segunda-feira, 19 de agosto de 2019

[787] PIONEIROS DA AVIAÇÃO: O 1º VOO NOVA YORK-RIO DE JANEIRO – A EPOPEIA DE WALTER HINTON & EUCLIDES PINTO MARTINS 1922-23 NOS HIDROAVIÕES CURTISS “SAMPAIO CORRÊA I e II”.

ORIGEM DO NOME DO SAMPAIO CORRÊA FUTEBOL CLUBE DEVE-SE AO SONHO DO ENGENHEIRO E PILOTO CEARENSE PINTO MARTINS E AO APOIO DO SENADOR PELO DF ENG. JOSÉ MATOSO SAMPAIO CORREIA.
O HIDROAVIÃO SAMPAIO CORRÊA-II FOI A PRIMEIRA MÁQUINA VOADORA A POUSAR EM SÃO LUÍS EM 14DEZ1922 FAZENDO A PRIMEIRA VIAGEM ENTRE A AMÉRICA DO NORTE E AMÉRICA DO SUL: NOVA YORK-RIO DE JANEIRO. DECOLANDO EM 17AGO1922 E CHEGANDO EM 08FEV1923.
Ronald Almeida. SLZ-MA. 19ago2019.


O 1º VOO NOVA YORK-RIO DE JANEIRO – A EPOPEIA DE WALTER HINTON & EUCLIDES PINTO MARTINS 1922-23 NOS HIDROAVIÕES CURTISS “SAMPAIO CORRÊA I e II”.

Compilação, revisão, notas e edição:
Ronald de Almeida Silva, arquiteto; 2019-08-16
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PRIMÓRDIOS DA AVIAÇÃO COMERCIAL NO PRIMEIRO QUARTO DO SÉCULO XX (EUA e BRASIL).
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A saga do copiloto cearense EUCLIDES PINTO MARTINS e dos quatro tripulantes americanos que realizaram em 1922-23 a primeira viagem aérea (quase trágica, que durou 6 meses) entre NOVA YORK e RIO DE JANEIRO a bordo dos hidroaviões “SAMPAIO CORRÊA” I* E II.

Foto: (à esquerda) O experiente Instrutor de voo e Comandante americano da Missão Aeronáutica Pioneira New York-Rio 1922-23, WALTER HINTON e (à direita) o principiante copiloto cearense EUCLIDES PINTO MARTINS, idealizador da façanha.

Fonte da republicação do artigo: blog GGN; Por: José Brandes; 12/10/2013
Autor da pesquisa original: general TÁCITO THEÓFILO GASPAR DE OLIVEIRA registrado em seu livro ´PINTO MARTINS´, editado em 1977.
Republicado por Roberto Pires de Oliveira = R. PIRES em:
Compilação, revisão, notas e edição: Ronald de Almeida Silva, arquiteto; 2019-08-16
Revisado e ampliado em 2019-08-19.


A HISTÓRIA DE UMA GRANDE AVENTURA AERONÁUTICA INTERCONTINENTAL POUCO CONHECIDA E VALORIZADA
Ronald Almeida

Hoje, 16ago2019, podemos nos dar a liberdade de celebrar os 97 anos do lançamento do hidroavião “SAMPAIO CORRÊA-I” no Rio Hudson, em Nova York, primeiro passo da intrépida aventura aeronáutica de 6 meses que se iniciaria de fato no dia seguinte (17ago1922) com a decolagem em direção à capital do Brasil.



 Curtiss H-12 Large America in RNAS service. FONTE: WIKIPEDIA


Nesse que foi o histórico 1º vôo (com dezenas de escalas) entre Nova York e a capital do Brasil, feito em 2 hidroaviões doados pelo jornal “The New York Word”, estavam 4 americanos e 1 cearense, os tripulantes: (i) o experiente instrutor de vôo e Comandante da Missão Walter HINTON, Piloto; (ii) Euclides PINTO MARTINS, co-piloto iniciante ; (iii) o indispensável Jonh Edward WILSHUSEN; mecânico de bordo, da Fábrica Curtiss; (iv) George Thurman BYE, jornalista do “New York World”, para reportar a longa e perigosa travessia e (v) o produtor de imagens de ver-para-crer, John Thomas BALTZEL, o fotógrafo e cinegrafista da Pathé News.

