O GOLFÃO MARANHENSE
Autores diversos abaixo identificados
[01] O GOLFÃO MARANHENSE
O Golfão
maranhense é um complexo estuarino localizado em uma posição em ângulo reto em
relação ao litoral. No golfão, desembocam duas drenagens independentes; o
sistema Mearim/ Pindaré/ Grajaú, na baía de São Marcos, e o rio Itapecurú, na
baía de São José (prancha 5, estampas 3 e 4).
O golfão é
largamente aberto ao norte sobre a plataforma continental (100 km) e é
desenvolvido entre os setores 02 e 03 (figura 01)(a NW, o litoral é constituido
por “falas [leia-se falsas] rias” e a Leste, este
trecho é retilíneo e ocupado por campos dunários (El-Robrini, 1992).
A baía de São
Marcos (prancha 5, estampa 1) é uma vasta zona estuarina, com orientação NE-SW
e cuja, morfologia integra dois tipos contrastantes de costa; ao nordeste, a
costa é subretilínea, com formação de dunas e praias arenosas (norte da ilha de
São Luís); a noroeste ao contrário, a costa é recortada por “falsas rias”, é uma
parte colonizada por mangue. Esta vasta baía, amplamente aberta sobre a plataforma
continental tem 50 km na parte norte, 15 km na parte central (entre Alcântara e
a Ponta de São Marcos), 25 km, ao nível da ilha dos Caranguejos e 4 km na foz
do rio Mearim.
As duas baías que constituem o Golfão
maranhense tem ligação distinta com o mar aberto.
Ø
A baía de São Marcos, a mais longa, é um estuário
ativo, com um canal central bem desenvolvido e dominado por correntes de
vazante, onde sucedem-se bancos arenosos, em série, desde a foz da baía, até dezenas
de quilômetros para o interior.
Ø
Na foz da baía de São José, ocorrem extremidades
de exporões ou de bancos, assimétricos, com direção ENE-WSW, oblíqua à costa,
separados por canais estreitos. Alguns bancos situados pouco mais a leste
orientam-se paralelamente à linha de costa. Na baía de São José, não existe
canal de maré desenvolvido como na baía de São Marcos.
Em frente ao
Golfão maranhense, a plataforma continental apresenta uma depressão, que é
chamada de “depressão maranhense”.
Fonte: Ministério do Maio Ambiente
http://www.mma.gov.br/estruturas/sqa_sigercom/_arquivos/ma_erosao.pdf
[02] O GOLFÃO MARANHENSE
Mapeamento de ambientes costeiros tropicais (Golfão
Maranhense, Brasil) utilizando imagens de sensores remotos orbitais
Revista Brasileira de Geofísica
Print version ISSN 0102-261X
Rev. Bras.
Geof. vol.27 supl.1 São Paulo; 2009
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-261X2009000500006
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-261X2009000500006
Sheila Gatinho TeixeiraI; Pedro Walfir
Martins e Souza FilhoII
I Companhia
de Pesquisa de Recursos Minerais, Serviço Geológico do Brasil, Av. André
Araújo, 2160, Aleixo, 69060-001 Manaus, AM, Brasil. Tel.: +55 (92)2126-0327;
Fax: +55 (92) 2126-0319 - E-mail:steixeira@ma.cprm.gov.br
II Universidade
Federal do Pará, Centro de Geociências, Laboratório de Análise de Imagens do
Trópico Úmido, Av. Augusto Correa, 1, Campus do Guamá, Caixa Postal 8608,
66075-110 Belém, PA, Brasil. Tel.: +55 (91) 3201-8009; Fax: +55 (91) 3183-1478
- E-mail: walfir@ufpa.br
RESUMO
Este trabalho apresenta os resultados do
reconhecimento e mapeamento dos ambientes costeiros da região do GOLFÃO MARANHENSE, Brasil, utilizando
uma abordagem metodológica que incluiu:
(a) análise integrada com base no processamento
digital de imagens, ópticas Landsat-4 TM e SPOT-2 HRV, de imagens SAR (Synthetic
Aperture Radar) do RADARSAT-1, e dados de elevação da SRTM (Shuttle
Radar Topography Mission);
(b) sistema de informações geográficas; e
(c) levantamentos de campo relativos à geomorfologia,
topografia e sedimentologia.
