LARRY NASSAR. A história do monstro que abusou de centenas de
atletas durante mais de 20 anos!
[21jan2018]
Nota RAS: texto em português de Portugal. Ex: rapariga significa
moça, menina e não cabe o sentido que tem no Brasil, como sinônimo de prostituta.
Ø Foi durante
mais de 20 anos médico da seleção americana de ginástica, hoje enfrenta quase
150 [158] acusações de abuso sexual.
Ø Entre 89
testemunhos chocantes sobra a pergunta: quem "protegeu" Larry Nassar?
[LAWRENCE G. NASSAR]
Fonte: Blog Observador; Portugal;
autor: Bruno Roseiro; 21
Janeiro 2018
http://observador.pt/especiais/larry-nassar-a-historia-do-monstro-que-abusou-de-centenas-de-atletas-durante-mais-de-20-anos/
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[1] [SUICÍDIO DE VÍTIMA]
CHELSEA MARKHAM tinha apenas dez anos e o sonho de tornar-se
numa ginasta de topo. Dez anos. Foi com essa idade que visitou pela primeira
vez LARRY NASSAR, na altura um guru
que todas as meninas de dez anos com o sonho de serem ginastas de topo queriam
visitar. Quando saiu, desfez-se em lágrimas com a mãe, DONNA.
E contou que o médico lhe tinha colocado os dedos sem luvas
na vagina, ao mesmo tempo que a fez prometer que nunca diria nada a ninguém
porque isso poderia prejudicar o seu sonho.
Antes dos 14, deixou a ginástica;
depois, deixou de ter sonhos. Entrou numa espiral de depressão. Teve
vários problemas com drogas. Suicidou-se em 2009, com 23 anos. E Donna, a mãe
que só queria que Chelsea atingisse o seu sonho, ainda hoje não se consegue
perdoar.
“Sinto falta dela todos os dias. E tudo começou com ele”.
Donna Markhma
[2] [O INÍCIO DO JULGAMENTO]
O julgamento do antigo médico da
seleção de ginástica americana, entre outros cargos, tem sido um brutal
desfilar de testemunhos (89) de meninas agora quase todas adultas que tinham um
sonho.
O sonho que alguém roubou. Hoje, em vez desse sonho, sobram os
pesadelos. Há casos de depressão, há casos de stress pós-traumático, há casos
de ataque de pânico, há casos de tentativas de suicídio (pensado ou
consumado). Há inclusivamente o caso de uma ex-atleta que se decidiu
cortar. “Queria ter o mesmo aspeto feio por fora do que tinha por dentro”,
contou.
NASSAR, de 54 anos, o monstro que no mês passado [07.dez.2017] já
foi condenado a 60 anos (25 anos no mínimo de cadeia efetiva, como
ficou estipulado) por posse de
pornografia infantil, decidiu escrever uma carta à juíza ROSEMARIE AQUILINA no final do segundo
dia de audições em Lansing, Michigan.
“Para os envolvidos, sinto muito. Tudo o que
aconteceu foi um fósforo que se converteu num incêndio florestal sem controlo.
Rezo o rosário todos os dias a pedir perdão. Quero que as feridas que abri
sarem, é hora”, declarou, com um pedido – ser dispensado de ouvir os
testemunhos que se seguiam.
“Não sei se vou conseguir ouvir mais um dia
de declarações, é um circo para os meios de comunicação e não sei se consigo
aguentar”, destacou. A resposta às seis páginas escritas à mão em
folhas com linhas sem espaçamento não poderia ter sido mais contundente.
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Juíza
Rosemarie Aquilina olha para a imagem de Larry Nassar, que baixou a cabeça em
todos os testemunhos
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“Tenho de dizer que não vale o
papel onde está escrito… Pode achar severo estar aqui a ouvir, mas nada é tão
severo como aquilo que as suas vítimas suportaram durante centenas de horas nas
suas mãos. Passar quatro ou cinco dias a ouvir o que têm para dizer agora
é menor, considerando as horas de prazer que teve às custas dela, arruinando as
vidas delas”, atirou Rosemarie Aquilina, como resume o The Lansing State Journal, que tem acompanhado o julgamento
ao pormenor.
