quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

[840] DE NORTE A SUL: URBANIZAÇÃO DESPLANEJADA E CONFLITOS AMBIENTAIS. AS DUNAS MÓVEIS E O "SEPULTAMENTO" DE CASAS E RUAS NO LITORAL DO BRASIL.




DE NORTE A SUL: URBANIZAÇÃO DESPLANEJADA E CONFLITOS AMBIENTAIS. 
AS DUNAS MÓVEIS E O "SEPULTAMENTO" DE CASAS E RUAS NO LITORAL DO BRASIL.

Ronald Almeida.
Arquiteto Urbanista FAU-UFRJ 1972.
SLZ-MA. 05FEV2020.
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A neurótica e recorrente contenda entre a ocupação desenfreada de terras litorâneas e o mar de areia que vai engolindo casas e ruas em cidades litorâneas do Rio Grande Sul e centenas de outros municípios ao longo do extenso e belo litoral brasileiro, com cerca de 7.400 km de extensão (ou 9.200 km se consideradas suas saliências e reentrâncias), cada dia se acentua mais e aparece na mídia.

Para complicar, há diabólicos e antigos imbróglios de disputas de jurisdição entre Estados e Municípios e o Patrimônio da União sobre as ditas “terras de marinha”, o que torna a regularização e a proteção dessas áreas em verdadeiros cavalos de batalha jurídicos, caros e intermináveis.  Em geral com perdas para o meio ambiente.

Enquanto os Homens e os Governos não se entendem, as dunas móveis seguem seu curso inexorável e implacável soterrando tudo à sua frente.  Assim como acontece no MARANHÃO:

1) EM TUTÓIA (MA), sempre ameaçada pelas dunas caminhantes do Parque Estadual dos Pequenos Lençóis Maranhenses.

2) (A Nova) SANTO AMARO (MA), já no segundo sítio, ora ameaçado de soterramento, já que a primeira SANTO AMARO foi engolida 100% pelas dunas caminhantes do Parque Nacional dos [Grandes] Lençóis Maranhenses.

O Homem e a Mulher não aprendem e a Natureza não perdoa: segue seu curso natural de dezena de milênios e cobra pelos erros que poderíamos evitar, não fossem os motivos principais da desgraça da urbanização e da ocupação territorial desplanejada: A GANÂNCIA, A IGNORÂNCIA, A IMPREVIDÊNCIA, A OMISSÃO, A PREPOTÊNCIA de boa parte de parcelas da sociedade: cidadãos comuns (de todas as classes sociais), empresários e ditas autoridades públicas.

Ronald Almeida.
Arquiteto Urbanista FAU-UFRJ 1972.
SLZ-MA. 05FEV2020.

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ENGOLIDOS PELA AREIA: AS DUNAS MÓVEIS QUE COBREM RUAS E CASAS NO LITORAL NORTE [do RS]

Em BALNEÁRIO QUINTÃO, a falta de uma licença ambiental impede que a prefeitura faça o manejo do material.

Fonte: Rede Gaucha / Zero Hora; ALINE CUSTÓDIO; 05/02/2020 - 16h25min; 05/02/2020 - 17h25min
Acesso Edição RAS 2020-02-05

FOTO 01: Silvia Lemes (e) e Jairo Leal cansaram de acionar a prefeitura solicitando o manejo das dunas frontais que se moviam em direção às ruas do condomínio Núcleo Santa RitaMarco Favero / Agencia RBS

[1] [ENGOLIDOS PELA AREIA]