Os ambientes costeiros, assim mapeados foram
agrupados em quatro setores:
Setor 1, com pântanos salinos, pântanos de água doce,
lagos intermitentes e canal estuarino;
Setor 2, abrangendo tabuleiro costeiro, planície de
maré lamosa, planície fluvial, planície de maré arenosa, praias de macromaré, área construída e lagos
artificiais;
Setor 3, com manguezal, paleodunas e planície de maré
mista; e
Setor 4, constituído por dunas móveis.
Além disso, foram também reconhecidos lagos perenes,
deltas de maré vazante e planícies de supramaré
arenosas. O processamento digital e a análise visual das imagens de sensores
remotos orbitais, associados ao uso de sistemas de informações geográficas,
mostraram-se eficazes no mapeamento de zonas costeiras tropicais,
possibilitando a geração de produtos com boa acurácia e precisão cartográfica.
Palavras-chave: ambientes costeiros, zonas úmidas, sensoriamento
remoto orbital, imagens, Amazônia.
ABSTRACT
This paper presents the
results of coastal environmental mapping of Golfão Maranhense, Brazil, using a
methodological approach that includes: (a) integrated analysis based on digital
image processing of Landsat-4 TM, SPOT-2 HRV, RADARSAT-1 SAR (Synthetic
Aperture Radar) and SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) data; (b)
geographic information system; (c) field surveys related to geomorphology,
topography and sedimentology. Mapped environments were grouped into four
sectors: Sector 1, with salt marsh, fresh marsh, estuarine channel and
intermittent lake; Sector 2, embracing coastal plateau, fluvial floodplain,
sandflats, macrotidal beach, urban areas, artificial lakes and mudflats; Sector
3, including, paleodunes covered with grass, mangroves and mixed intertidal
banks; Sector 4, constituted by mobile dunes. In addition, perennial lakes,
ebb-tidal deltas and supratidal sandflats were recognized. Digital image
processing visual analysis of orbital remote sensing data in association with
geographic information system, proved to be effective in tropical coastal
mapping, allowing the generation of products with good accuracy and
cartographic precision.
Keywords: coastal environments, wetlands,
orbital remote sensing, images, Amazon Region.
INTRODUÇÃO
O Golfão
Maranhense, termo adotado pelo projeto RADAM com base na descrição de
Ab'Saber (1960), está localizado no extremo norte do Estado do Maranhão. O
Golfão está inserido no contexto das regiões tropicais úmidas, as quais se
estendem entre as latitudes de 15º N e 15ºS. Tais ambientes são de grande
importância ambiental, pois contêm metade da água doce, partículas e solutos
descarregados nos oceanos. Os trópicos úmidos são caracterizados por
precipitação alta e constante (>1.500 mm/ ano), altas temperaturas
(>20ºC) e baixa variação térmica(Nittrouer et al., 1995).
Esta área, mesmo inserida em importante contexto nos
trópicos úmidos, ainda se encontrava desprovida de estudos mais detalhados
(escalas de 1:25.000 e 1:50.000) nos ambientes costeiros, fato que motivou sua
escolha para a realização da presente pesquisa.
Assim, são aqui apresentados os resultados do
mapeamento dos ambientes costeiros da região do Golfão Maranhense. Para a
confecção do trabalho foram utilizadas imagens ópticas Landsat-4 TM (Thematic
Mapper) e SPOT-2 HRV (High Resolution Visible), imagens SAR (Synthetic
Aperture Radar) do RADARSAT-1, além de dados de elevação da SRTM (Shuttle
Radar Topography Mission). Estas imagens de sensores remotos orbitais
foramprocessadas digitalmente, utilizando técnicas que permitiram o
reconhecimento e o mapeamento de dezoito ambientes costeiros tropicais, sendo
uma feição morfológica e duas feições antrópicas, agrupados em quatro unidades
morfológicas, a saber: Planalto Costeiro, Planície Fluvial, Planície Estuarina
e Planície Litorânea.