Próximo a Cuba, na noite de borrasca do dia 22ago1922, o péssimo clima obrigou o comandante HINTON a amerrissar e o hidroavião “SAMPAIO CORRÊA” I*, naufragou, logo após o resgate dos 5 tripulantes (miraculosamente ilesos!) pelo navio “Denver” da Marinha americana, que os levou a uma base naval na Flórida.
Depois de muitas articulações HINTON & PINTO MARTINS conseguiram um novo hidroavião, novamente cedido pelo jornal “The New York World”, certamente com a influência do jornalista George T. BYE, muito interessado em concluir sua histórica reportagem.

PINTO MARTINS então na Base Naval da Flórida, em 04set1922, ao receber o segundo hidroavião, repetiu o batismo da aeronave perdida, dando-lhe o nome de “SAMPAIO CORRÊA-II”, em homenagem ao grande incentivador da missão, o Senador e Presidente do Aeroclube do Rio de Janeiro, JOSÉ MATOSO DE SAMPAIO CORREIA [nota 03].

Em 14dez1922 o hidroavião “SAMPAIO CORRÊA-II” chegou em São Luís, sendo esta a primeira aeronave a ser vista no Estado do Maranhão, fato inédito que empolgou toda a cidade. A tripulação parece ter gostado da nossa capital e aqui ficou 5 dias e decolou no dia 19dez1922 rumo a Camocim, CE.

Durante essa passagem memorável dos pioneiros do “raid” Nova York-Rio, um grupo de torcedores da Rua São Pantaleão, impressionados com o incrível veículo voador ancorado na foz do Rio Bacanga próximo à rampa do Palácio, resolveu criar um clube de futebol, ao qual deram o nome de SAMPAIO CORRÊA, o mais vitorioso da história do desporto maranhense.

O resto da história dessa notável e pouco divulgada epopeia aeronáutica de PINTO MARTINS e seus 4 amigos americanos vocês podem ler no texto seguinte, de autoria de do. general TÁCITO THEÓFILO GASPAR DE OLIVEIRA registrado em seu livro ´PINTO MARTINS´, editado em 1977 e cujo capítulo específico foi republicado por Roberto Pires de Oliveira = R. PIRES.

SÃO LUÍS, MA, 16ago2019 [revisão 01: 2019-08-19]
Ronald de Almeida Silva.
Arquiteto urbanista. Torcedor do Sampaio Corrêa Futebol Clube.

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MENSAGEM AO FACEBOOK POR BLOQUEAR A REVISÃO DO TEXTO:
A MATÉRIA É SOBRE UM FATO HISTÓRICO NOTÁVEL DA AVIAÇÃO CIVIL EUA-BRASIL. com a participação do piloto Euclides Pinto Martins, o herói cearense.
O SISTEMA DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL DO FACEBOOK É MUITO DEFICIENTE. E IRRITANTE!.
Ronald de Almeida Silva. SLZ-MA. 2019-08-19

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NOTA RAS.01: (I*) hidroavião biplano com 28 metros de envergadura e dois motores “Liberty” de 400 hp, cada. Fabricação Curtiss, modelo H16; usados pela Marinha norte-americana.
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NOTA RAS.02: As palavras e números acrescidos que estão indicados entre [colchetes]; os destaques sublinhados, em negrito e amarelo bem como nomes próprios em CAIXA ALTA e a numeração de parágrafos (se presentes nos textos ora publicados) NÃO CONSTAM da edição original.
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NOTA RAS.03: JOSÉ MATOSO DE SAMPAIO CORREIA (grafia original com a letra “i”):
Engenheiro Civil, diplomado pela EPRJ em 1898; Chefiou as obras da Exposição Nacional de 1908 realizada no Rio de Janeiro em comemoração dos 100 Anos da Abertura dos Portos; Engenheiro-chefe das Obras Contra as Secas no Rio Grande do Norte em 1912, participou da construção de diversas ferrovias; Deputado Federal antigo DF 1918-1920; Senador pelo antigo DF 1921-1926; Constituinte 1934; Deputado Federal antigo DF 1933-1937.
Outras atividades relevantes: Líder de entidades de classe; Dirigente de órgãos de serviços públicos e infraestrutura; Construtor de ferrovias; Projetista e Diretor de serviços de iluminação pública, eletrificação de ferrovias, serviços de abastecimento de água potável; Empresário; Jornalista; Escritor; Aeroclubista. 
Nasceu em Niterói, RJ, em 08set1875.
Faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 17nov1942 aos 67 anos.
Fonte das informações:
http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/CORREIA,%20Sampaio.pdf
Acesso RAS em 28nov2016.

