JOSÉ SARNEY
Discurso de Posse no Governo do Estado do Maranhão:
31/01/1966
“MARANHÃO 66:
Posse do Governador José Sarney”
Filme documentário dirigido por
Glauber Rocha
Compilação e edição:
Ronald de Almeida Silva [2ª edição: julho.2014]
DOCUMENTÁRIO MARANHÃO 66 - SINOPSE
LOCAL:
PRAÇA PEDRO II, em frente ao Palácio dos Leões.
Datas : 30 e 31 janeiro 1966 [Missa na Catedral,
Posse e Discurso na Praça Pedro II, em frente ao Palácio dos Leões]
[00:00
min] Ficha Técnica 1: DIFILM apresenta: “MARANHÃO 66: posse do governador josé sarney”
[letras
minúsculas]
Imagens de abertura:
Rua Portugal (sobradões, fachadas etc.); Beco da Prensa;
Abertura: Som
incidental de batuque de Blocos Tradicionais de São Luís; Carnaval, que segue
por todo o filme;
Ficha
Técnica 2: Uma Produção MAPA
- Luiz
Carlos Barreto - LCB
- Produtores:
LCB e Zelito Viana
Ficha
Técnica 3:
- Som
Direto de Eduardo Escorel
- Edição
de João Ramiro Mello
- Produção
de João Viana
Imagens: Fonte das
Pedras, com vista ampla dos fundos da Fábrica Santa Amélia;
Ficha
Técnica 4: Reportagem Cinematográfica
- Glauber
Rocha
- Fernando
Duarte [câmera]
Imagens: Carrancas
da Fonte das Pedras
[00:58 min] Imagens
e som: Banda da PM-MA em trajes cerimoniais;
Cenas iniciais das
cerimônias / Ambientação:
José Sarney – três meses antes de completar 36 anos [nasceu em
24/04/1930] - de terno claro, camisa
branca e gravata escura (ainda sem a faixa protocolar de Governador), em primeiro
plano, caminha com Da. Marly à
frente em direção à porta da Igreja da Sé
[?], provavelmente para assistir à Missa de Ação de Graças;
Saída
da Catedral, com muita chuva, muita gente de guarda-chuvas pretos na escadaria
da Catedral ao lado de José Sarney até o embarque no carro oficial [com capô
todo molhado], em meio à multidão alegre;
OBS:
Pelo ângulo e plano, as cenas foram gravadas por Fernando Duarte com a câmera postada nos andares superiores do
Hotel Central;
[01:58 min] Câmera
postada em frente ao portão do Palácio dos Leões, pegando uma panorâmica de 90º
do casario oposto da Praça Pedro II, com o palanque [bem grande, talvez 10m X
20 m], até fechar no Palácio La Ravardiére; no meio da praça [sem chuva], a
multidão e algumas pessoas com faixas aguardam a chegada do Governador eleito.
Detalhes:
no local onde hoje [jan.2012] se situa a agência do BASA, lindeira ao TJ-MA,
existia uma edificação térrea grande, mas com aparência decrépita (sem portas e
sem janelas), ou de obra inacabada, com pessoas no telhado;
[01:58 min]
- José
Sarney, de paletó escuro, sobe ao palanque [sem faixa e sem Da. Marly] acompanhado
por cerca de 20 pessoas, entre estes, por certo, o Vice-Governador Antonio
Dino, políticos, autoridades e militares; José Sarney sucede ao Gov.