ÁREA DE ESTUDO
O Golfão
Maranhense está localizado no extremo norte do Estado do Maranhão e é
constituído pelas baías de São Marcos e
São José, que se encontram separadas pela Ilha de São Luís (Fig. 1). Esta região faz parte de uma zona
costeira marcada por estuários e reentrâncias no noroeste do Maranhão, que
apresenta cerca de 5.414 km2 de manguezais, e no nordeste do Pará,
com aproximadamente 2.177 km2 de
manguezais Souza Filho (2005).
Esta zona costeira, que constitui o maior sistema contínuo de manguezais do
mundo, foi designada por Souza Filho, op.
cit., como Costa de Manguezais de Macromaré da Amazônia (CMMA).
Os
manguezais do Estado do Maranhão são considerados os mais estruturalmente
complexos do Brasil (Rebelo-Mochel, 1997). Este
aspecto é atribuído em parte às diversas características da linha de costa, às
grandes quantidades de água doce, provenientes de extensos rios, às altas taxas
de precipitação, bem como às altas amplitudes de maré (Kjerfve & Lacerda,
1993).
Além disso, a área de estudo encontra-se no centro de
um sistema de golfo, caracterizado por macromaré semidiurna, com variações
médias de 4 m e máxima superior a 7 m.
As correntes de marés máximas são superiores a 4 m/s
(Rebelo-Mochel, op. cit.).
O clima é tropical úmido, com estações seca (julho a
dezembro) e chuvosa (janeiro a junho) bem definidas, com temperatura média em
torno de 26ºC.
MATERIAIS
O estudo foi baseado nas informações extraídas de
duas cenas do sensor Thematic Mapper (TM) do Landsat-4 (órbitas/ponto 220/062 e
221/062, que se referem, respectivamente, às datas de passagem 21/08/1992 e
13/09/1992), adquiridas no acervo da Universidade de Maryland, bem como duas
cenas HRV do SPOT-2 (órbitas/ponto 710/355 e 711/355, que se referem,
respectivamente, às datas de passagem 09/08/1990 e 18/08/1991). Foram também
utilizadas duas cenas do RADARSAT-1, no modo de imageamento Wide 1, de órbita
descendente, com aquisição em 16/01/2003 e 09/02/2003. As quatro cenas SRTM
empregadas, correspondentes aos arquivos hgt S03W044, S03W045, S04W044 e S04W045 do
período de 11 a 22/02/2000, foramadquiridas pelo ônibus espacial Endeavour (Rabus et al., 2003). Algumas
características destas imagens são descritas naTabela 1.
Um problema encontrado neste trabalho foi a falta de
imagens ópticas (Landsat e SPOT) sem cobertura de nuvens na área estudada,
durante o período de obtenção dos dados RADARSAT-1, impossibilitando a comparação
entre informações extraídas nas faixas ópticas e de microondas do espectro
eletromagnético para o mesmo período.
Os dados foram processados no Laboratório de Análise
de Imagens do Trópico Úmido (LAIT), da Universidade Federal do Pará (UFPA),
utilizando os pacotes PCI Geomatica 9.1, Surfer 8, Global Mapper 5 e ArcView
GIS 3.2.
MÉTODOS
A abordagem metodológica para a geração do mapa de
ambientes costeiros envolveu o processamento digital, no software PCI V. 9.1, das imagens ópticas
(Landsat-4 TM e SPOT-2 HRV), SAR (RADARSAT-1 Wide-1) e SRTM, além de
levantamentos de campo, relativos à geomorfologia, topografia e sedimentologia.
Para as imagens ópticas, foram efetuados: (1)
correção atmosférica através do método de ajuste do histograma (Jensen, 1996);
(2) confecção de mosaicos de imagens, considerando duas cenas adjacentes
lateralmente; (3) escolha do melhor triplete de bandas Landsat-4 TM (1, 4 e 5)
através do cálculo OIF (Optimum Index Factor) (Chavez Jr. et al., 1982);
(4) realce linear do contraste aplicado ao mosaico de imagens; e (5) correção
geométrica das imagens SPOT através de modelo polinomial, pois estas foram
adquiridas no formato geotiff,
não possuindo os dados de órbita, que são pré-requisitos para a
ortorretificação. Nas imagens Landsat, não foi efetuada correção geométrica,
pois estas já foram adquiridas ortorretificadas.