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NOTA RAS.04: USANDO DOIS AVIÕES E 5 MOTORES EM DUAS PERNAS DA VIAGEM.

(1)   PRIMEIRA PERNA / ETAPA da Missão Aeronática Pioneira  Nova York-Rio: viagem no primeiro hidroavião SAMPAIO CORRÊA-I, que decolou do Rio Hudson em Nova York em 17ago1922 e naufragou próximo à Cuba, cinco dias depois, em 22ago1922, ao fazer o vôo do trecho  Nassau com destino a Porto Príncipe, no Haiti,
The fist leg of the trip with the first hydroplane began on August, 17, 1922, when they took off from the River Hudson in New York in August 17, 1922 and ended on February 22, 1922, when they lost altitude and had fallen into the sea to the east of the island of Cuba, beyond Cabo Maisi, during a heavy storm in the night, when they were doing the flight from Nassau to Port of Pince, Haiti.


(2)   SEGUNDA PERNA / ETAPA da Missão Aeronática Pioneira  Nova York-Rio: viagem no segundo hidroavião, o SAMPAIO CORRÊA-II, que decolou de Pensacola, Flórida, EUA, em 07set1922 e chegou ao Rio de Janeiro em 08fev1923.
The second leg of the trip with the second hydroplane began on September 7, 1922, when they took off from Florida] and ended on February 8, 1923, when they arrived in Rio de Janeiro]
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NOTA RAS.05: WALTER HINTON já era um aviador famoso desde 1919 por ter sido um dois pilotos, junto com ELMER F. STONE, a realizar entre 08 e 31 maio 1919, o primeiro voo entre a América do Norte e a Europa (no caso o Reino Unido) a bordo de um hidroavião Curtiss NC4 da Marinha norte-americana. 


Esta seguramente, foi uma das principais razões para PINTO MARTINS convidar o experiente HINTON a comandar outro hidroavião Curtiss para realizar outro feito aeronáutico pioneiro em nível mundial: a primeira travessia aérea intercontinental entre a América do Norte e a América do Sul.
Ø  HINTON achieved fame as one of the two pilots, along with ELMER F. STONE, of the Curtiss NCflying boat" NC-4", the first aircraft to make a transatlantic flight, in May 1919.[1] [08 and 31 May 1919]. Fonte: wikipedia


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A SAGA DE EUCLIDES PINTO MARTINS E SEUS AMIGOS


Fonte da republicação do artigo: blog GGN; Por: José Brandes; 12/10/2013
Autor da pesquisa original: general TÁCITO THEÓFILO GASPAR DE OLIVEIRA registrada em seu livro ´PINTO MARTINS´, editado em 1977.
Adaptado e republicado por Roberto Pires de Oliveira 
R. PIRES em:
Compilação, revisão, notas e edição: 
Ronald de Almeida Silva, arquiteto; 2019-08-16
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Já perguntastes, alguma vez, qual foi o primeiro avião a cruzar o céu do Brasil vindo dos EUA? E quem pilotava? Pois foi um cearense chamado EUCLIDES PINTO MARTINS. 

Na verdade, ele era o co-piloto [ainda inexperiente, com apenas 1 ano de brevê e pouquíssimas horas de voo] , mas lhe foi cedida a honra de assumir a nave no espaço aéreo brasileiro por seu colega o piloto WALTER HILTON. A aeronave foi um hidroavião biplano cedido pela jornal “The New York Word”!

A viagem começou em 17 agosto 1922 em Nova York e terminou a 08 Fevereiro 1923, no Rio de Janeiro. 

SUA VIDA

EUCLIDES PINTO MARTINS  nasceu em Camocim, no Ceará, a 15 de abril de 1892. Entretanto, só foi batizado três meses depois, (28 de julho de 1892), na Igreja Matriz de  Macau, Rio Grande do Norte. O fato ocorreu porque seu pai, Antônio Pinto Martins, natural de Mossoró, naquele estado, foi convidado para representar a Companhia deSalinas Mossoró Assú, em Macau. Por isso, PINTO MARTINS foi batizado na Matriz de Macau e registrado no Cartório Civil daquela cidade. 

