ACESSIBILIDADE E
DESENHO UNIVERSAL
Habitação de Interesse Social
Disponível em (03ago2016):
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DIRETRIZES DO DESENHO UNIVERSAL NA HABITAÇÃO DE INTERESSE
SOCIAL NO ESTADO DE SÃO PAULO [2010]
Espaço
para todos e por toda a vida
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[I]
[PREFÁCIO 1]
Habitação
para todas as pessoas e por toda a vida
1. O direito à habitação não deve prescindir da liberdade e
igualdade de utilização por todos os usuários. Uma moradia digna contempla as
necessidades do ser humano em todas as etapas e circunstâncias da vida.
2. Por isso, quando falamos em habitação inclusiva, referimo-nos a
um conceito muito mais amplo do que a simples adaptação de imóveis para atender
situações específicas, como dificuldade ou incapacidade de locomoção,
deficiência visual, auditiva ou de qualquer natureza.
3. Falamos de uma casa e seus arredores concebidos para todas
as pessoas e por toda a vida.
4. Essa é a proposta do Desenho
Universal aplicado à habitação [de interesse social]. Democratizar,
facilitar, simplificar o uso e promover segurança nos espaços privativos dos
imóveis e nas áreas de uso comum, inclusive no acesso às vias públicas e aos
equipamentos urbanos. Do projeto à execução, o Desenho Universal obedece
parâmetros que levam à criação de uma moradia para atender as expectativas e
necessidades de todos os públicos.
5. O Estado de São Paulo é pioneiro no país ao adotar os conceitos
do Desenho Universal na Habitação
de Interesse Social.
6. Desde 2008, por determinação do governador José Serra, as
secretarias estaduais da Habitação (SH) e dos Direitos da Pessoa com
Deficiência (SDPcD) trabalham na aplicação desses conceitos nos programas habitacionais
dirigidos às famílias de menor renda.
7. Esta publicação resume os avanços conquistados e apresenta os
preceitos que devem nortear a elaboração de projetos e a construção de moradias
populares.
8. A adoção dos conceitos do Desenho Universal proporcionará mais
qualidade, conforto e segurança aos moradores.
9. As novas casas e bairros inclusivos, que passam a integrar o
Programa Habitacional do Estado de São Paulo, certamente contribuirão para
ampliar os direitos do cidadão.
Lair
Krähenbühl
Secretário
de Estado da Habitação e presidente da CDHU
[II]
[PREFÁCIO 2]
Um
novo Desenho para a Habitação
- O desenho, em seu sentido clássico,
representa visualmente por meio de traços a forma e, eventualmente, os
valores e cultura de uma sociedade.
- Impulsionado pela utopia da beleza e
do refinamento, ajuda a construir e melhorar a funcionalidade da pessoa
humana.
- O Desenho Universal é uma resposta ao
movimento da sociedade, que busca eficiência e funcionalidade para todos
os indivíduos ao longo dos ciclos da vida.
- A maioria dos “desenhos” que
facilitam as tarefas da vida diária nos passam desapercebidos. Por outro
lado, situações cotidianas de dificuldades na usabilidade, decorrentes da
falta de acesso a produtos, ficam registradas em nossa memória.
- O Desenho Universal é um fator
decisivo quando o objetivo é a construção de uma sociedade para todos que
prioriza a eliminação das barreiras arquitetônicas e ambientais.
- A compreensão e o respeito à
diversidade, enquanto fenômeno inerente à condição humana, deve estimular
e viabilizar soluções que construam uma sociedade centrada em todos os
indivíduos.
- Uma sociedade que se transforma em
busca da sustentabilidade, com a perspectiva de garantir os direitos de
cidadania para pessoas com deficiência.
- O Desenho Universal é a evolução de
um conceito e a sua aplicação na habitação é uma demonstração de respeito
aos direitos de todos os humanos.
Linamara
Rizzo Battistella
Secretária de Estado dos
Direitos das Pessoas com Deficiência
[III] Apresentação
- A Secretaria de Estado da Habitação
(SH) e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) são os
agentes responsáveis pela promoção da Política Habitacional de Interesse
Social no Estado de São Paulo há mais de 40 anos e garantem o acesso à
moradia para famílias de menor renda.
