito de
“encolhimento espacial” correspondiam o tamanho e o poder das grandes
corporações que as operavam e que logo assumiram a estrutura de empresas
monopolistas. Vale destacar que White presta mais atenção às empresas ferroviárias do que às linhas
ferroviárias propriamente ditas. (Uma ótima coleção de imagens dessas ferrovias
está disponível em:
http://memory.loc.gov/ammem/gmdhtml/rrhtml/
rrhome.html.)
7)
O longo
texto explora dezenas de questões sobre essas ferrovias, mas selecionei para
comentar nesta resenha as sete questões mais extensamente focalizadas: as
grandes ferrovias foram (i) economicamente desnecessárias, ou pelo menos
precoces; (ii) caras em termos de finanças públicas e privadas (dos EUA e da
Europa); (iii) mal geridas; (iv) cronicamente falimentares e desencadeadoras de
pelo menos duas grandes crises econômicas de alcance nacional; (v)
politicamente protegidas nos níveis nacional, estadual e local; (vi) indutoras
de grandes desperdícios ambientais e de recursos naturais. Uma questão
adicional, a sétima, é a do movimento sindical e grevista dos ferroviários empregados
pelas transcontinentais.
8)
Quanto ao
primeiro ponto, White mostra que a distribuição das atividades produtivas, dos
recursos naturais, da população e da infraestrutura de transportes dos EUA nos
anos 1870 e imediatamente seguintes não justificava a construção de uma
ferrovia transcontinental sequer, quanto mais meia dúzia delas. A sua enorme
extensão encarecia construção, operação e manutenção. Elas atravessavam regiões
esparsamente habitadas ou francamente desertas (algumas continuam assim até hoje)
que não geravam cargas suficientes para cobrir custos fixos e operacionais.
Adicionalmente, o leste dos EUA tinha uma economia dinâmica e próspera que não
precisava naquele momento de múltiplas conexões ferroviárias com o extremo
oeste do país.
9)
Por que elas
foram construídas, então? White sugere que, à falta de uma justificativa
propriamente econômica, elas foram motivadas por outros fatores. Um deles foi
um sentimento difuso de otimismo tecnológico e modernizador característico de
uma curta e dinâmica fase da história econômica dos EUA, conhecida como The
Gilded Age (“a era folheada a ouro”, 1878-1889). Entre os norte-americanos da
época, a imagem de uma locomotiva cortando “terras selvagens” (“a máquina no
jardim”, p. 225) era recorrente na arte e na imprensa. Despertava neles o
orgulho de ser um povo moderno e criador de meios para explorar um grande
território rico em recursos naturais. Contribuiu também para a construção
dessas ferrovias uma vontade patriótica de “tomar posse” de todo o território
nacional, inclusive a “fronteira” do Far
West (Extremo Oeste), quase todo comprado da França (a compra da enorme
Louisiana, ocorrida em 1803) ou tomado à força do México (depois da guerra de
1846-1847). Outro fator contribuinte foi o pleno
domínio da plataforma tecnológica ferroviária pelos norte-americanos.
10)
Entretanto,
houve ainda uma motivação propriamente financeira, o que nos leva ao segundo
ponto. White assinala que otimismo, patriotismo e capacidade tecnológicas se
casaram com o desejo de lucro (p. 9). Ele sustenta que as transcontinentais nasceram
principalmente da percepção de alguns empresários e financistas (entre os quais
havia aventureiros nada refinados) de que elas atrairiam investimentos públicos
e privados de grande vulto. Ou seja, as ferrovias colocaram em jogo enormes
quantias monetárias para investimentos num negócio promissor.
11)
Em alguns
casos, as ferrovias foram, de fato, consequências quase secundárias de vultosas
e pouco transparentes movimentações financeiras. White afirma que essas ferrovias
“tiveram menos a ver com a obtenção de receitas geradas pelo transporte de
pessoas e cargas e mais a ver com finanças e política” (p. 96). O ímpeto
construtor de ferrovias era tão forte que, em 1889, 20% dos 250.000 km de
linhas ferroviárias existentes nos EUA tinham quatro anos ou menos de idade; a
maior parte desses 50.000 km de linhas jovens correspondia às transcontinentais
e a ramais conexos. Desses 250.000 km, 43% se localizavam nos estados do Oeste
dos EUA, onde moravam apenas 24% dos norte-americanos (p. 209).
