Tragédia que [matou 21 pessoas] em
Alcântara faz dez anos [2013] e Brasil ainda sonha em lançar foguete
[22ago2013]
Ø Em 22 de agosto de 2003, VLS deu partida antecipada e matou 21
homens.
Ø Novo foguete completo, em sua quarta versão, deve ser lançado em
2017.
Fonte:
Rede GLOBO; Luna D'Alama; Portal G1, em São Paulo; 22/08/2013 06h00 -
Atualizado em 26/08/2013 15h48; *Colaborou
Renato Ferezim, do G1 Vale do Paraíba e Região
Acesso
RAS 2018-06-29
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Imagem
de arquivo do dia 25 de agosto de 2003 mostra os escombros da torre de
lançamento do VLS em Alcântara, no Maranhão (Foto: Ed Ferreira/Estadão
Conteúdo)
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[1] [TRAGÉDIA
NO CLA]
- Uma tragédia que matou 21
profissionais civis no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, e
adiou os projetos do programa espacial brasileiro completa dez anos nesta
quinta-feira (22ago2013). No dia 22
de agosto de 2003, às 13h26, o foguete Veículo Lançador de Satélites (VLS) foi acionado antes do
tempo e ficou pronto para a partida (veja abaixo o vídeo com imagens das
câmeras de segurança que gravaram o momento do acidente).
- Ainda faltavam, porém, três
dias para o lançamento do protótipo, o terceiro desse foguete (V03), e
toda a estrutura em volta dele continuava montada. Com a ignição prematura
do VLS – que tinha 21 metros de altura e colocaria em órbita dois
satélites de observação terrestre –, a torre acabou explodindo e matando
os homens que trabalhavam ali.
- Segundo o relatório final de
investigação, concluído pela Aeronáutica em fevereiro de 2004, houve um
"acionamento intempestivo" (súbito) de um dos quatro motores do
VLS, provocado por uma pequena peça que ligava o motor. Mas até hoje não
se sabe por que esse detonador disparou, embora duas hipóteses tenham sido
levantadas: corrente elétrica ou descarga eletrostática (transferência de
energia por contato entre dois corpos).
- A comissão de investigação
descartou a possibilidade de sabotagem, de grosseira falha humana ou de
interferência meteorológica, mas apontou "falhas latentes" e
"degradação das condições de trabalho e segurança". Esses pontos
de fragilidade estavam ligados à segurança em terra (as saídas de
emergência, por exemplo, levavam para dentro da própria torre de
lançamento) e de voo, à perda de pessoal tecnicamente qualificado e à
falta de contratações, à defasagem salarial e de recursos financeiros, à
sobrecarga de trabalho e ao estresse por desgaste físico e mental dos
operadores.
- De acordo com o texto, "identificou-se
uma expressiva defasagem entre os recursos humanos e materiais previstos
como necessários ao projeto e os efetivamente disponíveis".
Testemunhas ouvidas na época informaram que não sabiam que os motores de
arranque do foguete haviam sido instalados antes do previsto. Elas
ignoravam, portanto, o perigo que corriam, e algumas chegaram a reclamar
de levar choque ao tocar no corpo do VLS.
- Na opinião do presidente da Associação Aeroespacial Brasileira
(AAB), AYDANO CARLEIAL, o
desastre não foi uma indicação de falta de capacidade técnica brasileira,
mas de ausência de organização e método, pois o processo foi feito com
pressa e de forma improvisada, o que aumentou ainda mais os riscos.
- "O grande problema foi a
perda humana. A paralisação do programa espacial ocorreu mais pela
comoção, pela falta de reação, pelo fato de as promessas não terem sido
cumpridas", avalia CARLEIAL, que é engenheiro eletrônico formado pelo Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e trabalhou durante anos no Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), responsável por fabricar os
satélites brasileiros.
- Na visão do major-brigadeiro HUGO PIVA, um pioneiro do nosso
programa espacial, a falta de verba prejudicou seu avanço. Até 1987,
quando houve uma redução do investimento, os foguetes aprovados para voar
não falharam, aponta.
- "Depois disso, lançaram
três: todos falharam, um deles causando a maior tragédia da
história", destaca PIVA, que já não trabalhava no projeto do VLS em 2003.