1.     Vagarosamente e em silêncio, as dunas móveis ocupam espaços imprevistos pelos veranistas em partes do litoral norte gaúcho. Dependendo da intensidade e da contribuição do vento, da noite para o dia, acabam cobrindo ruas, calçadas e pátios. Em casos extremos, como no BALNEÁRIO QUINTÃO, pertencente a PALMARES DO SUL, impedem a entrada e a saída das casas e a circulação por ruas e avenidas.
2.     Com a licença suspensa pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) desde outubro de 2019, por descumprir ações previstas no PLANO DE MANEJO DAS DUNAS, a prefeitura de Palmares está impedida de executar a retirada da areia fina que cobre as vias do balneário, cuja extensão frontal de sete quilômetros de orla é toda com dunas.
3.     O Departamento de Qualidade Ambiental da Fepam explica que a suspensão se deu pela falta de apresentação reiterada de informações ambientais nos prazos exigidos e por deixar de adotar medidas de precaução ou contenção em caso de dano ambiental, tais como edificação em andamento de residências em área de dunas frontais, obra de drenagem irregular e sem observação de critérios ambientais e abertura de vias de circulação no campo de dunas, não constantes no plano apresentado.
4.     A situação mais crítica envolvendo PALMARES ocorre no sul do BALNEÁRIO QUINTÃO, na praia Santa Rita, onde caminhar pelas ruas Limite Sul, Diana, Vênus e Penélope em direção à praia transmite a sensação de percorrer uma área deserta. No entroncamento com a Avenida Atlântica, a última antes da orla e que já foi engolida pela areia, há pelo menos oito casas cujas portas e janelas estão cobertas pelas dunas. Vizinhos afirmam que os moradores não voltaram nesta temporada porque não conseguiram ficar no local.
5.     Veranista da Rua Diana há 10 anos, a dona de casa Silvia Lemes, 64 anos, de SÃO LEOPOLDO, conta que cansou de acionar a prefeitura solicitando o manejo das dunas frontais que se moviam em direção às ruas do condomínio Núcleo Santa Rita. Em vão.
6.     — Piorou muito neste ano. O vento parece mais forte e ajudou a fazer tudo andar mais rápido. Tem veranista que veio, viu a casa engolida e voltou porque sabe que não pode mexer sem autorização da prefeitura. Pagamos IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), mas nem isso resolve a situação — conta.
7.     Segundo a diretora do Departamento de Meio Ambiente de Palmares do Sul, ANDREZA LIMA NASCIMENTO, a prefeitura pretendia apresentar à Fepam, nesta quinta-feira (6fev2020), as mudanças solicitadas pelo órgão. Se obtiverem a recuperação da licença, poderão manejar a areia para a área de preservação das dunas — entre as moradias e a orla —, de onde elas saíram. Cinco casas construídas na área de preservação também deverão ser retiradas com ordem judicial.
8.     Quando estivermos com a licença em vigor, os próprios moradores poderão fazer este manejo a partir das nossas orientações — alerta a diretora, que não sabe quando isso ocorrerá.
9.     A Fepam informou, em nota, que espera que a prefeitura de PALMARES encaminhe a regularização da atividade a partir desta quinta-feira. Para recuperar a licença ambiental, o município depende de avaliação da documentação técnica por parte da Fepam, no que se refere ao atendimento de todas as pendências, e da "realização de vistoria na área do empreendimento, de modo a verificar a situação atual da área e a conformidade da documentação ainda não apresentada".

FOTO 02: Uma construção com três cômodos foi sepultada pelas dunas durante o ano passado, mas Manenti não desiste: passou um mês tirando areia dos fundos de casa no carrinho de mão e, vencido pelas dunas, pretende recomeçar o trabalho. 
Marco Favero / Agencia RBS


[2] PREFEITURA TENTA RESOLVER PENDÊNCIAS

10.                       De acordo com o secretário de Planejamento do município, LUCAS LIMA SILVEIRA, esta administração de Palmares do Sul assumiu a prefeitura no ano passado, quando ocorreram novas eleições, e o problema com a licença para movimentar as dunas já existia. Por isso, a atual administração corre contra o tempo para acabar com as pendências ambientais junto ao Estado. Silveira calcula que a remoção das dunas nas vias públicas ocupa 60% da mão de obra da Secretaria no período do verão.
11.                       Enquanto a situação não se resolve, ALUIR FRANCISCO MANENTI, 58 anos, veranista da Rua Vênus, acompanha uma chuva diária de areia sobre a casa da família. Como o vento vem pelos fundos da casa, movimenta as dunas. Com isso, a areia bate nas paredes, ultrapassando o telhado e caindo no pátio da frente. Quem chega à morada é surpreendido pelos grãos finos que caem do céu.

FOTO 03: A ventania é tanta que, nos fundos, foi preciso improvisar uma lona tapando a casa de Manenti.
Marco Favero / Agencia RBS

12.                       Na rua, uma duna já se forma em toda a extensão, impedindo a passagem de veículos, principalmente do caminhão que recolhe o lixo. Para entrar em casa de carro, MANENTI precisa colocar o veículo de ré ou não passa pela camada de areia. A ventania é tanta que, nos fundos, foi preciso improvisar uma lona tapando a casa, já que a outra obra, de três cômodos, em construção no terreno foi sepultada pelas dunas durante o ano passado. O prejuízo é calculado em mais de R$ 5 mil.
13.                       Em 2019, passei um mês tirando areia dos fundos de casa no carrinho de mão. Neste ano, quando chegamos aqui, estava tudo engolido. Minha mulher quer vender, mas eu gosto daqui. Então, vou esperar a licença para recomeçar tudo — diz, confiante.

FOTO 04: Com a licença ambiental suspensa pela Fepam desde outubro de 2019, por descumprir ações previstas no Plano de Manejo das Dunas, a prefeitura de Palmares está impedida de executar a retirada da areia fina. Marco Favero / Agencia RBS


