GLOSSÁRIO URBANÍSTICO
O QUE É
GENTRIFICAÇÃO E POR QUE VOCÊ DEVERIA SE PREOCUPAR COM ISSO
Fonte: COURB; INSTITUTO DO
URBANISMO COLABORATIVO; Por Emannuel Costa|abril 4th, 2016|Blog|
Acesso RAS 2019-11-04
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[1] O QUE É
GENTRIFICAÇÃO E POR QUE VOCÊ DEVERIA SE PREOCUPAR COM ISSO
1.
Para
entender GENTRIFICAÇÃO imagine um
bairro histórico em decadência, ou que apesar de estar bem localizado, é reduto
de populações de baixa renda, portanto, desvalorizado. Lugares que não oferecem
nada muito atrativo para fazer… Enfim, lugares que você não recomendaria o
passeio a um amigo.
2.
Imagine,
porém, que de um tempo para cá, a estrutura deste bairro melhorou muito:
aumentou a segurança pública e agora há parques, iluminação, ciclovias, novas
linhas de transporte, ruas reformadas, variedade de comércio, restaurantes,
bares, feiras de rua… Uma verdadeira revolução que traria muitos benefícios
para os moradores da região, exceto que eles não podem mais morar ali.
3.
É que,
depois de todos esses melhoramentos, o valor do aluguel dobrou, a conta de luz
triplicou e as idas semanais ao mercadinho da esquina ficaram cada vez mais
caras, ou seja, junto com toda a melhora, o custo de vida subiu tanto que não
cabe mais no orçamento dos atuais moradores. E o mais cruel de tudo é perceber que, enquanto o antigo morador
procura um novo bairro, pessoas de maior poder aquisitivo estão indo morar no
seu lugar.
4.
Talvez você
já tenha passado por essa situação. Mas, se não passou, deve imaginar que é a
história de muita gente. E o nome dessa história é gentrificação.
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[2] GENTRI O
QUÊ?
5.
Gen-tri-fi-ca-ção.
Vem de GENTRY, uma expressão inglesa que
designa pessoas ricas, ligadas à nobreza. O termo surgiu nos anos 60, em
Londres, quando vários GENTRIERS migraram para um bairro
que, até então, abrigava a classe trabalhadora. Este movimento disparou o preço
imobiliário do lugar, acabando por “expulsar” os antigos moradores para
acomodar confortavelmente os novos donos do pedaço. O evento foi chamado de GENTRIFICATION,
que numa tradução literal, poderia ser entendida como o processo de enobrecimento, aburguesamento ou elitização de uma área…
Mas nós preferimos ficar com o aportuguesamento do termo original.
[3] COMO
FUNCIONA?
6.
Um processo
de gentrificação possui bastante semelhança com um projeto de revitalização
urbana, com a diferença que a revitalização pode ocorrer em qualquer lugar da
cidade e normalmente está ligada a uma demanda social bastante específica, como
reformar uma pracinha de bairro abandonada, promovendo nova iluminação,
jardinagem, bancos… E quem se beneficia da obra são os moradores do entorno e,
por tabela, a cidade toda.
7.
A
gentrificação, por sua vez, se apoia nesse mesmo discurso de “obras que
beneficiam a todos”, mas não motivada pelo interesse público, e sim pelo
interesse privado, relacionado com especulação imobiliária. Logo, tende a
ocorrer em bairros centrais, históricos, ou com potencial turístico.
8.
O processo é
bastante simples: suponha, que o preço de venda de um imóvel num bairro
degradado seja 80 mil. Porém, se este bairro estivesse completamente
revitalizado, o mesmo imóvel poderia valer até 200 mil. Há, portanto, uma
diferença de 150% entre o valor real e o valor potencial do mesmo imóvel,
certo? Agora imagine qual seria o valor potencial de um bairro inteiro?
9.
