quarta-feira, 26 de abril de 2017

[403] CUBA E HAVANA 1959: CORRESPONDÊNCIA ENTRE EDUARDO LAGO E LINO MOREIRA




CUBA E HAVANA 1959
CORRESPONDÊNCIA ENTRE EDUARDO LAGO E LINO MOREIRA

Série do Acervo ARS / Ronald de Almeida Silva
“A história e a vida como elas são; assim caminha a humanidade”
 
Fonte: Site da AML – Academia Maranhense de Letras
Jornal: O Estado do Maranhão
Por: Lino Moreira
http://www.academiamaranhense.org.br/blog/de-novo-cuba/
Acesso RAS em 26abr2017.

[De: Eduardo Lago]

Meu caro imortal Lino Moreira,
Permita-me, como seu amigo e assíduo leitor, um pequeno reparo histórico ao seu artigo de hoje. Em primeiro de janeiro de 1959, após o estouro das garrafas de champagne, Fulgencio Batista abandona com a família e Ministros de Estado, discretamente, os iluminados salões do Palácio Presidencial onde se realizava o tradicional réveillon e dirigem-se ao aeroporto de Rancho Boyeros onde 2 ou 3 quadrimotores Bristoll Britania, da Cubana de Aviación, com joias e alguns milhões de dólares, os aguardavam para conduzi-los rumo a Santo Domingo.
Os outros dirigentes seguiram para Miami ou asilaram-se em embaixadas. Havana ficou sem governo.
O dirigente estudantil Rolando Cubela, chefe do DR (Diretório Revolucionário constituído de estudantes, estes, sim, os verdadeiros heróis, pois eram os responsáveis pela guerrilha urbana e eram presos e torturados pela temida polícia de Batista, enquanto a turma do Movimento 26 de Julho ficava nas montanhas, fazendo emboscadas nas estradas), ocupou o Palácio Presidencial e a Vila Militar (Campo Columbia) sem um tiro.
Somente no terceiro dia, Che Guevara entra em Havana e recebe das mãos dos estudantes do DR a Vila Militar. Fidel, no dia 2 de janeiro, proclamara em Santiago de Cuba a vitória da Revolução e somente no dia 8 entra em Havana e encontra a cidade ocupada pelo Cubelas em nome do DR e pelo Che em nome do Movimento 26 de Julho.
Foi na Embaixada do Brasil, onde havia ido visitar as duas irmãs, que lá viveram asiladas por muitos meses, e agradecer o apoio do Brasil, na pessoa, principalmente dos Leitão da Cunha, é que Fidel, externando o seu mal estar com a dupla situação militar, ouviu da Embaixatriz e do Embaixador o conselho de que aquela garotada não iria causar problema algum, desde que desse uma patente de comandante para o principal dirigente e patentes menores, de major e capitão, para os outros.
Assim, então, surgiu o novo exército revolucionário, com a absorção dos dois movimentos.
Forte abraço, Eduardo

[Resposta Lino Moreira]
Aí está mensagem do meu amigo Eduardo Lago, sobre engano em minha última crônica, de 24 de fevereiro. Eu disse que Fidel havia entrado em Havana em 1º de janeiro. Errado. Como ele esclarece, foi no dia 8, quando os membros do DR, já haviam – esses, sim, no 1º dia do ano -, controlado a cidade.
Poucas pessoas estarão tão bem qualificadas quanto ele para falar sobre a Revolução Cubana e corrigir escorregões como o meu. Ele trabalhou em Havana como funcionário do Itamarati. O jovem de então, muito antes de se tornar o empresário de sucesso que fabricaria Coca-Cola aqui, chegou à cidade no início de março de 1959, somente dois meses após a queda de Batista. Foi testemunha de primeira mão de acontecimentos históricos daquele conturbado período e estabeleceu vasta rede de amigos no novo governo e fora e conexões as mais diversas que lhe permitiram estar a par dos fatos políticos mais relevantes de então na ilha. Depois trabalharia em Moscou. (Um comunista disfarçado?). Além disso, ele tem de uma memória como raramente tenho visto, podendo dele dizer-se, permitam-me o chavão, que tem memória de elefante.
E foi justo a memória, a minha, a autora da traição. A criança de dez anos que eu era na época via nas páginas da revista O Cruzeiro as fotos da figura onipresente e impositiva de Fidel e dos demais revolucionários e ouvia falar da fuga de Batista no dia 1º. Na minha mente, as imagens dos dois, um chegando e o outro, naquela data, saindo da capital, ficaram juntas no mesmo 1º de janeiro. Minha certeza era tal que não consultei sequer o Dr. Google ou o próprio Eduardo.
Fizemos parte do Secretariado do governo Cafeteira em 1987, ele como chefe da Casa Civil e eu, por algum tempo, como secretário de Planejamento do Estado. Tínhamos como companheiro na pasta da Saúde o dr. Jackson Lago, mais tarde governador do Estado.
Certa vez, perdidos em Los Angeles, fomos sem querer parar na porta da Dysneylândia. Decidimos que os compromissos oficiais podiam esperar e entramos, apenas para ver as crianças brincando, feitos duas delas.

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