RECORDAR BEM É VIVER MELHOR.
Pense num cabra bom esse muleque MADINHO,
que partiu cedo demais, aos 62 anos. (em 16fev2016).
Compositor, produtor musical, intérprete,
artista multimídia, saltimbanco, humorista nato, JOÃO MADSON era o nosso TOM ZÉ maranhense!
Vejam texto fraterno de autoria de ZEMA RIBEIRO, um dos mais competentes jornalistas e escritores memorialistas do Maranhão, com dedicação especial à Cultura.
Ronald Almeida, 2019-09-09
OBITUÁRIO:
JOÃO MADSON, [O MADINHO].
Fonte: Blogue de ZEMA
RIBEIRO; Homem de vícios antigos; ainda
compra discos, livros e jornais. Publicado em 17/02/2016
Acesso RAS 2019-09-09
JOÃO
MADSON, [O MADINHO],
em raro registro sem cavanhaque.
Foto: Arquivo O Estado do Maranhão
|
Conheci JOÃO MADSON há quase década e meia, ali
pelas imediações do Bar de Seu ADALBERTO
(Praia Grande), onde, à época, acontecia o evento semanal A Vida é uma Festa!,
capitaneado pelo poeta-músico ZÉMARIA
MEDEIROS, há tempos transferido para a Companhia Circense de Teatro de
Bonecos. Já era uma lenda do underground local, sempre acompanhado de um copo,
um cigarro e um sorriso.
“Se melhorar,
estraga”, sua voz talhada pelos vícios respondia sempre ao invariável “como vão
as coisas?” que eu disparava toda vez que o reencontrava, sempre impecável
cavanhaque (a antiga foto em p&b que ilustra este post é exceção),
amarelado de fumo, ele, há décadas, radicado em São Paulo.
Chegamos a
trabalhar juntos, na Faculdade São Luís, onde ele prestava consultoria ou coisa
que o valha em marketing; tinha formação em jornalismo e publicidade e
equilibrava-se entre as áreas e a música, sua paixão.
Compositor menos
conhecido do que deveria, é autor de um punhado de clássicos, ao menos para
mim. Um exemplo é Sinhá Madona, sucesso de ROGÉRYO DU MARANHÃO, lembrada pela
jornalista ANDRÉA OLIVEIRA, ao
lamentar em uma rede social o falecimento do artista, vítima
de enfisema pulmonar, na madrugada de ontem (16fev2016), aos 62 anos.
O compositor registrou a música com adesão de GABRIEL MELÔNIO em São João Madson Com Vida, último disco
gravado por ele, em 2003.
“Dorme em sono
perfeito/ minha antiga cidade/ sinhá, vou buscar o dia/ antes da claridade//
Corre, Sinhá Madona/ bem de frente da janela/ vem ver como é bela a lua/ que se
esconde no coqueiro/ vem ver como é bonito/ meu boi dançar no terreiro”,
diz a letra. O cd
é recheado de participações especiais: DIDÃ,
ROSA REIS, ALÊ MUNIZ, ERIVALDO GOMES, ELIÉSIO, entre outros.
Em shows
recentes a cantora ALEXANDRA
NICOLAS anunciou que gravará O segredo do coco. “Essa, quem me ensinou a
cantar foi DIDÔ – intérprete da
música em São João Madson Com Vida –, geralmente
anuncia, antes de começar:
“Tira o coco do coqueiro/ bota pra quebrar/
tira o leite desse coco/ que eu quero tomar/ rala o coco, soca o coco/ pra
cunhã coar/ que o segredo do coco é peneirar// O segredo do coco é o
leite/ o azeite na hora de apurar/ é o cheiro cheiroso na cozinha/ cunhãzinha
preparando o jantar// Traz tucupi/ traz tacacá/ taca o coco na cuia/ pra cunhã
coar”,
diz a letra.
Uma vez irrompeu
Bagdad Café adentro, em plena Praia Grande, cantando STALONE
STRAUSS, cujos
vocais divide com o sobrinho ALÊ MUNIZ
no disco derradeiro:
“Me dê um tom e um tema/ que eu vou cantar
um poema/ um roteiro pra cinema/ enredo de carnaval// Me dê um tipo e um trato/
que eu faço mesmo é no ato/ só me assine um bom contrato/ que eu quero é virar
o tal// E vou gravar um cd/ do bom da eme pê bê/ para estourar no Japão// Você
só vai me ver/ em clipes da eme tê vê/ no Domingão do Faustão// E vou trocar o
meu nome/ por outro que se consome/ um nome comercial/ um nome bem estrangeiro/
só pra ganhar mais dinheiro/ vou ser Stalone Strauss”,
transbordava
irreverência.
Em 2005 venceu o
Festival Maranhense de Música Carnavalesca, promovido pelo Sistema Mirante de
Comunicação, com seu Frevo
na chuva:
“E foi aí que eu te achei na chuva/ foi um
barato muito legal/ você toda molhadinha/ só entrou na minha/ por que era
carnaval// E era frevo na chuva/ quero ver, quero ver, quero ver/ você no meu
guarda-chuva/ quero ver, quero ver, quero ver/ Venha, vamos botar pra moer/ eu
e você fazendo o frevo ferver”.
É dele também um
dos mais astutos jingles de propaganda político-partidária que já ouvi: quando
candidata a prefeita em 2004, HELENA
HELUY (PT) tinha como adversários RICARDO
MURAD, JOÃO CASTELO e TADEU PALÁCIO.
MADINHO, como era carinhosamente chamado pelos amigos,
mandou bem:
“Não quero Murad Castelo/ nem mesmo erguer Palácio/ amo demais São
Luís/ eu quero é ser feliz/ é 13 de cima abaixo// Helena, o Lula lá já falou/
eu voto em quem vale a pena/ por isso eu voto em Helena/ pra nossa ilha do
amor”
– cito de memória, a exemplo das outras letras lembradas neste
post.
Este obituário traz
alguns poucos exemplos da genialidade de JOÃO
MADSON. Sua perda é, em si, uma tragédia. E revela outra: nossa falta de
cuidados com a memória, em tempos virtuais. Experimentem “dar um google” com o
nome dele (o que fiz, à cata de foto para ilustrar esta singela homenagem
póstuma): as ocorrências são insignificantes (inclusive demorei a publicar este
texto em busca de foto decente para ilustrá-lo).
Texto de
ZEMA RIBEIRO;
**********************
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RONALD DE ALMEIDA SILVA
Rio de Janeiro, RJ, 02jun1947;
reside em São Luís, MA, Brasil desde 1976.
Arquiteto Urbanista FAU-UFRJ 1972
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