Edição pedagógica: Ronald de Almeida Silva; e-mail: ronald.arquiteto@gmail.com
revisão_02
SÉRIE
MEMÓRIA MARANHÃO INDUSTRIAL
Nota do Editor: Os textos originais (que podem ser consultados nos
endereços eletrônicos citados) não contém (i) numeração de capítulos,
(ii) negritos, (iii) textos entre [colchetes]; (iv) tabelas e (v) destaques de
palavras na cor amarela,
os quais foram acrescidos para maior facilidade de leitura e melhor fixação
mnemônica.
"Maranhão
Industrial" em discussão
Publicação:
20/10/2012; 03h00 Nº 14534
Atualizado
em 23/07/2014 15h23Edição
O professor doutor Marcos Fábio apresentou, na última quinta-feira (18/10/2012), na UFMA - Campus Imperatriz - seu projeto de pesquisa:
"De volta Manchester do Norte: Apagamentos e
reiterações do "Maranhão Industrial"
no I Seminário Local do
PET/Conexões e I Simpósio do NUPFARQ.
O projeto visa analisar as
estratégias discursivas empreendidas nessa nova 'retomada' do crescimento
industrial do Maranhão. Com este trabalho, o professor de comunicação, quer
mostrar as semelhanças e diferenças entre o discurso da primeira fase da industrialização
no Maranhão, ocorrida no final século XIX e esta nova fase, iniciada em 2010.
TEXTO
1: ARTIGO ACADÊMICO
DE VOLTA À MANCHESTER DO NORTE:
APAGAMENTOS E REITERAÇÕES DO MARANHÃO INDUSTRIAL
Marcos Fábio Belo Matos [edição
2013]
Universidade Federal do Maranhão - UFMA
[Nota 1] Professor do Curso de Comunicação
Social – Jornalismo, da UFMA – Campus Imperatriz.
Doutor em Lingüística e Língua Portuguesa pela Unesp-Araraquara.
Coordenador do Grupo de Pesquisa de Mídia Jornalística (G.Mídia), desenvolvendo
o projeto de pesquisa “Representações Discursivas na Mídia”.
FONTE 1: http://pt.scribd.com/doc/124544703/artigo-mfabio1
RESUMO:
Este
trabalho busca analisar as estratégias discursivas empreendidas nessa nova “retomada”
do crescimento industrial do Maranhão, tentando perceber como se dão tanto o
apagamento do malogrado epíteto de “Manchester
do Norte”, atribuído à cidade de São Luís
no final do século XIX, quanto a reiteração das estratégias de positivação do discurso do industrialismo:
a deificação da máquina e das estruturas industriais, o tom ufanista e redentor
dos discursos pró-industrialização e o descritivismo empregado nas referências
às indústrias que chegam ou chegarão, exatamente as mesmas características
verificadas no primeiro ciclo de industrialização do estado.
PALAVRAS-CHAVE: Manchester – Discurso - Industrialização - Maranhão.
ABSTRACT:
KEY-WORDS:
FONTE
2:
http://www.scribd.com/fullscreen/124544703?access_key=key-206k20cokt72p44x59g0&allow_share=true&escape=false&view_mode=scroll
- INTRODUÇÃO:
1.1.
No final do século XIX, o Maranhão viu surgir, de forma bastante repentina, uma
nova formatação para a sua realidade: de estado agrícola, escravocrata e
dependente das exportações, ele passou, como num passe de mágica, a ser
considerado um estado industrial. Foi tão repentino esse movimento que o
historiador Jerônimo de Viveiros cunhou duas expressões
célebres para designá-lo:
“loucura industrial” e “vertigem das fábricas”. No seu canônico [livro/compêndio] “História do Comércio do
Maranhão” (volume 2), ele registrou o
cenário para que isso acontecesse:
“Por tudo isso, no próprio ano de 1888, a desvalorização da
fazenda agrícola maranhense atingia 90%.(...) Das fazendas afastavam-se os
senhores com a mesma ansiedade com que os ex-escravos deixavam os ranchos do
seu cativeiro. Êstes tinham horror do passado; aqueles, mêdo do presente.”
(...) A maioria [dos donos de fazendas] desertou da luta,
aceitando os 10% do valor da propriedade, que lhe oferecia o vendeiro de
encruzilhada ou o negociante da povoação. Fixou-se em São Luís, onde se deixou
arrastar na vertigem das fábricas, empregando nelas o dinheiro apurado.Foi
vítima da loucura da época – transformar o Maranhão agrícola em Maranhão
industrial. (VIVEIROS, 1954, v.2, p.558)
1.2. Outro intelectual, este
inserido diretamente no cenário daquela “revolução‟, Fran Pacheco, num tom
jocoso e satírico, também designou a enxurrada de fábricas que se espalharam pela capital do Maranhão; chamou-a de
“disenteria fabriqueira” (PACHECO, 1922). Fran Pacheco foi um
intelectual que participou do que a história cultural
maranhense denomina de “Novos Atenienses”, um grupo de professores, jornalistas,
funcionários públicos, poetas e outros intelectuais, que viveram
no Maranhão do início do século XX, e é considerada a terceira
geração dos intelectuais revestidos pelo beletrismo e
pela cultura do que restou da Athenas Brasileira (MARTINS, 2006). [ver nota 2].
1.3. Este cenário que o
Maranhão (notadamente, com mais ênfase, a sua capital) viu se apresentar mudou a sua geografia, alterou a sua
concepção de diversão, a sua relação com os beneficiamentos pessoais,
enfim transformou-o de bucólico em moderno. Mas essa
transformação, como uma prestidigitação, durou pouco, muito pouco.
1.4. Todo o primeiro ciclo da industrialização
maranhense não passou de poucas décadas: iniciou-se no final da década de 1880 e apagou-se antes de iniciarem-se os
anos de 1920.
1.5.
O que ficou desses tempos foram, principalmente, as chaminés e as carcaças das
fábricas, que se espalham principalmente pela capital, São Luís, algumas
reformadas e destinadas a outros estabelecimentos; outras simplesmente
abandonadas, como marcas de um tempo áureo [ver nota 3] ...que retorna agora!