12)
Mesmo
sujeitas a prejuízos, dívidas e falências, as ferrovias geraram grandes
fortunas para os seus principais dirigentes, mas deram graves prejuízos para
financiadores, acionistas, bancos, governos, clientes, empregados, fornecedores
etc. Seus dirigentes “visionários”, frequentemente enaltecidos como heróis do
progresso e da riqueza, gostavam mesmo, segundo White, de “construir
[ferrovias] com o dinheiro alheio” (p. 26). Eles tiveram amplo apoio do erário
público dos governos nacional e estaduais (nas formas de subsídios, doações de
terras, liberação de tarifas, perdão de dívidas, garantias, isenção de impostos
etc.), além de favores menores de governos locais.
13)
O terceiro ponto [3] — o da incompetência gerencial — é
revelado cruamente pelo fato de White usar extensamente as desinibidas
correspondências pessoais dos principais dirigentes das ferrovias, chamados na
literatura de railroad barons (“barões das ferrovias”), expressão nada
elogiosa. É impossível discordar de White sobre a condição invariavelmente
incompetente, frequentemente oportunista e aventureira, e não raramente
criminosa, de cerca de duas dúzias dos barões que geriram as transcontinentais
(os seus sobrenomes são famosos até hoje nos EUA — Harriman, Cooke, Gould,
Adams, Huntington, Stanford e outros).
14)
[Esses
“barões”] Violavam contratos e leis; rompiam acordos que faziam entre si;
cometiam erros em série; eram imprevidentes; tratavam truculentamente clientes
e comunidades locais. Oscilavam entre se engajar numa concorrência mutuamente
destrutiva e fazer entre si acordos cartelizantes, combinando tarifas e
racionando serviços. Arquitetavam operações financeiras ilegais ou ao menos
sombrias (pagando dívidas vencidas com o dinheiro de novos investidores, por
exemplo), quase sempre para prejudicar concorrentes, e não para melhorar a
situação financeira e operacional das suas respectivas ferrovias; combatiam
duramente os sindicatos de ferroviários, demitiam em massa grevistas, faziam
“listas negras” de trabalhadores sindicalizados e contratavam trabalhadores
ilegais (principalmente chineses). Em vários casos, depois de as ferrovias
terem suas falências decretadas, os seus gerentes “ressuscitavam”, com suas
fortunas incólumes, e se reinseriam nos negócios ferroviários. Isso leva White
a comentar que o “sistema [das transcontinentais] não enterrava os seus mortos”
(p. 223).
15)
O quarto ponto [4] é ilustrado pelas duas
grandes crises financeiras e econômicas, de âmbito nacional, uma em 1873 e anos
seguintes e outra que começou em 1893. Quase todos os estudiosos dessas
crises as atribuem aos gastos excessivos e à falta de eficiência das
transcontinentais. White não diverge desse consenso. Pelo contrário, ele segue
meticulosamente o rastro dos dinheiros públicos e privados investidos nas ferrovias
e que nela se dissipavam. White considera que a crise nacional de 1893 “foi a
mais profunda depressão ocorrida na história dos EUA até a Grande Depressão dos
anos 1930” (p. 393).
16)
Mais de um
quarto do capital e dos ativos das grandes companhias ferroviárias caiu nas
mãos de administradores de massas falidas nomeados pela justiça. Mas,
pessoalmente, os barões e seus associados mais próximos (insiders) sempre saíam
das crises com o seu próprio dinheiro em caixa, deixando os prejuízos para
comunidades e governos locais, governos estaduais, bancos, investidores
individuais ou corporativos, inclusive alguns gigantes financeiros da costa
leste. Essas graves crises abalaram seriamente e deixaram cicatrizes profundas
na emergente economia norte-americana, tanto a oeste como a leste. White não
deixa dúvidas de que as crises das seis ferrovias gigantes foram de fato
capazes de desencadear essas duas crises, embora aponte algumas causas
concorrentes.
