quinta-feira, 17 de julho de 2014

[23] JOSÉ SARNEY: Discurso de Posse no Governo do Estado do Maranhão: 31/01/1966, filme de Glauber Rocha “MARANHÃO 66"

JOSÉ SARNEY
Discurso de Posse no Governo do Estado do Maranhão: 31/01/1966
“MARANHÃO 66: Posse do Governador José Sarney”
Filme documentário dirigido por
Glauber Rocha

Compilação e edição: Ronald de Almeida Silva [2ª edição: julho.2014]


DOCUMENTÁRIO MARANHÃO 66 - SINOPSE

LOCAL: PRAÇA PEDRO II, em frente ao Palácio dos Leões.
Datas  : 30 e 31 janeiro 1966 [Missa na Catedral, Posse e Discurso na Praça Pedro II, em frente ao Palácio dos Leões]

[00:00 min] Ficha Técnica 1: DIFILM apresenta: “MARANHÃO 66: posse do governador josé sarney” [letras minúsculas]

Imagens de abertura: Rua Portugal (sobradões, fachadas etc.); Beco da Prensa;

Abertura: Som incidental de batuque de Blocos Tradicionais de São Luís; Carnaval, que segue por todo o filme;

Ficha Técnica 2: Uma Produção MAPA
  • Luiz Carlos Barreto - LCB
  • Produtores: LCB e Zelito Viana

Ficha Técnica 3:
  • Som Direto de Eduardo Escorel
  • Edição de João Ramiro Mello
  • Produção de João Viana
Imagens: Fonte das Pedras, com vista ampla dos fundos da Fábrica Santa Amélia;

Ficha Técnica 4: Reportagem Cinematográfica
  • Glauber Rocha
  • Fernando Duarte [câmera]
Imagens: Carrancas da Fonte das Pedras

[00:58 min] Imagens e som: Banda da PM-MA em trajes cerimoniais;

Cenas iniciais das cerimônias / Ambientação: 
José Sarney – três meses antes de completar 36 anos [nasceu em 24/04/1930] - de terno claro, camisa branca e gravata escura (ainda sem a faixa protocolar de Governador), em primeiro plano, caminha com Da. Marly à frente em direção à porta da Igreja da Sé [?], provavelmente para assistir à Missa de Ação de Graças;
Saída da Catedral, com muita chuva, muita gente de guarda-chuvas pretos na escadaria da Catedral ao lado de José Sarney até o embarque no carro oficial [com capô todo molhado], em meio à multidão alegre;
OBS: Pelo ângulo e plano, as cenas foram gravadas por Fernando Duarte com a câmera postada nos andares superiores do Hotel Central;

[01:58 min] Câmera postada em frente ao portão do Palácio dos Leões, pegando uma panorâmica de 90º do casario oposto da Praça Pedro II, com o palanque [bem grande, talvez 10m X 20 m], até fechar no Palácio La Ravardiére; no meio da praça [sem chuva], a multidão e algumas pessoas com faixas aguardam a chegada do Governador eleito.
Detalhes: no local onde hoje [jan.2012] se situa a agência do BASA, lindeira ao TJ-MA, existia uma edificação térrea grande, mas com aparência decrépita (sem portas e sem janelas), ou de obra inacabada, com pessoas no telhado;

[01:58 min]
  • José Sarney, de paletó escuro, sobe ao palanque [sem faixa e sem Da. Marly] acompanhado por cerca de 20 pessoas, entre estes, por certo, o Vice-Governador Antonio Dino, políticos, autoridades e militares; José Sarney sucede ao Gov. Newton Bello;
  • José Sarney vai direto ao parlatório [com cerca de 2mx4 m], o qual foi colocado sobre uma plataforma elevada sobre o centro do palanque; ao subir, Da. Marly – de cabelo preso ao alto e de tailleur claro e colar vistoso - posta-se ao seu lado, risonha e bonita;
  • José Sarney acena para a multidão apinhada na Praça Pedro II, que grita sem parar “SARNEY! SARNEY! SARNEY!”;
  • Vê-se ao fundo o Edifício João Goulart [símbolo da modernidade arquitetônica de então] e a Catedral da Sé ao fundo;
  • A câmera se posta a cerca de um metro de José Sarney e o filma por trás, na altura da cabeça que fica em primeiro plano grande na tela, vendo-se os cabelos gomalinados em detalhe, enquanto o Governador eleito levanta os braços, emocionado, e saúda o povaréu apinhado;

