“Advogado, primo do príncipe Elias Haickel Neto, menino peralta na infância, escritor, poeta, contista, cronista, cineasta, cinéfilo, diretor, roteirista, memorialista [Mavam], mestre cuca gourmet, cidadão ludovicense (nascido em 13dez1959), cidadão do mundo, globe trotter, bom pai de família com quatro filhas e dois enteados, filho amoroso de Nagibão e Da. Clarice, irmão de fé camarada de Nagibinho, amigo leal, homem político precoce do Século XX, ex-deputado federal constituinte, ex-deputado estadual, ex-dirigente esportivo, empresário multimídia, atleta master, desportista, ex-Secretário de Estado do Esporte e Lazer do Maranhão.”
In “Carta ao amigo JNH; 19fev2011”, rev_2015; Ronald Almeida
[106] BIOGRAFIAS E CULTURA (01): DISCURSOS (i) DE POSSE JOAQUIM NAGIB HAICKEL NA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS E (ii) DE RECEPÇÃO AO NOVO IMORTAL POR JOSÉ LOUZEIRO - 02outubro2009
DISCURSO DE
POSSE DE JNH NA AML
[02outubro2009]
[02outubro2009]
Acesso em
01set2015
Meu nome é Joaquim. Mas eu também me chamo Nagib, e
é o meu duplo — ou antes, é aquele de quem sou duplo — o meu pai Nagib Haickel
a quem primeiro contemplo neste salão, esperando por mim, sentado ali, na fila
da frente, entre aquelas duas mulheres maravilhosas: minha mãe, Clarice, e
minha filha Laila. O presidente desta cerimônia autoriza meu discurso de posse
na Academia Maranhense de Letras. Eu me levanto. Meu pai não se contém: antes
que eu chegue à tribuna, ele já está de pé, aqui, diante de mim. Eu ainda não
começo a falar e o velho me arrebata a palavra, dedo em riste, enchendo o mundo
com o seu vozeirão:
— Só porque tu escreve umas coisinhas por aí
tu acha que é escritor, é? Tu acha que é poeta? Poeta coisa nenhuma! Tu nem
bebe! Poeta é Zé Chagas, poeta é Nauro, que metem grogue. Escritor é Jomar, que
aprecia as cervejas louras e as mulheres morenas. Tu nem sabe o que é bebida,
rapaz! Como é que tu pretende saber o que é poesia?
Neste recinto solene, senhores acadêmicos, minhas
senhoras e meus senhores, aquele que orgulhosamente se intitulava um “caboclo
do Pindaré, acostumado a comer tapioca e mandubé” repete uma repreensão das
mais severas que dele recebi. O caso foi há muito tempo: eram os idos de 1984.
Ele andava aborrecido com minha preferência em
ficar fazendo a revista Guarnicê, ao invés de tomar conta dos negócios da
família. Sua fúria transbordou, quando eu e Paulinho Coelho nos esquecemos de
fechar o registro geral da água, no velho depósito de cimento que Nagib Haickel
tinha pelas bandas do Desterro. Depósito inundado, cimento molhado, prejuízo
contabilizado.
Como todo mundo sabe, meu pai não fazia por menos
em termos de emoção e muitas vezes se obrigava ao papel de ator em lances
cheios de dramaticidade. Na verdade, porém, ele estaria felicíssimo neste
momento, rindo em seu próprio íntimo, com o bom humor que lhe fez a fama, e
saboreando dentro de si o contentamento de perder a parada para o filho:
— Esse menino chegou mais longe do que eu podia
imaginar. Para quem tinha extrema dificuldade em ler, para quem não sossegava
um só instante, o lucro foi grande. Pois não é que ele conseguiu enganar a
todos esses acadêmicos, gente culta e instruída?
Era assim que meu pai fingia que pensava, mas não
era assim que ele pensava, de fato. O seu orgulho só encontraria repique no
júbilo deste seu duplo, aceito membro da Academia Maranhense de Letras,
acolhido por figuras da envergadura do presidente José Sarney e amigos de Nagib
que foram professores de seu filho, como José Maria Ramos Martins, Alberto
Tavares, José Joaquim Ramos Filgueiras, José Carlos Sousa Silva e Sebastião
Moreira Duarte.
Ele também se sentiria em casa, ao contabilizar o
número de velhos amigos seus da Assembleia Legislativa e da Câmara dos
Deputados, com quem seu filho irá conviver, como Benedito Buzar, Sálvio Dino,
Evandro Sarney, Joaquim Itapary, Neiva Moreira e Edson Vidigal.
Com toda certeza, Nagib Haickel brincaria com seu
querido amigo Mílson Coutinho e com o também desembargador Lourival Serejo,
recomendando-lhes que tomem conta desse “menino”, sentindo-se também envaidecido
de ver seu filho compartilhar a mesa com amigos dele como Ubiratan Teixeira,
Carlos Gaspar, Hélio Maranhão, Mont’Alverne Frota, Carlos de Lima, Américo
Azevedo Neto, Ivan Sarney, Waldemiro Viana, Laura Amélia e Manuel Lopes.
Não sei ao certo se ele teve o prazer de conhecer
José Louzeiro, Lino Raposo Moreira, Sônia Almeida, Joaquim Campelo, Antônio
Martins, Clóvis Sena, Ceres e Ronaldo Costa Fernandes, Alex Brasil, Magson da
Silva, José Ewerton e Ney Belo Filho, uns porque cedo foram morar fora do Maranhão,
outros porque, sendo de outra geração e de outro meio, não tiveram contato com
ele.
Em especial, quando visse aqui José Chagas e Jomar
Moraes, contra os quais me comparou em total desvantagem para mim, Nagibão
sorriria desconcertado, franziria a testa, morderia os lábios, choraria
miudinho e escondido: tamanha é a glória desses nomes, que dela, por simples
contágio, algum tanto sobrará para seu filho.
Minhas
senhoras e meus senhores:
A Cadeira que, a partir de hoje, chamarei minha na
Academia Maranhense de Letras é de Inácio Xavier de Carvalho e Ribamar Pereira
e pertenceu sucessivamente a Luís Viana, Amaral Raposo e Nascimento Morais
Filho.
Inácio Xavier de Carvalho, nascido em 1871, deixa
dúvida se era apenas uma pessoa. Nesta Casa foi fundador e é patrono. Ao mesmo
tempo e por igual, é do Maranhão, é do Amazonas e é do Pará. Andou ainda por
Minas Gerais e encontrou, por fim, a imortalidade no Rio de Janeiro, em 1944,
próximo de completar 73 anos de idade. Formado em Direito pelo Recife, em 1893,
exerceu-se como magistrado, jornalista, poeta, professor de literatura. Pelo
que, de sua lavra, se sabe esparso em periódicos e publicações circunstanciais,
será correta a conjectura de que ainda falta reunir escritos seus deixados
nesta sua cidade natal, assim como em Manaus, onde se demorou pouco, e em
Belém, onde permaneceu por mais tempo.
Sua obra compõe-se de apenas três títulos, que a
poucas páginas se estendem: Frutos
selvagens, Missas negras e Parábolas para bolas. Frutos selvagens é de São Luís, Missas negras é de Manaus, Parábolas para bolas é de Belém.
Frutos
selvagens é de São Luís, 1894: “um dos poucos resultados positivos da época
de efervescência vivida [aqui] entre fins do século XIX e princípios do século
seguinte” — segundo avaliação de Jomar Moraes.
Parábolas
para bolas é do Pará, 1919, e é logo aqui arrolado, por suas
características, que não nos ocupam em maior análise. Não se trata de livro em
sentido próprio: é apenas um folheto de 32 páginas, composto de seis pequenas
narrativas alegóricas, cinco sonetos e uma ode a Rui Barbosa (recitada pelo
autor, num comício em Belém, por ocasião da campanha civilista daquele
candidato à Presidência da República), textos a que só a ironia e o
desapontamento com a política conferem sentido de unidade.
Missas
negras é de Manaus, 1902, e constitui, desta vez, não apenas o que de
melhor escreveu o poeta Inácio Xavier de Carvalho, mas também uma fotografia
das mais vivas de uma época em transição, de intervalência e sobreposição de
estéticas, de esgotamento e ânsia sem rumos, tempo de maré vazante, à espera da
sizígia que, entre nós, por amor de nosso isolamento, tardaria ainda por bem
meio século, até a geração de Tribuzi e Gullar. Xavier de Carvalho realiza obra
de mimetismo tardio, não só em relação às matrizes francesas em que se inspira,
mas em face ao simbolismo retardatário de portugueses e brasileiros.
Os 37 poemas que fazem as suas “Missas Negras sem
hóstias e sem vinho” povoam-se de Revoltas Supremas, Crenças Apagadas, Risos
Pretos, Pecados Brancos, Alvas Grinaldas, Mágoas, Quimeras, Desventuras, Bando
Esquelético de Crenças, Sonho Nu de Descrente, Estranhas Rotas, Másculas
Derrotas — substantivos e adjetivos todos em maiúsculas, conforme exigia o
tributo da importação provinciana a que o poeta se obrigava.