[3] BALNEÁRIO PINHAL E CIDREIRA

14.                       Conforme a Fepam, outras duas praias do Litoral Norte são cercadas pelas dunas, mas apenas uma delas está liberada para manejá-las: é BALNEÁRIO PINHAL, que obteve a primeira licença em 2008 e atualmente possui licença em vigor.
15.                       Já em CIDREIRA, dois processos foram instruídos em 2005 e 2009, porém sem continuidade e finalização do processo de licenciamento. Para o órgão, é o caso mais crítico do Litoral Norte, pois há extensa ocupação irregular de dunas frontais.
16.                       VANESSA TEIXEIRA DA ROSA, da Secretaria de Meio Ambiente de CIDREIRA, explica que o município contratou em agosto de 2019 uma empresa especializada para produzir o primeiro plano de manejo de dunas da cidade. A previsão é de que o projeto seja finalizado até maio deste ano e encaminhado à Fepam. A partir daí, a prefeitura pretende obter a licença para movimentar as dunas.
17.                       O maior problema enfrentado por CIDREIRA, segundo VANESSA, realmente são as ocupações de espaços proibidos, principalmente nos bairros Antena, Francisco Mendes e Costa do Sol. Todos eles têm áreas de preservação de dunas. Por isso, diariamente, uma equipe de fiscalização percorre a cidade para impedir novas invasões.

FOTO 05: A extensão frontal do Balneário Quintão, de sete quilômetros de orla, é toda com dunas; Marco Favero / Agencia RBS


FOTO 06: Se obtiver a recuperação da licença, a prefeitura poderá manejar a areia para a área de preservação das dunas, de onde elas saíram; Marco Favero / Agencia RBS

[4] SAIBA MAIS

1. O Rio Grande do Sul apresenta como uma de suas características específicas e raras uma extensa planície costeira de composição arenosa, gerada a partir de processos de avanço e recuo do mar, ao longo do tempo geológico.

2. Por isso, as dunas costeiras são de diferentes tamanhos e formas, sendo desenvolvidas a partir da deposição de areia pelo mar no ambiente de praia.

3.  A areia é, então, carregada pelo vento, vindo a acumular-se ao encontrar algum obstáculo e/ou com a diminuição da energia do vento, seu meio de transporte.

4. Com o estabelecimento de vegetação típica, elas tendem a ficar estáticas ou estabilizadas.

5. Já aquelas sem vegetação permanecem movendo-se de acordo com a intensidade do vento.

6. Este conjunto, associado às lagoas e banhados interdunas, forma um campo de dunas, típico do nosso litoral.

7. É um ambiente peculiar, cujas funções ambientais abrangem a estabilização da linha de costa; a constituição de uma barreira natural de defesa contra o avanço das ondas em eventos de ressaca marinha; a recarga hídrica, por serem muito porosas, e proteção do aquífero freático (vulgarmente conhecido como "lençol freático"), valioso manancial de água doce; importante habitat para espécies típicas de flora e fauna, incluindo-se aí, avifauna migratória.

8. Uma duna pode ser mover até 23,4 metros por ano.

9. As dunas são consideradas área de preservação permanente (APP) e não podem ser retiradas.

10.  As prefeituras sem licença de manejo só podem movimentar em casos emergenciais envolvendo risco de vida.
Fonte: Departamento de Qualidade Ambiental da Fepam.





















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NOTA RAS: Brasil é o quinto maior país do mundo em extensão territorial, com 8.514.876 km2. O país possui um litoral com 7.367 km, banhado a leste pelo oceano Atlântico. O contorno da costa brasileira aumenta para 9.200 km se forem consideradas as saliências e reentrâncias do litoral.



EXTENSÃO DO LITORAL BRASILEIRO POR ESTADO

O litoral do Brasil tem 7.491 quilômetros [sic: 7.379 km na tabela abaixo] de extensão, o que o torna o 16.º maior litoral nacional do mundo. Toda a costa encontra-se ao lado do Oceano Atlântico. Um número considerável de características geográficas podem ser encontradas nas áreas costeiras brasileiras, como ilhasarrecifes e baías.

As praias do Brasil (2.095 no total)  são famosas no mundo todo e recebem um grande número de turistas.

Dos 26 estados brasileiros, nove não têm acesso ao mar, além do Distrito Federal. A maioria dos 17 estados costeiros têm suas capitais próximas do litoral, com exceção de Porto Alegre (Rio Grande do Sul), Curitiba (Paraná), São Paulo (São Paulo), Teresina (Piauí), Belém (Pará) e Macapá (Amapá). 

No entanto, Porto Alegre, Belém e Macapá estão todas perto de grandes rios navegáveis, enquanto Curitiba e São Paulo se situam em áreas de planalto a menos de 100 quilômetros de distância do Oceano Atlântico, em linha reta.

Extensão por ordem decrescente
Estados
Extensão (km)
Percentual (%)
932
12,4
640
8,7
636
8,6
623
8,5
622
8,5
598
8,1
573
7,8
562
7,6
531
7,2
410[5]
5,7
392
5,3
229
3,1
187
2,5
163
2,2
117
1,6
98
1,3
66
0,9
Total
7.379
100



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RONALD DE ALMEIDA SILVA
Rio de Janeiro, RJ, 02jun1947; reside em São Luís, MA, Brasil desde 1976.
Arquiteto Urbanista FAU-UFRJ 1972 / Registro profissional CAU-BR A.107.150-5
Blog Ronald.Arquiteto (ronalddealmeidasilva.blogspot.com)
Facebook ronaldealmeida.silva.1


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