17)
O quinto ponto [5] é que os barões cantavam
publicamente a melodia do individualismo, da livre-iniciativa e do liberalismo,
mas White mostra que as suas ferrovias foram invariavelmente corporações
financiadas pelo dinheiro público e protegidas de diversas formas por políticos
de quase todas as cores e filiações partidárias. White as considera as
primeiras grandes corporações dos EUA. O capítulo 3, intitulado Friends
(“Amigos”), mostra como os barões se engalfinhavam para, com poucos rodeios e
menos escrúpulos, comprar “amigos” (inclusive legisladores federais e estaduais,
além de governadores de estado) para obter favores dos governos, órgãos
reguladores das ferrovias, assembleias legislativas estaduais, congresso nacional
e até jornais influentes.
18)
Juntamente
com as concessões de serviço, as empresas ferroviárias dos EUA geralmente
ganhavam faixas de terras públicas ao longo dos seus traçados, para explorar
diretamente, vender ou arrendar, a fim de obter receitas extras. No caso das
longuíssimas transcontinentais, essas concessões formavam áreas enormes. As
empresas viravam estados dentro dos estados propriamente ditos. Junto com esse
status vinha, evidentemente, a capacidade de influir na política e no
desenvolvimento locais. É verdade que as transcontinentais sofreram com a
oposição sistemática de grupos e coalizões antimonopolistas e que até perderam
alguns privilégios importantes por causa disso, mas elas acabaram falindo menos
por causa dessa oposição e mais por causa de suas dimensões gigantescas e de
seu gerenciamento falho ou criminoso.
19)
Isso leva ao
sexto ponto [6] entre os mais
focalizados por White. As ferrovias, por deterem essas grandes parcelas de
terras e riquezas conexas, influenciaram fortemente os padrões de ocupação dos
estados que cortavam. Elas condicionavam a distribuição da população e
estimulavam as prá- ticas invariavelmente predatórias de exploração de recursos
naturais adotadas por vários atores. Isso é tratado principalmente no capítulo
11, no qual se concentra a maior parte do conteúdo de história ambiental do
livro. A título de ilustração, três transcontinentais detinham cerca de 62.000
km2 de terras (1,5 vez o tamanho do atual estado do Rio de Janeiro), e isso
apenas em dois estados onde estavam os terminais de suas linhas, Califórnia e
Oregon (p. 459).
20)
Essa influência das transcontinentais se
manifestou de muitas maneiras. Elas
mantiveram (ou se associaram com) companhias
de imigração, que atuaram diretamente nos países europeus para atrair
pessoas que ocupassem as terras em suas áreas de influência. Onde havia bons
solos, por exemplo, as ferrovias estimularam a agricultura familiar, confiável
produtora de cargas. Faziam isso mesmo em regiões sabidamente semiáridas e
áridas situadas a oeste do meridiano 98, nas quais a precipitação caía abaixo
dos 600 mm anuais considerados minimamente necessários para a agricultura sem
irrigação. Nos bons pastos nativos das prairies (pradarias), as ferrovias
favoreceram a criação de gado pelos pecuaristas, seus maiores aliados nos
territórios atravessados.
21)
Onde havia
depósitos minerais e florestas impróprios para a agricultura familiar, as ferrovias os arrendaram a empresas dos
dois ramos e escoaram as cargas volumosas e pesadas (dois exemplos notáveis
foram o carvão e a madeira em tora). As ferrovias deram apoio logístico à
virtual extinção do bisão, cujos territórios elas cortaram e cujos couros
representaram por algum tempo uma de suas principais cargas. Algumas ferrovias
apoiaram a criação de parques nacionais, de olho nas passagens e nos serviços
de apoio a serem oferecidos aos seus visitantes.
22)
White registra
mais brevemente outros fatos e processos ligados às terras controladas pelas
ferrovias. Algumas cruzaram, legal ou ilegalmente, reservas indígenas, gerando conflitos e desapropriações que, em
última instância, levavam à redução das reservas ou à expulsão de seus
habitantes. As ferrovias por vezes usaram as terras concedidas como garantia
para a tomada de empréstimos junto a bancos e a investidores, ou ainda como
lastro para o lançamento de títulos. Esses usos “financeiros” das terras
descambaram várias vezes para atos de especulação e de fraude (por exemplo,
colocar como garantia lotes vendidos, inexistentes, alheios ou arrendados).