É exatamente
nesta diferença entre o potencial e o real, que os investidores imobiliários
enxergam a grande oportunidade para lucrar muito investindo pouco. Mas para que
tudo isso se concretize, é necessário que haja um outro projeto, o de
revitalização urbana, e este, sim, é bancado com dinheiro público, ou através de
concessões públicas. Os governantes também costumam enxergar no processo de
gentrificação uma grande oportunidade: de justificar uma obra, se apoiar no
interesse privado da especulação imobiliária para promover propaganda política
de boa gestão.
[4] E AONDE
ACONTECE? [2 ESTUDOS DE CASO]
10.
Em muitos
lugares. Talvez seja possível dizer que toda cidade grande possui, no mínimo,
um caso para estudo. Evidentemente existem alguns exemplos mais clássicos, em
virtude da fama e influência que algumas cidades possuem, ou por conta do
contexto histórico envolvido. Vamos destacar rapidamente dois deles:
(4.1). Williamsburg
(Nova York, EUA)
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11.
Até meados
da década de 1990, Williamsburg era
apenas mais um bairro residencial do distrito do Brooklyn, cujo único atrativo
era sua paisagem – o famoso skyline da Ilha de Manhattan. Foi nessa época que
artistas e artesãos locais migraram para o bairro em busca de aluguéis baratos
e boa localização. Este movimento se intensificou até virar um dos maiores
casos de gentrificação que se tem conhecimento: hoje, é um dos bairros mais badalados
do mundo, que dita algumas das referências de moda, música, arte e gastronomia
da sociedade ocidental. O processo foi tão grande que alguns dos próprios
gentrificadores, precisando fugir do alto custo de vida, se mudaram para o
bairro vizinho, Bushwick, que atualmente passa um processo quase idêntico ao de
Williamsburg no começo dos anos 2000.
(4.2). Friedrichshain
(Berlim, Alemanha)
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12.
Após a queda
do muro de Berlim, houve uma grande migração dos moradores de bairros da parte
oriental – como Friedrichshain, para
a parte capitalista da cidade, em busca de emprego, vida moderna e habitação
confortável.
13.
Este fato
abriu oportunidade para que a área, abandonada, fosse ocupada por imigrantes
turcos, punks e artistas, em sua maioria jovens e pobres, e essa mistura
naturalmente transformou o lugar em um grande fervilhão alternativo, criando
uma subcultura de diversas tribos e origens, que hoje promove gastronomia, arte
e entretenimento de alto padrão, atraindo berlinenses, turistas do mundo
inteiro e é utilizada pelo próprio governo como marca turística.
14.
Obviamente,
este fenômeno trouxe um assombroso encarecimento do custo de vida e um
acelerado processo de gentrificação:
o caso berlinense foi tão violento que o parlamento alemão criou uma lei
proibindo bairros com altos índices de gentrificação
subirem os preços dos aluguéis mais do que 10% acima da média da região. A lei
vem sendo aplicada em Berlin desde Maio de 2015, e em breve também será
institucionalizada em outras cidades alemãs.
15. Há ainda vários outros casos
famosos de gentrificação:
La Barceloneta (Barcelona,
Espanha);
Puerto Madero (Buenos Aires,
Argentina),
Malasaña (Madrid, Espanha)
e também
alguns casos bastante estudados no Brasil, como Lapa e Vidigal no Rio de
Janeiro, e Vila Madalena em São
Paulo, mas isto é assunto para uma outra conversa…
[5] E POR
QUE EU DEVERIA ME PREOCUPAR COM GENTRIFICAÇÃO?
20.
Olha, até existem especialistas que não
“criminalizam” a gentrificação, por acreditar que este é um processo
decorrente da chamada “Sociedade Pós-Industrial”, na qual as relações de
consumo (demanda) ditam as relações de produção (oferta), e esta é uma condição
natural e irreversível do nosso tempo.
21.
Há um debate
profundo sobre isso, e a resposta sobre a gentrificação ser boa ou ruim… Bem,
depende. Não dá para afirmar com certeza, ainda. Mas desconfiamos que é mais
nociva do que saudável.