O título Missas
negras lembra o de Missal, de Cruz e Sousa, poema (em prosa) de nove anos
antes, e aparece quando já mortos o próprio Cruz e Sousa, Mallarmé, Antônio
Nobre e Verlaine. Mas, em que pese a essa nota de rebate epigônico, nem por isso
deixou Inácio Xavier de Carvalho de pagar sua conta pela luz com que pretendeu
iluminar a “tristíssima e caliginosa noite” — como lhe chamou Antônio Lobo — na
qual “o Maranhão ressonava […] num fundo sono, próximo da morte”, conforme o
viu e sentiu Humberto de Campos. Até a mais afinada inteligência que por então
nos restava, o mesmo Antônio Lobo, não o compreendeu, tanto quanto é verdade
que a inteligência brasileira — Machado de Assis incluído — não fez boa
recepção à literatura representada pelo aluvião finissecular de nossos pós-românticos,
simbolistas, impressionistas, decadentistas. Em carta escrita, em 1908, ao
jornalista Sebastião Sampaio e a qual deu muito o que falar, eis em que termos
o Mestre maranhense exara a sua crítica a Missas
negras:
[…] livro filiado à corrente simbolista, tal
como andou em geral compreendida e praticada no Brasil, isto é: consistindo
quase que essencialmente no culto exagerado do disparate, na ideia e na forma.
E foi exatamente essa preocupação de escola que, a meu ver, prejudicou
sensivelmente o trabalho do poeta, sem dúvida alguma, de produzir obra muito
mais valiosa, se em tempo se houvesse libertado dos esterilizantes empecilhos
que tal preocupação irresistivelmente lhe opôs à elaboração estética.
A bem de Antônio Lobo, o mais vigilante e
atualizado de nossos intelectuais, diga-se que sua percepção de literatura
pautava-se, como a de qualquer um naqueles tempos, pelo figurino francês, mas
não absorvia os padrões renovadores sugeridos, da mesma França, já desde as Flores do mal, de Baudelaire.
A mal de seu temperamento enfermiço, para quem a
polêmica constituía uma espécie de compulsão erógena, leve-se em conta que sua
apreciação sobre Inácio Xavier de Carvalho se faz em clima de mútua desavença,
veiculada pelos jornais Pacotilha, O Maranhão e Diário do Maranhão, da
capital maranhense, e engatilhada pela Folha do Norte, de Belém do Pará,
conforme nos diz Carlos Gaspar em trabalho recém-publicado sobre Antônio Lobo.
A contenda ocorreu no ano de 1907 e teve como causa
imediata a chegada, a São Luís, do jornalista fluminense Rafael Pinheiro, vindo
do Pará para aqui fazer conferências sobre assuntos variados. Antecipou-o, no
entanto, a notícia de seus desentendimentos com homens de letras do Estado
vizinho, fato bastante para deixar de sobreaviso os intelectuais desta terra, e
mais ainda, na percepção de alguns, porque seria Antônio Lobo quem lhe daria as
boas-vindas e o apresentaria aos maranhenses. Sobre uma conferência,
programada com pompa e circunstância para ser pronunciada no teatro local, com
a presença do governador Benedito Leite, Agostinho Reis, redator
da Pacotilha, informa ao jornal de Belém que alguns bilhetes de entrada
haviam sido distribuídos gratuitamente, com a finalidade de preencher cadeiras
vazias no salão do evento.
Os efeitos da notícia, desfavoráveis ao visitante e
a seu anfitrião, foram glosados por Inácio Xavier de Carvalho, editorialista
d’O Maranhão e propiciam fazer-se um close sobre o cotidiano das duas figuras
envolvidas na querela, de seus pequenos interesses e da vida pequena de São
Luís naquela primeira década do século XX, e bem assim sobre o que, de
literatura, se criava nesta Província naqueles tempos. Diz Antônio Lobo:
O autor das Missas
negras tem um talento especial para troçar e descompor em verso. Mas também
é só: tirando isso, o rapazinho [o tal “rapazinho” contava já 36 anos de idade]
é de uma imperícia de fazer dó, quer se exprima em linguagem métrica, quer não.
[…]. Na prosa é o mesmo descalabro e a mesma lástima. Se o moço se quer
exprimir em linguagem sem metro e sem rima, ou é para se dar ao desfrute ou
para dizer tolices. […].
“Ora, Sr. Antônio Lobo! Que pretensão a
sua!” — a de um “espírito nulo e acanhado”, […] “coreico ou paranoico”, […] “um
doente físico” […], o quanto basta para torná-lo irresponsável pelo que diz e
escreve.
Xavier de Carvalho nega a crítica de seu oponente,
lembrando que Guerra Junqueiro o saudou como “camarada literário” e que sua
poesia foi recebida amigavelmente no mundo das letras por José Veríssimo, Artur
Azevedo, Medeiros e Albuquerque, etc.
Interessante para bem retratar o espírito da época
é perderem ambos tempo e papel em agressão recíproca, a propósito de um terceto
de Missas negras, em que o verbo ladrar é usado como transitivo direto:
E em complemento após da Glória Tua
Ficarás lá por cima como a Lua
E eles embaixo como o cão que a Ladra!
Antônio Lobo, escritor da velha cepa, não percebeu
que a transgressão à regência verbal é o que enriquece e dá força ao verso de
seu adversário. Dois anos depois dessa polêmica, ele ainda reafirma a mesma
incompreensão da estética simbolista e, sobre a poesia de Inácio Xavier de
Carvalho, emite a mesma opinião expressa a Sebastião Sampaio. São suas palavras
em Os novos atenienses:
I. Xavier de Carvalho é, incontestavelmente, uma
organização poética de primeira ordem. De um alto poder de idealização e de
expressão estética, sabe, aos seus temas emotivos, aplicar com maestria todos
os recursos técnicos da sua arte. A única falha que teríamos a lamentar na sua
obra, se acaso aqui tentássemos exercer a crítica, seria exatamente o malbarato
de tão belos requisitos artísticos, no cultivo do verso simbolista, tal como
andou compreendido pelos sibilinos e intraduzíveis decadistas franceses e pelos
seus dignos imitadores brasileiros.
Na verdade, o que há para se lamentar em Xavier de
Carvalho é que ele tenha chegado tarde e repetitivo, o que, só por isso, não
implica inferioridade literária. Sonetista exímio, algumas de suas criações
mereceriam acolhida franca em qualquer antologia da língua vernácula. Sua
poesia revela uma tentativa de introspecção que transcende ao seu próprio eu,
para desvelar a alma humana em angústia universal.
Os tempos que se anunciam serão de Freud, Joyce,
Pound, Proust. Inácio Xavier de Carvalho tem o pressentimento da mudança.
Poderemos dizer não apenas que sua obra, mínima, ficou pelo meio do caminho,
mas que ele é todo um meio de caminho. Epígono por um lado, é mal e mal
percebido como o prógono que poderia ter sido: culpa da Província que tardou
tanto em abrir os sentidos para os paradigmas da modernidade.
De fundador
da Academia e titular da Cadeira Nº 9, Inácio Xavier de Carvalho foi
transformado em patrono da Cadeira Nº 37, fundada por José de Ribamar dos
Santos Pereira.
Não podendo encarnar-me na voz do barítono que foi
Ribamar Pereira, para aqui solfejar as 217 poesias que, segundo Mário Meireles,
deixou musicadas o primeiro ocupante da Cadeira 37 — algumas inclusive
traduzidas para o francês, o espanhol e o italiano — eu me desculparei por lhe
fazer apenas rápido aceno biobibliográfico.
Nascido em São Luís em 17 de setembro de 1898,
estudou primeiras letras no famoso Instituto Rosa Nina. Poeta, jornalista,
teatrólogo, orador. Bacharel em Direito pelo Pará, foi assistente judiciário do
proletariado e 1º promotor público da capital, no Maranhão; consultor jurídico
da Caixa de Aposentadorias e Pensões de Serviços Públicos dos Estados do Piauí
e Maranhão; representante, no Maranhão, da Casa dos Artistas, da Associação do
Teatro Nacional e da Associação de Cronistas de Arte. Colaborou assiduamente na
imprensa de São Luís, do Acre, Belém (Folha do Norte), Fortaleza, Recife
(Jornal Pequeno), Bahia (A Tarde), São Paulo, Amazonas e Rio de Janeiro. Foi
professor catedrático da Academia de Comércio do Maranhão, da Escola de
Agronomia do Maranhão, da Faculdade de Direito do Maranhão e de outros
estabelecimentos secundários em São Luís. Membro, também, do Instituto
Histórico e Geográfico do Maranhão. Faleceu a 23 de abril de 1959.
Sobre Luís Viana, muito não direi, para não me
arriscar a cometer erros perante familiares e parentes seus, que ainda agora
nos circundam. Nascido a 29 de setembro de 1889, duas ilustres casas de São
Bento entroncam-se em seu nome: a dos Lobatos e a dos Vianas. De rápidos
apontamentos biográficos que dele colhemos, entende-se que foi excelente em
tudo: como estudante, professor, médico, jornalista, educador, homem de letras,
cientista, administrador público. A esse respeito, façamos leitura das palavras
de quem o conheceu e sucedeu nesta Casa, Amaral Raposo:
Se quisermos definir, com justiça e justeza, a vida
científica, a vida literária de Luís Viana, cumpre-nos afirmar haver sido ele
um pêndulo de ouro, oscilando sem hiatos e sem pausas, durante mais de meio
século, entre a paixão absorvente do estudo e o fanatismo incessante do ensino.
Mais do que tudo, ele foi mestre. Mestre consumado
em nossa língua, foi, igualmente, em italiano, em francês, em inglês e alemão,
tal como atestam quantos mais íntima e frequentemente o conheceram. […].