1.6.
Quase cem anos depois da “loucura industrial”,
o Maranhão vem sendo, novamente, invadido por um surto de industrialização,
que tem como carro abre-alas a
instalação, no município de Bacabeira, a 58 km de São
Luís, da refinaria Premium I, “a maior refinaria do Brasil e a quinta maior do mundo”, como
informa o vídeo produzido pela Petrobrás, a
proprietária do empreendimento e que será estudado neste trabalho.
(Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=QWp9nKeFz-4).
1.8.
Este trabalho tem, dessa
forma, a intenção
de analisar os dois
discursos da industrialização
do Maranhão e ver o que eles têm, à luz da Análise
de Discurso, de convergentes e divergentes: descortinar os seus sujeitos,
dimensionar as relações interdiscursivas que se verificam nesse novo discurso
da industrialização maranhense, perceber como a memória discursiva da “Manchester do Norte” é reiterada ou negada e apontar qual o tom com
que ele é publicizado.
2. O NOVO “MARANHÃO INDUSTRIAL”: PASSADO E PRESENTE, MAS SEM METONÍMIA.
2.1. No final do século XIX, nascia um novo Maranhão. A partir de 1870, o estado
passa a viver um processo de crise
econômica. A quebradeira na agroexportação, culminada com a abolição da
escravatura, fazem a economia maranhense desabar.
2.2. Como conseqüência, as propriedades rurais são abandonadas, vendidas por
bagatelas a oportunistas e se verifica um êxodo do campo para a capital
do Estado ou para o Rio de Janeiro, São Paulo e, num fluxo posterior,
para o Norte (Belém e Manaus), atrás das riquezas
proporcionadas pela borracha.
2.3.
O capital levantado com a venda das propriedades é então empregado, de maneira
despreparada e insipiente, na industrialização, seguindo a tendência nacional
da época. Analisando tal situação, Reinaldo Júnior (1999, p. 69-70) explica:
Ao mesmo
tempo em que [a industrialização] foi desafogo para os capitais ociosos que não
viam na lavoura negócio rendoso, foi fruto do excesso de capitais, cuja raiz
foi o “Encilhamento”, política econômica de fundo financeiro, posta em prática
pelo governo republicano recém-instalado.
2.4. Esse surto industrial
trouxe uma nova face ao estado. De uma hora para outra, surgiram fábricas, chaminés, maquinários, operários
estrangeiros (sobretudo ingleses), equipamentos modernos como o telefone, o
telégrafo, a máquina de costura, os bondes puxados a burro, a bicicleta, o
fonógrafo, o cinematógrafo, a máquina de costura, o automóvel e tantos e tantos
outros artefatos da modernidade.
2.5.
E a pequena São Luís do Maranhão, que até então era conhecida como a Athenas Brasileira, a cidade dos
poetas, escritores e jornalistas de esmerado beletrismo, passou a se chamar Manchester do Norte [ver nota 4]
2.6. Como registra Borralho (2009,
p.40), nas notas da sua tese:
“Manchester
do Norte foi uma expressão recorrente utilizado (sic) na segunda
metade do século XIX durante a instalação
do parque têxtil em São Luís em decorrência da crise da agroexportação.”
2.7.
Nessa época, a cidade recebeu a imensa maioria das 27 fábricas que o Maranhão viu serem abertas, no período de 1888 a 1895, distribuídas da
seguinte forma:
Ø 10 indústrias
de fiação e tecidos,
Ø 1 de fiar
algodão,
Ø 1 de
tecido de cânhamo,
Ø 1 de
tecido de lã,
Ø 1
de cerâmica,
Ø 4
de pilar arroz,
Ø 2
de pilar arroz e fazer sabão,
Ø 1 de
sabão,
Ø 2 de
açúcar e aguardente,
Ø 1 de
meias,
Ø 1 de
fósforo,
Ø 1 de chumbo
e pregos,
Ø
1 de calçados. (TRIBUZZI, 2011,p. 47)
2.8.
Dessas [27 indústrias] 17 eram Sociedades Anônimas e 10 de particulares. As
mais importantes foram:
Ø Companhia de Fiação e Tecidos Maranhense,
Ø Companhia Progresso Maranhense,
Ø Fabril Maranhense,
Ø Industrial Maranhense,
Ø Lanifícios Maranhense; e a
Ø Companhia de Fiação e Tecidos Rio Anil, cuja
notícia do lançamento da pedra fundamental é objeto deste estudo.
2.9.
A rápida industrialização maranhense foi encampada, à época, por um discurso modernizador,
empreendido principalmente pelo jornal “Pacotilha”, o mais importante
novidadeiro‟ do estado, mas também
verificado em sujeitos políticos, religiosos, professores, profissionais
liberais e já demonstrado, com mais detalhe, em outro texto nosso (MATOS,
2011).
2.10.
Fazendo uma alusão a esses sujeitos, o professor [doutor] e sociólogo José de Ribamar Caldeira, na sua
tese de doutorado, “A implantação da
indústria no sistema agro-exportador maranhense (1875 - 1895)”, (CALDEIRA
apud CORREIA,2006) apelidou de “fabrilistas” os partidários da implantação das
fábricas no Maranhão.
2.11.
Os fabrilistas são um exemplo de sujeitos que implantam um discurso
modernizador de natureza efusiva, servindo como anteparo àqueles que, por
ventura, pudessem querer se contrapor a esse movimento do progresso em terras
timbirenses.
2.12.
Essa tão propalada industrialização do Maranhão no apagar do século XIX foi, na
verdade, uma ação que se restringiu, quase que totalmente, à capital do estado,
com poucas ocorrências em outros municípios. Talvez como São Luís, apenas o
exemplo de Caxias, que também viveu uma era de prosperidade na mesma época,
registrada no livro “Entre a Tradição e a
Modernidade: a Belle Époque Caxiense”,
da professora Jordania Maria Pessoa, da Universidade Estadual do Maranhão.