- Em quase todos os municípios
paulistas foram construídos mais de 450 mil imóveis - que abrigam uma
população de aproximadamente 1,5 milhão de pessoas - com espaços para a
vida familiar, qualidade adequada de construção e de infraestrutura urbana.
- Ao longo desses anos, apesar de terem
sido implementadas melhorias e avanços tecnológicos nos projetos, a
produção de moradias populares esteve limitada à disponibilidade
orçamentária, refém de um sistema centralizado de financiamento habitacional
federal (Banco Nacional da Habitação e Caixa Econômica Federal), incapaz
de enfrentar o enorme déficit de moradias nas grandes cidades brasileiras.
- No Estado de São Paulo, a destinação
pioneira de recursos orçamentários oriundos do ICMS, desde 1990, alavancou
um importante salto quantitativo que ampliou o número de famílias
atendidas por meio de uma política de subsídio para as faixas de menor
renda.
- Entretanto, a orientação da política
pública voltada para a qualidade integral da moradia e da vida urbana nos
conjuntos residenciais de baixa renda promovidos pelo Estado é muito
recente.
- As firmes diretrizes da atual gestão
de governo (2007/2010) foram direcionadas ao incremento da qualidade da
moradia como elemento essencial para a construção de cidades sustentáveis nos
aspectos de habitabilidade, acessibilidade, segurança, uso dos
equipamentos públicos de infraestrutura, lazer, saúde, esporte, cultura,
respeito ao ambiente saudável e, sobretudo, para a inclusão social por
meio da urbanização e regularização de assentamentos precários.
- Entre as diretrizes no campo da
qualidade de projetos e do ambiente construído, a mais ousada refere-se à
adoção dos conceitos do Desenho Universal aplicados à produção de
Habitação de Interesse Social pela Secretaria de Estado da Habitação, por
intermédio da CDHU.
- Em total consonância com as ações da
recém-criada Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência
(SEDPcD) no campo da inclusão social das pessoas com deficiência, foi
firmado um Protocolo de Intenções entre a SH, a SEDPcD e a CDHU (Decreto
Estadual nº 53.485, de 26/09/2008) e constituído um Grupo de Trabalho para
apresentar proposta de implantação dos conceitos do Desenho Universal
(Resolução Conjunta SH/SEDPcD nº 35, de 25/09/2008, e Resolução SH nº 36,
de 13/10/2008 – DOE 21/10/2008) (1).
- O escopo de trabalho do grupo de
especialistas partiu da identificação das necessidades e dificuldades de
usabilidade de um ambiente construído com autonomia e segurança, ou seja,
a proposta era permitir o acesso universal e a utilização por indivíduos em
todas as fases da vida, desde a total dependência, quando crianças, até uma
idade avançada.
- Os resultados preliminares dos
estudos indicaram um conjunto de princípios que foram acolhidos como
desafios pela Secretaria da Habitação:
- Facilitar
o acesso e o uso dos ambientes relacionados ao habitar para todas as
pessoas, com deficiência ou não, com mobilidade reduzida, tais como
idosos, obesos e gestantes, independentemente de suas características
físicas e sensoriais;
- Promover
e incentivar a construção de espaços de moradia acessíveis;
- Criar
espaços de lazer e demais áreas de uso comum adequados às necessidades de
todos os usuários, incorporando aos projetos todos os conceitos do Desenho
Universal;
- Desenvolver
diretrizes do Desenho Universal que indiquem parâmetros técnicos para a
elaboração de PROJETO ARQUITETÔNICO e URBANÍSTICO das habitações de
interesse social, garantindo melhoria da qualidade de vida para as pessoas
que venham a adquirir uma deficiência ou mobilidade reduzida, permanente ou
provisória;
- Sensibilizar
os profissionais e entidades que já intervêm no campo da habitação para a
aplicação do Desenho Universal;
- Manter
o atendimento à Lei Estadual nº 10.844/01, que estabelece destinação de 7%
das unidades habitacionais para pessoas com deficiência;
- Atender
às diretrizes do Desenho Universal em 100% dos novos projetos de
tipologias habitacionais;
- Elaborar
um PLANO DE AÇÃO para implementação do Desenho Universal na SH/CDHU.