As imagens SRTM foram processadas primeiramente no software Global Mapper 5, com recorte e
confecção de mosaicos. Posteriormente, estes mosaicos do SRTM foram processados
no PCI 9.1, no qual foi feita a extração automática do DEM.
Os dados RADARSAT-1 foram primeiramente reescalonados
de 16 para 8 bits (PCI Geomatics, 2004) e posteriormente ortorretificados
(Cheng et al., 2000) usando o modelo digital de elevação adquirido automaticamente
das imagens SRTM. Em seguida, foi utilizado para a redução do ruído speckle o filtro de Frost (3×3) e,
subseqüentemente, aplicado um aumento linear de contraste linear.
Os trabalhos de campo foram realizados em outubro de
2005, constando das seguintes atividades: (1) validação dos ambientes costeiros
reconhecidos nas imagens de sensores remotos, através da coleta de pontos de
controle em levantamento terrestre; (2) amostragem de sedimentos para análise
granulométrica; (3) sobrevôos para refinar o reconhecimento dos ambientes
costeiros.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Reconhecimento e caracterização dos ambientes
costeiros do Golfão Maranhense
O reconhecimento dos ambientes costeiros foi
realizado através da interpretação visual dos melhores produtos obtidos através
do processamento digital de imagens. A interpretação visual levou em
consideração o arranjo espacial das propriedades físicas e químicas dos alvos
naturais nas imagens ópticas (Fig. 2) e a análise da textura, forma, tons
e tamanho nas imagens SAR (Fig. 3), além do exame de variáveis
ambientais (dados de precipitação e de maré) para os dias de aquisição das
imagens. Assim, foram reconhecidos quinze ambientes costeiros, bem como uma
feição morfológica, o Tabuleiro Costeiro, duas feições antrópicas (Área
Construída e Lagos Artificiais). Neste trabalho, a fim de facilitar a descrição
e a espacialização dos ambientes e feições costeiras, a área de estudo foi
segmentada em quatro setores geográficos (Fig. 3B).
O Setor 1 compreende parte da Baixada Maranhense até
a Baía de São Marcos, englobando a Ilha
do Caranguejo. Neste setor, são reconhecidos pântanos salinos, pântanos de água
doce, lagos intermitentes e o canal estuarino.
Pântanos
salinos
São ambientes localizados sob os manguezais, que,
como estes, também se desenvolvem em uma topografia baixa, que varia de 0 a 3
m. Nas composições coloridas Landsat-4 TM (Fig. 4A) e SPOT-2 HRV (Fig. 4D), os pântanos salinos são
identificados pelas cores ciano e verde claro, em função da resposta espectral
do solo lamoso salino exposto. Sabe-se que a salinidade, a rugosidade do solo e
a umidade aumentam a constante dielétrica e, conseqüentemente, incrementam o
retroespalhamento, aumentando a resposta dos alvos na faixa de microondas. Os
pântanos salinos são observados em tons de cinza escuro, na imagem SAR do dia
16 de janeiro de 2003 (Fig. 4B). Esta tonalidade é decorrente da
condição de baixa precipitação registrada tanto para o dia da aquisição da
imagem, como para os cinco dias que antecederam tal data, levando à diminuição
da constante dielétrica e a reflexão predominante das microondas, pelo solo
liso exposto, na direção oposta à antena do radar.
Pântanos
de água doce
Corresponde à região rebaixada e alagadiça dos
estuários afogados do rio Mearim, denominada Baixada Maranhense. A planície
apresenta numerosas lagoas fluviais, extensas várzeas inundáveis e áreas
colmatadas, sendo recobertas por palmeiras de Mauritia
flexuosa e Euterpe edulis (Lebigre, 1994). No geral, apresenta
cotas em torno de 0 a 10 m e é bordejada pelo planalto costeiro.
Este ambiente é identificado nos mosaicos Landsat-4
TM e SPOT-2 HRV (Figs. 4A e D), através das cores verde e vermelho
claro, respectivamente, em decorrência da mistura espectral das respostas do
solo alagadiço, que possui baixa reflectância tanto na faixa espectral do
visível como do infravermelho, e das gramíneas, que possuem alta reflectância
na faixa do infravermelho. Ao longo dos canais fluviais, ocorre vegetação do
tipo palmeira. Na imagem SAR (Fig. 4B), este ambiente é observado em tons
de cinza escuro, em virtude do baixo retorno do sinal, ocasionado pela pequena
rugosidade da vegetação do tipo gramínea, que cria um mecanismo de
retroespalhamento quase-especular.