2.13.
Segundo a autora, no momento em que se dava o surto industrial na capital,
também a pequena Caxias via aparecer
uma fábrica têxtil, a Companhia
Industrial Caxiense, fundada em 1883
e cujos trabalhos começaram em 1887-1888,
com 50 teares e 68 operários, treinados por um técnico inglês, William Card (PESSOA, 2009).
2.14. Mais outros
beneficiamentos modernos surgem na paisagem caxiense, como registra Pessoa
(2009, p. 54):
Decorrente
dessa nova mentalidade, o fim do século em Caxias foi circundado de inúmeras
iniciativas empreendedoras. Foram criadas mais três fábricas de tecidos, uma
Companhia Industrial Agrícola e uma de bondes, uma Companhia
para Navegação do Alto Itapecuru, a Usina Agrícola Caxiense,
Companhia para exploração de linha telegráfica e de telefone e uma Companhia
das Águas.
2.15. Essa como que
“industrialização por metonímia” não é o que promete o Governo do Estado do Maranhão, nesse novo surto industrial
[pós-2009]. (...) estão anunciados empreendimentos nos
municípios de:
1.AÇAILÂNDIA (que vai receber a Aciaria do Grupo
Ferronorte),
|
2.ALDEIAS
ALTAS
(onde está sendo instalado o Grupo TG Agro, produtor de álcool),
|
3. BACABEIRAS (Refinaria Premium I, da Petrobras) [lançada em 15/01/2010; ver
item 4.1.]
|
4.BALSAS (com a implantação da Notaro Alimentos,
empresa do ramo avícola),
|
5.CAPINZAL DO NORTE (de exploração de gás natural),
|
6.CAXIAS (que vai ter a fábrica da Schincariol, já
existente, ampliada),
|
7.CENTRO NOVO DO MARANHÃO (que vai ser a sede da mineradora Jaguar Mining, produtora de ouro),
|
8.GODOFREDO VIANA (recebedor da Mineradora Aurizona, de extração de ouro),
|
9.IMPERATRIZ (com a implantação da fábrica da Suzano
Papel e Celulose),
|
10. SÃO
RAIMUNDO DO MARANHÃO (ampliação da indústria do Grupo Agro Serra, produtor de
álcool).
|
OBS: Tabela inserida pelo Editor para registro
dos municípios em ordem alfabética. Texto conforme original.
2.16. Há outros empreendimentos
de menor envergadura também prometidos para o estado. Ao todo, os recursos a serem injetados nessa “nova revolução industrial” que afetará o Maranhão
são da ordem de R$ 100 bilhões [ver nota 5].
2.17.
Na mensagem encaminhada à Assembleia Legislativa [em 2011], em que faz um
balanço da sua gestão, a governadora do estado, Roseana Sarney, registra este momento auspicioso que o
Maranhão vive:
O cenário
delineado para atuação do governo se organiza numa perspectiva de um maior
crescimento econômico e social do Estado, tendo como fundamento a implementação
de uma estratégia que vai intervir nas relações entre duas grandes forças que
dinamizam a economia estadual.
A
primeira força terá como resultante da ação governamental os aportes de grandes
empreendimentos econômicos, realizando investimentos
estruturantes, que vão alavancar o crescimento estadual. Muitos desses empreendimentos
se encontram em fase de implantação ou já implantados, enquanto outros cogitam
construir complexas plantas industriais nos
mais diversos segmentos dos negócios, em todo o território estadual.
Os
números previstos para esta primeira década são superlativos – cerca de 100
bilhões de reais, em investimentos públicos e privados com capacidade de
ofertar até 237 mil empregos nos próximos cinco anos. Por este caminho o
Maranhão se coloca diante de uma rara oportunidade de estabelecer uma conexão com
o futuro.
Para isso
o governo terá que empreender um esforço vigoroso na captação de novos investimentos
e na criação de um forte mercado consumidor, capaz de gerar muitos empregos,
renda e trabalho para os maranhenses. (MARANHÃO,
2011, p. 14)
2.18.
Será que este novo Maranhão que se descortina, muito vinculado à força da industrialização,
tem alguma relação, em termos de discurso, com aquele outro Maranhão
oitocentista, que viu chegarem fábricas e toda a simbologia que as rodeava?
3. A MANCHESTER DO NORTE: APAGAMENTO E REITERAÇÃO
3.1.
Quando ocorreu a primeira industrialização maranhense, os sujeitos discursivos revestiram
seus enunciados de um tom efusivo, ufanista. Capitaneados pela Pacotilha, cada
passo dado rumo à concretização das fábricas era coberto de entusiasmo, numa espécie
de eco dos muitos discursos dos fabrilistas, que se distribuíam por todos os cantos da sociedade (no serviço público, na
docência, na política, na literatura, na religião, no comércio e, claro,
na indústria recém-chegada).
3.2. É o que fica comprovado nesse fragmento do jornal, registrando o que
seria, no dia seguinte, a cerimônia de lançamento
da pedra fundamental da Companhia de
Tecidos Rio Anil, a maior empresada capital e de todo o estado, nessa época:
“Uma era
de prosperidade para a Pátria Maranhense que de há certo tempo para cá vai
despertando do marasmo, da indiferença em que permaneceu longos anos, da
atrofia, com o organismo depauperado pelos vícios da escravidão.As fábricas surgem de toda a parte e com elas o despertar
de uma vida nova, cheia de atividades, urgida pelo progresso,
prometendo-nos um futuro bonançoso que compense a esterilidade do
passado.O dia de amanhã [do lançamento da pedra] ficará para sempre nos anais do nosso Estado.” (Pacotilha, de 23.08.1891; apud ITAPARY,1995, p. 27)
3.3. Como se pode perceber é um
discurso de tom profético, apontando para um “futuro bonançoso” sem
as marcas da pobreza e da escravidão – depois de
1870, o Maranhão mergulhou numa profunda crise econômica, e esse
rasgo de esperança está prenhe de todos os traumas recentes.
3.4.
Esse discurso não ficava só nos jornais nem era apenas verbal, mas se ampliava,
reforçado com ações práticas, como a de permitir a visitação da
população às fábricas durante as “festividades de inauguração”, verdadeiras apoteoses
ao progresso. É o que registra Correia (2006, p. 183):
“Enfim,
chegava-se ao tempo das inaugurações, sendo largamente divulgados os convites
ao público em geral‟, para que comparecesse a elas. Benzimentos, discursos,
foguetes e bandas de música eram partes integrantes dessas solenidades, que
contavam com a presença de todos que se interessavam pelo progresso e
prosperidade do Maranhão como os jornais apregoavam. Assim é que, abarrotados de
grande quantidade de povo‟, do Largo do Carmo, que era o coração da cidade,
partiam os bondes, em serviço extraordinário, desde às seis horas da manhã até
as oito horas da noite, tempo em que os ‘Templos de Trabalho’ ficavam franqueados
à visitação.”
3.5. E, em outro trecho:
“Para
aqueles que compareciam a essas solenidades, por curiosidade ou na expectativa
de se engajarem no trabalho das fábricas, constituíam essas solenidades
verdadeiras apoteoses, triunfais espetáculos da modernidade, que chegavam ao
clímax quando as operárias tomávamos seus respectivos lugares e punham as
máquinas para funcionar,aureoladas por uma positividade de uma nova concepção de trabalho.”
3.6.
Que memória pode ser resgatada dessa época tão apoteótica do Maranhão nesse
novo momento da industrialização? Na perspectiva de que a memória discursiva é
sempre recorrente, de que ela representa “toda formulação [que] possui,
em seu domínio associado‟ outras formulações que ela repete, refuta,
transforma, nega, enfim, em relação às
quais produzem-se certos efeitos de memória específicos” (GREGOLIN,2007, p.159), é possível resgatar daquele momento
longínquo alguns aspectos interessantes.
3.7. Aqui, como lá, também há
os “fabrilistas” – os sujeitos discursivos entusiastas
desse momento redentor‟ que o Maranhão
vive: políticos, empresários, intelectuais e, principalmente, a chamada grande
imprensa local, capitaneada pelos veículos noticiosos do
Sistema
Mirante de Comunicação,
empresa de propriedade da família Sarney, de cujo seio a
governadora do Estado, Roseana Sarney,
é, literalmente, filha.
3.8.
O Sistema Mirante é formado por um (i)
jornal impresso (O Estado do
Maranhão), tido como o mais empresarial do estado e o de maior status e
importância, (ii) um portal na internet
(Portal Imirante), (iii)
diversas emissoras de televisão
(na capital e em vários outros municípios), que retransmitem a
programação da Rede Globo de Televisão e geram programação local,
especificamente jornalismo, e (iv) um rol de emissoras de Rádio (AM e FM), também espalhadas por alguns dos municípios maranhenses.
3.9. Todos os veículos do Sistema Mirante, por razões políticas e
econômicas, apoiam efusivamente este novo processo de industrialização
maranhense. Para ratificar essa asserção, tome-se o editorial que o Jornal O Estado do Maranhão publicou, em 08 de
setembro passado [2012], dia do aniversário de 400 anos da capital do Maranhão,
a propalada festa do quadricentenário que o Jornal O Estado do Maranhão
publicou, em 08 de setembro passado, dia do aniversário de 400 anos da capital
do Maranhão, a propalada festa do quadricentenário:
(...) A
São Luís do Maranhão é uma cidade madura, admirada, consagrada e merecedora de
todas as honras. É honroso saber que a cidade originada por um projeto francês
no século XVII suportou uma invasão holandesa e foi formada pelos portugueses,
que sentaram praça e lhe moldaram a feição arquitetônica, cultural e o futuro.
É honroso lembrar que São Luís foi um centro industrial importante
para o país, fruto da economia algodoeira. (...) É igualmente honroso noticiar que São Luís vem se
transformando num dos polos de desenvolvimento econômico mais
promissores da região e do país, tendo como suporte um complexo portuário que
faz conexão direta com todos os continentes. É honroso anotar que São Luís
exporta alumínio e alumina e que por um dos braços do seu porto distribui
o minério de ferro de Carajás, pelotas e gusa para todos os grandes centros do
planeta. É honroso prever que São Luís será um centro de atração de grandes
empresas e que os próximos tempos a transformarão numa metrópole grandiosa,
economicamente dinâmica e rica e socialmente mais justa e equilibrada.(...) (O ESTADO DO MARANHÃO, 08.09.12, p.04)
3.10. O editorial, como ensina
o mestre José Marques de Melo, na sua obra “A Opinião no Jornalismo Brasileiro”
(MELO, 1994), é o gênero de texto opinativo
que, na geografia de qualquer jornal, guarda em si as opiniões institucionais,
aquilo que a empresa defende como ideário – e pelo qual luta.
3.11.
Não por acaso, então, para marcar o aniversário de 400 anos da capital, o editorial
reserva um espaço tão grande da sua argumentação para fazer um balanço do
potencial industrial, empresarial e comercial que a cidade já possui e
daqueles que ainda advirão e a transformação “numa metrópole grandiosa, economicamente
dinâmica e rica”.
3.12. Outro exemplo: o livro
que o jornal O Estado do Maranhão encartou
nesta mesma edição de aniversário, feito de vários textos enfocando aspectos
diversificados da capital do Maranhão, numa espécie de panorama do que a ilha
foi, é e será, diz textualmente sobre o cenário industrial:
“Nos seus
400 anos de fundação, São Luís vive um
momento econômico de franco crescimento. São obras espalhadas por toda a
cidade, que abrangem empreendimentos imobiliários e grandes projetos
industriais.” (O
ESTADO DO MARANHÃO, 2012, p. 62).
3.13.
Sem reduções nem generalismos, é possível observar, nesses textos do
jornal, o mesmo tom profético e ufanista do texto da Pacotilha, quando do lançamento da pedra
fundamental da Companhia de Tecidos Rio Anil, um século antes. Mas aqui cabe
uma observação interessante:
3.14.
