quarta-feira, 4 de setembro de 2019

[790] ODEBRECHT E A CORRUPÇÃO GLOBAL: ODEBRECHT OPEROU SISTEMA DE PROPINA A PARTIR DOS ESTADOS UNIDOS . by ÉPOCA & ICIJ; 26jun2019



ICIJ revela documentos que comprovam operação de “compra de contratos” bilionários por parte da ODEBRECHT.

ODEBRECHT OPEROU SISTEMA DE PROPINA A PARTIR DOS ESTADOS UNIDOS 
[27jun2019]

Ø Investigação a partir de documentos vazados do sistema que geria propina da empresa permite detalhar operação da empresa em Miami

Fonte: Revista ÉPOCA; Grupo GLOBO; Publicado em 26/06/2019 - 15:01 / Atualizado em 27/06/2019 - 16:42
Autores: Kevin G. Hall, Nora Gámez Torres, Antonio María Delgado, Guilherme Amado e Thiago Herdy [mais colaboradores da Bribery Division da ICIJ]
Acesso RAS 2019-09-04

Investigação jornalística durou quatro meses e envolveu repórteres de dez países [by ICIJ]
Foto: Ricardo Weivezahn / ICIJ
BRIBERY DIVISION é uma investigação transnacional coordenada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), que contou com a participação de 50 jornalistas de dez países em torno do Setor de Operações Estruturadas, o departamento de propina da ODEBRECHT. No Brasil, as reportagens foram feitas por jornalistas de ÉPOCA e do site Poder 360.

Em 2016, quando se soube que a ODEBRECHT também assinaria um acordo de leniência com o Departamento de Justiça americano (DoJ), a pergunta era:
Ø Mas houve corrupção da empresa em solo americano?
Ø Ou o acordo se devia apenas, conforme a empresa relatara, ao uso do sistema financeiro americano para pagar propinas ou movimentar dinheiro ilegal, o que a faria cair nas malhas do Foreign Corrupt Practices Act, a rígida legislação americana de combate à corrupção?

A ODEBRECHT sustenta até hoje que nunca houve atos ilegais nos Estados Unidos, envolvendo autoridades americanas. Entretanto, dois executivos da empresa, LUIZ EDUARDO SOARES e FERNANDO MIGLIACCIO, não só moraram nos EUA, com uma vida de luxo em Miami, como de lá operaram o Drousys, um dos sistemas usados pela ODEBRECHT no Setor de Operações Estruturadas, o departamento criado para gerir os subornos pagos pela empresa.

Documentos revelados agora permitem que sejam juntadas as peças do quebra-cabeças da operação americana da empresa e da atuação da dupla nos EUA, que permaneceu incógnita em meio à avalanche causada pela Lava Jato no Brasil.

Os arquivos fazem parte do vazamento de 13 mil documentos que haviam sido armazenados pela ODEBRECHT no Drousys, um dos sistemas usados pela ODEBRECHT para gerir a propina paga em todo o continente.

The Bribey Division, uma investigação global liderada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), mergulhou durante quatro meses nesse acervo, e revela, a partir desta quarta-feira, 26 de junho [2019], como a operação de compra de contratos da ODEBRECHT era ainda maior do que a empresa havia relatado às autoridades.

O ICIJ trabalhou em parceria com mais de 50 jornalistas em 10 países para investigar os livros contábeis da divisão de propina da ODEBRECHT. No Brasil, as reportagens são publicadas por ÉPOCA e pelo site Poder 360.

A “declaração de fatos” de 23 páginas do acordo assinado pela ODEBRECHT com o DoJ estabelece detalhadamente a criação do Setor de Operações Estruturadas e sua finalidade. 

A ODEBRECHT admitiu que a divisão canalizou fundos de curto prazo para empresas offshore e bancos baseados em paraísos de sigilo financeiro, às vezes usando contratos fictícios para cobrir suas operações. O dinheiro acabou sendo usado para pagar propinas a políticos, funcionários públicos e partidos políticos.

Nenhum executivo foi processado nos Estados Unidos e os nomes dos seis brasileiros envolvidos com as atividades ilícitas foram até agora mantidos em sigilo. 

No acordo com DoJ, os seis eram identificados apenas como “empregados” (“employees”, em inglês): “employee 1”, “employee 2”… até o “employee 6”.  Foram eles que operaram o Setor de Operações Estruturadas [da ODEBRECHT], mas que, até agora, permaneciam incógnitos.

AOS NOMES...