23)
O sétimo ponto [7] tratado extensamente por White, que consta dos capítulos 6 e 7,
principalmente, é o dos trabalhadores
ferroviários. Ele usa uma narrativa que lembra o do recentemente falecido Eric Hobsbawm (1917-2012). Fala de suas
origens sociais e geográficas, de seu caráter frequentemente volante ou
temporário, de seus sindicatos, associações e greves, dos afazeres e dos acidentes
de trabalho. Mostra que muitos ferroviários eram agressivamente xenófobos e
racistas, hostis a trabalhadores chineses e negros. Mostra ainda que os
empregos nas ferrovias eram geralmente desejados e bem pagos, o que fazia com
que os muitos dos seus empregados vacilassem em aderir mesmo ao moderado “trade-unionismo” que dominava as suas
associações.
24)
Cada
capítulo se fecha com uma vinheta de fundo biográfico, narrando episódios das
vidas individuais de dirigentes ferroviários, trabalhadores comuns, diretores
de segundo escalão etc. Essa interessante solução de narrativa permite que
White dê “rostos humanos” a algumas de suas passagens mais áridas, aumentando a
legibilidade do texto como um todo.
25)
Na p. 515,
White resume o que descobriu sobre as transcontinentais: “Celebradas como
conquistadoras do tempo, dos espaços, e mesmo da própria natureza, as ferrovias
do Oeste foram sempre mais uma promessa do que uma conquista. Eles foram menos
um ativo que uma geração repassou para a próxima e mais uma dívida que o
passado impôs ao presente e ao futuro”. Dessa forma, elas foram o oposto do que
hoje chamamos de “sustentáveis”, pois que deixaram toda sorte de passivos para
as gerações futuras.
26)
As 107
páginas de notas impressionam o leitor leigo e mesmo o profissional. Elas
incluem as instituições de arquivamento dos materiais primários e as
referências bibliográficas dos materiais impressos consultados. Os variados e
volumosos documentos primários usados por White forneceram a maior parte das
informações do texto. Eles incluem arquivos e relatórios das companhias
ferroviárias; arquivos pessoais, correspondências profissionais e particulares,
e textos memorialísticos dos principais gerentes das grandes ferrovias;
materiais de museus ferroviários e arquivos públicos de vários estados e
cidades; documentos de sindicatos de ferroviários; registros, processos e
sentenças judiciais; documentos parlamentares federais e estaduais; materiais
das agências reguladoras das ferrovias; correspondência de investidores norte-americanos
e europeus; documentos bancários e de escritórios de investimentos; recortes de
jornais; e panfletos e materiais propagandísticos das ferrovias. Os relatórios e as investigações dos
administradores das massas falidas das transcontinentais são outras fontes
primárias especialmente úteis para revelar as práticas gerenciais desastrosas /
criminosas dos barões.
27)
White usa
economicamente a extensa bibliografia analítica publicada. As grandes ferrovias
eram populares em sua época e até hoje atraem a atenção de numerosos
estudiosos. Isso gerou um grande número de análises e relatos sobre elas —
trabalhos acadêmicos, memorialísticos, documentários e depoimentos de época.
Como bom revisionista, no entanto, White adota os seus próprios ângulos
analíticos e chega às suas próprias conclusões, sem reproduzir ou depender
fortemente de qualquer um dos analistas do passado ou atuais.
28)
No todo, o
relato extenso, meticuloso, bem documentado e exasperante de White demole uma
persistente mitologia que até hoje vê nas ferrovias transcontinentais atores
imbuídos de heroísmo, pioneirismo, ousadia, eficiência e capacidade
“civilizatória”. Trata-se de um desses livros que, aparentemente, veio para
reinar sobre uma área de conhecimento por várias décadas. Não é amigável para
iniciantes nos assuntos tratados, mas as pessoas de fato interessadas nesses
assuntos não podem ignorá-lo. Na área
universitária, é um livro apropriado para cursos avançados em história da
América, história das fronteiras e história econômica. Para o público
leigo, o texto é detalhado e técnico demais para ser atraente. Reitero que não
se trata de um livro de história ambiental estrito senso, não para criticar o
livro ou o autor, mas apenas para alertar os que se interessam pelas produções
de história ambiental de White.