Sua mãe chamava-se Dona Maria Araújo do Carmo Martins e dedicou-lhe muito amor e carinho. EUCLIDES era um menino  bem criado e de inteligência incomum. Aos cinco anos, (1897) já começava a estudar na escola pública local.

Três anos depois, (agosto de 1900),  seus pais se mudaram para Natal  e o jovem teve que continuar seus estudos primários no Colégio Americano, conhecido como Colégio das Capas Verdes. 

Em 1903, já com 11 anos, se transferiu para o Colégio Atheneu Norte Rio Grandense  e, paralelamente, ingressou num curso noturno de náutica. Observem aí,  o seu gosto pelas viagens e aventuras.

Quatro anos mais tarde, (1907), embarcou no navio “Maranhão” saindo no ano  seguinte, para ser segundo piloto do navio “Pará”. Infelizmente, um acidente de bordo interrompeu esta rápida carreira naval e, Euclides, com problemas na carótida, desembarcou em Natal sendo aconselhado pelos médicos a abandonar a carreira. 

No início de 1909, seu pai mandou-o para os EUA com US$300,00 e uma recomendação para que uma empresa de amigos lhe repassasse uma certa quantia mensal para sua manutenção.   EUCLIDES não perdera tempo, matriculou-se no “Drexell Institute” na Filadélfia onde,  três anos depois se formaria  em Engenharia Mecânica. (1911).

Além de estudar, PINTO MARTINS trabalhava como estagiário na “Baldwin Locomotive”, uma fábrica de vagões. Ali, o jovem  aprendeu a falar inglês rapidamente  e se inseriu na sociedade local, conquistou uma namorada e  se casou com a Srta. Gertrudes Mc Mullan. 

Nosso herói regressou ao Brasil logo após a formatura, (1911) desembarcou  do navio “Booth Line”, em Fortaleza. Convidado por seu pai, viajou para Natal, onde passou a trabalhar como engenheiro na “Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca” e na Estrada de Ferro. *
Nota RAS: Ocasião em que PINTO MARTINS teve a oportunidade de conhecer e trabalhar sob a chefia de SAMPAIO CORREIA, então Engenheiro-chefe das Obras Contra as Secas no Rio Grande do Norte em 1912.

Como seu pai era maçom, EUCLIDES PINTO MARTINS acompanhou-o e ingressou na loja maçônica “21 de Março”.

Em Natal – Rio Grande do Norte,  nasceu em 1914 sua primeira filha: CERES, que viria a morrer, tragicamente, aos 31 anos de idade num acidente de avião em Porto Rico, com seu marido. 

A vida de Euclides Pinto Martins foi marcada por constantes viagens e mudanças. 

No final da 1º Grande Guerra, (1917) ele se mudou para Recife onde viveu por 2 anos. Ali, ingressou na Loja “Segredo e Amor”  (Loja Maçônica). A maçonaria foi outro fato marcante na vida de Pinto Martins e isto será tema de um novo trabalho.

Em 1918, faleceu sua jovem mulher e EUCLIDES, muito sentido,  retornou aos EUA. Apesar da dor da perda, acalentava no peito o desejo de uma grande aventura entre o Brasil e EUA. 

Procurou parcerias e acabou se associando a  LADISLAU DO REGO, que juntos, compraram um navio com  a ideia de criar, no Brasil, uma companhia de navegação de cabotagem. Lamentavelmente, o negócio não deu certo, pois o navio afundou…  

EUCLIDES permaneceu na América, enquanto seu sócio neste negócio fracassado, voltou ao Brasil terminando assim, sua primeira tentativa de fazer algo grandioso. EUCLIDES não esmoreceu, casou-se novamente com uma americana ADELAIDE SULIVAN.

ADELAIDE era advogada e doze anos mais velha que seu marido, tendo lhe dado em 1920, uma filha: ADELAIDE LILLIAN

O [PRIMEIRO] AVIÃO [“SAMPAIO CORRÊA-I”]

EUCLIDES PINTO MARTINS não se conformou apenas com a navegação marítima. Colocou seu foco na aviação que se desenvolvia de forma espetacular por causa da guerra. Como parte desta ideia,  Euclides entrou num curso de aviação e conseguiu o “brevet” de piloto em 1921.