Mas aqui cabe uma observação interessante: por uma ação excepcional, essa
“memória discursiva” não deixou aparecer na superfície dos enunciados sobre essa industrialização o termo “Manchester
do Norte”, tão bem recebido na época da “primeira revolução industrial”
maranhense.
3.15.
Pensamos que, ao contrário do epíteto de Athenas Brasileira, que nos traz, como
maranhenses e/ou ludovicenses, uma memória de um passado de glórias, de
conquistas memoráveis, de panteões que alçaram apequena província do norte do
Brasil ao topo das artes, da literatura e da cultura clássica brasileira,
a perífrase de “Manchester do Norte” não ganhou o imaginário coletivo [ver nota 6], ao ponto de tornar-se identidade nos nossos dias –
e hoje, além de não ser significado socialmente,
ainda guarda a lembrança de um momento que, ao fim e ao cabo, não deu certo.
3.16. Depois da “disenteria
fabriqueira”, é bom lembrar, o Maranhão mergulhou em profunda crise econômica, para apenas se levantar depois dos anos 1950.
Desse modo, avaliamos que a “Manchester do Norte” sofreu,
discursivamente, um apagamento (natural ou deliberado, há que se investigar
mais ainda, na continuação deste trabalho).
Esta expressão não aparece em nenhum dos discursos relativos a essa nova
fase industrial do estado. É um nome que dorme no esquecimento,
talvez motivado pelos engendramentos
discursivos – pois, como afirma Eni Orlandi (1995), silenciar também é dizer...
4. O DISCURSO REDENTOR: MAQUINISMO E UFANISMO
4.1.
Este trabalho, para efetivar sua análise das estratégias discursivas elencadas
pelos sujeitos do discurso deste “novo Maranhão industrial”, debruça-se
sobre o vídeo, produzido pela Petrobrás e usado como divulgação no momento do
lançamento da pedra fundamental da Refinaria Premium I, ocorrida no dia 15 de janeiro de 2010, na cidade de Bacabeira, que será a sede do empreendimento.
A escolha deste vídeo se deu pelo
fato de ser ele um documento que, assim como fez jornal Pacotilha, em 1891, registra um momento importante para o cenário da industrialização do estado.
4.2.
A Pacotilha, anunciando a construção da Fábrica de Fiação e Tecidos
Rio-Anil, registrava a emersão do maior empreendimento da fase oitocentista da industrialização maranhense, um ícone da Manchester
do Norte. O vídeo, produzido pela Petrobrás, anunciando a construção da
Refinaria Premium I, um investimento de quase 20 bilhões de dólares e o maior empreendimento desta
industrialização maranhense deste início de século XXI, também registra o nascimento
de um ícone dos novos tempos.
4.3.
Neste caso, analisando compararativamente os dois discursos, é interessante
perceber como ambos estão carregados de um sentimento de redenção.Se o jornal
diz que a Rio-Anil é um marco para “Uma era de prosperidade para a Pátria
Maranhense que de há certo tempo para cá
vai despertando do marasmo, da indiferença em que permaneceu longos
anos, da atrofia, com o organismo depauperado pelos vícios da escravidão”, a Petrobrás
afirma que a Refinaria Premium será a fonte do novo desenvolvimento do Maranhão.
Porém, ao contrário do jornal, que usa sua própria fala para fazer-se pronunciar,
a Petrobrás não faz isso diretamente, faz
por intermédio dos moradores, pessoas
comuns, que falam no vídeo, em entrevistas.
4.4. Ao todo, o vídeo, de
5‟48”, traz 16 entrevistas, todas com
pessoas comuns, sendo 4 de Rosário, 8 de Bacabeira e 4 de São Luís, as cidades
mais diretamente envolvidas e beneficiadas com a construção da empresa.
Entre homens, mulheres, jovens, adultos e idosos, todos os depoimentos destacam as benesses da refinaria e a expectativa
de melhorias na vida da comunidade,em vários aspectos. Como dizem:
Ø
José Ribamar Gonçalves, morador de Bacabeira: “Maranhão
vai se desenvolver, um dos maiores estados do norte-nordeste”;
Ø
Maria de Fátima Guimarães, moradora de Rosário: “Temos muito a
ganhar com essa vinda da refinaria para o nosso município”
Ø Antônio
Rubens Carvalho, morador de São Luís: “O maior investimento da Petrobrás vai
ser aqui no nosso estado, e a gente tá torcendo pra que isso aconteça de verdade”.
4.5. O vídeo adota, para se
pronunciar sobre a Refinaria, a estratégia
discursiva do documentário, que tem como um dos seus pontos fortes de apoio na
exposição da verdade a recorrência a falas comuns, com as pessoas inclusive no
seu contexto diário, sem “maquiagem”.
4.6.
As pessoas que aparecem no vídeo estão sem arrumações de roupa, cabelo, até sem
camisa, de boné, na frente das suas casas, no meio da rua, na porta do seu
trabalho etc., o que dá a dimensão de naturalidade da coleta do depoimento e
reforça a verossimilhança dos seus pronunciamentos. Outro recurso discursivo
das entrevistas é a construção de metonímias [ver nota 7], na medida em que aquelas pessoas passam a
representar, por uma figura de estilo e discurso, o todo da população – e, neste caso, o todo comum.Outro ponto
importante que aproxima as falas da Pacotilha e do vídeo da Petrobrás é a recorrência
à adjetivação ou às expressões adjetivas para designar o que os dois empreendimentos
farão com o estado. Diz a Pacotilha:
“As
fábricas surgem de toda aparte e com elas o despertar de uma vida nova, cheia
de atividades, urgida pelo progresso, prometendo-nos um futuro bonançoso que
compense a esterilidade do passado”
(grifos nossos).
4.7.