Collection RAILROAD MAPS, 1828-1900
Fonte:
Library of Congress [Livraria do Congresso Norte-americano]
http://www.loc.gov/collection/railroad-maps-1828-to-1900/about-this-collection/
Acesso em 2015-08-31
About this Collection
Contains 623
maps chosen from more than 3,000 railroad maps and about 2,000 regional, state,
and county maps, and other maps which show "internal improvements" of
the past century.
The maps presented here are a selection from the
Geography and Map Division holdings, based on the popular cartobibliography, Railroad Maps of the United States: A
Selective Annotated Bibliography of Original 19th-century Maps in the Geography
and Map Division of the Library of Congress, compiled by Andrew M. Modelski (Washington: Library
of Congress, 1975). This annotated list reveals the scope of the railroad map
collection and highlights the development of railroad mapping in 19th-century
America.
The Railroad maps represent an important historical
record, illustrating the growth of travel and settlement as well as the
development of industry and agriculture in the United States. They depict the
development of cartographic style and technique, highlighting the achievement
of early railroaders. Included in the collection are progress report surveys
for individual lines, official government surveys, promotional maps, maps
showing land grants and rights-of-way, and route guides published by commercial
firms.
To satisfy Americans' keen interest in the routes of
railroads, cartographers have shown rail lines on maps since the first tracks
were laid in the United States. There are in the collections of the Library of
Congress thousands of American railroad maps as well as numerous general maps
showing railroad routes as part of the transportation network. The maps, which
are in the custody of the Geography and Map Division, vary widely in area,
content, and scale. Some cover major segments of our country and depict the
interrelationship of various modes of transportation. Others resemble
contemporary strip road maps and show only a ribbon of land immediately
adjacent to a specific railroad right-of-way.
The Library's holdings include railroad maps issued
for a variety of purposes. Among the collections are official printed
government surveys conducted to determine the most practical railroad routes,
Pacific Railroad Surveys, U.S. General
Land Office maps which show land grants to railroads, surveys for specific
rights-of-way, and general surveys prepared to accompany progress reports of
individual railroads. Other maps were published specifically to promote
particular lines, some of which were never built. Also represented in the
collection are maps issued by commercial publishers, intended for ticket agents
and the public, as route guides to encourage commerce and travel to the newly
settled areas west of the Mississippi River.
The maps selected represent a profile of the
development of cartographic style and technique and are not intended to
inventory all maps in the division which show railroads. The list does reflect,
however, the important achievements of early railroaders in reaching their
ultimate goal of providing a transportation network spanning the country and
linking the Atlantic and Pacific Oceans.
The list includes only separate printed and manuscript
maps preserved in the Geography and Map
Division. Excluded are photocopies, facsimiles, atlases, and maps which are
included in annual railroad company reports or which illustrate volumes classed
elsewhere in the Library of Congress.
Ferrovias no mundo em 19 de agosto de 2007, "o minúsculo Japão tem 23 mil quilômetros de estradas de ferro de boa qualidade. A Argentina tem 34 mil quilômetros; a Austrália, 41 mil; a Alemanha, 45 mil; a Índia, 63 mil; o Canadá, 64 mil; a China, 71 mil; a Rússia, 87 mil, e os Estados Unidos, quase 200 mil quilômetros." Já o Brasil tem menos do que tinha em 1930 com 29 mil quilômetros de ferrovias precárias, temos produção, mas o escoamento tem o (Custo Brasil por rodovias, 70% mais caro que por trilhos) O FRETE mais caro do mundo E tem muitos políticos que não aceitam estradas de ferro. Não da pra entender.
ResponderExcluirFerrovias no mundo em 19 de agosto de 2007, "o minúsculo Japão tem 23 mil quilômetros de estradas de ferro de boa qualidade. A Argentina tem 34 mil quilômetros; a Austrália, 41 mil; a Alemanha, 45 mil; a Índia, 63 mil; o Canadá, 64 mil; a China, 71 mil; a Rússia, 87 mil, e os Estados Unidos, quase 200 mil quilômetros." Já o Brasil tem menos do que tinha em 1930 com 29 mil quilômetros de ferrovias precárias, temos produção, mas o escoamento tem o (Custo Brasil por rodovias, 70% mais caro que por trilhos) O FRETE mais caro do mundo E tem muitos políticos que não aceitam estradas de ferro. Não da pra entender.
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