Lagos
intermitentes
Correspondem a corpos hídricos rasos, com
aproximadamente 2 m de profundidade, que ocorrem sobre os pântanos de água doce
e são abastecidos principalmente por águas pluviais, secando totalmente durante
o período mais seco. Os lagos intermitentes foram identificados em função da
reflexão especular da água observada na imagem RADARSAT-1 W1, de 09 de
fevereiro de 2003 (Fig. 4C), adquirida em um período de alta
precipitação. Na imagem RADARSAT-1 W1 de 16 de janeiro de 2003 (Fig. 4B), os lagos não são observados, o
que ratifica a condição intermitente deste ambiente controlado principalmente
pela chuva.
Canais
estuarinos
Os canais estuarinos são representados pelos rios
Mearim (Figs. 4A, B, C e D), Munim e Itapecuru. Estes foram
identificados pelo contraste da resposta espectral da água e pela reflexão
especular nas imagens SAR.
O Setor 2 inclui a Ilha de São Luís, desde a Baía de
São Marcos até a Baía de São José. Nele, são reconhecidos o tabuleiro costeiro,
planície fluvial, planície de maré lamosa, planície de maré arenosa, praias de
macromaré, área construída e lagos artificiais.
Tabuleiro
costeiro
Esta feição morfológica é sustentada por sedimentos
cretácicos do Grupo Itapecuru, apresentando cotas que variam de 20 a 120 m. No
contato com os manguezais, são observadas paleo-falésias; nos limites com rios
e com o mar, são esculpidos barrancos e falésias ativas, respectivamente.
O tabuleiro costeiro foi reconhecido a partir da
resposta espectral da vegetação arbórea, que possui alta reflectância na faixa
do infravermelho próximo e médio. Assim, apresenta-se com cor vermelha em tons
mais claros na composição colorida Landsat-4 TM (Fig. 5A), em razão da contribuição da
vegetação arbórea nas bandas 4 e 5. Na composição colorida SPOT-2 HRV (Fig. 5B), a cor vermelha do tabuleiro
costeiro é explicada pela alta reflectância da vegetação na banda 3. A
diferença de saturação do vermelho nas imagens Landsat e SPOT, para o tabuleiro
costeiro, deve-se à ausência da faixa do infravermelho médio no sensor HRV. Na
imagem RADARSAT-1 W1 da Fig. 5C, o tabuleiro costeiro é observado
em tons relativamente escuros, em decorrência do mecanismo de retroespalhamento
difuso do sinal, provocado pela estrutura da vegetação arbustiva, sendo
influenciado pelo baixo teor de umidade.
Planície
fluvial
A planície fluvial é representada pelas áreas
sujeitas à inundação dos rios, caracteristicamente áreas baixas (cotas variando
de 0 a 10 m) e planas, que ocorrem bordejando os principais cursos d'água na
região investigada. Essas áreas são inundadas somente durante os períodos de
grandes cheias e foram identificadas nas composições coloridas Landsat-4 TM (Fig. 5A) e SPOT-2 HRV (Fig. 5B) pela cor vermelha, decorrentes da
resposta espectral do tipo de vegetação, no entanto, que é diferente das áreas
de tabuleiro. A planície fluvial também foi identificada por sua forma, que
acompanha o padrão de drenagem. Na imagem SAR (Fig. 5C), apresenta tons de cinza mais
claros, em virtude dos mecanismos de retroespalhamento do tipo volumétrico e do
tipo double bounce (reflexão de canto), sendo
diferenciada também porapresentar uma textura mais rugosa que as áreas
adjacentes.
Planície
de maré lamosa
Este ambiente ocorre bordejando algumas áreas de
mangue, sendo constituído essencialmente de sedimentos lamosos e melhor
observado nos períodos de maré baixa. Como a região está inserida em uma zona
de macromaré, na qual as variações diárias chegam em média a 5 m, esta planície
lamosa pode atingir uma extensão de aproximadamente 1 km, como observado em
frente à cidade de São Luís. A planície lamosa pode ser visualizada na imagem
SAR (Fig. 5D) como áreas em tons de cinza escuro
em virtude da rugosidade da superfície dessas áreas.