Quanto ao perfil humano daquele meu antecessor,
nada melhor que recolher o testemunho de quem faz, na vida acadêmica, a
sequência da linhagem humana e intelectual de Luís Viana, o romancista
Waldemiro Viana:
De tio Luís, me fica na memória um retrato
paradoxal: enquanto meu pai, seu irmão mais novo, Fernando Viana, me falava do
seu extremo rigor (ao ajudar meu avô na educação dos cinco irmãos), na condição
de primogênito, a calar os mais novos ante um simples franzir de cenho, eu, que
já o conheci no ocaso de sua vida, guardo dele a lembrança de um doce velhinho,
extremamente culto, a dar-nos, bonachão, qualquer explicação sobre qualquer
assunto, cuja dificuldade desaparecia face à aula ministrada. As disciplinas de
sua predileção eram Português e História Natural. A esse respeito, por sinal,
lembro de uma entrevista que concedeu à tv Difusora (a única, àquela época),
por ocasião de sua posse na Cadeira 37 da Academia Maranhense de Letras.
Perguntado sobre o porquê dessa preferência, respondeu, orgulhoso: “História
Natural, por natural propensão; Português, por ser maranhense”.
Iniciou suas atividades literárias com o livro de
crônicas lançado no Rio, O Dia, do qual não tenho quaisquer notícias. Foi
articulista de vários periódicos maranhenses, em destaque o jornalPacotilha, do
qual chegou mesmo à direção.
Poeta esparso, deixou uns quantos sonetos, de lavra
rebuscada e métrica perfeita. Tive oportunidade de ler-lhe uns contos
eróticos, ainda na flor da idade, aos doze, treze anos, que me serviram como incremento
para fantasias de toalete.
Sucedeu-o
Amaral Raposo,
um dos últimos abencerragens que enfrentam
com denodo os sarrabulheiros do idioma […].Enfant terrible… garoto levado da
breca… Fascinado, desde jovem, pela grandeza do estilo ruibarbosiano, tudo o
que lhe tem saído da pena irrequieta e candente reflete, tem refletido sempre a
influência do grande baiano.
É o que dele afirma Fernando Viana, que lhe deu as
boas-vindas na Cadeira No 37 desta Casa.
E é, outra vez, ao filho de Fernando Viana, a quem
mais uma vez invoco, para falar da figura humana que fez companhia inesquecível
a muitos dos presentes, mas a quem, por um lapso de geração, não cheguei a
conhecer: Depõe Waldemiro Viana:
A desenxabida revista de origem americana Seleções
do Reader’s Digest, de leitura quase obrigatória em certa fase da vida de todos
nós, sessentões, trazia um quadro fixo intitulado Meu Tipo Inesquecível, onde um escritor qualquer escrevia sobre
alguém que o impressionara sobremaneira.
Se eu tivesse que escrever nessa seção, o meu tipo
inesquecível certamente seria o genial jornalista, poeta, articulista e —
sobretudo — irascível gozador Amaral Raposo.
Tenho-lhe, viva, na retina a imagem: meia altura,
físico de anti-atleta, era meio barrigudo, braços finos, amareloso, olhos esbugalhados,
beiçola decaída a sibilar assobios completamente desafinados, cabeleira
rareando e em perpétuo desalinho. Tinha por característica o hábito de emitir,
após a ingestão da dose de conhaque usual, uma espécie de gorgolejo esquisito,
que o identificava à distância.
Humor cáustico, para cada situação tinha uma
contundente crítica. Recordo-me de uma situação constrangedora por que passei,
quando, aluno do 3º Científico do Colégio São Luís, fiquei entre dois fogos,
por ocasião do lançamento de um livro didático pertinente à matéria, do meu
professor de Português de então.
Na apresentação da obra, esse professor cometeu a
infelicidade de iniciá-la com a expressão: “Dos teclados de minha máquina..”.
Foi o quanto bastou para Amaral Raposo, impiedoso, num artigo de jornal,
massacrar o pobre coitado, naquele seu humor ferino, a indagar quantos teclados
terá a máquina desse mentecapto? E a dar-se ao trabalho de ler detidamente a
obra, somente para criticar-lhe os erros gramaticais.
E eu é que, em classe, suportava as diatribes do
mestre, que tinha pleno conhecimento da minha amizade com o seu implacável
crítico. Tocava um violão divino, mas uma execução sua geralmente gerava
polêmica e descontentamento. Isso porque, perfeccionista, não admitia qualquer
ruído externo, quando da execução de seus solos. Dispersivo, muito pouco ficou
da obra do genial poeta de Só. Somente as piadas, blagues, observações
cáusticas que o notabilizaram, e respostas prontas, que confundiam (ou
desmoralizavam) o inquiridor… como, por exemplo, aquela dada a uma senhora, já
um pouco além de balzaquiana, que o atormentava com insistentes elogios (o
poeta era avesso a eles) e que, a certa altura, perguntou-lhe, coquete:
— Quantos anos o senhor me dá, poeta?
A resposta seca e um tanto ríspida:
— Nenhum, dona: a senhora já tem muitos!
Volto-me, por fim, a desdizer o que disse Afrânio
Peixoto e repetiu José Sarney, que um acadêmico são dois discursos, o segundo
dos quais ele não poderá mais ouvir. José do Nascimento Morais Filho marcou de
tal modo a sua passagem pelo cenário maranhense da segunda metade do século XX,
que é difícil o imaginarmos desaparecido, sem mais nem menos, de nosso
convívio, sendo bom examinarmos se ele não se acha camuflado em meio a esta
audiência, prestando atenção a este segundo discurso a seu respeito, conferindo
palavra por palavra de seu sucessor na Casa à qual um dia ele voltou as costas
para sempre.
A seu modo, ele também terá sido “um garoto levado
da breca”, podendo intuir-se, quase, venha esse timbre a firmar-se como
identidade da Cadeira No 37 neste carrancudo Cenáculo da Inteligência
Maranhense. Um “aloprado”, não tivesse essa palavra sofrido a deformação
semântica causada pela apropriação indébita de sentido que dela fez o
presidente da República. Se não — com a única exceção de Graça Aranha, no
famoso episódio de sua conferência na Academia Brasileira, em 1924 —, de qual
outro “aloprado” há notícia de rompimento com uma instituição que, para não
poucos, é a capa, ou a carapaça, com que se cobrem e se escondem em sua espera
e passagem para os umbrais da imortalidade?
Na Igreja do Velho Regime, o gesto supremo de
coragem para o sacerdote era atirar a batina às urtigas, abandonar as
obrigações sagradas do culto. À moda antiga, o homem de Deus tornado aos
hábitos de simples cidadão era apontado como apóstata, palavrão mais pesado que
o de herege ou cismático, denúncia de infidelidade pública e permanente,
defecção imperdoável, tipo especial de sacrilégio equivalente à morte em vida,
e o qual dificultava por demais — se não mesmo impossibilitava de todo — os
atos e práticas da vida comum: contrair matrimônio, exercer uma profissão, ser
aceito em sociedade.
De que outra imagem poderemos nos valer para, em
comparação, pesar e medir a “aloprada” coragem de Nascimento Morais Filho,
quando se arrebatou do propósito de largar para sempre a companhia de seus
pares na Academia Maranhense de Letras? A apostasia era um absurdo na teologia
do catolicismo. A renúncia continua sendo um absurdo na metafísica das
academias. Ainda hoje diz o Regimento desta Casa, em seu art. 46: “É perpétuo o título de acadêmico”.
E mesmo com a vigência da Constituição de 1988,
cuja garantia de liberdade associativa obrigou a reescrever-se a norma interna
acadêmica, eis o que foi acrescentado ao caput de referido artigo:
2º O acadêmico que renunciar […] terá seu nome
excluído de todos os registros da Academia, passando a figurar como período de
vacância aquele em que pertenceu à Instituição.
§ 3º Verificada a hipótese prevista neste artigo,
será considerado antecessor do novo acadêmico eleito o antecessor imediato do
que houver renunciado.
Decreta-se nesses parágrafos a sentença de morte
do acadêmico, medida decerto copiada dos regulamentos militares, pois só nos
quartéis se encontrará paralelo a tamanho rigor, quando alguém é expulso de
suas fileiras.
Observe-se que, para melhor análise, estamos
distinguindo e separando o ato do fato: a renúncia e a causa da renúncia. A
renúncia foi uma demonstração livre, consciente e voluntária de estoicismo
suicida. Mas, para Nascimento Morais Filho, foi a pena de prisão perpétua para
garantir a própria liberdade. Essa, a causa remota de sua drástica decisão. Ele
disse em um de seus livros:
Liberdade
foi o que a natureza programou para o meu
ser:
— a ordem
a que obedecem as minhas células.
E mais adiante:
limpei com o povo
a minha consciência!
de povo
tonifiquei meu ser!
agora, canto:
— liberdade! liberdade! liberdade!
Não importando esmiuçar-se nenhuma causa remota da
ruptura de meu antecessor com a Academia, transpareça, ao invés, a motivação
imediata que lhe acendeu razões para isso: o capricho por assegurar à velha
Confraria a essência de sua pureza genética. Que o sacrifício de José do
Nascimento Morais Filho assim seja visto e assim se guarde como lição pelos tempos
a vir. A esta centenária Oficina convergem homens e mulheres que, bem ou mal,
forcejam, sobre tudo e primeiro que tudo, pela expressão artística através da
escritura.