[2] INDENIZAÇÃO
ÀS FAMÍLIAS
- As 21 vítimas do acidente
foram enterradas com honras militares, na presença do então presidente LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, e as
famílias receberam uma indenização de R$ 100 mil do Ministério da Defesa,
além de pensões mensais proporcionais ao salário de cada um dos homens
mortos.
- Alguns parentes também
entraram na Justiça para receber um valor compatível com o que as vítimas
ganhariam ao longo de toda a vida profissional, mas o processo ainda se
arrasta nos tribunais. Além disso, o Ministério do Planejamento está
questionando as gratificações pagas nas pensões, e há a possibilidade de
as famílias terem o valor reduzido ou até terem de devolver parte do que
receberam.
- O engenheiro de computação ARTUR VAREJÃO, de 28 anos, filho
do engenheiro mecânico CESAR
AUGUSTO COSTALONGA VAREJÃO, que morreu em Alcântara, lembra que havia
falado com o pai um dia antes da tragédia e que soube do acidente por uma
funcionária da base, pela internet. O anúncio oficial da tragédia à
família só veio às 22h – quase 9h após a explosão.
- "Meu pai nem ia lá nesse
dia, porque já estava tudo pronto. Comecei a telefonar, mas celular
raramente funcionava lá, então não estranhei. Aí começou a passar na TV,
eram 14h quando fiquei sabendo, deu plantão na Globo, só estávamos minha
mãe e eu em casa", recorda ARTUR, que era muito próximo do pai e chegou a trabalhar um
ano com ele no Inpe.
- "Meu pai estava no
projeto há 25 anos, era um entusiasta, mas sempre foi muito realista,
sabia dos perigos, da falta de recursos, da precariedade. Só que parecia
que não tinha medo, estava empolgado, era um projeto de vida também.
Aliás, todos eram técnicos ótimos e trabalhavam meio que por
ideologia", diz ARTUR.
- O jovem chegou a acompanhar
um teste de ignição de um propulsor de primeiro estágio do VLS, quando
perguntou: "E se isso explode?" O pai respondeu que não
sobraria nem um fio de cabelo, mas que até então nunca havia acontecido
nada.
- "Minha desilusão maior é
com o governo, que nunca nos ligou ou enviou um psicólogo. Dez anos é
muito tempo para os familiares e a sociedade terem uma resposta, uma
satisfação", afirma ARTUR.
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Nova
sala de controle de lançamento em Alcântara, com sistemas digitais (Foto:
Agência Força Aérea)
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Major-brigadeiro
Hugo Piva, pioneiro do programa espacial brasileiro (Foto: Carlos Santos/G1)
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[3] MUDANÇAS
EXIGIDAS
- Entre as várias recomendações
feitas pelo relatório de investigação após o acidente em Alcântara, foi pedida
a modernização da plataforma de lançamento de foguetes. A atual conta com
uma torre de apoio, para fuga de funcionários em caso de emergência.
- Os profissionais agora têm
três opções de saída: uma escada, um poste como o dos bombeiros e um tubo
de tecido em que a pessoa se joga e escorrega até embaixo.
- Segundo o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB),
JOSÉ RAIMUNDO BRAGA COELHO, a
nova torre permite uma fuga rápida, sem riscos, e tudo o que havia sido
perdido foi recuperado e modernizado.
- De acordo com ele, o acidente
de 2003 permitiu que o programa espacial brasileiro revisasse todas as
atividades operacionais desenvolvidas na base de Alcântara, a
infraestrutura de solo para dar suporte aos lançamentos, o próprio VLS e
seus sistemas.
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Visão
em grande angular da nova torre, com segurança reforçada (Foto: Agência Força
Aérea)
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Imagem
externa da nova Torre Móvel de integração (TMI) em Alcântara (Foto: Agência
Força Aérea)
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- A previsão da AEB é que um
voo-teste do VLS seja feito em 2014, com um segundo lançamento estipulado
para 2016, que deve levar uma carga útil contendo um experimento
tecnológico. O foguete completo, em sua quarta versão (V04), deve ser
lançado em 2017, já com um pequeno satélite a bordo.