- Nessa perspectiva, a adoção do
Desenho Universal, como política pública estadual, tem como objetivo
garantir que o espaço habitacional em seu contexto urbano ofereça
segurança, autoestima, cidadania, longevidade e flexibilidade,
possibilitando que a casa, os locais de uso comum dos condomínios e seus arredores
urbanos possam ser usufruídos ao longo de toda a vida de um indivíduo de
maneira democrática.
- Pretende, ainda, que esse usufruto
abranja todos os indivíduos: pessoas com deficiências, temporárias ou
permanentes; com mobilidade reduzida, tais como idosos, gestantes, obesos,
crianças e pessoas com baixa estatura, bem como adultos em geral com crianças
de colo, carregando carrinhos ou bagagens, pacotes, entre outros.
- Constitui-se, portanto, um grande
avanço do Governo do Estado de São Paulo adotar como princípio nos
projetos de moradia o Desenho Universal, cujo mote “Espaço para todos e
por toda a vida” expressa a intenção de conferir permanência à qualidade
do ambiente construído.
(1) OS DOCUMENTOS ESTÃO DISPONÍVEIS NO ANEXO I
CAPÍTULO 1:
[1] Origem e fundamentos do Desenho Universal
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[1]
Origem e fundamentos do Desenho Universal
- A expressão Universal
Design (Desenho
Universal) foi usada pela primeira vez nos
Estados Unidos, em 1985, pelo arquiteto Ron Mace, que influenciou a
mudança de paradigma no desenvolvimento de projetos urbanos, de
arquitetura e design, inclusive de produtos.
- Para MACE (1991), o Desenho Universal
aplicado a um projeto consiste na criação de ambientes e produtos que
possam ser usados por todas as pessoas, na sua máxima extensão possível.
- O conceito de Desenho Universal
surgiu em decorrência de reivindicações de dois segmentos sociais. O
primeiro composto por pessoas com deficiência que não sentiam suas
necessidades contempladas nos espaços projetados e construídos. O segundo
formado por arquitetos, engenheiros, urbanistas e designers que desejavam
maior democratização do uso dos espaços e tinham uma visão mais abrangente
da atividade projetual.
- A concepção desse grupo de
profissionais baseava-se na preocupação com a oferta de ambientes que
pudessem ser utilizados por todos, na sua máxima extensão possível, sem
depender, por exemplo, da necessidade de adaptação ou elaboração de
projeto especializado para pessoas com deficiência, favorecendo, assim, a
biodiversidade humana e proporcionando uma melhor ergonomia para todos.
- Embora nos Estados Unidos já houvesse
normas técnicas de acessibilidade em vigência, antes do advento do Desenho
Universal os espaços projetados e construídos não eram pensados para serem
usados por todas as pessoas, com deficiência ou não. Havia somente locais
alternativos ou reservados para indivíduos com apresentavam algum tipo de limitação
de mobilidade, de sentidos ou cognição.
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DU.1: Acesso seguro a um edifício através de rampas com
corrimãos e guarda-corpo.
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[1.1.]
OS SETE PRINCÍPIOS DO DESENHO UNIVERSAL
- Na década de 1990, um grupo de
arquitetos e defensores de uma arquitetura e design mais centrados no ser
humano e sua diversidade reuniu-se no Center for Universal Design, da
Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos,
a fim de estabelecer critérios para que edificações, ambientes internos,
urbanos e produtos atendessem a um maior número de usuários.
- Esse grupo definiu os sete princípios
do Desenho Universal, apresentados a seguir, que passaram a ser
mundialmente adotados em planejamentos e obras de acessibilidade:
1.