Mais que simples diferença específica no quadro
genérico dos que malham a palavra na forja de seu labor cotidiano, é esse o seu
apanágio supremo. Elevando-se a tal plano a vigilância dos guardiães desse
templo, não há confundir-se zelo com prurido, ou escrúpulo com teimosia. A
pedagogia dessa cláusula pétrea foi legado e é cobrança deixada pelos Doze
Fundadores, conforme deduzimos pelo exemplo de Antônio Lobo, no relato de
Carlos Gaspar, já mencionado.
Mas não foi sem exercitações antecedentes que a
trajetória de Nascimento Morais Filho culminou com a sua morte neossocrático-acadêmica
nesta outra velha Atenas. “Eu sou um lutador”. A frase tantas vezes repetida
por seu ilustre pai e que até ontem líamos colada ao busto daquele grande
jornalista, na praça do Panteon, a seu filho também é repassada, através da
bagagem cromossômica, como súmula de sua agitada biografia.
José do Nascimento Morais Filho nasceu em São Luís,
a 15 de julho de 1922. “Sua forte vocação de agitador de ideias” — eu repito
palavras de seu primo Jomar Moraes — “revelouse muito cedo, quando, na
liderança de um grupo de jovens com a participação de figuras consagradas da
cultura maranhense, fundou e dirigiu a Centro Cultural Gonçalves Dias, sem
dúvida o mais importante movimento cultural de São Luís na década de
40”,20 de que fizeram parte Ferreira Gular, Bandeira Tribuzi, Lago
Burnett, Dagmar Desterro, Vera-Cruz Santana, José Filgueiras, José Bento
Nogueira Neves e outros mais.
Fala um de
seus colegas daquelas priscas horas, Lago Burnett:
Sempre considerei Zé Morais e Bandeira
Tribuzi os polos fundamentais de nossa geração. Morais nos ensinou a cultivar
os clássicos; Tribuzi, sem desprezá-los, nos acenou com a viabilidade de novos
rumos. Mas ambos tinham, e ainda têm, a visão social do caso literário. Ambos
sabiam e sabem que não se faz literatura sem povo, porque, em última instância,
é para o povo que a arte se destina e é do povo que ela nos chega, em estado
bruto.
A formação desse líder haverá de ter sucedido de
forma tumultuária como o correr de seus dias. A exuberância de seu espírito não
lhe terá deixado tempo e paciência para a realização de estudos intensivos,
sistemáticos e aprofundados em qualquer campo de saber. Em mais de um de seus
livros, ele mesmo deixa esculpido o próprio perfil intelectual: “Por natureza,
formação e tradição de família: poeta, prosador e professor. / Por acaso:
Fiscal de Rendas do Estado do Maranhão” — função que também, “por acaso” fê-lo
encontrar e conhecer o outro Nascimento Morais Filho: o “folquelorista” (sic).
Sua obra versificada compreende: Clamor da hora presente, que, da
estreia em 1955, chegou a quatro edições, até 1992; Azulejos, de 1963; e Esfinge
do azul, de 1972, com segunda edição em 1996, títulos todos extraídos na
capital maranhense. Considerada sob a mira da eternidade, como o deverá ser a
partir de agora, e vista em conjunto, será produção que não convida a uma
aposta de permanência: é obra de leitor de poesia, criação ao rés da palavra,
palavra ao rés do chão, ademais de tributária de intenções que suplantam a
realização poética, tais como a retórica do libelo político e a denúncia
engajada. Sabe-se o quanto é difícil escapar a esse ardil, sobretudo nos
tempos de juventude, e quando se luta e se labuta em esquinas miseráveis do
planeta, onde muitas vezes se pratica a literatura com intenção de tocar fogo
no mundo. Mas também é sabido que a poesia comprometida — particularmente a
poesia de partido — exige uma sobrecarga inventiva apenas alcançada por raros
poetas de alto nível: Castro Alves, Maiakovski, Neruda, Gullar. Pois não basta
a emoção: é necessário que a emoção seja recolhida em silêncio — lembra-nos há
quase dois séculos o crítico inglês.
Ouçamos, a propósito, uma voz que veio de longe, na
qual palavras de entusiasmo e estímulo entremeiam-se à percepção sincera —
sempre respeitosa e amigável — sobre os versos de meu antecessor. Escreve-lhe
da Bélgica Gaston-Henry Aufrère (Carta de 1º de outubro de 1955):
Acabo de receber o seu livro: Clamor da hora
presente e muito agradeço ao amigo. Li os seus poemas com muito prazer,
porque eu assim sou poeta d’avant-garde que não fica indiferente ao andar das
castas laboriosas do mundo. Saúdo no meu amigo um jovem poeta do povo, um desta
falange dos escritores progressistas que têm a coragem de suas ideias e escreve
a sua mensagem em nome do povo e dos trabalhadores, espoliados pelos
capitalistas.
[…].
Talvez a poesia de meu amigo não tenha sempre o voo
sublime que convém. Não importa! O que conta é a ideia!
E noutro lugar, depois de afirmar que o nosso Zé
Morais levanta o seu Clamor “em trombeta épica”: “Quando
a poesia de Morais Filho estiver purificada de algumas banalidades e lugares
comuns, haverá de estar no nível da de um Maiakovski e de um Ritsos, e o Brasil
terá um grande poeta”.21
Podemos adivinhar o que responderia o destinatário
de tal mensagem a seu correspondente e a todos os demais leitores: “Prefiro ser
o último, sendo eu, a querer ser o primeiro, sendo outro” — é esse um de seus
Pensamentos, colhido em lista do livro Esfinge do azul.
Versos de Nascimento Morais Filho serviram de letra
para a música de compositores como Ribamar Fiquene, Antônio Vieira, Lopes
Bogeia e José de Ribamar Passos (Chaminé), mistura intersemiótica que
certifica, de per si, seu desejo de ser simples e direto, no intuito de
alcançar o ouvinte comum, deixando à vista o quanto seus escritos se entendem
com a linha da oralidade.
E foi essa preocupação com a oralidade, com
auscultar o coração de sua gente e com ele sintonizar-se, que o levou à cultura
popular. São de sua lavra neste campo: Pé
de conversa, de 1957, O que é o que
é?, de 1972, e Cancioneiro geral do
Maranhão, 1º v., de 1976. Seu entusiasmo pelo folclore o fez conceber
projetos grandiosos, não realizados: uma Enciclopédia do folquelore (sic)
maranhense, um Cancioneiro geral do Maranhão, de que saiu, em 1º volume, uma
coletânea de nossas quadras poéticas tradicionais, apanhadas de antigos
periódicos e da voz do povo, trabalhos que, no tocante à sua terra, ele
pretendia corressem em paralelo ao empreendimento de Câmara Cascudo para todo o
Brasil.
Sua atividade multifária o fez pesquisador muito a
seu modo, sem maiores desvelos metódicos e com a indisciplina própria de seu
temperamento. Por seu esforço em procura de papéis velhos do passado
maranhense, fez reeditar o livro A metafísica da contabilidade
comercial (1986), de Estêvão Rafael de Carvalho, e o jornal O
Bentevi (1986), indispensável para quem se dedique a rastrear a história
da Balaiada.
Muito especialmente, o Maranhão e o Brasil lhe
ficarão para sempre devedores por ele haver ressuscitado o nome de Maria
Firmina dos Reis, promovendo-lhe a edição fac-similar do
romance Úrsula e fragmentos de outros escritos da notável escritora
conterrânea. Como acontece, compreensivelmente até, com muitos estudiosos que
exageram na paixão por seus achados, Nascimento Morais Filho sobrevalorizou o
próprio feito.
Por sua singularidade e seu pioneirismo, Maria
Firmina dos Reis há de constar necessariamente na história da cultura
maranhense, na sociologia de nossas ideias, de nossas práticas sociais, e não
bem de nossa literatura. “Poetisa medíocre e ficcionista desimportante” — a
avaliação é de Jomar Moraes — “Maria Firmina dos Reis não tem, mesmo nos
limites da literatura maranhense, a significação que recentemente pretenderam
atribuir-lhe”.22
Mas quem, tendo vivido no Maranhão da década dos
80, desconhece o movimento insistente, resistente e renitente, que foi o Comitê
de Defesa da Ilha de São Luís? Difícil inventar iniciativa mais ao gosto de
José do Nascimento Morais Filho, de sua opção ideológica, pela qual ele
cresceu, sobrepujou-se de suas humanas proporções, agigantou-se como paladino
da causa ecológica, da qual, àqueles tempos, mal se tinha notícia.
O gigante assim constituído vestiu-se em pele de
leão e deitou a sua ira sobre o deserto de nossa indiferença. O poeta arrebatou-se
em fúria de profeta, passou a alimentar-se de gafanhotos, voltou-se furibundo
contra uma poderosa multinacional e contra o governo que lhe fazia concessões,
no mínimo, desnecessárias e descabidas. E não esqueçamos que ainda andava em
vigência o governo fechado do Regime Militar.
Nada o intimidava. Ele soube arregimentar adeptos,
sobretudo entre os mais jovens, atacou, foi contra-atacado, fez comícios,
passeatas, manifestos, bradou aos quatro ventos, bateu às portas dos tribunais
e, perdendo, sagrou-se campeão. Não importa se quase três décadas depois,
parecem demasiadas ou infundadas as suas invectivas, se a indústria pesada que
ele pesadamente acusava tem ganho até prêmios internacionais por seu cuidado no
manejo ambiental em São Luís. Perguntemos: como seriam as coisas, se tão
veemente não houvesse sido o seu protesto? Chuvas de ácido sulfúrico não caíram
ainda sobre a velha Upaon-Açu, graças a Deus.