OBS: Há uma foto em que Glauber Rocha, Diretor do filme, aparece nesse instante;

[02:50 min]
  • Não é mostrada a cena da colocação da faixa, pois José Sarney começa discurso em off, com exibição de cenas explicitas da miséria maranhense, o que perpassa todo o filme;
  • Quase todo o discurso é feito em off, somente mostrando o Governador – já de faixa – nos momentos finais do evento.

O DISCURSO OFICIAL DE POSSE DO GOVERNADOR JOSÉ SARNEY,
em 31/01/966, conforme ouvido no documentário 
“Maranhão 66”,
dirigido por Glauber Rocha e filmado por Fernando Duarte

[02:50 min] Nova tomada: José Sarney já empossado com a faixa. Dia 31/01/1966, sem chuvas na Praça Pedro II. A voz firme e sonora de José Sarney aparece em off, dando início ao discurso, sobre cenas de uma grande edificação aparentemente abandonada, [Fábrica Santa Amélia] com máquinas velhas, caldeiras de gerar vapor [?]; palafitas, várias casas de taipa, muito toscas, com interiores precaríssimos, e seus pobres moradores;

"Recebo na praça pública o direito de governar o Maranhão. Direito que me foi dado pela vontade soberana do povo. O nosso céu e nossa terra testemunharam os longos, trabalhosos, ásperos e heróicos caminhos que nos conduziram a esta tarde, a esta solenidade e a este instante. O mandato que venho de receber tem a marca da luta, tem a chama da mais autêntica vontade popular, da liberdade de escolher e preferir, da consciência das opções.

[04:03 min] Imagens: Cenas no interior de um hospital com grandes ambientes com aspecto de abandono [talvez a Santa Casa de Misericórdia?]; banheiros destruídos;

O Maranhão não suportava mais nem queria o contraste de suas TERRAS FÉRTEIS, de seus VALES ÚMIDOS, de seus BABAÇUAIS ondulantes, de suas fabulosas riquezas potenciais com a MISÉRIA, com a ANGÚSTIA, com a FOME, com o DESESPERO das corridas que não levam a lugar nenhum, senão ao estágio [ouve-se o espocar de foguetes rojões] em que o HOMEM de carne e osso é o BICHO de carne e osso.

Imagens: Cenas no interior do que parece ser um pátio de cadeia com cerca de 12 presos, homens tristes, mas de porte nutrido, só de calção e cuecas;

O Maranhão não quer a DESONESTIDADE no governo, a CORRUPÇÃO nas repartições e nos despachos.

[OBS: ouve-se aplausos – Muito Bem!!, dizem uns; ao espocar de foguetes rojões]

O Maranhão não quer a VIOLÊNCIA como instrumento da política para banir direitos os mais sagrados que são o da PESSOA HUMANA, com a impunidade dos assassínios garantida pelos DELEGADOS e a liberdade garantida apenas como uma oportunidade para abastardar os homens.

[04:50 min] Imagens: Cenas da Igreja e do Largo do Carmo = Praça João Lisboa; muitos carros e gente pelas ruas; vê-se os prédios do Ed. BEM, do Abrigo Velho e do sobrado do Moto Bar, com a Loja “Ao Linho Puro” bem na esquina  da Rua Humberto de Campos;

O Maranhão não quer mais a COLETORIA como uma caixa privada a angariar dízimos inexistentes para inexistentes arcas reais que não são inexistentes porque se pode pronunciar os nomes dos beneficiários e identificá-los ao longo desses anos de corrupção.