Uso equitativo
- Propor espaços, objetos e produtos
que possam ser utilizados por usuários com capacidades diferentes;
- Evitar segregação ou estigmatização
de qualquer usuário;
- Oferecer privacidade, segurança e
proteção para todos os usuários;
- Desenvolver
e fornecer produtos atraentes para todos os usuários.
2.
Uso flexível
- Criar ambientes ou sistemas
construtivos que permitam atender às necessidades de usuários com
diferentes habilidades e preferências diversificadas, admitindo adequações
e transformações;
- Possibilitar adaptabilidade às
necessidades do usuário, de forma que as dimensões dos ambientes das
construções possam ser alteradas.
3.
Uso simples e intuitivo
- Permitir fácil compreensão e
apreensão do espaço, independente da experiência do usuário, de seu grau
de conhecimento, habilidade de linguagem ou nível de concentração;
- Eliminar complexidades desnecessárias
e ser coerente com as expectativas e intuição do usuário;
- Disponibilizar
as informações segundo a ordem de importância.
4.
Informação de fácil percepção
- Utilizar diferentes meios de
comunicação, como símbolos, informações sonoras, táteis, entre outras,
para compreensão de usuários com dificuldade de audição, visão, cognição
ou estrangeiros;
- Disponibilizar formas e objetos de
comunicação com contraste adequado;
- Maximizar com clareza as informações
essenciais;
- Tornar
fácil o uso do espaço ou equipamento.
5.
Tolerância ao erro (segurança)
- z Considerar
a segurança na concepção de ambientes e a escolha dos materiais de
acabamento e demais produtos - como corrimãos, equipamentos eletromecânicos,
entre outros - a serem utilizados nas obras, visando minimizar os riscos
de acidentes.
6.
Esforço físico mínimo
- Dimensionar elementos e equipamentos
para que sejam utilizados de maneira eficiente, segura, confortável e com
o mínimo de fadiga;
- Minimizar ações repetitivas e
esforços físicos que não podem ser evitados.
7.
Dimensionamento de espaços para acesso e uso abrangente
- Permitir acesso e uso confortáveis
para os usuários, tanto sentados quanto em pé;
- Possibilitar o alcance visual dos
ambientes e produtos a todos os usuários, sentados ou em pé;
- Acomodar variações ergonômicas,
oferecendo condições de manuseio e contato para usuários com as mais
variadas dificuldades de manipulação, toque e pegada;
- Possibilitar a utilização dos espaços
por usuários com órteses, como cadeira de rodas, muletas, entre outras, de
acordo com suas necessidades para atividades cotidianas.
[1.2.]
O CONCEITO EUROPEU DE ACESSIBILIDADE
- A tradição filosófica europeia
fundamenta-se no reconhecimento, aceitação e promoção dos direitos humanos
de todos os segmentos da sociedade, entre eles pessoas com mobilidade
reduzida. Nesse contexto, a acessibilidade é um atributo essencial do meio
físico centrado na pessoa.
- Em
1977, o Conselho da Europa, com
sede em Estrasburgo, promulgou resolução destinada a adaptar as habitações
e suas respectivas áreas circundantes às necessidades das pessoas com
deficiência e mobilidade reduzida. (2)
- Desde 1985, a pedido do Departamento para a Ação a Favor das
Pessoas com Deficiência da Comunidade Europeia, o Conselho Holandês das Pessoas com Deficiência vem efetuando
estudos sobre a legislação e a prática da acessibilidade nos países
membros.
- Em outubro de 1987, a Comissão
Europeia financiou o desenvolvimento de um manual europeu com critérios
harmonizados e normatizados sobre acessibilidade, sob supervisão de um
grupo diretivo formado por arquitetos, urbanistas e usuários provenientes
de diferentes países do continente.
- Quase uma década depois, em 1996, foi
apresentado um novo projeto: o Conceito
Europeu de Acessibilidade (CEA). Traduzido em diversas línguas, o CEA
foi utilizado por vários países na revisão de abordagens e diretrizes
nacionais e adotado pela Comissão Europeia.
