SÃO
LUÍS COM S OU COM Z?
Etimologia
ludovicense
Revisão_02: 2016-07—20
Prezados
Leitores [21jul2016]
1) Uma polêmica
que floresceu e morreu em 1984 vez por outra volta a baila: São Luís se escreve
com S ou com Z?
2) No dia
20jul2016, no bojo das celebrações da inclusão do Conjunto de Edificações
Modernas da PAMPULHA, BH, MG, na Lista dos Bens Culturais da Unesco, comuniquei àquela
prestigiosa guardiã da Educação, Cultura e Ciências internacionais, que o site da mesma
mantinha grafado erroneamente o nome da Cidade e do Centro Histórico de São
Luís e alertei sobre a necessidade de correção dessa falha.
3) Por outro
lado, os órgãos de gestão internacional da aviação comercial, entre esses a IATA, registraram o Aeroporto de São Luís como sendo a sigla SLZ, (que eu uso sempre)
sem que isso signifique ultraje à nossa etimologia. Trata-se apenas de uma
sigla técnica obrigatória com 3 letras, que em muitos casos nem existem no nome da
cidade ou do aeroporto.
4) A polêmica "SÃO LUÍS COM S OU Z" parece-me encerrada desde 1984 quando a Academia Maranhense de Letras, sob a
presidência do incansável estivador das letras, JOMAR MORAES, criou Comissão
especial para estabelecer o crivo correto em que tal celeuma devia ser
peneirada.
5) A conclusão
formal da AML, secundada pela Câmara Municipal (a qual compete estabelecer a toponímia
oficial do município, incluindo o topônimo São Luís, por meio de leis
específicas) está descrita de modo objetivo pelo escritor BENEDITO BUZAR, um
dos maiores memorialistas da nossa terra, em artigo que segue abaixo.
SÃO LUÍS COM S OU COM Z?
Um grande abraço
Ronald Almeida
SÃO LUÍS COM S OU
Z?
Autor: Benedito Buzar
Membro da Academia Maranhense de Letras, onde tomou posse em 10ago1990. Atual
presidente da AML, desde 17mar2010. Nasceu em Itapecuru-MA, a 17 de
fevereiro de 1938. Jornalista, advogado, professor, pesquisador.
Fonte: RODA VIVA - BENEDITO BUZAR
DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
AVISO AOS
NAVEGANTES: Grifos, nomes próprios em caixa alta, destaques em negrito e/ou itálico,
textos entre [colchetes] e numeração de parágrafos não constam do texto original disponível em:
1. Nas proximidades da cidade festejar seus 400 anos* de
vida, um assunto que parecia adormecido ou esquecido, volta à ordem do dia,
ainda que requentado.
[* - em 08set2012]
2.
Recorrente pela
sua natureza ressurge nestes dias como a exigir prioridade à questão da grafia
do nome da capital maranhense, com vistas a esclarecê-la em caráter definitivo.
3.
Os que assim
pensam, o fazem na convicção de que este é o momento oportuno para, de uma vez
por todas, acabar a controvérsia em torno do topônimo São Luís que a grande
maioria escreve com S, mas uma
minoria teima em grafar com Z.
4.
Os que advogam a
elucidação dessa questão não sabem que, anos atrás, um amplo debate eclodiu em
São Luís, por conta de uma proposta apresentada na Câmara Municipal, que passou
pela Universidade Federal do Maranhão, e chegou à Academia Maranhense de Letras [AML]-, a quem cabe, em
última instância, zelar e defender os interesses da cultura maranhense.
5.
Tudo começou
quando o vereador e professor de Português, UBIRAJARA RAYOL, no dia 8 de
março de 1984, apresentou projeto à Câmara Municipal com apenas três
artigos, dois dos quais se reportavam ao topônimo São Luís.
6.
O Art. 1º
determinava que “Voltará a ser escrito com “z” o topônimo São Luiz, que se refere ao
Município do mesmo nome, no Estado do Maranhão.”
7.
O Art. 2º dizia
que “O
Poder Executivo promoverá, dentro e fora do Município, a divulgação da grafia
restaurada”.
8.
O projeto, como
não poderia deixar de acontecer, suscitou controvérsia e os jornais se
encarregaram de explorar o assunto, já que o autor da matéria, invocando a
condição de magister dixit,
sustentava seu ponto de vista em eventuais estudos da Academia Brasileira de
Letras e na legislação federal.