O Maranhão não quer a MISÉRIA, a FOME, o ANALFABETISMO e as altas taxas de MORTALIDADE INFANTIL, de TUBERCULOSE, de MALÁRIA, de ESQUISTOSSOMOSE - como um exercício do cotidiano.

O Maranhão não quer e não quis morrer sem gritar; Não quis morrer estático de olhos parados e ficar caudatário marginal do progresso, olhando o Brasil e o Nordeste progredirem, enquanto nossa terra, mergulhada na podridão, não podia marchar nem caminhar.

[06:04 min] Imagens glauberianas com depoimento dramático de um enfermo internado em hospital não identificado – talvez a Santa Casa de Misericórdia (?). É destacada uma inscrição na parede, acima do leito, dizendo: Leito Luz do Oriente. Diz o jovem enfermo, trêmulo, magérrimo:
“Aonde o Dr. Kenard me deu alta como curado. Então agora próximo a 6 meses derramei quase a última gota do meu sangue; Como prova, ontem todos os meus colegas viram eu derramar até a última gota do meu sangue. Sem uma esperança, sem nada. Só esperando por Deus. Esperava uma operação mas tô vendo que me acabo sem fazer essa operação. Como hoje eu tô aqui trêmulo, sem ter um pingo de sangue na minha veia.”

[06:38] min: Seguem imagens com depoimentos de funcionário de hospital não identificado – talvez a Santa Casa de Misericórdia (?). Dizem os funcionários:
“Pois bem; então o caso é o seguinte: Nós aqui nunca recebemos o Salário [mínimo]; Ganhamos 25 contos; E o Salário Família nós nunca recebemos.”

[06:47 min] Imagens do mundo cão do Maranhão 66: Mulher magérrima em leito de hospital, com olhos dignos e fixos na câmera, cobrando de todos a cura que não encontra; Um homem vomita em um penico;

JOSÉ SARNEY continua:

“Como iremos abrir nossas estradas, como iremos formar os nossos técnicos, como iremos construir nossos postos [de saúde?], como poderemos industrializar o Maranhão e criar novos empregos, como iremos mudar a face do Maranhão 100% pobre quanto à Habitação, Vestiário [sic] e Alimentação?”

[06:57min] Imagens: Urubus num lixão à beira rio, com gente catando lixo; estrada e famílias paupérrimas vivendo em casa de taipa; velha pitando fumo;

JOSÉ SARNEY continua:

Temos uma reserva humana de uma força muito grande. Temos os nossos olhos nesta tarde no começo do governo voltados para aquela barragem de cimento que atravanca o [Rio] PARNAÍBA e que nos acena como uma mensagem de progresso que se chama Boa Esperança.

O Parnaíba domado para que o Piauí e o Maranhão possam transformar aquele “castelo no deserto” - como os técnicos chamavam a Usina [Hidrelétrica] de Boa Esperança -, em a zona mais próspera do Norte Nordeste, onde será o maior campo para investimento.

Temos as nossas PALMEIRAS aqui plantadas pela natureza e no Maranhão está a maior reserva do mundo de gordura vegetal nos 150.000 km2 cobertos de BABAÇU e que cada vez mais iremos exportar, valorizar e industriar [sic] e mostrar ao Brasil que ele pode ser – em vez de um problema – uma grande solução para todos nós.

[08:14min] Imagens: Babaçuais e quebradeiros(as) de côco; moça jovem com sutiã à vista e saia longa, quebrando côco de babaçu no fio do machado; 

JOSÉ SARNEY continua:

O Marques de Pombal, em carta que fez ao Governador do Maranhão Mello e Póvoas, dizia que dois deuses dos antigos representavam com os olhos fechados a Deusa da Justiça e a Deusa do Amor, prova de que eles não eram cegos porque a Justiça cega e o Amor cego são grandes perigos para quem governa nestas paragens. E advertia que não se deviam erigir templos aqui a essas divindades.