- Em novembro de 2003, em Luxemburgo,
foi apresentada uma versão atualizada do CEA. O novo texto assumiu os
conceitos do Desenho Universal e reviu soluções para problemas detectados
em projetos de edifícios, construções, instalações, sistemas de informação
e de reforço
- das práticas adotadas pelas
instituições da União Europeia (UE). As recomendações decorrentes dessa
ação trouxeram benefícios a toda a população da UE, e não apenas às
pessoas com deficiência.
- A União Europeia experimentou outro
grande avanço quando adotou uma nova resolução, dessa vez referente à
introdução dos princípios do Desenho Universal nos programas de formação
das profissões relacionadas com a construção de edifícios, redes viárias,
equipamentos e mobiliários urbanos ou espaços abertos ao público em geral.
- Quanto ao uso habitacional, a União
Europeia determinou, como exigência mínima, que toda habitação possa
receber a visita de uma pessoa com deficiência. Com isso, os projetos
devem assegurar que:
i. O acesso ao interior dos imóveis não apresente degraus ou
escadas, e que desníveis existentes sejam superados por meio de rampas ou meios
mecânicos;
ii. As portas sejam suficientemente largas para permitir a passagem
de uma cadeira de rodas;
iii.Pelo menos um dos sanitários permita ao usuário de cadeira de
rodas manobrá-la com autonomia.
- Segundo o Conceito Europeu de
Acessibilidade, uma moradia que preenche esses requisitos é denominada
“habitação visitável”. Por outro lado, aquela que permite a uma pessoa,
com deficiência ou não, utilizá-la por toda a vida, da infância até uma
idade avançada, requerendo apenas intervenções simples, não estruturais e
de baixo custo, é denominada “habitação adaptável”.
[1.3.]
O DESENHO UNIVERSAL NO BRASIL
- No Brasil, segundo CARLETTO e
CAMBIAGHI (2008), o debate sobre a questão iniciou-se de forma tímida em
1980, com o objetivo de conscientizar profissionais da área de construção.
O ano de 1981 foi declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como
Ano Internacional das Pessoas com Deficiência.
- Com isso, o tema ganhou repercussão no
país, fortalecendo o que na época denominava-se Eliminação de Barreiras
Arquitetônicas às Pessoas Portadoras de Deficiência.
- Em razão da conjuntura internacional,
a partir daquele ano foram promulgadas algumas leis no Brasil para
regulamentar o acesso a todos e garantir que a parcela da população com
deficiência ou mobilidade reduzida tivesse as mesmas garantias que os
demais cidadãos.
- Em 1985, a Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) criou a primeira norma técnica relativa à
acessibilidade, hoje denominada, após duas revisões, NBR 9050 –
Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.
A última revisão ocorreu em 2004 e vigora até hoje [texto de 2010] para
regulamentar os parâmetros técnicos de acessibilidade no país.
Ø Nota RAS: Ver novo EPD – ESTATUTO DA
PESSOA COM DEFICIÊNCIA, LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO DA
PESSOA COM DEFICIÊNCIA, LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015.
- Passados 30 anos do início desse
debate no país, é possível aferir avanços em diferentes esferas. Um
exemplo é a crescente consciência por parte de profissionais, gestores e
usuários de que a acessibilidade melhora a qualidade de vida de todas as
pessoas.
- Há, ainda, o reconhecimento de que a
inclusão dos conceitos do Desenho Universal no Brasil é determinante para
a mudança de paradigma na arquitetura e no urbanismo, pois induz
experiências e processos de amadurecimento voltados à democratização dos
espaços públicos e privados para todos os usuários.
- Os benefícios dessas transformações
refletem-se também na moradia, especialmente quando propõe-se a implementação
do Desenho Universal na habitação de interesse social. A sociedade
brasileira vem sendo crescentemente sensibilizada em relação às
necessidades específicas de crianças, adolescentes, gestantes e idosos.
Esse processo evidencia-se com a aprovação de leis federais, estaduais e
municipais que passam a regulamentar providências para resguardar
necessidades e demandas desses segmentos da sociedade.