Já o vídeo da Petrobrás registra na fala do locutor e dos entrevistados, uma
série de expressões adjetivadoras e de adjetivos para qualificar tanto a empresa
em si quanto o cenário de positivação que ela
vai promover. Sobre a empresa, diz o vídeo: “
“A
Petrobrás (...) dá início no Maranhão à implantação de um mega-empreendimento:
a Refinaria Premium I (...) com investimentos da ordem de 20 bilhões de
dólares, a Premium I será a maior refinaria do Brasil e a quinta maior do mundo
(...) a Petrobrás estará enfrentando um enorme desafio (...) o empreendimento contará com processos que utilizam as mais
avançadas tecnologias (...) é assim que a Petrobrás, através da implantação
deste mega-empreendimento, e atuando com responsabilidade social e ambiental,
possibilitará o desenvolvimento sustentável da região, contribuindo para a
melhoria da qualidade de vida da população do Maranhão e do Brasil.”
4.8. E novamente nas falas:
“Eu faço
curso profissionalizante e os professores têm
falado muito da refinaria que está vindo e pra nós que estamos nos preparando profissionalmente,
está sendo ótimo” (Daiane Barbosa de Souza, moradora de São Luís);
“Com certeza a geração de emprego vai ser tamanha ,
né?” (Ciro Jorge Pereira,morador de São Luís).
4.9. A adjetivação, neste caso,
é um reforço discursivo de consolidar o pronunciamento
a favor da Refinaria – neste particular,
com o efeito hiperbólico da polifonia marcada nas dezenas de vozes da
“comunidade” maranhense.
4.10. Uma terceira estratégia que marca bem o discurso sobre a
industrialização (neste caso, a industrialização em si) é o forte tom de
descritivismo que os textos trazem. No registro que colhemos sobre o lançamento
da pedra fundamental da [Fábrica] Rio-Anil, por ser breve, não ficou marcado, mas em outros textos da Pacotilha
sobre máquinas ou beneficiamentos industriais, durante todo o período da
industrialização de São Luís, isso pode ser verificado bem fortemente,
como registramos na nossa tese “Ecos da
Modernidade: uma análise do discurso sobre o cinema ambulante em São Luís”
(MATOS, 2010).
4.11.
No caso do vídeo, o tom descritivista está associado tanto ao texto quanto à
imagem. Toda a construção imagética do vídeo foi feita para mostrar máquinas e
equipamentos de uma refinaria, plataformas de petróleo, mapas de localização do
Maranhão, São Luís e Bacabeira, profissionais em atividade na Petrobrás (possivelmente
imagens de arquivo ou de outras filmagens), como a demonstrar, por meio da
imagem, como “será” a refinaria, no futuro.
E o texto
também reforça essa “mostração”, pois ele é fortemente descritivo. Alguns
trechos: “...localizada no município de Bacabeira, a cerca de 60 km de São Luís, a refinaria se conectará com a
capital através do seu terminal portuário (...)esses derivados [de petróleo]
serão transportados através de uma faixa de dutos de 60km, que também
transportarão o petróleo bruto até a refinaria. O empreendimento contará ainda com um parque com tanques que
armazenamento, a ser construído no Porto do Itaqui (...) estima-se que no
período de pico a obra contará com um contingente de cerca de 26 mil
trabalhadores...”.
A
natureza descritiva faz parte da estratégia
discursiva de apresentar o novo, o desconhecido (como o manual de instruções
de um produto que acabamos de adquirir). No caso específico da Refinaria Premium, a descritividade, verbo-visual, aliada
às estratégias próprias de um documentário com fins publicitários,
também serve para projetar uma imagem, a mais verossimilhante possível, da
grandiosidade da refinaria num futuro bem próximo (o vídeo afirma que ela
ficaria pronta em 2015!).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
5.1.
O que fica evidenciado neste trabalho, que ainda está no começo, pois outros
documentos precisam ser ainda analisados, o arquivo aumentado com novos
sujeitos discursivos, inclusive midiáticos (jornais,
revistas) é que, neste novo momento da industrialização do Maranhão, há um
resgate da memória discursiva do Maranhão da “Manchester
do Norte”, sem no entanto aparecer este epíteto, que cheira a malogro.
5.2. E as estratégias engendradas para forjar este discurso
redentor são, em muitos casos, as mesmas do período oitocentista: um discurso
efusivo, proferido por sujeitos discursivos diversos (“os
neofabrilistas”), fortemente adjetivado positivamente e com um a grande carga
de descritivismo, como que para apresentar o novo – afinal, “nunca na história deste estado” – para
parafrasear um ex-presidente dado a efeitos retóricos e discursivos – se teve um empreendimento
tão grandioso.
REFERÊNCIAS [bibliográficas]:
BORRALHO, José Henrique de Paula. A Athenas equinocial: a
fundação de um Maranhão no império brasileiro. Tese de doutorado:
Niterói-RJ: UFF, 2009.
CORREIA, Maria da Glória Guimarães. Nos fios da trama: quem é
essa mulher? Cotidiano e trabalho do operariado feminino em São Luís na virada do
século XIX. São Luís:
Edufma, 2006.
GREGOLIN, Maria do Rosário
Valencise. Formação discursiva, redes de memória etrajetos de sentido: mídia e
produção de identidades. In:
BARONAS, Roberto Leiser(org.). Análise do discurso: apontamentos
para uma história da noção-conceito deformação discursiva. São Carlos: Pedro
& João Editores, 2007.
ITAPARY,
Joaquim. A
falência do ilusório: memória da
companhia de fiação e tecidos Rio Anil. São Luís: Alumar, 1995.
JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO. Parabéns, São Luís. São Luís: 08 de setembro de
2012, p. 04.
JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO. São Luís 400 anos. (livro-homenagem). São Luís:
Gráfica Escolar, 2012.
LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL DA REFINARIA PREMIUM. Disponível em Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=QWp9nKeFz-4). Acesso em 20 de setembro de 2012.
MARANHÃO, Governo do Estado, Secretaria de Estado de Planejamento,
Orçamento e Gestão. Mensagem da
Governadora à Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, 2011: apresentada na reunião de abertura da 1ª sessão Legislativa da 17ª
Legislatura. São Luís, 188 p.
