segunda-feira, 30 de novembro de 2015

[155] POESIA: Morre o poeta e escritor Nauro Machado, em São Luís [28nov2015]

Morre o poeta e escritor Nauro Machado, em São Luís [28nov2015]
O velório será neste sábado na Academia Maranhense de Letras.
Ele tinha 80 anos e estava internado desde terça-feira.

FONE: Portal Globo G1.
28/11/2015 09h12 - Atualizado em 28/11/2015 11h51
Acesso RAS em 30nov2015
http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2015/11/morre-o-poeta-e-escritor-nauro-machado-em-sao-luis.html



O poeta e escritor maranhense Nauro Machado morreu na madrugada deste sábado (28) em São Luís após realizar uma cirurgia no intestino. Ele tinha 80 anos e estava internado desde terça-feira (24) em um hospital da capital. O velório está marcado para este sábado na Academia Maranhense de Letras (AML), a partir das 10h30.
Nauro Machado era um dos mais importantes literários da história do Maranhão. Tinha 37 livros publicados, foi um poeta autodidata que retratou através da arte sua visão e sentimento do mundo. Sua obra também foi reconhecida pela Academia Brasileira de Letras (ABL).
O ex-Presidente da República e membro da ABL, José Sarney, lamentou profundamente a perda de Nauro Machado. "O Maranhão perde um grande poeta. Nauro Machado talvez tenha sido a figura que mais produziu na poesia no Maranhão dos últimos tempos. Nenhum dos nossos poetas conseguiu fazer uma obra do tamanho e da profundidade de Nauro Machado. A sua vida era um poema e ele morre deixando uma obra insuperável que vai ficar na literatura maranhense e brasileira", disse.
Já o presidente da Academia Maranhense de Letras, Benedito Buzar, exaltou o talento do poeta. "Nauro é uma figura extraordinária, um poeta excepcional. Nauro, se tivesse saído do Maranhão, seria reconhecido nacionalmente, mesmo assim a crítica da literatura nacional também reconhece o seu trabalho. Ele escolheu ficar aqui e viver aqui ao lado do povo de São Luís. Ele sempre foi um poeta que o povo admirou e deixa um legado grande e que jamais será esquecido. Ele faz parte da constelação dos grandes poetas que o Maranhão produziu na Atenas Brasileira", afirmou.
No início de agosto, a Academia Maranhense de Letras fez uma homenagem aos 80 anos do poeta. Ele nunca quis ser um imortal da academia, recusando todos os convites que lhe foram feitos. No dia da homanagem, o presidente da AML, Benedito Buzar, disse que Nauro Machado só não era um imortal porque não queria. "Todas as vezes que se abre uma vaga aqui, Nauro é convidado. Mas, ele tem as razões pelas quais ele não quer entrar", disse.
Carnaval
Em 2002, o poeta Nauro Machado foi homenageado pela escola de samba Turma do Quinto. Com o enrredo "Nauritânia, a Poesia de Barbas Brancas", a escola venceu o carnaval de passarela de São Luís naquele ano. A letra do samba enfatizava frases e o estilo de vida do poeta (relembre a participação de Nauro Machado no carnaval no vídeo abaixo).
Poesia
Uma das marcas do poeta Nauro Machado era retratar o cotidiano maranhense com simplicidade e liberdade poética. "A poesia do Nauro Machado se caracteriza pela liberdade.  Ele não se vinculou a nenhum estilo, a nenhuma escola literária. Ele tinha um domínio da técnica poética e podia se dar essa liberdade. Nauro foi um grande lírico, mas também um grande cronista", relembrou o ex-Presidente José Sarney.
No dia 12 de novembro de 2014, o poeta tinha lançado seu último livro “Esôfago Terminal”, inspirado na sua luta contra o câncer de esôfago que começou em 2012. Nauro Machado havia se curado da doença.  No lançamento do livro ele disse: “A doença é algo inominável, inconcebível, mas acontece com qualquer um. Então, nó nos perguntamos: ‘por que eu?’. E, logo, o universo replica: ‘e por que não você?’”.


Poema do Ofício
Ocupo o espaço que não é meu, mas do universo.
Espaço do tamanho do meu corpo aqui, enchendo inúteis quilos de um metro e setenta e dois centímetros, o humano de quebra.
Vozes me dizem: eh, tu aí! E me mandam bater serviços de excrementos em papéis caídos
numa máquina Remington, ou outra qualquer.
E me mandam pro inferno, se inferno houvesse pior que este inumano existir burocrático.
E depois há o escárnio da minha província.
E a minha vida para cima e para baixo, para baixo sem cima, ponte umbilical partida, raiz viva de morta inocência.
Estranhos uns aos outros, que faço eu aqui?
E depois ninguém sabe mesmo do espaço que ocupo, desnecessário espaço de pernas e de braços preenchendo o vazio que eu sou.

E o mundo, triste bronze de um sino rachado, o mundo restará o mesmo sem minha quota de angústia e sem minha parcela de nada.

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