Mas o que poderia ter feito uma grande empresa cujo
objetivo maior e primeiro que todos é o lucro, e à qual demos tudo ou quase
tudo, se o brado de Nascimento Morais Filho não se cristalizasse no tempo e no
espaço, levado em eco pela viração que sopra nesta Ilha sobre nossas cabeças e
nossas consciências, advertindo-nos que, também no plano ecológico, o preço da
liberdade é a eterna vigilância?
Grande Zé Morais! Que responsabilidade a minha:
refazer os laços que rompeste com a tua Casa, Casa da família Morais, de teu
pai, de teu irmão, de teu primo, reunir-te aos teus pares, que tanto ganharão
por teu convívio… Reavivar e reviver os teus ideais de liberdade, manter
aclamada e acolhida a causa pela qual tanto te empenhaste. De onde estiveres,
assiste-me, dá-me as forças que tiveste, para que eu também me agigante a mim
mesmo e seja fiel a teu compromisso.
Em minha toada de chegança a este recinto lembrei
meu pai. Permitam-me agora que eu a encerre, prestando homenagem à outra
pessoa, uma das quais mais quero bem nesta vida. Dona Clarice Pinto Haickel, minha mãe que completa exatamente hoje 80
anos, — idade que não acredito poderei alcançar — e essa é a razão de eu haver
escolhido esta data para oficialmente ingressar neste templo sagrado.
A cerimônia desta noite é o presente que um filho
deposita jubilosamente nas mãos de sua mãe, porque a ela lhe pertence, todo,
inteiro.
Mãe, meu presente para ti, nesse teu aniversário, é
a honra e o reconhecimento que homens e mulheres da Academia Maranhense de
Letras demonstraram a teu Jotinha por eventuais méritos seus. Méritos, se os
tenho, devo-os ao Deus que me ensinaste a honrar e respeitar e, depois dele, a
ti, mais que a ninguém, pois tudo que sou, tudo que alcancei nessa vida, devo a
ti. Ao que me ensinaste, ao que me possibilitaste aprender, às cortinas e
portas que abriste para que eu pudesse ir, sem jamais me distanciar de teu
carinho e de teu amor.
Que presente poderia dar para alguém que fez tudo
por mim. Que além de me fazer por amor a um homem, me criou, quase que a sua
imagem e semelhança?
Eu cresci, sou grande, mas todo esse meu tamanho é
pequeno para conter o amor e a gratidão que tenho por ti, pois de nada
adiantaria as oportunidades que meu pai me proporcionou se não viesse junto com
elas a tua doçura e a tua bondade.
Poderia continuar aqui falando a noite toda, as
mesmas Mil e uma noites em que lias para mim, antes de dormir. Se
mais não falo, é porque a emoção não me deixa — e porque emoções oceânicas não
cabem no estreito estuário da palavra.
Por fim, mesmo incorrendo em blasfêmia, tenho
certeza que meu bom e misericordioso Deus me perdoará por mais isso… “a ti,
toda honra e toda a glória, agora e para sempre…”.
ADENDO 6
DISCURSO DE
RECEPÇÃO A JNH NA AML [02outubro2009]
Por José Louzeiro
Acesso em
01set2015
Caros amigos, ilustres confrades desta nossa tão
querida Academia Maranhense de Letras, sabiamente conduzida por Lino Moreira,
sucessor dos valorosos intelectuais Joaquim Itapary e Jomar Moraes, que tantos
e importantes trabalhos já desenvolveram em benefício desta Casa:
Este dia 2 de outubro de 2009 passa a ser, para
mim, um dia de extrema importância, pois aqui estou para recepcionar o querido
amigo e agora confrade Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel, a quem conheço desde
os tempos da revista Guarnicê, aventura bem sucedida de criar em nossa
terra, no começo dos anos 80, uma revista que falava de arte, literatura, cinema
e cultura, de modo geral.
Mas, antes disso, gostaria de poder dizer-lhes das
recordações que tenho deste lugar. Neste mesmo prédio funcionou a Biblioteca
Pública do Estado, e era para cá que eu vinha, aluno do Colégio São Luís, do
professor Luís Rego, fazer minhas pesquisas e exercícios de Geografia, que a
professora Maria Freitas passava e a que exigia aplicação. Aqui chegando, neste
casarão cheio de livros, passei a contar com a ajuda de um funcionário da Casa,
que era o poeta Correia da Silva, membro desta Academia, e com quem muito
aprendi. Ele era filho de dona Seluta, pessoa admirável, que vivia seus dias a
lavar e engomar, mas tirava um deles por semana para fazer as entregas nas
casas da sua clientela. Meu pai lavava suas camisas de punhos duplos com ela.
Era parte de sua indumentária de diácono da Igreja Presbiteriana, ali na praça
da Alegria, cujo pastor titular era Benedito Aguiar.
Ao voltar a esta Academia, senhor presidente, meus
ilustres confrades, minhas senhoras e meus senhores, sinto-me tomado pela
emoção. É como se estivesse retornando à minha própria casa, que ficava na
Camboa do Mato, onde havia uma fábrica de fiação e tecelagem, que empregava
quase todas as pessoas da região, principalmente as mulheres.
Mas hoje minha função não é falar de mim, nem do
passado desta cidade que tanto amo, e, sim, receber para nosso convívio um
jovem admirável por seu talento, por seu caráter, por seu temperamento franco e
alegre. Por sua literatura leve, coloquial e cinematográfica. Homem conhecido por
não fugir das polêmicas, por defender suas ideias com unhas e dentes, e por
sempre colocar a arte e a cultura de nossa terra em primeiro lugar. Falo de
Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel.
Quero primeiramente agradecer ao Joaquim por ele
ter me distinguido dentre tantos confrades para saudá-lo neste dia tão
importante. Penso que ele fez isso não apenas por sermos bons amigos, mas
também como gesto simbólico, para distinguir especificamente o segmento
artístico e literário a que tanto ele quanto eu estamos mais ligados: a
literatura voltada para o audiovisual, para a televisão, para o cinema
documental e ficcional.
Joaquim Haickel deve ser exaltado por seu talento
literário multifacetado, ora como contista, ora como poeta, ora como
articulista, e agora, mais recentemente, também como cineasta premiado dentro e
fora de nosso país.
Joaquim se destaca em um cenário no qual figuram
personagens marcantes de nossas letras e de nossa cultura. Nomes como os de
bons cronistas, renomados poetas e pesquisadores obstinados, como é o caso de
companheiro Ubiratan Teixeira que, sozinho, fez um dicionário de teatro e de
suas personalidades, coisa essa que no Rio seria obra de uma numerosa equipe. E
o que é melhor: a edição é primorosa, do Instituto geia que tem publicado obras
da maior relevância e alta qualidade gráfica, e conta com a supervisão do nosso
também confrade Sebastião Moreira Duarte.
Entre os poetas, que por aqui desenvolvem seus
trabalhos, eu ouso mencionar alguns que são de altíssima relevância, como Laura
Amélia Damous e Arlete Nogueira da Cruz, Ceres Fernandes, Alex Brasil e mestre
Nauro Machado. Há o fertilíssimo Luís Augusto Cassas, Salgado Maranhão, o
saudoso Bandeira Tribuzi e o clássico José Chagas, sem nos esquecermos de
Roberto Kenard e Celso Borges, parceiros de Joaquim na revista Guarnicê.
Entre os ficcionistas de primeira linha estão José
Sarney, com sua obraprima, Saraminda, Ivan Sarney, com o
inesquecível Chapéu de couro e palha, e o jovem José Ewerton Neto,
conquistador de prêmios. Entre os pesquisadores temos que lembrar Jomar Moraes
e Lino Raposo Moreira, responsáveis pela bem cuidada 3ª edição do Dicionário
histórico-geográfico da Província do Maranhão, de César Augusto Marques. Jomar
elaborou o trabalho crítico, numa belíssima edição, Lino incumbiu-se do índice
remissivo da importante obra.
Outros renomados estudiosos da nossa História são
Carlos Gaspar, Mílson Coutinho e o admirável historiador que é Carlos de Lima.
Se os nossos escritores são ignorados pelos
críticos do sul do país, azar deles, dos críticos, pois isso significa, além de
preconceito, limitação cultural e, por que não dizer, mental.
Esta nossa cidade continua a ser um celeiro de
pensadores e grandes mestres da arte de escrever. E entre os expoentes da nova
geração de intelectuais, é para mim prazeroso aqui estar para falar de um dos
mais expressivos deles: Joaquim Haickel, agora membro desta Academia.
Conheci Joaquim Haickel na lide das letras e da
cultura, na época do Guarnicê, mas foi Ivan Sarney quem nos aproximou ainda
mais, através de nossa paixão comum, o cinema. Queríamos implantar em São Luís
um polo de cinema e, reunidos, numa dessas noites agradáveis, na casa de um
amigo, lançamos a ideia, que não vingou.
Mas, sendo Joaquim Haickel um transformador de
sonhos em realidade, jamais tirou de mira a intenção de criar um polo de cinema
nesta nossa querida cidade.
Eu vinha de maravilhosas experiências no cinema.
Havia feito os roteiros cinematográficos de Lúcio Flávio, o passageiro da
agonia e Infância dos mortos, que resultou no filme Pixote,
ambos baseados em romances de minha autoria e dirigidos no cinema pelo
argentino Hector Babenco.
Ivan já havia feito repetidas experiências com o
saudoso Super 8 e Haickel era apenas um cinéfilo de primeira linha. Já vira
quase todos os filmes exibidos no país.