MARTINS, Manoel de Jesus Barros. Operários da saudade: os novos atenienses e a invenção do Maranhão. São Luís: Edufma, 2006.
MATOS, Marcos Fábio Belo. ...E
o cinema invadiu a Athenas: a história do cinema ambulante
em São Luís
(1898–1909).
São Luís: FUMC, 2002.
______.
Modernidade, imprensa e discurso: de
como a imprensa escrita efetivou o discurso modernizador. In: MATOS, Marcos
Fábio Belo, GEHLEN, Marcos (org.). Comunicação, jornalismo e fronteiras
acadêmicas. São Luís: Edufma, 2011.
MELO,
José Marques de. A opinião no jornalismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1994.
ORLANDI,
Eni Pulcinelli. As formas do silêncio no movimento dos sentidos. Campinas, S. R: Editora da Unicamp, 1995.
PACHECO,
Fran. Geografia do Maranhão. São Luiz: Tipografia Teixeira, 1922.
PESSOA,
Jordânia Maria. Entre a tradição e a modernidade: a belle époque caxiense. Imperatriz: Ética, 2009.
REINALDO
Jr, José. Formação do espaço urbano de São Luís. São Luís: Edições FUNC, 1999.
SPERANDIO, Natália Elvira. O
sentido resultante da interação metafórica e metonímica. Capturado em:
TRIBUZZI,
Bandeira. Formação econômica do Maranhão: uma proposta de desenvolvimento. 2 ed. São Luís: Conselho Regional de Economia do
Maranhão, 2011.
VIVEIROS,
Jerônimo de. História do comércio do Maranhão: 1612-1895. 2.v. São Luís: Associação Comercial do Maranhão, 1954.
NOTAS DE
RODAPÉ [repaginadas nesta para última seção do artigo]
Nota 1: Autor - Marcos
Fábio Belo Matos; Universidade Federal do Maranhão – UFMA; Professor
do Curso de Comunicação Social – Jornalismo, da UFMA, Campus Imperatriz. Doutor
em Lingüística e Língua Portuguesa pela Unesp-Araraquara. Coordenador do Grupo
de Pesquisa de Mídia Jornalística (G.Mídia), desenvolvendo o projeto de
pesquisa “Representações Discursivas na Mídia”.
Nota 2: A
primeira geração de atenienses é a da primeira metade do século XIX, com
Gonçalves Dias, Sotero dos Reis, João Lisboa. A segunda geração surge na
segunda metade do final do século XIX, com nomes como Arthur e Aluísio Azevedo,
Coelho Neto, Graça Aranha, Raimundo Corrêa. E a terceira geração é representada
por Manoel de Bethéncourt, Astolfo Marques,
Nascimento Moraes, Raimundo Lopes,Antônio
Lobo, Fran Pacheco, dentre outros, enfeixado no grupo que se autodenominou
Novos Atenienses'.
Nota 3: Como
exemplos, temos:
Ø
Companhia de Fiação e Tecido do Cânhamo
(Fábrica São Luís), prédio transformado no Centro de Produção Artesanal do
Maranhão (Ceprama), no bairro da Madre Deus;
Ø
Companhia de Fiação e Tecidos Rio Anil, prédio
transformado no Centro Integrado Rio Anil (Cintra), uma escola de ensino
fundamental e médio, no bairro do Anil;
Ø Fábrica
Santa Amélia, prédio tombado pelo Iphan e que está sob a responsabilidade da
Ufma, localizada no centro da cidade, ainda sem uso.
Nota 4: Esse
processo de metaforização, que redundava na criação de epítetos, parece ser uma
lógica nacional. Borralho (2009) arrola alguns: Veneza Brasileira (Recife);
Athenas Mexicana (Vera Cruz); Atenas Americana (Santa Fé de Bogotá); Esparta
Brasileira e/ou também Athenas Brasileira (Rio Grande de São Pedro/RS),
Ateneida Baiana (Salvador). E Pessoa (2009) identifica, no interior maranhense,
a designação da cidade de Caxias, que então também efetivava um processo
semelhante de industrialização, de Manchester Maranhense
Nota 5: O
livro-homenagem que o jornal O Estado do Maranhão publicou em reverência aos
400 anos de São Luís registra, na página 62: “Em todo o estado, estão em
andamento 65 projetos [industriais], dos
quais 38 no interior e 27 na capital”.
Nota 6: O
editorial do primeiro número do jornal A Idéia, de 1893, provando que o
epíteto de Manchester tinha ganhado o conhecimento popular,
conclamava a mocidade: “(...) abraçada com os livros trabalhai para que o
Maranhão além de Manchester, possa continuar a ser a Athenas Brasileira.” (apud
BORRALHO, 2009, p. 40).
Nota 7: De
acordo com Sperandio (2012, p. 353): “Lakoff e Johnson (2002) advogam que,
enquanto a metáfora é uma forma de conceber uma coisa em termos de outra, tendo
como função primária o entendimento/compreensão, a metonímia possui uma função
referencial, ou seja, ela nos permite utilizar uma entidade para representar
outra.”
TEXTO 2: DIVULGAÇÃO EM BLOG
CINTRA - CENTRO INTEGRADO DO RIO ANIL
Projeto do arquiteto FABRICIO PEDROZA
[Centro
Educacional – Colégio da Fábrica do Rio Anil; São Luís, MA]
Gerido pela FNL -
Fundação Nice Lobão, vinculada à Secretaria de Estado da Educação do
Maranhão.
COMPANHIA DE
FIAÇÃO E TECIDOS DO RIO ANIL
02/09/2012 · em História.
São Luís já foi um
polo industrial têxtil. No final do século XIX, pelo menos dez fábricas de
tecidos e fiação se instalaram na cidade, anunciando o progresso e mudança da
vida social da região. A antiga Companhia
de Fiação e Tecidos do Rio Anil (Rua da Companhia, 1, Anil), construída em
30 de junho de 1893, por exemplo, foi responsável por mudar o modo de vida do
bairro do Anil. Pertenceu a seis empresários de São Luís: Antônio Cardoso Pereira, Francisco Xavier de Carvalho, Manuel José
Francisco Jorge, José Francisco de Viveiros, Jerônimo Tavares Sobrinho e o Cônsul da Grã-Bretanha no Maranhão, o escocês Henry Airlie, idealizador da
Companhia.