Planície
de maré arenosa
Ocorre na porção distal da planície estuarina,
margeando as dunas costeiras. É constituída por sedimentos arenosos úmidos,
pois sofrem a influência da maré. Na área de estudo, a planície arenosa possui
a feição do tipo esporão (spit), que é observada no extremo norte da
Ilha de São Luís (Fig. 5A). Tal feição é representada pela
cor ciano, em resposta ao comportamento espectral da areia úmida, nas faixas
imageadas pelo sensor Landsat-4 TM. Na imagem SAR (Fig. 5D), este ambiente de textura lisa é
observado, em condições de maré baixa, em tons de cinza escuro.
Praias de
macromaré
Ocorrem como faixas de sedimentos arenosos, que
bordejam a Ilha de São Luís e outras ilhas menores na porção nordeste da área.
Na Ilha de São Luís, as praias são constituídas de areias finas a médias,
moderadamente selecionadas, enquanto que, na região de Alcântara, porção
noroeste da área de estudo, os sedimentos que as constituem são caracterizados
como areias finas a muito finas e moderadamente selecionadas. Na Ilha de São
Luís, as praias de macromaré, em condições de maré baixa, podem chegar a uma
largura de aproximadamente 1 km. Tais ambientes são observados nas imagens
ópticas na cor branca (Figs. 5Ae B), em função da resposta espectral dos
depósitos arenosos,que possuem alta reflectância nas faixas espectrais do
visível e infravermelho. Nas imagens RADARSAT-1 W1 (Figs. 5C e D), este ambiente possui tonalidade cinza
escura, em função do baixo retorno do sinal, decorrente da pequena rugosidade
local, desenvolvendo um mecanismo de retroespalhamento quase-especular.
Áreas
construídas e lagos artificiais
As áreas construídas englobam tanto as porções urbanas
em expansão como as consolidadas, estas representadas principalmente pela
cidade de São Luís. Tais áreas são identificadas pela cor verde clara nas
imagens Landsat-4 TM e SPOT-2 HRV (Figs. 5A e B), em decorrência de sua reflectância nas
regiões do infravermelho e visível. Nas imagens RADARSAT-1 W1 (Figs. 5C e D), estes alvos podem ser observados como
áreas de forte retorno do radar em decorrência do efeito de reflexão de canto (double
bounce).
Os lagos
artificiais ocorrem na região da cidade de São Luís, sendo identificados na imagem Landsat-4 TM pela cor
azul escura (Fig. 5A) e no SPOT-2 HRV (Fig. 5B) pela cor verde escura, em resposta
ao comportamento espectral da água no visível. Nas imagens de RADARSAT-1 W1 (Figs. 5C e D), foram caracterizados pelo baixo retorno
do radar, decorrente da reflexão especular na água.
O Setor 3 abrange a porção a sul da Ilha de São Luís,
incluindo a foz do rio Itapecuru. Neste setor, são reconhecidas as paleodunas,
planície de maré mista e manguezal.
Paleodunas
Sobre o tabuleiro costeiro, observam-se áreas com
sedimentos arenosos expostos, que foram mapeados como paleodunas, as quais
ocorrem, entre as cotas de 20 e 70 m. Nas imagens de sensores ópticos (Figs. 6A e B), são diferenciadas do tabuleiro costeiro
pela cor, decorrente de sua alta resposta espectral nas faixas do visível e do
infravermelho, como também pela textura rugosa, proveniente de sua morfologia.
Na imagem SAR (Fig. 6C), as paleodunas são observadas em
tons escuros. O reconhecimento deste ambiente só ocorreu com o levantamento de
campo, pois apenas com a análise das imagens de sensores remotos não foi
possível estabelecer sua classificação.
A compartimentação das paleodunas observada em campo
é melhor visualizada nas imagens SPOT-2 HRV, pois sua resolução espacial de 20
m permite o detalhamento mais preciso da textura rugosa característica da
morfologia deste ambiente.
As características espectrais das paleodunas
permitiram a definição de três compartimentos, em função das diferentes
reflectâncias nas bandas SPOT-2 HRV: paleodunas vegetadas, não-vegetadas e
interdunas.
