terça-feira, 7 de agosto de 2018

[676] MPB MASTERS: NONATO BUZAR NAS LEMBRANÇAS E ESCRITOS DE AUGUSTO PELLEGRINI. São Luís, MA, 28 e 30 junho 2018.

NONATO BUZAR e Ronald Almeida, em sua casa no Condomínio da Ilha da Gigóia, Barra da Tijuca, 16ago2013. Foto by Luiza Rodrigues.



FACEBOOK RAS nº 3.772-A (31jul2018):
NONATO BUZAR NAS LEMBRANÇAS E ESCRITOS DE AUGUSTO PELLEGRINI. JUSTA HOMENAGEM
PARTE 1



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RIO ANTIGO
(A VISITA DO ESTRANHO POETA)
Parte 1
Texto: AUGUSTO PELLEGRINI

“Quero um bate-papo na esquina
Eu quero o Rio antigo com crianças na calçada
Brincando sem perigo
Sem metrô e sem frescão
O ontem no amanhã...”
(“Rio Antigo” – Nonato Buzar e Chico Anysio)

De repente o poeta surgiu do nada.
Não me conhecia, foi-me apresentado – “este é Augusto Pellegrini, faz um programa de jazz aqui na rádio” – e parece que não prestou muita atenção.

Aliás, a rigor ele dava a impressão de que nunca prestava atenção em nada, pois seus sentidos estavam mais ligados no irreal, no surreal, no abstrato, de onde lapidava as suas frases, seus pensamentos e os seus acordes.
Sua filosofia de vida.

O poeta estava triste, havia morrido seu irmão, me contaram, e ele deixara o habitat que escolhera, a cidade do Rio de Janeiro, para cumprir com seus deveres fúnebres em São Luís e, depois de fazê-lo, resolveu procurar os amigos.
Como era dia, foi a uma emissora de rádio e depois às ruas do Centro velho; fosse à noite, talvez os procurasse pelos bares das quebradas.

O poeta não era só poeta, tinha muitas outras atividades misturadas no embornal. 

Cantor, compositor e produtor musical, nascido em 1932 no interior do Maranhão na pequena Itapecuru-Mirim (naquele tempo, muito pequena), Raimundo Nonato Buzar foi brilhar no Rio, para onde viajou aos 21 anos num verdadeiro mergulho no meio do desconhecido.

Na verdade, sua intenção era estudar Engenharia, mas a magia envolvente da Cidade Maravilhosa falou mais alto e ele acabou contagiado pela música, que se transformou no seu projeto de vida. 

Fez seu debut nas noites cariocas cantando e tocando as suas composições nos bares da moda – Bottle’s e Little Club – e logo teve o seu talento reconhecido por dezenas de artistas e frequentadores da noite, e também por proprietários de casas noturnas, diretores de gravadores e produtores artísticos. E, é claro, também pelo público que lotava as casas onde ele se apresentava.

Nonato Buzar compôs um total de 162 canções, tanto solo como ao lado de parceiros como Paulo Sérgio Valle, Ronaldo Bôscoli, Carlos Imperial, Chico Anysio, Chico Feitosa, Torquato Neto, Nelson Motta, Paulinho Tapajós, Roberto Menescal, Durval Ferreira, Rosinha de Valença, Orlandivo, Tibério Gaspar, João Nogueira, Nosly, Gerude ou Rogeryo du Maranhão.

Em nível nacional, teve suas músicas gravadas por Maysa, Alcione, Elis Regina, Elizeth Cardoso, João Nogueira, Nana Caymmi, Cauby Peixoto, Jair Rodrigues, MPB4, Wilson Simonal, Silvio César, Erasmo Carlos, Rosinha de Valença, Luiz Gonzaga, Ivan Lins, Milton Nascimento, Nelson Gonçalves e Ithamara Koorax (cuja gravação de “Vesti Azul” feita em 2012 num álbum chamado “Got To Be Real” foi “top ten” na Europa por ocasião do seu lançamento).

Nonato Buzar também atacou de produtor, sendo responsável na RCA Victor por discos de Jair Rodrigues, Wilson Simonal, a Turma da Pilantragem, Regininha e Jimmy Cliff e também por um álbum que registrou o FIC - Festival Internacional da Canção, um concurso de músicas criado por Augusto Marzagão para a TV Globo entre os anos 1966 e 1972.

Além de ter chegado às paradas europeias com “Vesti Azul”, Nonato compôs um punhado de temas de abertura que se popularizaram em novelas de televisão – “Verão Vermelho”, “Irmãos Coragem” (com Paulinho Tapajós), “O Homem Que Deve Morrer” (com Torquato Neto), além de outras músicas para as novelas “O Cafona”, “Minha Doce Namorada” e “Anjo Mau”.