E NASSAR ouviu 89
depoimentos entre quase 150 acusações. Depoimentos como o de KYLE STEPHENS, hoje com 26 anos,
descrita inicialmente como a “vítima ZA”.
KYLE costumava
passar os domingos em família com NASSAR.
As mães costumavam preparar o almoço, o médico brincava com as crianças. Um
dia, a jogar às escondidas, levou KYLE
para a sala das caldeiras e abusou sexualmente dela. Tinha seis anos. E esteve
cinco anos a sofrer quase semanalmente desses abusos, até contar aos pais. “É
impossível”, pensaram os pais. Além de ser amigo da família, LARRY era uma das personalidades mais
reputadas no desporto americano e já tinha estado, por exemplo, nos Jogos
Olímpicos de 1996.
Confirmou-se: era mesmo tudo verdade. A mãe chorou de forma
convulsiva durante o testemunho; o pai suicidou-se em 2016.
"Talvez já tenha percebido agora, mas as
raparigas pequenas não ficam pequenas para sempre e transformaram-se em
mulheres fortes que vieram para destruir o seu mundo", atirou KYLE
STEPHENS, filha de um casal amigo de NASSAR e vítima de abusos a partir dos
seis anos.
“LARRY NASSAR colocou-se entre mim
e a minha família e aproveitou a vantagem de ser amigo da família para nos
quebrar”, sublinhou, citada pela Reuters, antes de falar diretamente para o médico no banco
dos réus (que nunca olhou para KYLE). “Talvez já tenha percebido agora, mas as
raparigas pequenas não ficam pequenas para sempre e transformaram-se em mulheres
fortes que vieram para destruir o seu mundo”, concluiu.
[3] OS TESTEMUNHOS QUE CHOCARAM O PAÍS E AS
ACUSAÇÕES A QUEM FECHOU OS OLHOS
No mesmo ano em que KYLE STEPHENS disse aos pais o que se
passava naquela sala das caldeiras, uma atleta estudante na Universidade de
Michigan State revelou a sua preocupação a vários técnicos e preparadores sobre
LARRY NASSAR. Também aqui, ninguém
fez nada. Hoje, 20 anos depois, muitos dos 89 testemunhos ouvidos em quatro
dias de audiências podiam ter sido evitados. Não foram. E por cada depoimento,
há um choque que abala a sociedade norte-americana. As palavras, aquelas
palavras que podiam não ser ouvidas, tornam-se cortantes.
[Veja no vídeo alguns dos
momentos mais marcantes do julgamento]
O médico nunca olhou para as
vítimas durante as audições. E raramente teve expressões faciais ou reações
diferentes do normal. JENNIFER
ROOD-BEDFORD, uma jogadora de voleibol da Universidade de Michigan State no
início dos anos 2000 que admitiu ter pensado num plano para lhe dar um pontapé
na cara se alguma vez se voltasse a meter com ela, foi uma exceção: durante
alguns minutos, LARRY NASSAR teve um
lenço na mão para secar as lágrimas.
“Dr. Nassar, quero que saiba que
rezo por si, acredite que o meu perdão é sincero. Há uma esperança que
transcende tudo o que possamos compreender. Pode escolher ser um homem
melhor e uma pessoa diferente, procure-o e vai encontrar isso”, referiu, citada pelo Washington Post, naquele que foi o único perdão ouvido na
sala.
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Larry
Nassar levantou os olhos e chorou num único depoimento, o de Jennifer
Rood-Bedford
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JADE CAPUA, de 17 anos, que viajou de Illinois com os pais, revelou os
episódios de abusos desde que entrou pela primeira vez no gabinete de NASSAR, aos 13. “Roubou-me
a inocência, a privacidade, a segurança e a confiança”, disse,
antes de pedir que “seja feita justiça”. “Deixou-me uma cicatriz mental que
infelizmente será algo que terei sempre. No entanto, acredito que as feridas
abertas transformam-se em cicatrizes e que essas cicatrizes serão história para
partilhar e curar as feridas”, completou, citada pela Newsweek.