9.
Diante da celeuma
criada, o escritor IVAN SARNEY, que
ainda não era vereador, mas já fazia parte da Academia Maranhense de Letras,
trouxe o assunto para o âmbito da Casa de ANTÔNIO
LOBO, da qual solicitou manifestação de seus pares.
10.
Na presidência da
AML, o escritor JOMAR MORAES não
hesitou: assinou Portaria, no dia 15 de
março de 1984, criando a Comissão Especial formada dos acadêmicos MÁRIO MEIRELES, MANUEL LOPES e JOSÉ CHAGAS, para, sob a
presidência do primeiro, “produzir parecer circunstanciado acerca da
correta grafia da Capital do Estado do Maranhão”, recomendando ainda
que os trabalhos da Comissão fossem “concluídos no menor prazo possível, tendo em
vista o oferecimento de subsídios à discussão e votação do projeto de lei
apresentado à Câmara Municipal desta cidade.”
11.
Sentindo-se na
obrigação de participar da questão, que já dominava a opinião pública, o reitor
da Universidade Federal do Maranhão, professor JOSÉ MARIA CABRAL MARQUES, resolveu baixar Portaria, determinando
que “o parecer sobre a correta grafia do topônimo São Luís seja publicada pela
Gráfica Universitária”, considerando que o assunto era de relevância cultural e
dizia respeito à defesa e preservação de nossas tradições.
12.
A Comissão, depois
de estudos acurados e criteriosos, em que foram analisados os aspectos
referentes à história, à tradição, à etimologia e à ortografia, apresentou no
dia 5 de abril de 1984 parecer
conclusivo e estribado em quatro itens.
[I] – Historicamente, o topônimo da Capital maranhense é de origem estrangeira – vem de Saint Louis, apelido hagiográfico de Louis
IX, o Santo, Rei de França (1242/1270) – e lhe dado em homenagem a Louis XIII, o Justo.
[II] -Tradicionalmente, a grafia do topônimo São Luís sempre foi objeto de controvérsia, desde
o século XVII, quando se fundou a cidade, até os nossos dias, conforme
documentos históricos e obras de escritores antigos e modernos, não se tendo
por onde afirmar a existência de uma forma consagrada pelos brasileiros que
justifique a grafia São Luiz com Z.
[III] - Etimologicamente, a palavra Luís
é de origem germânica (Hluodowig) que deu em italiano Ludovico e Luigi; no
Francês, Louis e no Português e
Espanhol, Luís. Cabe ainda ressaltar
que se o Latim Eclesiástico já apresentava formas Ludovicus e Aloisius (com S), nada levaria a que, na sua passagem
para o Português, Ludovicus, que não é patronímico, justificasse o Z, como se justificou em Ramirez,
Lopez, Rodriguez, etc., hoje também grafado com S, contrariando, por força do atual Sistema Ortográfico, a própria
razão etimológica.
[IV] – Ortograficamente, como nome próprio de
introdução eclesiástica, do mesmo modo que Dominicus, Marcus, Lucas, etc.,
Ludovicus inclui-se entre aqueles nomes cujas consoantes latinas finais se
conservam. Esta é, aliás, a razão pela qual Gonçalves Viana, em seu Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, grafa Luis e Luisa com s. E o Vocabulário
Onomástico da Língua Portuguesa registra Luís, Luísa, São Luís do Purunã, São
Luís do Quitude, etc., todos com S e
não com Z.
13.
O espaço desta
coluna é limitado, por isso, não posso alongar-me em outras considerações
apontadas pela Comissão, mas faço questão de pinçar estas, por não deixarem qualquer
dúvida a respeito da grafia da Capital do Maranhão:
Ø “com S se grafou São Luís, quando La Ravardière entregou aos portugueses
o Forte de Saint-Louis;
Ø com S se grafou São Luís, quando Alexandre de Moura dele tomou posse;
Ø com S está São Luís registrada nos mais primitivos mapas que se
conhecem;
Ø com S está São Luís nas mais antigas atas de reunião do Senado da
Câmara;
Ø com S está São Luís no auto de juramento do Maranhão à Independência e
ao Império do Brasil;
Ø com S está São Luís em todos os documentos oficiais, sendo de destacar a
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, órgão competente para fixar a grafia
dos topônimos”.
Benedito Buzar
São Luís, MA, 09out2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário