[114] REFUGEE CRISIS (03) – CRISE EUROPEIA DOS REFUGIADOS DE GUERRAS NA ÁFRICA
E ORIENTE MÉDIO:
Seis perguntas para entender a crise humanitária de refugiados na
Europa!
Milhares
de refugiados chegam às fronteiras europeias fugindo de guerras, pobreza e
violência, em sua maioria, oriundos de regiões do Oriente Médio e da África
Seis perguntas para entender a crise humanitária de refugiados na
Europa!
Milhares
de refugiados chegam às fronteiras europeias fugindo de guerras, pobreza e
violência, em sua maioria, oriundos de regiões do Oriente Médio e da África
FONTE: REVISTA
ÉPOCA; TERESA PEROSA
04/09/2015 - 23h02 - Atualizado 05/09/2015 00h33; Acesso em 2015-09-11
A imagem que
chocou o mundo: Aylan Kurdi, de 3 anos, foi encontrado morto em praia turca.
Menino sírio morreu em naufrágio com outros refugiados (Foto: AP Photo/DHA)
A imagem do
menino sírio Aylan Kurdi em uma praia turca, morto afogado em
um naufrágio, chocou e sensibilizou o mundo todo para a crise vivida
pelos refugiados que buscam abrigo na Europa. O aumento na procura pelo continente
por parte de imigrantes e pleiteantes de asilo não é de hoje. O que explica,
então, a súbita eclosão do caos
humanitário na
região?
As respostas
revelam a permanência da incapacidade dos governos europeus em lidar com um
fato recorrente e previsível do mundo contemporâneo – o trânsito de pessoas
fugindo de guerras, pobreza, desastres naturais e da falta
de perspectiva de uma vida decente. Elas são refugiadas em um mundo que foi
capaz de derrubar as barreiras para o alcance e livre circulação de capitais e
de informação, mas que multiplicou o número de muros e cercas divisórias entre
fronteiras físicas e regiões de tensão.
[1] O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA EUROPA?
Nos últimos
meses, milhares de refugiados e pleiteantes de asilo chegaram às fronteiras
europeias, fugindo de guerras, pobreza e violência, em sua maioria, oriundos de
regiões do Oriente Médio e
da África. Trata-se
de uma tendência que se verificava pelo menos desde o ano passado. Em 2014, o
número de pessoas que chegou à Europa em busca de asilo e refúgio aumentou significativamente em relação
aos anos anteriores. Mais de 700 mil pessoas pediram asilo na Europa no ano
passado, um aumento de 47% em relação ao ano anterior, de acordo com dados do
Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
Em 2015, só no
primeiro quadrimestre, o número de pedidos já ultrapassava 184 mil, segundo o
bureau estatístico da União Europeia, o Eurostat. Além dos pedidos de asilo,
este ano, o número de pessoas que chegou ao continente por meios considerados
irregulares foi estimado em 340 mil pela agência europeia Frontex, responsável
pelo monitoramento de fronteiras dos países do continente. Em julho, esse fluxo
atingiu seu pico – mais de 107 mil pessoas chegaram ao continente buscando
abrigo.
Em agosto, com o
aumento do fluxo, a Alemanha, principal receptora de pedidos de refúgio na
região, estimou que deve registrar pelo menos 800 mil pedidos de asilo até o
fim de 2015. Caos, falta de acomodações e desespero são agora parte da rotina
em locais como a cidade francesa de Calais, na fronteira com o Reino Unido; em
Lampedusa, na Itália; nas ilhas gregas de Kos e Lesbos e, mais recentemente, em
Budapeste, na Hungria; onde imigrantes acampam nas proximidades da principal
estação de trem da cidade, a espera do embarque rumo ao norte, em direção à
Alemanha, aos países nórdicos e ao Reino Unido.
[02] QUEM SÃO
ESSES REFUGIADOS?
Dentre os
principais grupos de refugiados que chegam atualmente à Europa estão sírios, afegãos,
iraquianos, paquistaneses, eritreus,
somalianos e nigerianos. Fugindo de
guerras, violência, pobreza e falta de perspectivas, não hesitam em optar por
rotas de alto risco, a pé ou pelo Mediterrâneo, na expectativa de uma vida
melhor, na Europa.
[03] O QUE CAUSOU
A CRISE ATUAL?
As autoridades
europeias têm sido acusadas de protelarem a implementação de soluções eficazes,
que passariam por uma aceleração do processo de concessão de asilos. Dentre as
estratégias adotadas desde o ano passado, destacou-se a tentativa de impedir a
chegada dos refugiados ao território europeu. Optou-se, por exemplo, por
intensificar o combate às gangues de coiotes, que transportavam os refugiados
por terra ou por mar. O governo italiano também reduziu suas operações de
resgate no Mediterrâneo, uma vez que a lei marítima internacional obriga
qualquer navio a prestar socorro a uma embarcação que pede socorro – caso dos
precários botes e barcos lotados de refugiados que tentam chegar do norte da
África e da Turquia. O resultado foi um aumento no número de fatalidades:
segundo estimativas da Organização Internacional para Migração (IOM, em sua
sigla em inglês), foram 2.081 mortos no Mediterrâneo em 2014 e, até agora, o
número de vítimas da travessia entre Europa e África já ultrapassa 2.700 em 2015.
Além disso,
países da fronteira do continente, como Itália e Grécia, têm arcado com a maior
parte do ônus da crise
humanitária, normalmente, sem condições operacionais para
fazê-lo. Só na última semana de agosto, 23 mil refugiados aportaram no litoral
grego, segundo a Frontex. Em um último desdobramento, o fluxo repentino de
imigrantes que chegam via países do leste europeu foi o elemento final para a
eclosão da crise humanitária vista hoje. “Os Estados europeus estavam muito
focados em um único ponto nos últimos meses – o Mediterrâneo – e perderam de vista
novos desenvolvimentos e novas rotas que se abriram no leste. Foram pegos de
surpresa pelo fluxo repentino de pessoas pela região ocidental dos Bálcãs, em
Estados que têm sistemas de asilo fracos e não têm a capacidade necessária de
lidar com números grandes de migrantes e refugiados. A abordagem pautada por
acontecimentos levou a um jogo de culpa entre os Estados membros, sem unidade”,
diz Martijn Pluim, diretor do Centro Internacional para o Desenvolvimento de
Política Migratória (ICMPD, em sua sigla em inglês), baseado em Viena.
Imigrantes lutam por comida
durante a saída de Budapeste. Impedidos de embarcar em trem, milhares de
refugiados seguiram para a Áustria a pé nesta sexta-feira (4) (Foto: AP
Photo/Frank Augstein)
A falha em
agilizar o processo e oferecer segurança no trânsito de refugiados virou
terreno fértil para os coiotes e traficantes de pessoas. Além dos mortos no
Mediterrâneo, a recente descoberta na Áustria de um caminhão com 71
pessoas mortas, vítimas abandonadas por seus transportadores,
somou-se como mais um trágico exemplo da falência da política de repressão aos fluxos migratórios. “Gangues de contrabandistas
são um sintoma, um resultado das fronteiras fechadas. É por isso que ter uma
abordagem de aplicação da lei, de arrocho nas fronteiras e combate ao crime
organizado não será suficiente para solucionar o problema e salvar vidas”,
afirma Pluim. “Refugiados fugindo da guerra não vão parar de vir porque há um
controle maior nas fronteiras. A União
Europeiadeve aumentar os caminhos legais para refugiados na
Europa, garantindo a eles passagem segura”, diz o especialista.
[4] POR QUE A
CRISE HUMANITÁRIA ATINGIU A PROPORÇÃO ATUAL?
O maior
obstáculo para uma solução ágil ao caos humanitário na Europa é a falta de
unidade entre os países do continente na resposta tanto ao trânsito de
refugiados quanto aos pleitos de asilo. De acordo com determinação da União
Europeia, o pedido de asilo deve ser realizado no país em que o imigrante
chega. No entanto, ao avaliar as diferenças entre o tratamento dado aos
pleiteantes e à agilidade do processo em locais como Alemanha e países
nórdicos, refugiados têm optado por arriscar a travessia do continente em rotas
pelo leste europeu, na esperança de chegar a locais nos quais serão mais bem
recebidos e terão mais chance em conseguir asilo. A situação levou a
primeira-ministra alemã, Angela Merkel, a anunciar na semana
passada, junto à França, que exigirá de países integrantes da União Europeia o
estabelecimento de cotas para receber refugiados.
“Com algumas
notáveis exceções, há no momento uma falta de liderança e vontade política para
lidar com os desafios da migração que a Europa é capaz de lidar”, diz Ryan
Schroeder, da Organização Internacional para Migração (IOM). “Por muito tempo,
migração tem sido uma questão pela qual políticos podem perder ou ganhar
eleições. Políticos na Europa tem infelizmente culpado imigrantes por problemas
estruturais e geopolíticos que não são sua culpa. Eles estão ganhando votos nas
cotas de imigrantes e estão piorando o clima contra migração no continente”,
afirma.
Na Hungria, por
exemplo, desde esta sexta-feira (4), refugiados e pleiteantes de asilo se
encontram sob o risco de prisão – um pacote de leis aprovado pelo parlamento
húngaro prevê uma pena de até três anos para quem cruze a fronteira do país de
maneira ilegal. O primeiro-ministro do país, Viktor Órban, de extrema direita,
argumenta que precisa “proteger o cristianismo europeu”.
[5] O QUE A
EUROPA DEVE FAZER?
Entidades
defensoras de direitos humanos e centros de pesquisa sobre migração reiteraram:
a crise não se refere à capacidade da Europa em receber essas pessoas – a crise é política. “Trata-se de um desafio
político que requer liderança política como resposta – e não uma questão de
capacidade de absorver os imigrantes recentes”, escreveu em artigo Kenneth
Roth, diretor executivo da Human Rights Watch (HRW). Roth aponta que os mais de
300 mil recém-chegados ao continente representam em torno de 0,06% da população
da União Europeia – refutando a tese de que a Europa se encontra ameaçada por
uma “invasão”.
Além disso, de
acordo com relatório de 2014 do Acnur, os países que mais abrigam refugiados no
mundo ainda são Paquistão, Líbano, Irã, Turquia e Jordânia – nações com condições econômicas e de
desenvolvimento evidentemente inferiores a dos países europeus. Em termos per
capita, Líbano e Jordânia são os líderes no quesito abrigo a
refugiados. “A Europa está enfrentando a hora da verdade. Este é o momento
de reafirmar os valores em cima dos quais ela se ergueu”, afirmou nesta semana
o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, Antonio Guterres.
[6] O QUE VOCÊ
PODE FAZER PARA AJUDAR?
O Alto Comissariado para Refugiados das
Nações Unidas (Acnur), um dos principais órgãos globais a atuar com a
questão dos refugiados, recebe doações direcionadas às suas operações em áreas
como Síria, Iraque e Sudão. Clique aqui para saber mais.
No Brasil,
organizações como a Cáritas em São Paulo e
a Cáritas no Rio de Janeiro
também atendem populações migrantes em risco e refugiados e aceitam doações.
Outras
organizações podem ser encontradas aqui.
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