Newton Bello;
- José
Sarney vai direto ao parlatório [com cerca de 2mx4 m], o qual foi colocado sobre uma plataforma
elevada sobre o centro do palanque; ao subir, Da. Marly – de cabelo
preso ao alto e de tailleur claro e colar vistoso - posta-se ao seu lado,
risonha e bonita;
- José
Sarney acena para a multidão apinhada na Praça Pedro II, que grita sem
parar “SARNEY! SARNEY! SARNEY!”;
- Vê-se
ao fundo o Edifício João Goulart [símbolo da modernidade arquitetônica de
então] e a Catedral da Sé ao fundo;
- A
câmera se posta a cerca de um metro de José Sarney e o filma por trás, na
altura da cabeça que fica em primeiro plano grande na tela, vendo-se os
cabelos gomalinados em detalhe, enquanto o Governador eleito levanta os
braços, emocionado, e saúda o povaréu apinhado;
OBS: Há uma foto em que Glauber Rocha, Diretor do filme, aparece nesse instante;
[02:50 min]
- Não
é mostrada a cena da colocação da faixa, pois José Sarney começa discurso
em off, com exibição de cenas explicitas da miséria maranhense, o
que perpassa todo o filme;
- Quase
todo o discurso é feito em off, somente mostrando o Governador – já de
faixa – nos momentos finais do evento.
O DISCURSO OFICIAL DE POSSE DO
GOVERNADOR JOSÉ SARNEY,
em 31/01/966, conforme ouvido no
documentário
“Maranhão 66”,
dirigido por Glauber Rocha e filmado
por Fernando Duarte
[02:50
min] Nova tomada: José Sarney já empossado com a faixa. Dia 31/01/1966, sem
chuvas na Praça Pedro II. A voz firme e sonora de José Sarney aparece em off, dando
início ao discurso, sobre cenas de uma grande edificação aparentemente
abandonada, [Fábrica Santa
Amélia] com máquinas velhas, caldeiras de gerar vapor [?]; palafitas,
várias casas de taipa, muito toscas, com interiores precaríssimos, e seus
pobres moradores;
"Recebo na praça
pública o direito de governar o Maranhão. Direito que me foi dado pela vontade soberana
do povo. O nosso céu e nossa terra testemunharam os longos, trabalhosos, ásperos
e heróicos caminhos que nos conduziram a esta tarde, a esta solenidade e a este
instante. O mandato que venho de receber tem a marca da luta, tem a chama da
mais autêntica vontade popular, da liberdade de escolher e preferir, da
consciência das opções.
[04:03
min] Imagens: Cenas no interior de um hospital com grandes ambientes com
aspecto de abandono [talvez a Santa Casa de Misericórdia?]; banheiros
destruídos;
O
Maranhão não suportava mais nem queria o contraste
de suas TERRAS FÉRTEIS, de seus VALES ÚMIDOS, de seus BABAÇUAIS ondulantes, de suas fabulosas riquezas potenciais com a MISÉRIA, com a ANGÚSTIA, com a FOME,
com o DESESPERO das corridas que não
levam a lugar nenhum, senão ao estágio [ouve-se o espocar de foguetes rojões]
em que o HOMEM de carne e
osso é o BICHO de carne e osso.
Imagens:
Cenas no interior do que parece ser um pátio de cadeia com cerca de 12 presos,
homens tristes, mas de porte nutrido, só de calção e cuecas;
O Maranhão não quer a DESONESTIDADE
no governo, a CORRUPÇÃO nas repartições e nos despachos.
[OBS:
ouve-se aplausos – Muito Bem!!, dizem uns; ao espocar de foguetes rojões]
O
Maranhão não quer a VIOLÊNCIA como
instrumento da política para banir direitos os mais sagrados que são o da PESSOA HUMANA, com a impunidade dos assassínios garantida
pelos DELEGADOS e a liberdade garantida apenas como uma oportunidade
para abastardar os homens.
[04:50
min] Imagens: Cenas da Igreja e do Largo do Carmo = Praça João Lisboa; muitos
carros e gente pelas ruas; vê-se os prédios do Ed. BEM, do Abrigo Velho e do
sobrado do Moto Bar, com a Loja “Ao Linho Puro” bem na esquina da Rua Humberto de Campos;
O
Maranhão não quer mais a COLETORIA como
uma caixa privada a angariar dízimos inexistentes para inexistentes arcas reais
que não são inexistentes porque se pode pronunciar os nomes dos beneficiários e
identificá-los ao longo desses anos de corrupção.