Planície
de maré mista
A planície de maré mista é representada
principalmente por bancos areno-lamosos em condições de intermaré, que podem
ser encontrados no meio dos canais estuarinos, durante o período de baixamar.
Pode ser observada na imagem SAR (Fig. 6D) ora em tons de cinza claro, ora em
tons de cinza escuro, tonalidades estas provenientes do mecanismo de
retroespalhemento influenciado tanto pela superfície da água (tons escuros)
como pela superfície rugosa dos bancos arenosos então emersos (tons claros).
Manguezal
Este ambiente é caracterizado por sedimentos lamosos
e apresenta uma cobertura vegetal em que predominam de espécies de Rhizophora e Avicennia (Lebigre, 1994). Ocorrem em áreas
baixas com cotas variando de 0 a 3 m, incluindo árvores de 30 m de altura em
média. Considerando os sensores ópticos utilizados, este ambiente pode ser
melhor discriminado das áreas de Tabuleiro na imagem Landsat-4 TM (Fig. 6A), em função da alta resposta
espectral da densa floresta de mangue na faixa do infravermelho próximo. A
mesma delimitação não é observada nas imagens SPOT, pois tanto a vegetação
arbustiva que recobre o tabuleiro costeiro como a vegetação de mangue possui
altas reflectâncias na faixa do infravermelho próximo, representada pela banda
3 HRV (λ = 0,79-0,89 µm), dificultando assim a
delimitação deste ambiente. Na imagem SAR (Fig. 6C), o manguezal é observado em tons
de cinza claro, decorrentes do maior retroespalhamento, mecanismo de double bounce, em virtude da
inundação da floresta de mangue, condicionada pela maré alta registrada para o
dia 16 de janeiro de 2003.
O Setor 4 abrange a área costeira, desde a Baía do
Tubarão até o limite oeste dos Lençóis Maranhenses. Neste setor, é destacada a
presença das dunas móveis.
Dunas
móveis
Ocorrem na porção norte da Ilha de São Luís e nordeste
da área estudada, dispondo como transversais ou barcanas. São limitadas a sul
pelos manguezais e a norte pela planície de maré arenosa e pelo Oceano
Atlântico. As dunas móveis são constituídas essencialmente por depósitos de
areia fina a média, bem selecionados, de coloração esbranquiçada. Este ambiente
pode ser identificado na imagem Landsat-4 TM (Fig. 7A) pela cor branca, em função da alta
reflectância dos depósitos arenosos em todas as faixas espectrais. Nas imagens
RADARSAT-1 W1, apresentam-se com tonalidades escuras, em decorrência da
reflexão especular do pulso do radar nas superfícies lisas das dunas (Figs. 7B e C).
Além dos ambientes, anteriormente citados foram ainda
reconhecidos: lagos perenes, que ocorrem sobre o tabuleiro costeiro, na porção
oeste da área; delta de maré vazante, que é um ambiente que se desenvolve na
desembocadura de alguns canais estuarinos, na porção noroeste da área, ficando
totalmente exposto durante a baixamar; planície de supramaré arenosa, que
ocorre de maneira descontínua, na porção noroeste da área, e encontra-se
topograficamente acima dos manguezais e abaixo do tabuleiro costeiro,
bordejando este.
Mapeamento dos ambientes costeiros
A partir do reconhecimento dos ambientes costeiros,
as imagens de sensores remotos foram agrupadas em uma base de dados
georreferenciados no ArcView 3.2. Integrados aos dados de campo, os polígonos
referentes a cada ambiente foram vetorizados, permitindo a visualização de sua
distribuição espacial no mapa de ambientes costeiros, com uma precisão de aproximadamente
38 m (Fig. 8).
Detalhes das cores e texturas dos ambientes costeiros
reconhecidos nas imagens, bem como a área ocupada por cada um deles, estão
descritos na Tabela 2.
CONCLUSÕES
Este trabalho constou do uso de sensores remotos, que
operam em diferentes faixas do espectro eletromagnético, no reconhecimento e
mapeamento da área costeira tropical do Golfão Maranhense.