[08:31min] Imagens: Câmera volta ao palanque e destaca, de baixo para cima, José Sarney já com a faixa no peito e a última página do discurso, a qual segura firme com as duas mãos e a sacode vigorosamente, com o mesmo calor da emoção que o domina; 

JOSÉ SARNEY continua:

Vamos com olhos desvendados para a realidade viver a paixão deste governo novo. Viver todas as horas, todos os minutos, todos os dias. Paixão que hoje é alegria e é sorriso e amanhã Trabalho e Perseverança para construir o Maranhão da Liberdade e do Progresso, da Grandeza e da Felicidade.

MUITO OBRIGADO MEUS AMIGOS.

[FIM; 09:14min] JOSÉ SARNEY conclui seu discurso.

POSFÁCIO CINEMATOGRÁFICO [by Ronald Almeida; descrição das imagens finais]

Imagens de fim de tarde, ao cair da noite; luzes acesas nas ruas do Centro Histórico; Sons de batucada de blocos tradicionais do carnaval ludovicense; 

Corte rápido para cenas da Rua da Miséria [metáfora existente em todos os municípios do Maranhão]; mulher idosa triste com bebê na porta de um casebre de palha; 

Vista panorâmica alta do Cais da Sagração, tomada do Ed. BEM, podendo-se ver ao fundo toda a região da Ponta d’Areia, São Francisco [já com invasões, após início das obras da Ponte do São Francisco, no Gov. Newton Bello, configuradas pelas fundações e pilares inacabados, à vista com a maré baixa]; 

Rua do Egito e o belo casario com cabelos cor de barro das telhas coloniais entre a Rua dos Afogados e a Praça dos Remédios. 

Sons de batucada de blocos tradicionais do carnaval ludovicense; foliões, sempre os há, brincam com faixas e cartazes com fotos do novo Governador que encarna a esperança de mudança, de acabar com a miséria que impera e parece querer dominar e se impor no Maranhão Republicano;
Começa a Era Sarney: 31/01/1966.

[10:04min] Créditos finais:

Ficha Técnica 5: exibida ao final do documentário
  • Extensão da fita: 302 m
  • Duração: 11 minutos
  • Bitola: 35 mm
  • Classificação: Documentário, Curta metragem, 35 mm; Preto & Branco; 302 m; 11 min; Rio de Janeiro, 1966.
  • Cia. Produtora MAPA FILMES
  • DIRETOR: GLAUBER ROCHA
  • Diretor de Fotografia e Câmera: Fernando Duarte
  • Som direto: Eduardo Escorel
  • Montador: João Ramiro Filho
  • Laboratório de Imagem: LÍDER Cine Laboratório

[10:18min: Fim do documentário]

* Fonte: documentário "Maranhão 66: posse do governador José Sarney", de Glauber Rocha.]


FONTES DE ACESSO NO YOUTUBE

Maranhão 66 - YouTube

27 fev. 2008 - 10 min - Vídeo enviado por marcuslofi
Curta de Glauber Rocha, que originalmente fora encomendada por José Sarney em sua posse pelo ...

Maranhão 66 - Glauber Rocha - YouTube

4 fev. 2011 - 10 min - Vídeo enviado por TheFrancofilmes
Maranhão 66 é um documentário de curta-metragem brasileiro de 1966, dirigido por Glauber Rocha. A ...

Maranhão 66 - YouTube

30 mar. 2010 - 10 min - Vídeo enviado por sessoesdecinema
Curta de Glauber Rocha que demonstra José Sarney no poder. http:// sessoesdecinema.blogspot.com ...

edição e notas: 
ARS - ARQUIVO ARQUITETO RONALD DE ALMEIDA SILVA
Arquitetura e Urbanística; Planejamento e Desenho Urbano, Regional e Metropolitano; Saneamento Básico &, Meio Ambiente; Cultura & Patrimônio Histórico; Esportes; Políticas Públicas e Comunicação Social
Arquiteto Urbanista – CREA-RJ 21.900-D [FAU-UFRJ 1972]; Pós-graduação: Diploma em Desenho Urbano e Planejamento Regional [U.E.1981-83; Escócia]



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