O
Maranhão não quer a MISÉRIA, a FOME, o ANALFABETISMO e as altas taxas de MORTALIDADE INFANTIL, de
TUBERCULOSE, de MALÁRIA, de ESQUISTOSSOMOSE
- como um exercício do cotidiano.
O Maranhão não quer e não
quis morrer sem gritar; Não quis morrer estático de olhos parados e ficar caudatário marginal
do progresso, olhando o Brasil e o Nordeste progredirem, enquanto nossa terra,
mergulhada na podridão, não podia marchar nem caminhar.
[06:04
min] Imagens glauberianas com depoimento dramático de um enfermo internado em
hospital não identificado – talvez a Santa Casa de Misericórdia (?). É
destacada uma inscrição na parede, acima do leito, dizendo: Leito Luz do
Oriente. Diz o jovem enfermo, trêmulo, magérrimo:
“Aonde
o Dr. Kenard me deu alta como curado. Então agora próximo a 6 meses derramei
quase a última gota do meu sangue; Como prova, ontem todos os meus colegas
viram eu derramar até a última gota do meu sangue. Sem uma esperança, sem nada.
Só esperando por Deus. Esperava uma operação mas tô vendo que me acabo sem
fazer essa operação. Como hoje eu tô aqui trêmulo, sem ter um pingo de sangue
na minha veia.”
[06:38]
min: Seguem imagens com depoimentos de funcionário de hospital não identificado
– talvez a Santa Casa de Misericórdia (?). Dizem os funcionários:
“Pois
bem; então o caso é o seguinte: Nós aqui nunca recebemos o Salário [mínimo];
Ganhamos 25 contos; E o Salário Família nós nunca recebemos.”
[06:47
min] Imagens do mundo cão do Maranhão 66: Mulher magérrima em leito de
hospital, com olhos dignos e fixos na câmera, cobrando de todos a cura que não
encontra; Um homem vomita em um penico;
JOSÉ SARNEY
continua:
“Como
iremos abrir nossas estradas, como iremos formar os nossos técnicos, como iremos
construir nossos postos [de saúde?], como
poderemos industrializar o Maranhão e criar novos empregos, como iremos
mudar a face do Maranhão 100% pobre quanto à Habitação, Vestiário [sic] e
Alimentação?”
[06:57min]
Imagens: Urubus num lixão à beira rio, com gente catando lixo; estrada e
famílias paupérrimas vivendo em casa de taipa; velha pitando fumo;
JOSÉ
SARNEY continua:
Temos
uma reserva humana de uma força muito grande. Temos os nossos olhos nesta tarde
no começo do governo voltados para aquela barragem de cimento que atravanca o
[Rio] PARNAÍBA e que nos acena como
uma mensagem de progresso que se chama Boa
Esperança.
O Parnaíba domado para que o Piauí e o
Maranhão possam transformar aquele “castelo no deserto” - como os técnicos
chamavam a Usina [Hidrelétrica] de Boa
Esperança -, em a zona mais próspera do Norte Nordeste, onde será o maior
campo para investimento.
Temos
as nossas PALMEIRAS aqui plantadas
pela natureza e no Maranhão está a maior
reserva do mundo de gordura vegetal nos 150.000 km2 cobertos de BABAÇU e
que cada vez mais iremos exportar, valorizar e industriar [sic] e mostrar ao
Brasil que ele pode ser – em vez de um problema – uma grande solução para todos
nós.
[08:14min]
Imagens: Babaçuais e quebradeiros(as) de côco; moça jovem com sutiã à vista e
saia longa, quebrando côco de babaçu no fio do machado;
JOSÉ SARNEY continua:
O Marques de Pombal, em carta que fez ao Governador do Maranhão Mello e Póvoas,
dizia que dois deuses dos antigos representavam com os olhos fechados a Deusa da Justiça e a Deusa do Amor, prova de que eles não
eram cegos porque a Justiça cega e o Amor cego são grandes perigos para quem
governa nestas paragens. E advertia que não se deviam erigir templos aqui a
essas divindades.