Ocupou uma área de
9.991m², sendo edificada em pedra, cal e alvenaria de tijolo. E como era comum
acontecer nos entorno das fábricas, uma vila operária prosperou na região e com
isso diversos serviços foram sendo instalados nas proximidades do pátio fabril.
A vila operária foi
construída pelos empresários da fábrica com intuito de assegurar a assiduidade
dos empregados, que chegou a 100 em época áurea.
Dada a importância
do bairro na época, a Companhia
Ferro-Carril do Maranhão construiu dez quilômetros de trilhos até o Anil,
por onde circulariam bondes animálicos,
que mais tarde tornou-se um dos principais trechos da malha ferroviária da
cidade. Isso propiciou também o deslocamento dos operários que seguiam para o
trabalho logo ao soar do apito da fábrica e também o escoamento da produção
fabril que teve como apogeu a década de 1930,
quando atingiu o ponto mais alto da produtividade (1 milhão metros/ano).
Desenvolvimento – Entre as décadas de 1940 e 1950, o
Anil desenvolveu-se grandemente, passando a ter uma boa estrutura social e de
lazer, como educandários, colégios, igrejas, além de mercado público, onde
funcionou mais tarde a superintendência do Anil e hoje abriga o Posto Médico, e
várias lojas de tecidos. Para o lazer, dois cinemas, o Rivoli e o Anil, do
campo do Botafogo, pertencente à fábrica, os banhos no Rio Anil (quando ainda
era propício a tal atividade) e os famosos bailes populares.
Na fábrica, acidente
tinha quase todo dia. “As linhas se soltavam e os teares voavam. Em 1959, a
tubulação de uma caldeira explodiu e matou três funcionários. Outra vez, o
fundo de um barril de ácido sulfúrico se rompeu, queimando os três carregadores
que o transportavam. Eles foram enrolados em folhas de bananeira e levados ao
hospital”, relatou João Pereira Carramilo, ex-funcionário da fábrica, à
jornalista Yane Botelho.
RECUPERAÇÃO [RESTAURAÇÃO]
1.
Como
boa parte das fábricas da época, a Companhia de Fiação e Tecidos do Rio Anil
não resistiu aos entraves e pediu falência em 1961. Abandonada por muito tempo,
foi somente um século depois do lançamento de sua pedra fundamental que o local
foi recuperado e deu espaço ao Centro Integrado Rio Anil (Cintra), com projeto
do arquiteto Fabrício Pedroza.
2.
Adotou-se
para o novo Centro a mesma cor azul da antiga Fábrica, segundo a lembrança dos
velhos moradores do bairro.
3.
O
prédio tem cobertura composta por uma estrutura forjada na Inglaterra e telhas
francesas. A fachada principal apresenta 14 módulos, com cobertura em duas
águas, formando pequenos frontões com óculos centralizados.
4.
O
interior foi reestruturado em dois pavimentos de salas de aula e administrativo
com circulação em forma de mezaninos e largas escadas em madeira, com alguns
pilares em troncos retorcidos. Antes imensas salas abrigavam os teares.
5.
O
desafio era compartimentar essas grandes áreas sem deixá-las escuras. Para isso
aproveitaram-se as grandes janelas de guilhotinas em madeira e vidro que rasgam
toda a extensão da antiga fábrica, além de telhas de vidro localizadas
estrategicamente nas circulações internas que garantiram a ventilação e
iluminação.
6.
Em
alguns pontos há jardins de inverno, iluminados por abertura no telhado, sem
nenhum prejuízo às formas originais. Ainda é possível encontrar corredores
revestidos com ladrilhos hidráulicos e alvenaria em pedra aparente que destaca
a qualidade da mão de obra da construção civil do século XIX no Brasil.
Nota do Editor [RAS]:
O mais importante documento sobre a gênese e débâcle da COMPANHIA DE
FIAÇÃO E TECIDOS DO RIO ANIL [hoje CINTRA,
desde 1993] é o livro
citado abaixo:
ITAPARY, Joaquim. A
falência do ilusório: memória da
companhia de fiação e tecidos Rio Anil. São Luís: Alumar, 1995.
RONALD
ALMEIDA-016-PARA J_ITAPARY E NAPÔ- MEMÓRIA DA INDÚSTRIA
MARANHENSE-2CINTRA-FABRICA RIO ANIL
|
Ronald
de Almeida Silva <ronald.arquiteto@gmail.com>
|
23 de julho de
2014 19:15
|
Para:
Joaquim Itapary
|
Caro Mestre ITAPARY
Cópia para
Napô
1)
CINTRA,
COMPANHIA DE FIAÇÃO E TECIDOS DO RIO ANIL e a FALÊNCIA
DO ILUSÓRIO:
A propósito, deparei-me esses dias com o desafio de entender
melhor e me atualizar sobre o grande empreendimento e complexo educacional do CINTRA – Centro Integrado do Rio Anil, hoje
com 7.500 alunos; população
estudantil esta maior que a população total de muitos municípios maranhenses!!.
Pesquisei na internet e achei um texto que editei em 13 páginas
[artigo acadêmico do Prof. Marcos F. B. Matos, UFMA, com original em pdf] muito
interessante como abordagem histórica e Aide-Mémoire da Industrialização do
Maranhão.
Nesse artigo, lançado em 2012, o seu livro seminal A FALÊNCIA DO
ILUSÓRIO é obviamente citado e, portanto, acho que esse tema pode lhe
interessar, assim como ao nosso companheiro Sabóia.
Ao final desse artigo segue uma sinopse informativa sobre o
projeto do CINTRA.
Saudações e continue me enviando suas pérolas de arte e humor.
Seu admirador
Ronald Almeida
|