Com sua entrada no meio aeronáutico, conheceu  um veterano na área: WALTER HILTON, experiente instrutor de vôo na Flórida. Com este novo amigo e a afinidade de idéias, EUCLIDES resolveu confidenciar a respeito de um velho sonho: Atravessar o Atlântico numa viagem de avião Nova Iorque-Rio de Janeiro desbravando assim, essa rota aérea.

A ideia encontrou eco na mente de seu colega e, juntos, começaram a trabalhar. Lutaram com força de vontade e, finalmente, conseguiram um banqueiro: ANDREW SMITH Jr. que asseguraria verbas para o atrevido projeto.

Assim, contrataram da Fábrica Curtiss um hidroavião biplano com 28 metros de envergadura e dois motores “Liberty” de 400 hp, cada.  A máquina voadora pesava oito mil quilos! Depois do avião pronto decidiram batizá-lo de “SAMPAIO CORRÊA” em homenagem  ao Senador pelo DF (Rio de Janeiro) e Presidente do Aeroclube do Rio de Janeiro. [e ex-chefe de Pinto Martins nas obras contas as secas no Rio Grande do Norte].

Tudo pronto, avião novinho em folha [em 16ago1922]! A tripulação:
Ø  Walter HINTON, Piloto
Ø  Euclides PINTO MARTINS, co-piloto
Ø  Jonh Edward WILSHUSEN; mecânico de bordo, da Fábrica Curtiss;
Ø  George Thomas BYE, jornalista do “New York World”, para retratar a travessia e
Ø  John Thomas BALTZEL, o cinegrafista da Pathé News.

COMANDANTE WALTER HINTON

A [1ª] VIAGEM [AÉREA ENTRE NEW YORK E RIO DE JANEIRO 1922-23]

O [primeiro] hidroavião com sua equipe deveria decolar no dia 16/08/1922, mas ao colocá-lo no Rio Hudson, houve uma pequena avaria na asa esquerda, adiando então sua partida. Por fim, no dia 17 de agosto de 1922, decolou do estuário do Hudson o majestoso “SAMPAIO CORRÊA”, aplaudidos por milhares de pessoas!

A meteorologia que iniciava seus estudos, previa riscos de tempestades mas a equipe, afoita, não se importou e decolou  sumindo no horizonte, assistidos das margens do Rio Hudson entre as ilhas de Manhatam e New Jersey. Vamos ver o depoimento da “Revista Semana” do Rio de Janeiro, sobre a decolagem:
“A Doca do North River, diante da Rua 86, parecia mais um formigueiro humano. Mais de um milhão de pessoas havia se aglomerado de encontro ao cais com os olhos fixos no grande pássaro mecânico. O hidroavião SAMPAIO CORRÊA, pintado de novo, ostentava nos flancos as bandeiras   consteladas das duas   grandes  repúblicas irmãs. Às 15:00 horas contadas uma  por uma nos relógios da cidade, os possantes motores começaram a roncar  soturnamente. Com quatro  ou cinco manobras hábeis o aparelho movia-se, evoluía entre embarcações apinhadas de gente, procurando a parte mais ampla e livre do rio. Houve então  um prodígio. Erguendo-se daquele milhão de almas em desatino, dez talvez cem milhões de vivas atroaram os ares. Concentraram-se neles, durante largo tempo, todos  os rumores da metrópole tumultuosa e fervilhante. Nova Iorque que palpitou naquele brado, partido daquelas bocas de todas as idades, de todos os feitios, de todas as condições. Dir-se-ia que era a boca da cidade [de Nova Iorque] que gritava”. 

[O NAUFRÁGIO DO “SAMPAIO CORRÊA-I” EM 20/08/1922]

A verdade é que, apesar de saberem estar na época de grandes temporais, nossos afoitos aventureiros, se atreveram a iniciar a viagem. Neste mesmo dia, 17 de agosto,  o avião foi obrigado a pousar em Nanten, por causa de um forte temporal. Pernoitaram ali, e decolaram de manhã com destino a Southport,  onde chegaram dia 19/08.

Prosseguiram viagem e dia 20/08 chegaram em Charlston,  sem dificuldades. Reiniciaram a viagem e tiveram que pousar em West  Palm Beach devido a outro temporal.

Partiram dia 21/08/1922, às 11:00 horas e amerissaram em Nassau, onde pernoitaram,  seguindo de manhã [22set1922] com destino a Porto Príncipe no  Haiti.