- O avanço mais recente foi a
ratificação pelo Brasil, em 2008, da Convenção da Organização das Nações
Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. A convenção foi
promulgada com equivalência de Emenda Constitucional pelo Decreto nº
6.949, da Presidência da República, em 2009.
- Entre outros pontos, ressalta que uma
sociedade inclusiva é definida pelo respeito e valorização das diferenças;
reconhece a igualdade entre as pessoas; considera a diferença um princípio
básico, o que torna inaceitável qualquer tipo de discriminação, inclusive
na arquitetura e no urbanismo; reconhece que a vida de uma pessoa pode ser
restringida pelo ambiente em volta dela, pelo contexto urbano,
edificações, enfim, pelo espaço construído.
CAPÍTULO 2:
[2] UMA ABORDAGEM DO USUÁRIO EM SEUS ESPAÇOS DE CONVÍVIO
- O Desenho Universal é um tema
bastante recente no Brasil e ainda muito pouco aplicado, tanto no meio
acadêmico quanto nas práticas profissionais relacionadas a projetos e à
construção civil. Por desconhecimento, frequentemente é confundido com
acessibilidade para pessoas com deficiência, o que resulta no cumprimento
automático das normas vigentes, sem considerar uma reflexão sobre sua
importância e benefícios para os usuários.
- A elaboração de diretrizes para a
aplicação do Desenho Universal exigiu uma rigorosa metodologia de trabalho
que implicou, entre outros fatores, conhecer em profundidade o
público-alvo e os espaços físicos nos quais ele está inserido. A seguir
são apresentados os resultados dessa etapa do trabalho, que mapeou o
perfil e dificuldades dos usuários, bem como as soluções de projetos
adequadas para os espaços privativos, comuns e públicos.
[2.1.] Classificação do
público-alvo
Para
a elaboração das diretrizes do Desenho Universal, considerou-se como
público-alvo a totalidade da população, contemplando sua diversidade e
dificuldades permanentes ou provisórias. Para melhor caracterização desse
público, os tipos de restrição de mobilidade e dificuldades mais significativas
foram agrupados e classificados da seguinte forma:
1.
Pessoas com mobilidade reduzida ou com deficiência: gestantes,
obesos, crianças, idosos, usuários de próteses e órteses, pessoas carregando
pacotes, entre outros.
Dificuldades:
vencer desníveis, principalmente subir escadas sem corrimãos; manter
o equilíbrio; passar por locais estreitos, percorrer longos percursos,
atravessar pisos escorregadios; abrir e fechar portas; manipular objetos;
acionar mecanismos redondos ou que necessitem do uso das duas mãos
simultaneamente, entre outras.
2.
Usuários de cadeira de rodas: paraplégicos, tetraplégicos,
hemiplégicos, pessoas que tiveram membros amputados, idosos, entre outros.
Dificuldades:
vencer desníveis isolados, escadas e rampas muito íngremes; ter
alcance visual limitado; manusear comandos de janelas e metais sanitários muito
altos; não ter espaços amplos para girar; abrir portas; não passar por locais
estreitos, como portas de 60 e 70 cm; utilizar banheiros que não permitem a
aproximação a vasos sanitários, pias e chuveiros, entre outras.
3.
Pessoas com deficiências sensoriais: usuários com limitação da capacidade
visual, auditiva e da fala.
Dificuldades:
identificar sinalização visual, como placas de orientação, advertência
e numeração de imóveis; localizar comandos e aparelhos, como botoeiras e interfones;
localizar imóveis pela numeração; detectar obstáculos, como telefones públicos,
caixas de correio e desníveis não sinalizados de forma podotátil; determinar
direção a seguir (pessoas com deficiência visual); utilizar comandos sonoros,
como campainhas e interfones (pessoas com deficiência auditiva e/ou da fala);
ter sensação de isolamento em relação ao entorno, entre outras.
OPORTUNAMENTE
ADICIONAREMOS OS DEMAIS CAPÍTULOS do
Manual: Desenho Universal
aplicado à habitação de interesse social.
Disponível
em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Cartilhas/manual-desenho-universal.pdf
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