O número 1 era MARCELO ODEBRECHT, o CEO da empresa até a Lava Jato lhe pegar pelos calcanhares. Os números 2, 3 e 4 são HILBERTO MASCARENHAS ALVES DA SILVA, LUIZ EDUARDO DA ROCHA SOARES e FERNANDO MIGLIACCIO

Todos os quatro, delatores, tinham conhecimento de crimes cometidos a partir do escritório da empresa em Miami e também admitiram culpa a procuradores brasileiros e cooperaram na esperança de uma punição mais branda.

O empregado 5 é MARCIO FARIA, ex-presidente da ODEBRECHT, e o empregado 6 é LUIZ ANTONIO MAMERI, que liderou as operações na América Latina e em Angola. Os dois também assinaram delações.

Os seis envolvidos no caso da ODEBRECHT que fizeram delação nos EUA. De cima para baixo e da esquerda para a direita: MARCELO ODEBRECHT, LUIZ ANTONIO MAMERI, HILBERTO MASCARENHAS, LUIZ EDUARDO SOARES, FERNANDO MIGLIACCIO e MARCIO FARIA. Foto: Montagem em cima de reprodução

No tempo em que moraram em Miami, SOARES e MIGLIACCIO tiveram uma vida próspera, aproveitando o uso de propriedades caras que pertenciam a empresas de fachada. Agora de volta ao Brasil, ambos ainda aguardam o julgamento, a exemplo de boa parte dos delatores da ODEBRECHT.

Quem operava o mecanismo de propina do Drousys recebia códigos, bem como as centenas que recebiam pagamentos. MIGLIACCIO usava o autoelogioso apelido Maverick para se referir a si. Os executivos não eram tão bondosos com o outro lado do balcão: o senador JARBAS VASCONCELOS (MDB-PE), acusado de receber propina, por exemplo, foi apelidado de Viagra.
  
Em Miami, a operação inclui trabalhos como a Arena American Airlines, o estádio de futebol da Florida International University, os aeroportos em Miami e Fort Lauderdale, Port Miami e até rodovias locais. As obras renderam prestígio à ODEBRECHT na cidade.

A subsidiária da empresa baseada em Miami, que não foi envolvida na investigação do DoJ, manteve por um longo tempo uma cadeira na diretoria do Enterprise Florida, um grupo de promoção comercial — um privilégio que manteve mesmo depois de que a empresa se tornou parte do maior acordo judicial do Foreign Corrupt Practices Act da história dos Estados Unidos.
  
A operação da ODEBRECHT nos Estados Unidos sempre foi muito mais uma vitrine do que algo que realmente trouxesse lucro para a empresa. Era bom para a imagem da ODEBRECHT dizer para grandes bancos internacionais, americanos em especial, que a construtora era a responsável por obras em solo americano, como o aeroporto ou estádios famosos.

A subsidiária americana da ODEBRECHT operou em grande parte separada das filiais brasileiras e do Setor de Operações Estruturadas, que por isso não foram mencionados no acordo judicial. Mesmo que Soares e Migliaccio morassem e trabalhassem em Miami, eles parecem ter operado em um prédio diferente das operações focadas em Miami, mantido propositalmente separado deste.

Soares e Migliaccio testemunharam que viajavam regularmente para a República Dominicana, onde seu chefe, Hilberto Silva, era um dos operadores centrais do esquema que derrubou grande parte da elite política do continente.

O Departamento de Justiça americano não quis responder às perguntas enviadas pelo ICIJ sobre por que a operação em Miami não fez parte do acordo firmado por lá, a exemplo de promotores do Distrito Leste de Nova York, que cuidaram do acordo no que tocava à Justiça daquele estado. 

Os procuradores também declinaram de responder sobre qual será a influência do pedido de recuperação judicial da ODEBRECHT, aceito pela Justiça na semana passada, para para um acordo que deve ser cumprido até dezembro de 2021.

A empresa, em uma declaração para responder às questões submetidas pelo ICIJ sobre seus parceiros, disse: "A ODEBRECHT continuará a fazer todos os esforços perante as autoridades competentes para (manter) um regime irrestrito de colaboração, dado que a premissa básica de garantia de segurança legal e compromissos assumidos pela companhia por uma ação ética, integrada e transparente, são respeitados".

Não há nada nos arquivos Drousys que aponte para a subsidiária de Miami por seu nome, ou seu longevo diretor, GILBERTO NEVES, que administrou o escritório de 2000 a 2016.

"Os 78 executivos condenados ou implicados foram listados e nomeados em numerosas publicações e documentos judiciais, e eu nunca estive naquela lista, porque eu não tinha conhecimento ou envolvimento, e eu nunca fui contactado por nenhum promotor ou autoridade americanos ou de qualquer país", disse NEVES em uma nota enviada por meio de seu advogado, emendando: "Eu deixei a ODEBRECHT há mais de três anos. Eu a deixei por escolha, e em bons termos".