- O primeiro protótipo do VLS
(V01) foi lançado em dezembro de 1997 e o segundo (V02), em dezembro de
1999 – mas ambos falharam e foram destruídos na partida.
[4] OBJETIVOS
DO PROGRAMA ESPACIAL
- Coelho explica que os
principais objetivos do programa espacial brasileiro são fazer com que o
país tenha um centro de lançamentos em operação, foguetes capazes de
colocar satélites nacionais em órbita e a possibilidade de vender esses
serviços a outros países.
- Para isso, a AEB lançou no
ano passado a quarta edição do Programa Nacional de Atividades Espaciais
(Pnae), que substitui a de 2005 e vale até 2021. Segundo o texto, essa
versão é mais realista que as anteriores, pois "busca o caminho da
realização concreta e produtiva", e não apenas sonha.
- "Esse é um planejamento
de longo prazo, ainda carece de ajustes, que serão feitos anualmente. Vejo
a nossa situação atual com certa tristeza, gostaria de ver um satélite
lançado por mês ou pelo menos seis por ano", afirma o presidente da
AEB.
- Ele espera que o orçamento da
agência chegue a quase R$ 500 milhões em 2014.
[5]
PROJETOS VLS E CYCLONE
- O programa espacial
brasileiro se divide atualmente em dois grandes projetos para lançar
foguetes: o VLS, coordenado pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE),
subordinado ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA),
do Ministério da Defesa; e o Alcântara Cyclone Space (ACS), uma empresa
pública binacional (brasileira e ucraniana) criada em 2006 para lançar
satélites por meio do foguete ucraniano Cyclone-4, a partir da base de
Alcântara.
- Para AYDANO CARLEIAL, da AAB, a parceria com a Ucrânia não tem se
justificado economicamente e, no papel, o acordo também não prevê
transferência de tecnologia.
- O grande problema foi a perda
humana. A paralisação do programa espacial ocorreu mais pela comoção, pela
falta de reação, pelo fato de as promessas não terem sido cumpridas"
- AYDANO
CARLEIAL, presidente da Associação Aeroespacial
Brasileira; "As informações que temos na AAB são de que essa empresa não
está nada bem, e as perspectivas de sucesso comercial em lançamentos
futuros não seriam promissoras. Assim, fica claro que não vale a pena o
Brasil gastar recursos vultosos nesse negócio, como vem fazendo",
acredita Carleial.
- No caso do VLS, segundo o
tenente-coronel ALBERTO WALTER DA
SILVA MELLO JUNIOR, gerente do projeto desde setembro de 2011, o
foguete sofreu uma revisão completa após o acidente de 2003, teve um
aprimoramento nos sistemas de segurança e passou a ser certificado pelo Instituto de Fomento e Coordenação
Industrial (IFI).
- "As redes elétricas e
pirotécnicas do veículo foram todas modernizadas. Há vários dispositivos
de segurança novos, e o sistema da plataforma de lançamento também
interrompe eventuais descargas elétricas ou ignição inadvertida",
enumera.
- MELLO
JUNIOR destaca que foram listados todos os
fatores que poderiam ter contribuído para o acidente em Alcântara, e cada
uma dessas possíveis causas foi eliminada.
- Para o gerente, o VLS é o
carro-chefe do programa espacial brasileiro e gera conhecimento para
capacitar o país na conquista do espaço. Além desse projeto, há parcerias
com a Alemanha para produção de foguetes e com a China para fabricação de
satélites.
- "Hoje o Brasil é o 11º
no índice de competitividade espacial, segundo o Relatório Futron, uma
agência independente que mede o nível dos países nessa área. E o VLS é de
extrema importância para nos qualificar na concorrência internacional. Se
você não desenvolver, ninguém te ensina", analisa
MELLO JUNIOR.
- Na visão do tenente-coronel,
o programa espacial não se trata simplesmente de lançar um VLS com
satélites científicos, meteorológicos, de defesa ou observação da Terra,
mas desenvolver tecnologia para a indústria.