ALEXIS MOORE foi ouvida pouco depois. “Traiu
a minha confiança, aproveitou-se da minha juventude e abusou de mim centena de
vezes. Tinha de apertar o maxilar quando ouvia estranhos comentarem como
era possível que se safasse depois de tudo o que fez. Mas não podem ser as
trevas a guiarem as nossas trevas, só a luz”, referiu, segundo o New York Post.
As palavras da ex-atleta CHELSEA KROLL também deixou a sala em
choque. “As ginastas são treinadas para aguentarem a dor, para não se queixarem
e obedecerem, e ele utilizava essa cultura para executar estes asquerosos
abusos. Uma vez, quando tinha 16 anos, introduziu os dedos sem luvas na minha
vagina durante 30 minutos fazendo movimentos circulares. Ao acabar,
agradeceu a confiança nele. Senti-me confusa e envergonhada. Pensava ‘É o LARRY,
não me faria nada de mal’. Dessa vez era para as minhas dores nas costas,
outra vez voltou ao tratamento especial 45 minutos para o que era suposto ser
uma dor na perna. Aconteceu 20 vezes”, cita o El País.
“Não conseguia perceber o que se
passava de errado comigo, porque estava a lutar tanto, porque não tinha orgulho
nos meus feitos. Tenho zero autoconfiança. Você é um demónio”, acusou JAMIE DANTZSCHER, bronze nos Jogos de
Sidney, em 2000, que travou batalhas contra a anorexia, a bulimia e uma
depressão que a obrigou a estar internada por tentativa de suicídio, num
depoimento destacado pela Sports Illustrated.
No quarto dia da sessão, JORDYN WIEBER, mais uma das ‘Fierce Five’ (a equipa americana que
conquistou o ouro nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012), juntou-se a ALY
RAISMAN, MCKAYLA MARONEY e GABBY
DOUGLAS (e SIMONE
BILES, a grande figura nos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro) e admitiu,
em tribunal, também ter sido abusada. Desde os 14 anos, quando sofreu uma
lesão. “As nossas cabeças só pensavam na mesma coisa em Londres: quem seria o
médico que enviariam para nos ajudar? O médico que abusava de nós. Não sabia
que eram tudo técnicas que tinha preparado para me manipular. E ninguém nos
protegeu! Os meus pais confiavam na ginástica dos Estados Unidos e em LARRY
NASSAR e fomos traídas por ambos. Mas apesar de ser uma vítima, não vivo nem
nunca viverei a minha como uma”, sublinhou em lágrimas, de acordo
com a NBC.
Este é um ponto importante e que
promete tratar-se de um caso longe de resumir-se à figura do “monstro” Larry
Nassar. TIFFANY THOMAS LÓPEZ,
uma jogadora de softbol da Universidade de Michigan State, queixou-se a vários
treinadores, queixou-se às autoridades e nunca ninguém fez nada (“Todos
os anos só pensava se haveria outra Tiffany Thomas”, confidenciou).
BRIANNE RANDALL disse ter denunciado o caso à polícia mas
ouviu como resposta que devia ser uma confusão. Amanda Thomashow apresentou
queixa e nada foi feito (“A Universidade de Michigan State, que amava e em quem
confiava, teve a audácia de me dizer que não sabia a diferença entre abuso
sexual e procedimentos médicos”, reforçou).
“STEVE PENNY, o presidente da Federação Americana de Ginástica, é um
cobarde. JOHN GEDDERT, do Twitstars
Gym, é uma desgraça. KATHIE KLAGES,
antiga responsável pela ginástica artística da Universidade Michigan State,
criou um ambiente onde as vítimas tinham medo de falar”, acusou LINDSEY LEMKE.