A maioria das empresas da ODEBRECHT é mencionada no sistema de contabilidade paralela por suas iniciais. Os documentos citam OCII, que poderia ser a ODEBRECHT Construction Inc., baseada em Miami, e também há uma referência à OCI Solutions, que poderia ser a ODEBRECHT Global Solutions, também em Miami. A ODEBRECHT não respondeu a perguntas específicas enviadas pela reportagem.

A operação da ODEBRECHT em Miami na verdade consistia em uma série de companhias, nem todas ativas. Uma delas, sem conexão com NEVES, colaborou em um pedido de junção para garantias de empréstimo do banco U.S. Export-Import em 2010 para o trabalho da ODEBRECHT S.A. na Autopista del Coral, uma rodovia privada na República Dominicana, mencionada em muitos registros do Drousys.

Um nome ligado àquele acordo da rodovia é ÁNGEL RONDÓN RIJO, um negociador na ilha que, em dezembro de 2017, foi colocado na lista de sanções por corrupção no U.S. Treasury Department — uma relação atualizada pelo governo americano constantemente com pessoas do mundo inteiro que devem ter suas relações com os EUA restringidas por envolvimento em atos ilícitos.

NEVES negou ter qualquer conhecimento do sistema Drousys ou atividades de seus colegas executivos.

Ele disse que a filial americana, sob seu comando, “conduzia negócios exclusivamente para clientes nos Estados Unidos”, acrescentando: “Eu não tinha autoridade, entrada ou envolvimento em atividades específicas relacionadas a quaisquer operações em outros países”.




[1] O Aeroporto de Miami é uma das obras de grande escala conduzidas pela ODEBRECHT nos Estados Unidos Foto: DigitalGlobe/ScapeWare3d / DigitalGlobe / Getty Images



[2] O estádio de Futebol Americano da Flórida International University também foi construído pela ODEBRECHT Foto: Joel Auerbach / Getty Images



[3] A renovação do espaço, que aconteceu em 2007, custou US$ 54 milhões. O estádio tem capacidade de receber até 20 mil espectadores Foto: Marc Serota / Getty Images



[4] Fachada da Arena American Airlines, em Miami. A ODEBRECHT foi uma das empreiteiras envolvidas na construção do estádio, que custou o equivalente a US$ 320 milhões/ Foto: Jerry Driendl / Getty Images



[5] A arena multiuso pode receber até 19 mil espectadores em jogos de basquete. Ela é casa do time Miami Heats, que disputa a NBA. Na foto de 2014, Le Bron James, então atleta do Heats, aparece jogando contra o time do Indiana Pacers Foto: Mike Ehrmann / Getty Images



[6] Expansão do aeroporto internacional de Fort Lauderdale-Hollywood, na Flórida. A ODEBRECHT foi uma das participantes do projeto, sendo responsável pelo aumento das pistas de decolagem Foto: Michele Sandberg / Corbis via Getty Images




BRIBERY DIVISION é uma investigação transnacional coordenada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), que contou com a participação de 50 jornalistas de dez países em torno do Setor de Operações Estruturadas, o departamento de propina da ODEBRECHT. No Brasil, as reportagens foram feitas por jornalistas de ÉPOCA e do site Poder 360.

(Participaram do projeto os jornalistas Nathália Pase Letícia Chagas, Tiago Mali, Fernando Rodrigues, André de Souza, Andersson Boscán, Mónica Velasquez, Alicia Ortega Hasbún, Romina Mella Pardo, Mónica Almeida, Emilia Diaz-Struck, Dean Starkman, Tom Stites, Joe Hillhouse, Richard H.P. Sia, Fergus Shiel, Margot Williams, Delphine Reuter, Mary Triny Zea, Joseph Poliszuk, Milagros Salazar, Gustavo Gorriti, Ben Wieder, Kevin Hall, Jimmy Alvarado, Amy Wilson-Chapman e Hamish Boland-Rudder, entre outros.)



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RONALD DE ALMEIDA SILVA
Rio de Janeiro, RJ, 02jun1947; reside em São Luís, MA, Brasil desde 1976.
Arquiteto Urbanista FAU-UFRJ 1969-1972.
Especialização em Desenho Urbano e Planejamento Regional (Universidade de Edimburgo, Escócia, 1981-83).
Registro profissional (1972-2012 = 40 anos) CREA-RJ 21.900-D
Registro profissional (2013 em diante) CAU-BR A.107.150-5
Ouvidor Nacional das Competições da CBF (2003-2012)
Inspetor do GT e da CNIE - Comissão Nacional de Inspeção de Estádios da CBF (2004-2012)
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