Neste trecho foram  surpreendidos por forte borrasca, perderam altitude e caíram no mar por volta das 20:00 horas, [do dia 22ago1922] ao leste da ilha de Cuba, além do Cabo Maisi.

As coisas nesta noite ficaram pretas! Nossos aventureiros estavam em pleno Atlântico, escuridão total, riscos de tubarões e afogamento. Felizmente, não ficaram feridos na queda. O “SAMPAIO CORRÊA” ainda flutuava e eles localizaram as pistolas sinalizadoras, encontradas com dificuldades no escuro. Assim os fogos de artifícios  iluminaram os céus do oceano, naquela noite, num desesperado pedido de socorro! Lamentavelmente, estes  sinais não foram vistos… 

A situação tendia a complicar, pois no avião entrava água por buracos feito pela colisão com o mar. Foi neste clima de preocupação, que PINTO MARTINS com seus bons conhecimentos de náutica, lembrou-se que tinham uma lanterna grande, a qual achou numa parte do avião, ainda seca. O jovem intrépido  subiu no nariz da nave naufragando e passou a  fazer sinais luminosos de socorro.

Não demorou muito, pois perto dali, a Canhoneira da Marinha Americana “Denver”, viu os sinais luminosos e apitou, seguindo em socorro dos náufragos. Foram feitas tentativas, em vão, de rebocar o “SAMPAIO CORRÊA” que acabou indo para o fundo do mar sob os olhares tristes de nossos aventureiros…

O próprio PINTO MARTINS deu a seguinte declaração ao Jornal do Brasil:
“…sendo piores possíveis as condições atmosféricas, os aparelhos de altitude perderam a precisão. Reinava  forte cerração e quando acreditávamos estar muito acima do nível das águas, nela batemos com violência. Com a força do choque o aparelho furou e foi invadido pela água…”

NASCE O SEGUNDO HIDROAVIÃO: SAMPAIO CORRÊA -II

Os náufragos foram levados para a Base Naval de Guantânamo,  em Cuba. PINTO MARTINS e seus amigos não enfraqueceram, continuaram com a idéia de provar que uma rota aérea ligando as Américas (norte e sul) era viável. 

Assim,  acabaram conseguindo que o Jornal  “The New York Word” lhes dessem um outro avião para continuação da viagem. Viajaram para Flórida, Escola Naval de Pensacola, onde outro avião adquirido pelo Jornal os esperava. Era um hidroavião  com seis anos de uso, que pertencera a Base.

Graças a esta doação, em 04 de Setembro do mesmo ano, em São Petersburgo,  na Flórida receberam a nave e batizaram-na de “SAMPAIO CORRÊA-II”. 


Nossos aventureiros continuavam afoitos e logo decolaram de Pensacola, na Flórida, pousando  em Porto Príncipe no Haiti em 07/09. Ali, com problemas  no sistema de  refrigeração do avião ficaram 30 dias parados, até que peças de reposição chegassem de navio dos EUA.

Aos sete dias do mês de outubro, decolam novamente com destino a  São Domingos, República DomInicana, onde pernoitam, seguindo para Porto Rico. Continuaram a viagem, chegando em Guadalupe e partiram para Martinica onde pousaram em  12 de outubro.

Avião no ar novamente, com muitas  dificuldades causadas por chuvas, chegam em  Port Spain, Trindad e Tobago, dia 15 de outubro 1922. Ali, perderam mais 30 dias com troca de hélices e outros consertos.

Em 21 de novembro, decolam para Georgetown  na Guiana Inglesa, dali para Paramaribo, Guiana Holandesa, Caiena , Guiana Francesa e, finalmente em  1º de Dezembro, pousam no Brasil, Estado do Pará, no Rio Cunani, ao norte da foz do Rio Amazonas. 

EM BRAGANÇA, PARÁ E SÃO LUÍS, MARANHÃO, 14 a 19dez1922

Os rapazes ávidos por aventuras e estas não faltavam, prosseguem para a Ilha de Maracá, Belém, e Bragança onde  obrigados por um temporal pousam no Rio Caeté. 

Passaram três dias em Bragança seguido viagem para SÃO LUIS. Às 12:00 horas do dia 14 de Dezembro 1922, o SAMPAIO CORREIA  desce na Baia de São Marcos desembarcando na ilha de SÃO LUIS, no Maranhão, dia 14, onde ficaram [cinco dias] até dia 19dez1922.