Compôs temas para outros programas de tevê – “Chico City”, “Brasil Pandeiro”, “Saudade Não Tem Idade” e para filmes diversos – “O Donzelo” e “Aventuras De Um Detetive Português”.

O poeta, simples como um detalhe da natureza, não era pouca coisa não, mas não vivia sobre seus louros.
Sujeito estranho, mas simpático, quando chegava ao Maranhão, que era a sua varanda, desdenhava completamente a aura do sucesso obtido lá fora, e curtia os bares do Mercado Central e as barracas da Ponta D’Areia com a mesma disposição que curtia os bares e a praia de Copacabana, cultivando amigos e novos amigos com o mesmo desprendimento e a mesma afeição.

Nonato Buzar foi então me apresentado, e depois de cinco minutos de conversa nos corredores da emissora, ele me confidenciou que devido ao seu luto familiar não se sentia animado para cair na farra quando chegassem as tentações da noite, pois sabia que se encontrasse a turma da boemia nos bares da vida, a coisa iria inexoravelmente descambar para tal.

Pediu, então, meu endereço e prometeu me fazer uma visita, para espairecer um pouco, posto que tinha passagem marcada de volta para o Rio na manhã seguinte.

Passei o endereço e as referências – “aquela rua do supermercado, na esquina do posto de gasolina, depois de um muro amarelo cheio de pichações” – e ele anotando tudo mentalmente, sem maiores problemas, numa cidade que conhecia muito bem.

COMENTÁRIOS SOBRE A PARTE 1:
Fernando Japona Saudoso mestre!!!

Francsico de Paula Valeu! Poeta

Zelda Scott Carvalhedo Ele fez também uma música linda para São Luis, Namorada do Sol com Alcione, é linda mas pouco divulgada (acho que é este o nome Namorada do Sol)

Iranildo Azevedo Boa lembrança, italiano. Justa e merecida recordação.

Elisa Lago "Rio de escola de samba
De chopp gelado
De canto na igreja…Ver mais

Daura Jorge Evinha e Reginhinha gravaram uma de suas mais lindas canções. TELETEMA
*Rumo estrada turva só despedida, por entre lenços brancos de partida no tele espaço bordado em cores do além.....
Faleceu no Rio de Janeiro em 02 de fevereiro de 2014.…Ver mais

Osvaldo Souza Mandoulegal Carambas que maravilha vc citar esses detalhes a nós maranhenses amigos. Vc mandou legal. Ganhei minha noite.



Daura Jorge Desculpem pelo engano. A música acima, TELETEMA não é do mestre Nonato Buzar e sim de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar.

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Clevane Araujo Que belo e marcante depoimento! Parabéns ! E as citações aumentando a cada comentário! Use em um livro!Ótimo domingo!



Tutuca Viana Grande Nonato Buzar!!

Ronald Almeida Silva EXCELENTE TEXTO PARA UM GRANDE COMPOSITOR QUE O BRASIL PARECE TER ESQUECIDO. NONATO BUZAR TEM DEZENAS DE COMPOSIÇÕES INÉDITAS, um livro de contos, um livro de memórias e um song book. Aguardamos a parte PARTE 2 que AUGUSTO PELLEGRINI está nos brindando e que fará parte do MEMORIAL NONATO BUZAR.
Abraços Ronald Almeida


Jotta Jota Jota Tive a honra de ser amigo do Nonato e do Chico.Isso sim é poesia e musica das melhores. Cheguei a ter a ousadia de tocar com Nonato um dia. Saudades dos belos tempos, velhos dias!

Mozart Baldez Foi tudo isto, fez tudo isto e morreu no ostracismo a exemplo de Joãozinho Trinta. Ambos não tiveram o reconhecimento que o mundo civilizado presta a seus ídolos.

Rogéryo Du Maranhão Meu amigo e parceiro Nonato quanta saudade.

Dokiñi Baldoíno Jr. MUITO LEGAL... MUITO LEGAL, MESMO! ADOREI, principalmente O ENDEREÇO E AS REFERÊNCIAS... kkkk ABRAÇOS, MEU QUERIDO!



Luis Bencice O tempo é um dos senhores mais generosos deste mundo! Nós réles mortais é que insistentemente os ignoramos #ficadica

Oswaldo Boabaid de Lilia Ansioso pela parte II


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FACEBOOK RAS nº 3.772-B (31jul2018):
NONATO BUZAR NAS LEMBRANÇAS E ESCRITOS DE AUGUSTO PELLEGRINI. JUSTA HOMENAGEM
PARTE 2
Augusto Pellegrini Fllho Pellegrini






RIO ANTIGO
(A VISITA DO ESTRANHO POETA)
Parte 2

Veio a noite, eu estou com a televisão ligada falando para as paredes enquanto leio um delicioso livro – “A Lua Vem Da Ásia” de Campos de Carvalho – quando ouço um bater de palmas no portão.