Todas as 89 testemunhas que
falaram nos primeiros quatro dias de audições têm o mesmo “peso”, digamos
assim. Mas, como já se tinha percebido nas declarações anteriores quando
assumiram ter sido alvo de abusos, as “meninas bonitas” dos Estados Unidos por
causa das medalhas olímpicas conseguidas estão a aproveitar esse estatuto para
colocar em causa muito mais do que os atos hediondos de LARRY NASSAR.
E querem provocar um terramoto na
ginástica e no desporto nacional, para que casos como estes nunca mais
aconteçam ou sejam escondidos. Exemplos paradigmáticos: MCKAYLA MARONEY, que ganhou um ouro e
uma prata em 2012, e ALY RAISMAN,
uma espécie de “líder” que conquistou dois ouros e um bronze em 2012 e um ouro
e duas pratas em 2016.
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As "Fierce Five", campeãs olímpicas em 2012: Kyla Ross,
McKayla Maroney, Aly Raisman, Jordyn Wieber e Gabrielle Douglas
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“Pensava que ia morrer”, assumiu
MCKAYLA MARONEY, num discurso
reproduzido na íntegra pela revista Time. “O doutor Nassar não era um médico; é, foi e
será um abusador de crianças, um monstro de ser humano. Fim da história! Abusou
da minha confiança, abusou do meu corpo e deixou cicatrizes na minha cabeça que
talvez nunca desapareçam. Mas tenho a esperança que as autoridades não fechem o
livro após ser condenado. Da Federação de Ginástica à Universidade de Michigan
State ao Comité Olímpico, todos devem ser responsabilizados por terem permitido
que isto acontecesse sem fazerem nada para o impedir”, frisou.
“LARRY, percebes agora que nós,
este grupo de mulheres que abusaste sem coração ao longo de todo este tempo,
somos agora uma força e tu não és nada. Devias ter sido preso há muito, muito
tempo. O facto é que não sabemos quantas pessoas conseguiste transformar em
vítimas e o que era feito ou não era feito para continuares a fazer isso. Estou
aqui para que vejas que reconquistei a minha força, que não sou uma vítima mas
sim uma sobrevivente. Já sabes que vais para um lugar onde não conseguirás
fazer mal a ninguém mais nenhuma vez, mas estou aqui para te dizer que não
descansarei até que todos os mínimos vestígios da tua influência no desporto
sejam destruídos. Se queremos acreditar numa mudança, devemos primeiro perceber
o problema e tudo o que contribuiu para ele. Agora não é tempo de falsas
garantias. Precisamos de uma investigação independente ao que realmente
aconteceu, ao que correu mal e a como pode ser evitado no futuro”, defendeu
ALY RAISMAN, nas frases fortes
destacadas pela CNN.
"Estou aqui para que vejas que
reconquistei a minha força, que não sou uma vítima mas sim uma sobrevivente. Já
sabes que vais para um lugar onde não conseguirás fazer mal a ninguém mais
nenhuma vez, mas estou aqui para te dizer que não descansarei até que todos os
mínimos vestígios da tua influência no desporto sejam destruídos",
exclamou a bicampeã olímpica de equipas ALY
RAISMAN.
“O meu sonho é que, um dia, todos
saibamos o que significa as palavras #MeToo. Mas que sejam educadas e capazes
de se protegerem de predadores como o Larry para que nunca, nunca, nunca mais
tenhamos de ouvir as palavras ‘me too’”, concluiu, num final que
motivou, pela primeira vez, uma salva de palmas após um testemunho.
[4] QUEM É LARRY NASSAR E COMO
UM EMAIL MUDOU O PROCESSO
“Ele tem tudo o que é necessário
para ser um incrível líder. Tem a personalidade. Tem a habilidade. Tem o
conhecimento. E está usar tudo isso para se alimentar das pessoas. Que
desperdício…”, comentou durante este processo RACHAEL DENHOLLANDER. Foi dela que surgiu a primeira queixa sobre LARRY NASSAR, em [agosto] 2016.