Os sensores ópticos (Landsat-4 TM e SPOT-2 HRV)
contribuíram com informações espectrais, que realçaram as características
físico-químicas dos materiais. As imagens SPOT-2 HRV apresentam menor resolução
espectral, porém maior resolução espacial, quando comparadas às imagens
Landsat-4 TM, constituindo importante fonte de informações no mapeamento e
permitindo a visualização de detalhes. No entanto, a maior resolução espectral
das imagens Landsat-4 TM possibilitou a discriminação entre os diferentes
ambientes, como por exemplo, o limite entre o tabuleiro costeiro e as áreas de
manguezal.
As imagens RADARSAT-1 W1 contribuíram com informações
relacionadas a diferenças na altura da vegetação litorânea, geometria dos
ambientes, rugosidade superficial, além de apresentar o comportamento dos
ambientes costeiros mapeados em diferentes condições de maré. Permitiram também
o monitoramento de áreas alagáveis, pois foram adquiridas em condições de
precipitação bastante distintas, onde, na imagem do dia 16 de janeiro de 2003,
não houve chuva, enquanto que, na imagem do dia 09 de fevereiro de 2003, houve
precipitação não só no dia da aquisição da imagem, mas nos dias que a
antecederam. Tal fato resultou na formação dos lagos intermitentes, que são bem
marcados nesta imagem SAR com tonalidades escuras.
O uso conjunto das técnicas de sensoriamento remoto e
de sistema de informações geográficas mostrou-se eficaz no mapeamento da zona
costeira, possibilitando a geração de produtos na escala de 1:50.000 com boa acurácia
e precisão cartográfica.
AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi realizado no contexto do projeto
PIATAM Mar, com apoio da Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras), do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, Proc. #502450/03-7)
e do projeto Rede 05 / Petromar / Petrorisco (CtPetro / FINEP / Petrobras /
CNPq).
Os autores agradecem ao CNPq pelo auxílio à pesquisa
durante esta investigação (Proc. #303238/2002-0 e Proc. #130599/2004-2).
REFERÊNCIAS
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Recebido em 17 outubro, 2006 /
Aceito em 31 agosto, 2007
Received on October 17, 2006 / Accepted on August 31, 2007
Received on October 17, 2006 / Accepted on August 31, 2007
NOTAS SOBRE OS AUTORES
Sheila Gatinho Teixeira. Geóloga da Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais, Serviço Geológico do Brasil, da Superintendência de Manaus-AM. Possui
graduação em Geologia pela Universidade Federal do Pará (2004). Desenvolveu
mestrado na área de sensoriamento remoto aplicado à geologia costeira no
Programa de Pós-graduação em Geologia e Geoquímica da UFPA. Atualmente é
estudante de doutorado na área de sensoriamento remoto, do Programa de
Pós-graduação em Geologia e Geoquímica da UFPA.
Pedro Walfir Martins e Souza Filho. Professor Doutor do Departamento de Geologia do
Centro de Geociências da UFPA desde 2002. Desenvolveu mestrado na área de
geologia costeira e doutorado na área de sensoriamento remoto aplicado à
geologia costeira no Programa de Pós-graduação em Geologia e Geoquímica da
UFPA. É bolsista de produtividade em pesquisa nível II do CNPq desde 2003 e
atualmente coordena o Laboratório de Análise de Imagens do Trópico Úmido do
Centro de Geociências da UFPA.
[03] O MAR TERRITORIAL DO MARANHÃO
MAR TERRITORIAL do Maranhão = 640 km extensão x 370 km de ZEE = 236.800
km²; equivalente a 71 % do território continental maranhense (331.937 km²).
Total Território do MA: terrestre + marítimo = 568.737 km².
Mar Territorial = 200
milhas marítimas = 370 km a partir das linhas de base da costa, classificados como
ZEE – Zona Econômica Exclusiva, conforme o Decreto Federal nº 1.530, de 22 de junho
de 1995, que “Declara a entrada em vigor da CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, concluída em
Montego Bay, Jamaica, em 10 de dezembro de 1982”; Artigo 57: Largura da zona econômica exclusiva. A zona econômica
exclusiva não se estenderá além de 200 milhas marítimas das linhas de base a
partir das quais se mede a largura do mar territorial.
Ronald de Almeida
Silva
Arquiteto
urbanista
Conselheiro Membro do CONERH-MA
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