O Brasil tem mais assassinatos [homicídios] do que todos estes 52 países
somados [01dez2017]
Fonte: Revista Superinteressante;
Por Felipe van Deursen; access_time1 dez 2017,
17h40 - Publicado em 1 dez 2017, 16h51
Acesso RAS 2018-03-22
(Speech500/Divulgação)
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BRASILl = EUA, Canadá, Marrocos,
Argélia, Tunísia, Líbia, Egito, China, Mongólia, Malásia, Indonésia, Austrália,
Nova Zelândia, Coreia do Sul, Coreia do Norte, Japão, Portugal, Espanha, Reino
Unido, Irlanda, França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Alemanha, Itália, Suíça,
Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia,
República Tcheca, Eslováquia, Áustria, Hungria, Belarus, Ucrânia, Romênia,
Moldávia, Bulgária, Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegóvina, Sérvia, Montenegro,
Albânia, Grécia e Macedônia
O Brasil teve 59 mil assassinatos em 2015. Dez anos
antes, eram “apenas” 48 mil. São mais homicídios do que os 52 países listados
no mapa. Mas 52 é um número grande demais, e essa lista inclui muitos países
pequenos e ricos, você pode argumentar, e com razão.
Certamente incluir a achocolatada
Suíça (57 assassinatos em 2015) ou o endinheirado Grão-Ducado de
Luxemburgo (4 homicídios em 2014) deturparia a quantidade de nações comparadas.
Além disso, somos um gigante de 8,5 milhões de quilômetros quadrados e 207
milhões de habitantes. Não seria injusto comparar com esses países
pequetiticos? Até mesmo a França, que tem um dos maiores territórios da Europa,
é do tamanho da Bahia, apenas o 5º maior estado brasileiro.
Então tome o continente inteiro
de uma vez. A Europa tem 10,1 milhões de quilômetros quadrados, área um tanto
maior, mas ainda assim comparável à do Brasil. Mas são 743 milhões de pessoas –
muito mais do que aqui. Ainda assim, o continente inteiro teve 22 mil
assassinatos no último ano contabilizado. O Brasil (com uma população mais de
três vezes menor), teve quase o triplo.
Ok, mas é Europa. O continente
que parece ter aprendido com suas intermináveis guerras desde que Adolf Hitler
foi sorrir no inferno. O continente que se tornou, salvo guerras regionais aqui
e atentados terroristas acolá, um lugar pacífico. Esqueça um pouco a xenofobia
e os nacionalismos recentes. Pense no continente dos carrinhos pequenos, das
bicicletas, vielas medievais, waffles, baguetes, chocolates, vinhos, cervejas,
queijos, praias (artificiais ou não) de nudistas, música eletrônica
controversa, direitos humanos mais respeitados que a média, Bjork, príncipe
Harry, Lego. Lego, caramba! Comparar com o Brasil? Fala sério.
Então pegue a Indonésia. Maior
país de maioria muçulmana do mundo, 1,9 milhão de quilômetros quadrados, 253
milhões de almas. Um arquipélago grande, populoso e pobre: ainda assim,
foram 1,2 mil assassinatos em 2014. Se for
comparar conosco, não dá para o gasto: basta o Espírito Santo de 2016 para chegar ao mesmo número.
E os Estados Unidos, cheio de
crimes, atiradores compulsivos, nacionalistas raivosos e repressão policial?
Foram 15,7 mil homicídios em 2015, em um
território de 322 milhões de humanos. Isso dá 4,8 por 100 mil habitantes. No
Brasil, 28,9 – é como se alguém de Lagarto (SE), Assis (SP) ou Iguatu (CE)
convivesse com o fato de que 30 moradores da cidade foram assassinados no
último ano.
Mas calma, você ainda pode
argumentar que os dados de muitos países são menos confiáveis que os do Brasil.
Esse mapa mesmo inclui a Líbia, país dilacerado pela guerra desde 2011.
As 156 vítimas no país em 2015 foram
consideradas alheias ao conflito, mas, ainda assim, pode-se torcer o nariz para
o dado. Mas é também justamente pela dificuldade em quantificar esses crimes em
um cenário belicoso que as guerras não entram na conta. Afinal, guerra é outra
coisa. O último dado disponível da Síria é de 2010, antes da guerra: 463
assassinatos, taxa de 2,2 por 100 mil. Naquele ano, o Brasil teve 53 mil, com taxa de 27,8.