- "Mais de 50 empresas
trabalham hoje no projeto do VLS. Desenvolvemos aço de alta resistência
que tem sido usado em trens de pouso de aviões, criamos pás para turbinas
de energia eólica, fizemos um sistema de navegação de aeronaves que
informa a posição delas e para onde devem ir, processamos combustível
sólido, entre outras coisas. Nosso objetivo é desenvolver o país", diz MELLO JUNIOR.
- "Só vamos ter autonomia
completa de comunicação quando tivermos satélites e condições de
lançá-los, senão vamos continuar à mercê da disponibilidade e da
conveniência de outros países. A partir do momento em que o VLS for
lançado, vamos mudar de patamar na comunidade internacional e melhorar
nosso índice de competitividade", avalia
o gerente do projeto, que tem um orçamento anual de R$ 15 milhões. Quando
funcionar efetivamente, será capaz de pôr em órbita um satélite com até
250 kg, a 750 km de altitude.
[6]
FALTA DE COORDENAÇÃO GERAL
- Para AYDANO CARLEIAL, presidente da AAB, a participação de
diferentes instituições civis e militares (DCTA, IAE, Inpe e AEB) no
programa espacial e o envolvimento de dois ministérios diferentes (da
Defesa e da Ciência, Tecnologia e Inovação) não é ruim, mas a falta de uma
coordenação geral prejudica sua eficácia.
- Ele acredita que precisa
haver mais clareza e consistência com os objetivos históricos do Brasil na
área espacial, como a capacidade de fabricar e lançar satélites de
interesse nacional, e o acesso ao espaço por meio de foguetes brasileiros,
lançados do nosso próprio território.
- "Essas metas
estratégicas são as mesmas há 30 anos. Por duas décadas, não houve
projetos para dar continuidade ao programa. Vários planos foram
concebidos, mas tudo para o futuro. Não considero a falta de recursos o
maior problema, mas a gestão, a organização institucional, a forma de
cobrar resultados. Os projetos precisam ter começo, meio e fim, serem algo
mais responsável", diz.
- CARLEIAL lembra
que, até hoje, o Brasil só colocou em órbita dois satélites simples e
pequenos 100% nacionais, lançados em 1993 e 1998, respectivamente. O SCD-1
e o SCD-2 recolhem e transmitem dados ambientais (como temperatura,
qualidade da água e características do solo), mas não processam nem
interpretam nada.
- Em desenvolvimento, o país
tem o satélite Amazônia, que deve monitorar a região amazônica e está
previsto para ser lançado em 2015. Há ainda o satélite Lattes (que deve
ser lançado em 2017 para monitorar as condições atmosféricas da Terra e
fazer uma varredura no céu em busca de fontes de raio X), o Sabiá-Mar
(parceria entre Brasil e Argentina para monitorar o território marinho das
duas costas, que deve ser lançado em 2018) e o Cbers-3 (sigla em inglês
para Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, uma parceria com a
China que deve ter seu lançamento até o fim deste ano; os outros dois
anteriores já foram lançados).
[7] AS 21 VÍTIMAS
DO ACIDENTE DO CLA – CENTRO DE LANÇAMENTO DE ALCÂNTARA EM 22/08/2003:
- Amintas
Rocha Brito
- Antonio
Sergio Cezarini
- Carlos
Alberto Pedrini
- Cesar
Augusto Varejão
- Daniel
Faria Gonçalves
- Eliseu
Reinaldo Vieira
- Gil
Cesar Baptista Marques
- Gines
Ananias Garcia
- Jonas
Barbosa Filho
- José
Aparecido Pinheiro
- José
Eduardo de Almeida
- José
Eduardo Pereira II
- José
Pedro Claro da Silva
- Luis
Primon de Araújo
- Mario
Cesar de Freitas Levy
- Massanobu
Shimabukuro
- Mauricio
Biella Valle
- Roberto
Tadashi Seguchi
- Rodolfo
Donizetti de Oliveira
- Sidney
Aparecido de Moraes
- Walter
Pereira Junior
SAIBA MAIS
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Imagem
em grande angular da nova plataforma do VLS na base de Alcântara (Foto:
Agência Força Aérea)
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SINOPSE DA TRAGÉDIA NO CLA: by G1
|
22/08/2013
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