22.
Por constituir um processo típico
de especulação imobiliária, a gentrificação precisa de muito investimento e
respaldo do poder público para atender à uma demanda de interesse privado. Ou seja, a cidade (enquanto “a
coisa pública”) tem propensão a ser planejada de acordo com a vontade do
interesse privado, que não necessariamente é a mesma vontade da população, e
nem sempre vai ao encontro das demandas defendidas por especialistas em
planejamento urbano.
23.
Por outro
lado, estudos
recentes realizados nos Estados Unidos apontam que moradores antigos
de bairros gentrificados não apenas não foram “expulsos” por conta da
valorização imobiliária, como conseguiram, por causa da gentrificação, ampliar
suas rendas.
24.
Apesar de
serem inconclusivos, pois tratam mais de proprietários (que possuem renda sobre
o imóvel) e menos de inquilinos (que pagam a renda para o proprietário do
imóvel), os estudos colocam à prova alguns “mantras inquestionáveis” da
corrente crítica da gentrificação, e abre precedente para a corrente que
enxerga o fenômeno como algo saudável para a vida urbana contemporânea.
25.
Do nosso ponto de vista, a gentrificação representa um grande
perigo para as cidades, de maneira geral, porque independente de consequências
saudáveis ou nocivas para o bairro que foi gentrificado, o grande problema está
em mapear o que aconteceu com as pessoas que de fato foram forçadas a migrarem
para outros lugares por conta do processo gentrificador: para qual bairro elas
foram? Este bairro recebe os mesmos investimentos públicos, e desperta a mesma
atenção que o bairro gentrificado? Acreditamos
que a resposta seja negativa.
26.
E, se para o
bairro bonito pode tudo, e para o feio não pode nada, então não há um projeto
de cidade inclusiva e democrática acontecendo nas nossas cidades. A
gentrificação apenas será bacana e descolada de verdade quando todos os bairros
puderem ver a renda de seus imóveis sendo elevadas, propiciando uma vida
cultural, rica, vibrante, que respeite as tradições de cada lugar. Se não for
por inteiro, então não vale.
Por Emannuel Costa|abril 4th, 2016|Blog|5
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Sobre o Autor: Emannuel Costa
Nascido e residente em Floripa, é
co-fundador do COURB. Formado em geografia e mestre em Urbanismo, História e
Arquitetura da Cidade. Atualmente é doutorando em Planejamento Territorial e
Desenvolvimento Socioambiental na UDESC, onde pesquisa a relação entre
planejamento urbano e políticas de fomento à inovação.
Contato: ecosta@courb.org
SOBRE
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multidisciplinar de profissionais distribuídos em quatro regiões do Brasil, que
trabalham virtual e presencialmente pela construção de cidades mais inclusivas,
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Atuamos em conjunto com diferentes segmentos da sociedade para
fomentar a participação ativa e colaboração dos diversos atores sociais no
desenvolvimento de projetos e políticas urbanas. Em 4 anos de história, já
desenvolvemos projetos para governos, universidades, fundações, conselhos e
comunidades.
O Instituto
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estudando cada um num lugar do mundo, com bolsas oferecidas pelo governo
brasileiro, e se uniram com o intuito de reverter ao país o que foi neles
investido.
O primeiro ano foi marcado pelo projeto piloto de urbanismo
colaborativo, o Ativa Ilhéus, e o
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Nos dois anos seguintes aconteceram mais dois Encontros, um no centro-oeste
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atuação a colaboração com cidades na construção de resiliência urbana.
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interdisciplinares em diferentes temáticas e desenvolve metodologias para
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RONALD DE ALMEIDA SILVA
Rio de Janeiro, RJ, 02jun1947; reside em São Luís, MA, Brasil desde
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Arquiteto Urbanista FAU-UFRJ 1972 / Registro profissional CAU-BR
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