[08:31min]
Imagens: Câmera volta ao palanque e destaca, de baixo para cima, José Sarney já
com a faixa no peito e a última página do discurso, a qual segura firme com as
duas mãos e a sacode vigorosamente, com o mesmo calor da emoção que o domina;
JOSÉ
SARNEY continua:
Vamos
com olhos desvendados para a realidade viver a paixão deste governo novo. Viver
todas as horas, todos os minutos, todos os dias. Paixão que hoje é alegria e é
sorriso e amanhã Trabalho e Perseverança para construir o Maranhão
da Liberdade e do Progresso, da Grandeza e da Felicidade.
MUITO OBRIGADO MEUS AMIGOS.
[FIM; 09:14min] JOSÉ SARNEY conclui seu discurso.
POSFÁCIO
CINEMATOGRÁFICO [by Ronald Almeida; descrição das imagens finais]
Imagens
de fim de tarde, ao cair da noite; luzes acesas nas ruas do Centro Histórico;
Sons de batucada de blocos tradicionais do carnaval ludovicense;
Corte rápido
para cenas da Rua da Miséria [metáfora existente
em todos os municípios do Maranhão]; mulher idosa triste com bebê na porta
de um casebre de palha;
Vista panorâmica alta do Cais da Sagração, tomada do
Ed. BEM, podendo-se ver ao fundo toda a região da Ponta d’Areia, São Francisco
[já com invasões, após início das obras da Ponte do São Francisco, no Gov.
Newton Bello, configuradas pelas fundações e pilares inacabados, à vista com a
maré baixa];
Rua do Egito e o belo casario com cabelos cor de barro das telhas
coloniais entre a Rua dos Afogados e a Praça dos Remédios.
Sons de batucada de
blocos tradicionais do carnaval ludovicense; foliões, sempre os há, brincam com
faixas e cartazes com fotos do novo Governador que encarna a esperança de
mudança, de acabar com a miséria que impera e parece querer dominar e se impor
no Maranhão Republicano;
Começa a Era
Sarney: 31/01/1966.
[10:04min] Créditos
finais:
Ficha Técnica 5:
exibida ao final do documentário
- Extensão da fita:
302 m
- Duração: 11
minutos
- Bitola: 35 mm
- Classificação:
Documentário, Curta metragem, 35 mm; Preto & Branco; 302 m; 11 min; Rio
de Janeiro, 1966.
- Cia. Produtora MAPA
FILMES
- DIRETOR: GLAUBER
ROCHA
- Diretor de
Fotografia e Câmera: Fernando Duarte
- Som direto:
Eduardo Escorel
- Montador: João
Ramiro Filho
- Laboratório de
Imagem: LÍDER Cine Laboratório
[10:18min: Fim do documentário]
FONTES DE ACESSO NO YOUTUBE
Maranhão 66 - YouTube
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27 fev. 2008 - 10 min - Vídeo enviado por marcuslofi
Curta de Glauber Rocha, que originalmente fora encomendada por José Sarney em sua posse pelo ... |
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Maranhão 66 - Glauber Rocha - YouTube
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4 fev. 2011 - 10 min - Vídeo enviado por TheFrancofilmes
Maranhão 66 é um documentário de curta-metragem brasileiro de 1966, dirigido por Glauber Rocha. A ... |
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Maranhão 66 - YouTube
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30 mar. 2010 - 10 min - Vídeo enviado por sessoesdecinema
Curta de Glauber Rocha que demonstra José Sarney no poder. http:// sessoesdecinema.blogspot.com ... |
edição e notas:
ARS
- ARQUIVO ARQUITETO RONALD DE ALMEIDA SILVA
Arquitetura
e Urbanística; Planejamento e Desenho Urbano, Regional e Metropolitano;
Saneamento Básico &, Meio Ambiente; Cultura & Patrimônio Histórico;
Esportes; Políticas Públicas e Comunicação Social
Arquiteto
Urbanista – CREA-RJ 21.900-D [FAU-UFRJ 1972]; Pós-graduação: Diploma em Desenho
Urbano e Planejamento Regional [U.E.1981-83; Escócia]
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