Nosso novo confrade é o primeiro filho de Clarice e
Nagib Haickel e nasceu no dia 13 de dezembro de 1959. Sonhador, romântico,
aventureiro, apaixonado, corajoso, honrado. Devotado a dois verbos essenciais:
pensar e fazer.
Joaquim nasceu em uma época de muita efervescência.
Uma época que deu seus frutos no que viria a se constituir na maravilhosa
geração dos anos 60 e 70, com sua rebeldia, seu culto à juventude, a opção pela
imagem. Foi quando a televisão, recém-chegada nesta capital, tomou de assalto
os lares e as noites dos ludovicenses. Joaquim é, em sentido próprio, o
primeiro daquela geração a renovar as forças criativas desta instituição.
O novo acadêmico estudou nos colégios Pituchinha,
Batista e Dom Bosco. Formou-se em Direito pela Universidade Federal do
Maranhão.
Seu primeiro livro, escrito entre 1975 e 76, só foi
lançado em 1980. Intitula-se Confissões de uma caneta, contos premiados
no concurso Cidade de São Luís.
Em 1981, lançou O quinto cavaleiro, poemas. Em
1982, premiado no concurso Secma / Sioge / Civilização Brasileira, lançou o
livro de contos Garrafa de ilusões. Também em 82, Joaquim Haickel e Celso
Borges, coadjuvados por Roberto Kenard, Ivan Sarney, Ronaldo Braga e pelo irmão
caçula de Joaquim, Nagibinho, produziram e apresentaram o programa Em Tempo de Guarnicê, levado ao ar
todas as terças-feiras pela então jovem Mirante fm.
Foi um programa pioneiro e de sucesso que falava de
literatura, arte, cultura e tocava a música feita, com muita competência, no
Maranhão. Esse programa de rádio foi o embrião do que viria ser, logo em
seguida, a mais importante revista cultural maranhense daquele tempo.
Manuscritos, seu segundo livro de poemas, quarto
até então, foi lançado em 1983, quando também ele começou a editar a revista Guarnicê,
que foi publicada até 1986.
Gostaria de ler para vocês quatro dos poemas feitos
por Joaquim nessa época, textos que, para alguns, são na verdade minicontos, e
que acredito estarem entre os melhores, não só entre os de sua lavra, mas de
seu tempo:
CARRACA
Quando se tira
mais do que se põe
o poema vira escultura.
SER MENINO
Arriar o calção
e mijar o mundo.
PADRE-NOSSO
No lugar onde nasci, o padre, três horinhas,
saía pela sacristia
e cruzava a Praça Cursino Rabelo
— nome do avô do ex-prefeito.
Toalha branca no pescoço, saboneteira na
mão, quixotesco, ia
banhar-se na casa da viúva Sibá
— dona da padaria.
Seis horas, já banhado e paramentado, rezava
a Missa: Em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo…
“amante”.
AMBULANTE
Maria Rita armava barraca na mureta da
Praça Benedito Leite e vendia: doistão de
pernas grossas; duas coxas macias, ancas
graciosas e luzidias como as da égua
Esmeralda,
caso de amor de seu Dico.
Cintura de umbigo tufado — culpa da parteira
dona Maria José do Bom Parto.
Peitos ainda durinhos, mas já querendo
murchar de tanto freguês apalpar.
Pescoço de bailarina, cabelos de espanhola,
olhos de moça-
-virgem e andar de brincar ganzola.
Maria Rita armava barraca e vendia…
Em 1984, Joaquim e seus comparsas lançaram a Antologia
poética Guarnicê. Em 1985, aAntologia erótica Guarnicê. Em 86, o livro de
contos Clara cor de rosa. Depois de uma pausa editorial, em 89, ele reúne
poemas em Saltério de três cordas, juntamente com Rossine Correia e Pedro
Braga dos Santos.
Mas foi só em 1990, segundo o próprio Haickel, que
amadureceu o seu primeiro livro (“os outros haviam sido apenas ensaios do que
viria”): coletânea de contos lançada pela Editora Global, A ponte, foi bem
recebida por Artur da Távola e Nelson Werneck Sodré, a quem presenteei um
exemplar do livro de Joaquim. Nelson reconheceu nele o talento inato dos bons
contadores de história, como disse em carta endereçada a Joaquim. A Artur, que
seria colega de Joaquim na Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, coube
prefaciar A ponte. Lá ele diz:
Joaquim Haickel é um facundo. Na vida como na
literatura. Raros escritores são, na arte, o que na vida são. E sua facúndia
existencial estica-se para a literatura. É um célere, um devorador… A mistura
de velho árabe sábio com garoto levado, que lhe marca a tipologia e o
temperamento, aparece nos contos… Sua literatura imita-lhe a vida. E sua vida
(ah! que alívio) é venturosa. Sim, enfim, senhores, eis que surgiu alguém
naturalmente feliz e que do fundo da alegria de viver é capaz de encontrar a tragicidade,
o espanto, a parada sensível. E assim como se atira a viver, sem tréguas,
lamúrias ou timidez, vai criando e devorando vivências e personagens com
apetite invejável.
No posfácio de A ponte, Rossine Correia mostra
mais uma vez o Joaquim inventor de realidades tão verossímeis, que são capazes
de enganar até os mais argutos:
Quanto a mim, viciado em leitura a ponto de já
haver sofrido a acusação de gostar mais dos livros do que dos homens, nem
sempre descobri o caminho da fonte, quiçá por amor a muitos deles, chegando a
ser logrado pelo autor de A ponte.
Acontece que lera um conto sobre a Coluna Prestes,
narrado por um certo Tério Tino, testemunha ocular daquela aventura.
Encontrando o escritor em uma manhã de sol tropical, entre ladeiras e sobrados,
lhe perguntei como e onde poderia entrevistar o tal personagem, que ele, em uma
nota de pé de página, dissera estar vivo, com 70 anos, num asilo de mendicidade
em São Luís. Como eu poderia perder a oportunidade de conhecer um herói
popular, vivo e mendigo, relacionado à Coluna Prestes? Percebendo que eu, um
historiador, confundira totalmente as fronteiras da verdade e da fantasia,
Joaquim Haickel explodiu em uma gargalhada…
Passando ao campo da cinematografia, Joaquim
produziu o filme The best friend, O amigão, que conquistou os prêmios de melhor
filme do júri popular, e melhor filme de cineasta maranhense do júri oficial,
no Festival Guarnicê de Cinema e Vídeo, realizado pela Universidade Federal do
Maranhão em 1984. Naquele mesmo ano, participou de um concurso de roteiros para
cinema, promovido pelo Departamento de Assuntos Culturais da ufma, no qual
mereceu menção honrosa. Mas, para ele, o mais importante daquele evento foi o
comentário de um dos jurados, José Chagas, hoje seu confrade, que confessava não
estar preparado para ler um roteiro apresentado da forma técnica como aquele
fora apresentado. Chagas disse mais: tinha certeza que ali havia uma história
com potencial incrível para ser contada em forma de filme.
É que Joaquim havia comprado um livro de Doc
Comparato sobre como fazer roteiro para cinema e televisão e preparou a
adaptação de um conto seu, com roteiro técnico, marcação de câmera, iluminação
e sequência, não se atendo apenas ao argumento literário e à sinopse
cinematográfica. Tratava-se de A Vingança, que está em seu livro Garrafa das
ilusões. Joaquim tentou realizar o respectivo filme, mas não o conseguiu, por
dificuldades técnicas e porque, naquela época, não havia no Maranhão uma atriz
com desprendimento e desnudamento bastantes para desempenhar determinado papel
desprovida de qualquer pano.
Mas Joaquim é incansável: descansa carregando
piano. Dorme com um olho aberto, para não perder o momento que passa.
Em 2003, na comemoração dos vinte anos da revista Guarnicê,
a Clara Editora e as Edições Guarnicê publicaram o Almanaque Guarnicê, espécie
de ensaio-entrevista-reportagem, a cargo de Félix Alberto Lima, na qual vem
narrada a trajetória do semanário e de seus idealizadores. Também em parceria
com a Clara Editora, Joaquim lançou naquela ocasião uma coletânea de seus
melhores artigos publicados no site Clara on Line.
E como já está demonstrado que a sua invenção
através da imagem cinematográfica está associada às artes de sua criação
literária, façamos a passagem de um terreno para outro, com o que lançaremos
mais luzes sobre o perfil multifário de Joaquim Haickel.
A modo de aperitivo, assinalemos que o inquieto e
indisciplinado Joaquim valeu-se da ajuda de diversos amigos para fazer em Paço
do Lumiar, em 2008, o curta-metragem Padre Nosso, de 58 segundos, baseado
em um poema de sua autoria.
Curiosa traquinagem, porém, foi a do primogênito de
Nagib Haickel, a qual culminou com a realização, também em 2008, de um antigo
sonho seu: roteirizar, produzir e dirigir um filme, baseado no conto Pelo
Ouvido, por ele escrito nos anos 80 e publicado em seu livro A ponte. Esse
conto foi dado a público pela primeira vez de modo insólito e singular, como
não raro ocorre com fatos e façanhas da história pessoal desse habilidoso
carcamano Haickel.
Contemos o
fato pela palavra de Félix Alberto Lima:
O escritor gaúcho Caio Fernando Abreu veio a São
Luís ministrar uma oficina de conto para jovens poetas, escritores, jornalistas
e universitários maranhenses. Organizado por Teresa Nascimento e Telma Rego, o
evento contou com a participação de Antônio Carlos Alvim, Raimundo Garrone,
Wilson Marques, Paulo Melo Sousa, Luís Inácio, Moisés Matias e Marilda
Mascarenhas, entre outros.