Em tempo, a Guerra Civil da Síria
já matou, na média das estimativas, 350 mil pessoas, o que pode colocá-la na
lista das 100 matanças mais mortíferas da história.
O Escritório das Nações Unidas
sobre Drogas e Crime (UNODC), que agrega os dados de todos os países, define o seguinte: “Dentro da grande
gama de tipos de morte violenta, o elemento primordial do homicídio intencional
é sua completa ligação com o perpetrador direto, o que consequentemente exclui
mortes causadas por guerras e conflitos, mortes autoinfligidas (suicídio),
mortes devido a intervenções legais ou motivos justos (como autodefesa, por
exemplo) e mortes quando houve negligência do perpetrador mas este não tinha a
intenção de tirar uma vida (homicídio não intencional).”
Guerras postas de lado, voltemos
à violência urbana e rural. O mapa ainda tem Rússia, país que não é lá um
sinônimo de paz. Foram 16,2 mil assassinatos em 2015, uma taxa de
11,3 mortes do tipo a cada 100 mil pessoas. Já a gigante China, com seu 1,3
bilhão de habitantes, registrou 10 mil homicídios em 2014 – mas,
aqui, cabe a ressalva de que, apesar da queda expressiva de crimes nos país nas
últimas décadas, os números oficiais são enganosos. Assassinatos ocorridos juntamente com roubo ou estupro
podem ser descartados da estatística. Ainda assim, os
números chineses precisariam ser 36 vezes maiores para se equipararem aos
brasileiros.
Se for ver com lupa, quase todo
mundo vai ter asterisco e nota de rodapé. Metodologias que podem variar um
pouco, burocracias falhas, corrupção governamental. Só que o problema é que
mesmo se duvidarmos dos dados de todos os países, o Brasil tem tanta vantagem
nesse terrível ranking que fica difícil demais contra-argumentar. Você pode
fazer variações do mapa. Tem uma no Reddit que troca os Estados Unidos por um
punhado de nações na África Subsaariana e no Sudeste Asiático. Entre
os países mais sanguinários em números absolutos, o único que se compara ao
Brasil é a Índia, com 41,6 mil homicídios em 2014. O problema, lembrar não
custa nada, é que a população da Índia é mais de seis vezes maior que a nossa.
O resto dos 10+ da lista está em um patamar bem inferior: México (20,7 mil), África do Sul (18,6 mil), Nigéria
(17,8 mil), Venezuela (17,7 mil), os já citados Rússia e EUA, Paquistão (13,8
mil) e Colômbia (12,7 mil). Ou seja, troque os 52 países do
mapa, que inclui, como vimos, países bonitinhos, fofos e civilizados, e troque
por um punhado de lugares aonde você passaria férias, mas sempre ouviria da sua
mãe: “cuidado por lá, é muito violento”. Combo 1: México + África do Sul +
Colômbia: 52 mil. E países acossados pelo terrorismo? Combo 2: EUA + Rússia +
Nigéria + Paquistão = 63,5 mil. Só um pouco mais que o Brasil.
E em termos proporcionais? Aí o
Brasil cai para 14º. Todos os países com uma realidade ainda mais violenta (de
novo, sem incluir aqueles em estado de guerra) são África do Sul, Venezuela e
pequenas nações da América Latina, Caribe e África.
Mas talvez esses números e países
que não nos dizem muito não sejam o problema em enxergar o tamanho da encrenca.
Porque o Brasil pode ser o país com o maior número de assassinatos por ano, mas
ainda assim você pode morar no Jardim Paulista, em São Paulo, tão pacífico quanto a
Suécia. Ou em Nossa Senhora da Apresentação, o bairro mais
violento de Natal, a cidade mais violenta do Brasil e a 10ª do
mundo. Só no primeiro semestre de 2017, o bairro da capital potiguar registrou 40
homicídios .
Um bairro, em seis meses, teve
mais assassinatos do que 66 países e territórios computados pelo UNODC.
Nossa Senhora da Apresentação, em
um semestre, é mais violento que a Croácia inteira em um ano.
Um último porém. O Brasil do mapa
é o de 2015. Em 2016, ficou pior. Chegamos a 61,6 homicídios.
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RONALD DE ALMEIDA SILVA
Rio de Janeiro, RJ, 02jun1947; reside em São
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