Finalmente, quatro horas e meia depois da decolagem,  (dia 19 de Dezembro) pousam em Camocim, terra natal de Pinto  Martins. Depois das muitas já conhecidas homenagens, partem no dia seguinte para  Aracati, sem pousar em Fortaleza por dificuldades de amerissagem nas águas agitadas da enseada do Mucuripe.

Pernoitaram em Aracati e voaram para NATAL, RN, onde dormiram um sono reparador. Logo bem cedinho, decolavam em direção ao sul.

[A CHEGADA EM NATAL, RN]



Assim, no dia 21 de Dezembro 1922, amerissava o Sampaio Correia-II, tripulado pelo brasileiro EUCLIDES PINTO MARTINS e o norte americano WALTER HILTON, num "raid" Nova York-Rio de Janeiro, percorrendo 5.587 milhas. Pelas 14 horas, "a libellula de aço", no dizer de "A República", tocava as águas do rio, atracando no Cais Tavares de Lyra debaixo de aclamação popular e homenagens prestadas pelas autoridades do Estado. No dia imediato, rumava para o sul. O percurso anterior tinha sido feito de Aracati (Ceará) para Natal.
Fonte: texto  transcrito do livro de TARCÍSIO MEDEIROS, “Aspectos Geopolíticos e Antropológicos da História do Rio Grande do Norte”, lançado em Natal em 1973, pela Imprensa Universitária. Capítulo 17, páginas 160 a 186, “A HISTÓRIA DA AVIAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE”;

Mal viajaram 50 milhas quando o motor de bombordo apresentou um problema. Estavam sobrevoando ainda o território Potiguar, perto de Conguaretama, Bahia Formosa, e uma grave pane no motor esquerdo  que forçou-os a amerissar na citada Baía. Analisado o motor descobriram que algumas engrenagens estavam irremediavelmente danificadas e tinham que ser substituídas. Só conseguiram o conserto das peças em Pernambuco, mais exatamente em Recife. PINTO MARTINS, que havia viajado  para resolver o problema   retornou, dias depois, com as peças para reparar o motor.

[SAMPAIO CORRRÊA-II GANHA NOVO MOTOR]

Foi com muita dificuldades que decolaram de Bahia Formosa, rumo  a Recife. Nova pane os forçou descer em Cabedelo, sendo que desta vez a coisa era bem pior.  

A viagem quase terminou por ali, não fosse  o Comandante da Aviação Naval, Capitão de Mar e Guerra, PROTÓGENES GUIMARÃES que, vendo a situação desesperadora dos viajantes com o motor irrecuperavelmente danificado, doou-lhes um novo! Esta simpática doação possibilitou a continuação da viagem. 

O futuro mostraria que este Comandante teria pela frente uma bela carreira e chegaria a ser Ministro da Marinha. 



Trocado o malfadado motor, eles decolam de Cabedelo e pousam no Recife. Ali, como em todos os lugares que pararam, foram muito bem recebidos, com festas, visita ao Governador enfim, todas as honrarias de heróis. Euclides, em Recife, teve a alegria de abraçar seu pai e suas duas irmãs, Abgail e Carmen. Daí para frente, a viagem seria tranqüila pois estavam no nordeste e a possibilidade de mal tempo era mínima. 

Ficaram em Recife por 3 dias e seguiram viagem às 11:00 horas  rumo as Alagoas, pousando em Maceió onde permaneceram até o dia seguinte. Dali até Salvador, após as festas costumeiras, foram apenas 3 horas e 50 minutos. Na capital baiana, as festas e homenagens foram muitas. Autoridades diversas, inclusive o Cônsul Americano  que prestigiou  as cerimônias de saudações aos conquistadores da travessia!

Partiram no final da semana, 04 de fevereiro, às 12:55  pousando em Porto Seguro às 16:30h. Após reabastecer o avião e tendo tido uma noite tranqüila, partem de manhã, 8:50h para Vitória no Espírito Santo. Eram  12 horas e 12 minutos quando tem inícios as festividades de  recepção aos “viajores” do ar!