Da porta da sala vislumbro a silhueta do meu novo amigo-poeta, faço-lhe a devida vênia e carrego com ele para a sala de jantar, onde meu filho e seu amigo confabulam sobre uma nova composição para a banda de pop-rock em que tocam.
Nonato Buzar é um universalista.
Para ele não existem jovens nem velhos, e as suas músicas mesclam irreverência, força e ternura, podendo ser apreciadas e tocadas tanto por um grupo de menestréis setecentistas como por uma banda de rock inconformista.
Ele pede uma dose de uísque e um violão.

Tudo à mão, é atendido com reverência e tem a seu dispor uma plateia atenta composta por três pessoas. Bebe a primeira dose como um retirante sedento e a segunda com um pouco menos de sofreguidão. Só então se lembra do gelo.

O uísque é de boa procedência – Chivas Regal 12 anos – ainda não havia sido inaugurado, e Nonato prova e aprova.
Entre um gole e outro, com pouca conversa, sucedem-se as canções, debaixo de um silêncio respeitoso e sob o olhar de quem flerta com o inesperado.

“Eu estou no céu ou estou no carrossel
De pé pro ar, sou barquinho de papel
À beira-mar, sou criança outra vez
Vi você corar, no espelho sua saia levantar
Na montanha russa vi você gritar
E eu no banco de trás”
(“Dez Pras Seis” – Nonato Buzar e Paulo Sérgio Valle)

“...Dizendo que eu devia vestir azul
Que azul é cor do céu e seu olhar também
Então o seu pedido me incentivou
Vesti azul, minha sorte então mudou
Vesti azul, minha sorte então mudou”
(“Vesti Azul” – Nonato Buzar)

“Nada pra fazer, apenas ver
Que a paixão chegou por causa de você
Quando se descobre ser capaz de amar assim
É alma , é paz, é fim”
(“Coração Na Voz” – Nonato Buzar, Nosly e Gerude)

“Num dia igual a qualquer um
Eu despertei dentro de mim
Se fez manhã no meu viver
Se fez igual a terra e o céu
Amanheceu onde eu segui
Me despedi dos rumos onde andei”
(“Assim Na Terra Como No Céu” – Nonato Buzar, Paulinho Tapajós e Roberto Menescal)

“Manhã despontando lá fora
Manhã, já é sol, já é hora
E os campos se abrindo em flor
Que é preciso coragem
Que a vida é viagem
Destino do amor”
(“Irmãos Coragem” – Nonato Buzar e Paulinho Tapajós)

“...Camisa verde-claro, calça Saint Tropez
Combinando com o carango, todo mundo vê
Ninguém sabe o duro que dei
Pra ter fon-fon trabalhei, trabalhei”
(“O Carango” – Nonato Buzar e Carlos Imperial)

“Menininha sai do portão
Vem também brincar
Vem pra roda, me dê a mão
Traz o seu olhar
Vou girando na roda
Vou cantando à sua espera
Quem me dera um dia ter seus olhos
Cor da primavera”
(“Menininha Do Portão” – Nonato Buzar e Paulinho Tapajós)

“Agora que você conhece Charlie Brown
Foi convidado a conhecer nossa nação
Achei legal e resolvi também tornar universal
E exportar mon ami João”
(“Mon Ami João” – Nonato Buzar e Durval Ferreira)

“...Um pregão de garrafeiro
Zizinho no gramado, eu quero um samba sincopado
Taioba, bagageiro, e o desafinado
Que o Jobim sacou
Quero o programa de calouros com Ary Barroso
Lamartine me ensinando um lá-lá-lá-lá-lá gostoso
Quero o Café Nice
De onde o samba vem”
(“Rio Antigo” – Nonato Buzar e Chico Anysio) 

No silêncio da noite, entre goles e canções, apenas meia dúzia de palavras foram pronunciadas, embora o mestre falasse para si mesmo, os ouvintes não ousando quebrar o encanto da audição.
As palavras vinham com a música.

Fim de uísque, início de madrugada, o poeta se levanta, o semblante aliviado, mas cansado, e me agradece com um abraço e um cálido “boa noite”.

E vai de encontro ao alvorecer, seu parceiro de vida.
O violão, saudoso, repousa sobre a cadeira.
Nonato Buzar morreu no Rio de Janeiro, cidade que ele escolheu para viver, em fevereiro de 2014 com 81 anos. Deixou muitas saudades e um livro de crônicas que eu não li – “Planeta Neus”.

E deixou também um vazio na cadeira bem ao lado do meu computador, junto à mesa que ainda recende ao uísque generosamente derrubado naquela noite de festa.

In memoriam.





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RONALD DE ALMEIDA SILVA
Rio de Janeiro, RJ, 02jun1947; reside em São Luís, MA, Brasil desde 1976.
Arquiteto Urbanista FAU-UFRJ 1972 / Registro profissional CAU-BR A.107.150-5
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