Uma semana de exercícios literários e leitura de
textos de Machado de Assis, Lígia Fagundes Teles, Clarice Lispector, Dalton
Trevisan, etc. Cada dia um conto indicado por alguém da oficina, com uma
posterior rodada de comentários.
No penúltimo dia do curso, Joaquim Haickel sugeriu
a leitura em grupo do conto Pelo Ouvido, de David Linch, o diretor e roteirista
norte-americano. Lido o conto na oficina, a maioria do grupo — inclusive o
próprio Caio Fernando Abreu — reconheceu, escancaradamente, traços
cinematográficos que ligavam o texto a experiências anteriores do soturno
diretor de Veludo azul, Coração selvagem e Twin peaks. O conto, ambientado em
Georgetown, bairro de Washington, tem como personagens Churck e Kate.
No dia seguinte, o constrangimento foi geral. Soube-se
que o conto Pelo Ouvido era de Joaquim Haickel, e não de David Linch.
Transmudado para o código da imagem em movimento,
Pelo Ouvido foi selecionado para mais de 120 festivais de cinema, no Brasil e
no exterior. Mencionemos alguns: o 12º Los Angeles Latino International Film
Festival, o 34º Festival de Cine Iberoamericano de Huelva, o Festival des
Films du Monde, do Canadá, o Festival International du Film d’Amour da Bélgica,
o European Independent Film Festival 2009, o Festival Internacional de Filme
Independente de Hamburgo, o 30º Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano
de Cuba, o 3º New Beijing International Movie Week.
Quanto a prêmios, em específico, Pelo
Ouvido ganhou nada menos que doze até agora, entre eles o de melhor filme,
no 17º Concurso Iberoamericano de Cortometrajes de Cartagena, na Colômbia; o de
melhor diretor, no Boston International Film Festival, nos Estados Unidos; o
prêmio especial do júri, na Mostra de Cinema Latino-americà de Catalunya, na
Espanha.
É que, ao ser transposto para o cinema, o relato de
Pelo Ouvido ganhou vida e se transformou numa peça de rara profundidade
psicológica, sem falar nas qualidades técnicas que o trabalho, em imagens e
sons, alcançou.
Se Joaquim quisesse fazer um longa-metragem, era só
estender um pouco a magnífica atuação do talentoso casal de atores Eucir Sousa
e Amanda Acosta. Bastaria aliviar a mão pesada e crítica de contista-roteirista
e deixar no corpo do filme o que acabou por figurar apenas no making-of constante
do respectivo dvd.
Nesse trabalho de Haickel, o que surpreende é a
sutileza com que ele trabalha a relação da jovem executiva de vendas, saudável
e bonita, com o marido escultor e poeta, surdo e cego, que lhe tem amor intenso
e é correspondido. Mas, para que a relação seja perfeita, ela tem que escutar
as cantadas que outro obstinado admirador lhe passa, de que ela gosta e a que
dá corda, sem jamais se encontrar com ele.
Em certo momento, estando na cama, esculpida pelas
mãos suaves e sequiosas do marido, ela telefona para o admirador e se relaciona
com o seu parceiro real, ouvindo as palavras do amante virtual como se fossem
as do amado presente. O momento é tocante, a invenção extraordinária: numa
história de amor em que nada parecia haver de inovador, Joaquim Haickel
consegue dar a volta por cima, descobrindo um caminho novo, admiravelmente
inusitado. A fala do amante invisível orienta a mulher para melhor relacionar-se
com o marido, em sua sepultura viva de eterno silêncio.
É simplesmente genial. Posso dizer que Joaquim
Haickel é artista dotado de grande capacidade de avaliação dos sentimentos
humanos, e eu aqui estou para recebe-lo também como ficcionista, como um senhor
inventor de histórias, de estilo enxuto, de linguagem cuidadosa e esmerada.
Mas não para nisso a ansiedade inventiva do
guerrilheiro palestino que a partir de agora arma sua partida no oásis de nosso
convívio. Joaquim tem projetos literários engatilhados: lançará até o final de
novembro deste ano o livro Dito & feito, seleção das crônicas que tem
publicado aos domingos no jornal O Estado do Maranhão, nos últimos quinze
anos.
Para 2010, quando completará trinta anos do
lançamento do seu primeiro livro, Joaquim pretende nos presentear com uma obra
incomum. Chamar-se-á Múltiplo de quatro e reunirá o melhor de sua produção.
Serão contos, poemas, crônicas, roteiros de cinema, discursos proferidos na
Assembleia Legislativa do Maranhão, entrevistas, fotografias.
Em 2011, preparemo-nos para a leitura de alguns de
seus discursos políticos em A palavra quando acesa (o título é uma
homenagem ao poeta José Chagas, de quem o tomou emprestado). Para 2012, antes
de o mundo acabar, teremos o que, segundo o próprio autor, será sua obra
definitiva, e na qual Joaquim Haickel falará de sua maior paixão, o cinema.
Refiro-me a 365 filmes para não precisar de psicanálise, que Joaquim começou a
escrever a mais de dez anos, reunindo comentários de películas a que assistiu.
Não será simplesmente uma lista dos melhores filmes, segundo a opinião do
autor, mas sua apreciação quanto a filmes que o ajudaram a formar seu cabedal
de instrução e cultura, e ainda serviram para que ele consolidasse seu código
moral e, sobretudo, para que ele não precisasse recorrer a qualquer dos
seguidores de Freud, Jung ou Lacan.
Joaquim costuma dizer que se sente uma espécie de
filho de Alexandre Dumas, pois se identifica profundamente com as personagens,
as histórias e os sentimentos de honra e lealdade emanados do universo
literário do grande folhetinista francês.
Certa vez, a uma pergunta sobre seu livro de
cabeceira, Joaquim respondeu que eram dois livros que falavam de príncipes. Pela
ascendência árabe do entrevistado, o entrevistador imaginou que um desses
livros deveria ser As mil e uma noites, mas Joaquim respondeu-lhe que os dois
títulos eram O príncipe e O pequeno príncipe, “principalmente” — ele completou
— “por causa do capítulo XVII do livro de Nicolau, que discute o que seria
melhor que fossemos, amados ou temidos, e por aquela conhecida frase do livro
de Antoine que nos faz lembrar para sempre que somos eternamente responsáveis
por quem cativamos”.
Cabe ainda registrar aqui que o novo confrade da
Cadeira Nº 37 é desportista e grande incentivador dos esportes como forma de
inserção social. Ele foi vice-presidente da Confederação Brasileira de Tênis e
da Associação Desportiva Mirante, além de ter conquistado, pessoalmente, diversos
títulos em modalidades como tênis, vôlei e basquete.
Projetos de responsabilidade social a encargo de
Joaquim têm sido desenvolvidos pelo Instituto de Cidadania Empresarial do
Maranhão — ICE-MA, de que é membro-fundador.
Mas seu empreendimento mais obstinado consiste em
consolidar a Fundação Nagib Haickel, entidade
sem fins lucrativos, que pretende acionar uma rede de televisão educativa via
satélite voltada para o ensino formal e para a difusão cultural, a qual contará
com duas geradoras de tv, uma em São Luís e outra em Imperatriz.
A mesma Fundação também implantará, em breve, o Museu da Memória Audiovisual do Maranhão — MAVAM,
incumbido de preservar a memória de nossa gente e de nossa terra por meios
audiovisuais. Para tanto, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional já está restaurando, com recursos da União, conseguidos pelo deputado
Joaquim Nagib Haickel junto à bancada federal maranhense, um prédio, doado por
ele, onde funcionava uma das empresas de seu pai e onde funcionará o Museu.
Observem bem como se movimenta este dínamo-gente
que leva o nome de Joaquim Haickel. Trabalhando com as mãos e com o espírito,
imbuído da paciência dos beduínos na aridez do deserto, ele lutou, sofreu,
resistiu, até chegar à implantação do magnífico projeto que vai acabar
realizando o nosso velho sonho do polo de cinema de São Luís, desenvolvendo-o
em torno do Museu.
Falei há pouco que Joaquim Haickel representa bem a
geração da imagem viva que, em nosso meio, se difundiu a contar da segunda
metade dos anos 60. Outros fatores, no entanto, explicam-lhe a preferência pelo
movimento, alimentada pelo caleidoscópio de talentos que é a sua personalidade
em ação.
Joaquim diz que, disléxico, foi salvo por sua
professora particular, Terezinha, escolhida cuidadosamente por dona Clarice.
Era uma jovem dedicada e delicada, talvez fosse capaz de lidar com o
temperamento elétrico do filho de Nagibão, tido por todos como desassossegado
por demais. A mestra notara que seu aluno obtinha melhor aproveitamento nos
estudos quando ela se punha ao seu lado em condições de igualdade nas tarefas
escolares, fazendo-o superar as dificuldades de leitura e o déficit de
atenção, lendo para ele e com ele os livros ilustrados da biblioteca doméstica,
despertando-lhe, por essa maneira, a curiosidade e a aventura do saber.
A esse primeiro influxo educativo, some-se o
exemplo de seu tio postiço, Stênio, irmão de mãe Tetê e mãe Loló, um
incomparável pedagogo que, invariavelmente, todos os sábados e domingos, levava
o futuro cineasta e seu irmão ao cinema. Pode-se dizer que o que mais aprendeu
Joaquim foi de tanto ouvir e tanto ver.