A CHEGADA [TRIUNFAL NA CAPITAL FEDERAL: RIO DE JANEIRO: 08fev1923]

Faltava pouco para a chegada ao Rio  de Janeiro e era necessário programar pois, uma esquadrilha da Aviação Naval, planejava escolta-los  ao local da chegada!! Autoridades estariam presentes, afinal seria a grande conquista de uma rota que viria a ser explorada, no porvir, por grandes empresas de aviação mundial!!

Partiram, ansiosos, às 12:30 h., com destino a Cabo Frio e depois Rio de Janeiro! Amerissaram em Cabo Frio às 15:15 horas em 7 de fevereiro onde pernoitaram.

Às 10:35 h. decolaram voando sobre Araruama, Saquarema, Maricá e demais localidades costeiras fluminenses. Finalmente, às 11:32 horas do dia 8 de fevereiro de 1923. o avião é avistado sobrevoando a  Baía da Guanabara! 

Ao pousar foram recebidos na lancha “Independência”  do Ministério da Marinha onde o primeiro a ser abraçado pelo SENADOR  SAMPAIO CORREIA foi PINTO MARTINS seguido por HILTON, o piloto, GEORGE THOMAS BYE, o jornalista; JOHN E. WILSHUSEN, o mecânico de bordo e por fim o cinegrafista, JOHN THOMAS que, afinal, filmava o evento!!
Vários dias de festas e glórias  aconteceram no Rio de Janeiro.



PINTO MARTINS: SUA MORTE TRÁGICA E PRECOCE EM 12/04/1924

Apesar de tantas glórias, EUCLIDES PINTO MARTINS teve muitas dificuldades conseqüentes de suas aventuras. Dívidas adquiridas precisavam ser pagas. Após o “Raid”, a fama e a glória, ele sentia o peso de ser um homem comum e com pouco dinheiro. Sua mulher se recusava a morar no Brasil e entrara com a ação e divórcio.

Estava sendo pressionado para pagar o dinheiro emprestado para financiar o evento (U$19.000). Foi neste clima que, tristemente, encontraram PINTO MARTINS morto em seu quarto com um tiro na cabeça vitimado talvez por uma crise de depressão. Era o dia 12 de abril de 1924, pouco mais de um ano depois de tão glorioso feito.


Busto de PINTO MARTINS no aeroporto de Fortaleza, CE, que leva seu nome.

Nada mais se sabe a respeito de sua morte dada oficialmente como SUICÍDIO. Em profundo respeito a este grande conquistador nos limitaremos a reproduzir as palavras de seu pai sobre seu desaparecimento:
“Está provado que ele chegou a este estado de desespero levado por privações muito cruéis… Sua morte foi conseqüência da dignidade e altivez de seu caráter. ..”
 Nossos profundos respeitos, aviador!!!

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Roberto Pires de Oliveira
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Ref.  Livro do general Theofilo G. de Oliveira, Tácito. “PINTO MARTINS”.  Fortaleza – Ceará – 1977.
Agradecimentos à Biblioteca Municipal de Camocim.  


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RONALD DE ALMEIDA SILVA
Rio de Janeiro, RJ, 02jun1947; reside em São Luís, MA, Brasil desde 1976.
Arquiteto Urbanista FAU-UFRJ 1969-1972.
Especialização em Desenho Urbano e Planejamento Regional (Universidade de Edimburgo, Escócia, 1981-83).
Registro profissional (1972-2012 = 40 anos) CREA-RJ 21.900-D
Registro profissional (2013 em diante) CAU-BR A.107.150-5
Ouvidor Nacional das Competições da CBF (2003-2012)
Inspetor do GT e da CNIE - Comissão Nacional de Inspeção de Estádios da CBF (2004-2012)
Blog Ronald.Arquiteto (ronalddealmeidasilva.blogspot.com)
Facebook ronaldealmeida.silva.1


Um comentário:

  1. Muito bom texto! Voltei a buscar informações com este reide pois, recentemente, soube que um popular clube de futebol se São Luís é o Sampaio Correa Futebol Clube, apelidado "Bolívia Querida". Os torcedores são os "bolivianos". Por que???
    A resposta é que o entusiasmo pelo reide levou à criação de um clube amador com as cores das camisas dos aviadores, listas verde-amarelas do Euclides e vermelha-branca do Hinton. Ora, essas são as cores da Bolívia.
    Parabéns, devemos divulgar mais a história da aeronáutica brasileira.

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