Com 54 anos, casado até 2017,
católico e com três filhas, o médico que terminou a licenciatura em 1985 na Universidade
de Michigan com especialização em cinesiologia
(análise dos movimentos do corpo humano) começou por trabalhar com equipas de
futebol americano e atletismo, já depois de um estágio numa escola em Detroit
enquanto se formava. Fez um mestrado, tirou outra especialização em osteopatia,
mas pelo meio começou a trabalhar com John e Kathryn Geddert, que abriram o Twitstars USA Gymnastics Club, em
Michigan, no ano de 1988. Uma instalação que, ainda antes do final deste
processo, perdeu ligação com a Federação de Ginástica.
A primeira vez que uma atleta se
queixou foi em 1994, mas o facto de ter subido a coordenador médico da
equipa de ginástica dos Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de Atlanta, dois
anos depois, “abafou” esse caso. Ninguém quis saber. Ou melhor, ninguém quis
acreditar. Em 1998 surgiram mais dois casos supracitados. Em 2000, é RACHAEL DENHOLLANDER, com 15 anos, que
se queixa de ter sido abusada no tratamento de um problema nas costas.
Rachael
Denhollander quis contar o seu caso ao IndyStar e foi a primeira a acusar
formalmente Nassar
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Nassar era descrito como alguém
simpático e amável, mas a verdade é que teve “tratamentos especiais”, como
descrevia, durante duas décadas e meia. Uma das vítimas diz mesmo que o
método era sempre o mesmo, não interessando a idade, se os pais estavam na sala
ao lado ou se eram famosas.
Entretanto, foi ganhando fama até pelas
promoções que ia recebendo a nível federativo e universitário, convencendo as
atletas que o visitavam que a exigência do desporto e a intensidade de treino
eram exageradas mas que um dia chegariam também aos Jogos Olímpicos. Quando
voltava de uma edição, trazia brindes que depois distribuía para ganhar confiança.
Em 2014, no seguimento de outra
queixa feita por parte de uma antiga estudante, a Universidade de Michigan State decide abrir um inquérito mas é
ilibado das acusações, ao mesmo tempo que sai da coordenação médica mas
fica, a seu pedido, como médico da ginástica artística feminina. Dois anos
depois, foi o início do fim.
A 4 de agosto de 2016, o The
Indianapolis Star (ou Indy Star) publica uma longa reportagem de
investigação chamada Out of Balance, onde eram pela primeira vez denunciados
abusos sexuais no mundo da ginástica do país.
Nesse mesmo dia, o jornal recebeu
um email. “Acabei de ler um artigo intitulado ‘Out of Balance’
publicado no IndyStar. A minha experiência pode não ser relevante para a vossa
investigação, mas escrevo para reportar um incidente…”. Era RACHAEL DENHOLLANDER, que contava os
mais de dez anos de abusos desde os 15 no ginásio onde LARRY NASSAR trabalhava em Michigan.
Uma semana e meia depois, o
advogado JOHN MANLY ligou ao jornal
para dizer que representava a ex-olímpica JAMIE
DANTZSCHER e que ia colocar um processo por suspeitas de conduta do médico.
Mais uma semana, mais um contacto, mais uma queixa: JESSICA HOWARD, campeã nacional de ginástica rítmica.
“Acabei de ler um artigo
intitulado ‘Out of Balance’ publicado no IndyStar. A minha experiência pode não
ser relevante para a vossa investigação, mas escrevo para reportar um
incidente...”. RACHAEL
DENHOLLANDER enviou um email ao jornal e contou o seu caso, a que se
seguiram muitos outros.