Fiz antes, também, rápida menção ao deputado
Joaquim Haickel. Foi outra aprendizagem, por osmose ou simbiose. O acadêmico de
hoje relembra que, menino, adorava ficar ouvindo as conversas dos mais velhos.
Participava, assim, desde pequeno, da vida política e empresarial de seu pai,
em meio a políticos do interior do Estado e a empresários da capital. Vez por
outra, o velho Nagib tinha que arregalar os olhos na direção do filho, código
cujo significado era “te sossega, rapaz!”. Muitas vezes o gesto não adiantava
de nada e o pai tinha que recorrer a dona Clarice: — Mãe, chama Joaquim, que
ele já está aqui ouvindo conversa de gente grande.
Dividido entre os estudos e a diversão, aquele
rapaz só veio a trabalhar em 1978, quando passou a assessor na Assembleia
Legislativa, onde seu pai era deputado estadual. Naquele ano participou
decisivamente da campanha eleitoral. No ano seguinte iria morar em Brasília, já
seduzido pelo Parlamento, ao qual servia seu pai, então deputado federal. De
volta a São Luís, passou a ser oficial de gabinete do então governador João
Castelo. Recebia os políticos com atenção e cortesia, tratava a todos com
simpatia e deferência. Mas, certo dia, cansado de apenas abrir portas, pediu
para trabalhar com o chefe da Casa Civil, José Burnett, político experiente de
quem se tornou aprendiz.
Assim foi e foi. Joaquim procurou aprender com os
melhores: primeiro que todos, seu pai, que não conseguiu transferir-lhe o jeito
“caboclo” de ser, mas que, pelo contágio e pelo exemplo, lhe entregou algumas
das principais ferramentas da vida — lealdade, honradez, coerência,
simplicidade — e alguns de seus maiores defeitos — ansiedade e desassossego;
com seu tio Zé Antônio, exemplo do que um prefeito deveria fazer e de como um
deputado jamais poderia agir; com Clodomir Milet, um lorde, discreto, culto;
com José Burnett, quase cego dos olhos, mas com privilegiadíssima visão
política; com Ivar Saldanha, um pragmático convicto; com Pedro Neiva de Santana
e Haroldo Tavares, tio e pai de sua namorada de então: o primeiro, senhor de
uma elegância e de uma ironia tão bem engomada quanto seus ternos de linho
tropical; o outro, um gênio planejador, magnífico sonhador; com Nunes Freire, a
rudeza doce e honesta; com Castelo, presença e energia; com Alexandre Costa,
leal tenacidade; com Lobão, conciliador, diplomático; e, fora de série, com
José Sarney, a quem sempre cuidou de observar e analisar milimetricamente, na
tentativa de aprender com ele tudo o que fosse política ou com política se
relacionasse, tudo o que nela se deveria fazer e principalmente deixar de
fazer.
Apoiado na popularidade que o pai deputado
esbanjava por todo o Maranhão, Joaquim Haickel elegeu-se para a Assembleia
Legislativa estadual em 1982, o mais jovem em todo Brasil naquela legislatura.
Eleito em seguida deputado federal Constituinte em 1986, foi relator da
Comissão de Direitos e Garantias Individuais, responsável, entre outros
encargos, pela apreciação do projeto que visava instituir a pena de morte no
Brasil. Seu parecer, vencedor, posicionava-se contrário ao projeto do notório
deputado Amaral Neto. Foi em uma audiência pública naquela comissão que nos
reencontramos. Joaquim que tinha apenas 27 anos, e já convivia com Ulisses
Guimarães, Afonso Arinos, Roberto Campos, Florestan Fernandes, Nelson Jobim,
José Serra, Delfim Neto, Artur da Távola, Fernando Henrique Cardoso e Luís
Inácio Lula da Silva, para citar alguns nomes.
Acrescentemos, como detalhe, o instrumento inovador
de que Joaquim lançou mão, para convencer os seus pares quanto à inconveniência
da pena de morte na legislação brasileira. Consciente de viver em tempos nos
quais uma imagem vale por mil palavras, ele fez uma edição resumida do filme O caso
dos irmãos Naves, famoso erro judicial de Minas Gerais, apresentou-o à Comissão
que votaria o tal indesejado projeto, e esperou o resultado. Sua tese
prevaleceu sem maiores percalços.
Proveniente de emenda aglutinadora do relator da
comissão de sistematização, pois vários constituintes apresentaram projeto
semelhante, é também da autoria de Joaquim, a frase que abre diariamente os
trabalhos nas duas casas do Congresso Nacional: “Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro, declaro aberta
essa sessão”.
Por indicação de Ulisses Guimarães, o congressista
maranhense representou a Câmara dos Deputados no Congresso Americano de Jovens
Líderes Mundiais, de 1987, juntamente com Aécio
Neves, Henrique Eduardo Alves e César Cals Neto, e em viagem diplomática à
China, em 1988. Ao fim desse mandato, não se candidatou a nenhum cargo eletivo,
mas foi convidado pelo então governador Edison Lobão para secretariá-lo na
pasta de Assuntos Políticos, a mesma em que, mais de uma década antes, fora
aprendiz de Burnet. Depois, foi para Secretaria de Educação. Afastou-se dos
cargos públicos de 94 até 98 para dedicar-se às suas empresas de radiodifusão:
FM e TV Maranhão Central, espalhadas por mais de 50 cidades do Estado. Naquela
época plantou a semente do que viria a ser a Fundação Nagib Haickel.
Em 1998, candidatou-se e elegeu-se o deputado
estadual mais votado do seu partido, mas, daquela vez não pôde contar com a
preciosa ajuda de seu pai, que falecera no dia 7 de setembro de 1993, como
presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão.
Joaquim é detentor da medalha Manuel Bequimão da
Assembleia Legislativa do Maranhão, da medalha do Mérito Timbira do Governo do
Maranhão, e da medalha Barão de Mauá, do Ministério dos Transportes. Cidadão
honorário dos municípios de Pindaré-Mirim, Santa Inês, Itapecuru-Mirim, São
Domingos do Maranhão, São Benedito do Rio Preto, Vitorino Freire, seu currículo
se enriquece também com a Cadeira Nº 9 da Academia Imperatrizense de Letras,
para a qual foi eleito em 2006, tendo como patrono o eminente Tucídides Barbosa
e fundador e único ocupante, até então, o professor, escritor e humanista Vito
Milesi.
O Poder Legislativo do Maranhão continua a contar
com Joaquim Nagib Haickel como representante de sua gente. Lá ele tem exercido
cargos dos mais importantes, como o de primeiro secretário da Casa e membro
efetivo da Comissão de Constituição, Justiça e Redação Final.
Em 2008, apresentou e fez aprovar, na Assembleia
Legislativa, um projeto de resolução que institui no Maranhão, a exemplo do que
há em outros Estados, um prêmio de incentivo ao cinema maranhense.
Declaradamente apaixonado por sua bela Jacira, o
que não esconde de ninguém, ele não para, e continua fazendo planos para
amanhã, sem deixar de realizar hoje aqueles que foram projetados ontem.
Quando lhe perguntei sobre qual seria sua obra mais
importante e em qual das vertentes de sua vida mais se sentia realizado, ele me
respondeu: “Minha melhor e mais bela obra é minha filha Laila. O melhor Joaquim
Haickel é a pessoa, o amigo: é aí onde eu mais me realizo, é daí que provém
tudo que sou e que faço”.
Na última vez em que estivemos juntos no Rio de
Janeiro, onde Joaquim foi apresentar o seu filme Pelo ouvido em um importante festival de cinema, ele estava com as
mãos sobre a mesa, e Selton, filho do Serginho — que hoje é as minhas pernas —
lhe perguntou o que significavam aquela tatuagem em seu antebraço esquerdo.
Joaquim sorriu e disse para o menino que, como ele é extremamente hiperativo,
que era um poema. Selton arregalou os olhos:
— Como assim!? Aí só tem sinais!
— Como assim!? Aí só tem sinais!
Pois bem, depois que ele traduziu para mim e para o
Selton aquele intrincado código contendo 22 símbolos gráficos — tendo que
esmiuçá-lo para mim, pois pouco ou nada eu pude ver em seu braço, já que estou
ruim das vistas — depois que ele explicou o que estava escrito ali, nessa hora
eu soube como melhor definir Joaquim Haickel, e tenho certeza que vocês
concordarão comigo, depois que ouvirem o que está tatuado em seu braço, e que
passo a ler agora:
*,;.:…!?§&@1#>=$%+×≠±∞
Chame atenção. Faça uma pausa. A entonação
demonstra sua intenção, seu pensamento, seu sentimento. Depois, uma pausa
maior, que puxe outra ideia ou relacione duas. Agora uma pausa ainda maior. Uma
parada. Cite, exemplifique. Faça suspense, insinue… Surpreenda. Pergunte.
Depois, mude de assunto — isso sempre funciona. Valorize os coadjuvantes: eles
são mais importantes & necessários do que parecem. Comunique-se. Não se
esqueça dos números: eles são indispensáveis. Nem das equações: nada funciona
sem elas. Maior? É sempre igual a valor! O contrário nem sempre é verdadeiro.
Não se esqueça. Todo inteiro é feito de partes. Adicione! Multiplique! Fazer a
diferença é mais ou menos feito… O Infinito.
E eu que,
por falar muito, sou o causador disso, proclamo-o, depois de tudo, o mais novo
herói de nossa comunidade…
[FIM]
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