A primeira história sobre NASSAR sai a 12 de setembro desse ano,
logo após DENHOLLANDER ter
apresentado queixa criminal contra o médico. Nesse mesmo dia, em entrevista ao IndyStar,
Nassar negou tudo e alegou que os seus métodos estavam a ser mal compreendidos;
coincidência ou não, foi nessa altura que a Universidade de Michigan State o dispensou de qualquer função,
invocando um protocolo que tinha sido definido após a queixa de 2014 onde era
obrigado a usar luvas e ter sempre uma enfermeira no gabinete.
Em novembro, eram já muitas as
queixas, mas o procurador geral de Michigan, BILL SCHUETTE, continuava a dizer uma alarmante frase: “É
apenas a ponta do icebergue”; em dezembro de 2016, LARRY NASSAR vai a tribunal mas por causa de um outro processo
paralelo de pornografia infantil que, no final de 2017, o condenou mesmo a 60 anos de prisão (25 efetivos, no
mínimo), confirmando-se as acusações de que tinha mais de 37 mil imagens no seu
computador.
Nassar, que entretanto tinha
visto a mulher pedir o divórcio e que ficara sem licença médica por três anos,
acabou por ir cedendo e aquilo que descrevia como “métodos mal compreendidos”
acabaram por resultar em confissões em tribunal. Para já, admitiu dez crimes de
abuso sexual, mas o número será ainda bem mais superior quando todos os
restantes processos se começarem a desenrolar em termos jurídicos. E não mais
voltará a sair da prisão. Mas todo este caso que está abalar o desporto nos
Estados Unidos está muito longe de ficar por aqui.
Larry
Nassar tem estado no foco do mundo, mas sobra outra pergunta: mais ninguém
sabia o que se estava a passar?
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No início, e durante muitos (e
longos) anos, questionava-se (sem resposta afirmativa) se haveria vítimas
abusadas por Larry Nassar; a partir de 2016, deu-se a contagem do número total
de vítimas abusadas por Larry Nassar; agora, sem esquecer as vidas
destruídas e as marcas que se perpetuarão, começa a perguntar-se como foi
possível haver vítimas abusadas por Larry Nassar.
E essa é a principal
ilação da semana em que o mundo ficou a conhecer na primeira pessoa anos e anos
a fio de crimes sexuais sem que nada nem ninguém tivessem feito algo para o
evitar.
Nome de batismo: LAWRENCE GERARD NASSAR.
************************************
NOTA
DO EDITOR do Blog Ronald.Arquiteto e do Facebook Ronald Almeida Silva:
As
palavras e números entre [colchetes]; os destaques sublinhados, em negrito
e amarelo
bem como nomes próprios em CAIXA ALTA
e a numeração de parágrafos que
foram introduzidas na presente versão NÃO CONSTAM da edição original deste
documento (artigo; pesquisa; monografia; dissertação; tese ou reportagem).
Esses
adendos ortográficos foram acrescidos meramente com intuito pedagógico de facilitar a leitura, a compreensão e
a captação mnemônica dos fatos mais relevantes do artigo por um espectro mais
amplo de leitores de diferentes formações, sem prejuízo do conteúdo cujo texto
está transcrito na íntegra e na forma da versão original.
O Blog Ronald
Arquiteto e o Facebook RAS
são mídias independentes e 100% sem fins
lucrativos pecuniários. Não tem anunciantes ou apoiadores e nem
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respeitando-se as respectivas autorias e direitos autorais, sempre com base no
espírito e nexo inerentes à legislação brasileira, em especial à LEI-LAI – Lei de Acesso à Informação nº
12.257, de 18nov2011.
O gestor do Blog e da página RAS
no Facebook nunca teve e não tem filiação partidária e nem exerce qualquer tipo
de militância político-partidária ou político-ideológica.
RONALD DE ALMEIDA SILVA
[Rio de
Janeiro, RJ, 02jun1947; reside em São Luís, MA, desde 1976]
Arquiteto Urbanista FAU-UFRJ 1972
Registro profissional CAU-BR A.107.150-5
e-mail: ronald.arquiteto@gmail.com
Blog Ronald.Arquiteto (ronalddealmeidasilva.blogspot.com)
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