quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

[11] FUTEBOL (02) - VIOLÊNCIA - FUTEBOL UFC e MMA - O DESASTRE NO CAMPO DO VASCO EM 30/12/2000 [19dez2013]

VIOLÊNCIA NO FUTEBOL UFC & MMA [02]
O DESASTRE NO CAMPO DO VASCO EM 30/12/2000

AS TRAGÉDIAS E O FUTURO DO FUTEBOL

(O FRACASSSO  DA COPA JH, O CLUBE DOS 13, A CBF,  O PMFB/FGV E O FÓRUM NACIONAL.)

Ronald de Almeida Silva* (janeiro 2001)

Como os 170 milhões de brasileiros e outros tantos esportistas mundo afora, assistimos os dramáticos episódios ocorridos durante o jogo VASCO DA GAMA [RJ] x SÃO CAETANO [SP], iniciado às 16:00 h. do dia 30/12/2000, um sábado de sol intenso de verão no Rio de Janeiro. Era a partida decisória da COPA JOÃO HAVELANGE, promovida e organizada - com apoio comercial e midiático da TV Globo - pelo Clube dos Treze [associação civil privada que reúne os 20 maiores clubes de futebol do país] como substitutivo do Campeonato Brasileiro 2000, por concessão especial da CBF.

O jogo Vasco x São Caetano seria a última e mais importante partida do último e maior campeonato nacional do país do futebol no século XX. Em função desse extraordinário simbolismo e do enorme interesse suscitado, o Clube dos 13 e/ou a CBF deveriam ter escolhido um estádio compatível e preparado uma solenidade capaz de receber um público recorde, com segurança integral. Com o apoio da televisão deveriam até ter previsto a realização de um grande evento artístico especial, na preliminar, para lotar até o Maracanã, que deveria ter sido o estádio escolhido.

Essa final histórica - entre um dos maiores e mais tradicionais clubes do país e um clube novato, mas arrebatador -, com tal magnitude e de alto risco deveria ser um espetáculo de futebol precedido de um planejamento rigoroso, tipo NBA. Deveria se um show de marketing positivo, com organização, segurança, informação e qualidade total para que se pudesse receber muitas crianças, adolescentes, mulheres, a velha guarda do futebol e muitos artistas Se assim fosse feito, poderíamos incentivar novos públicos e mercados e vender um espetáculo de padrão internacional para todo o mundo, pois trata-se da final do campeonato nacional no pais do futebol mais admirado em todo o mundo. Ou seja, um show de futebol, o espetáculo esportivo mais caro e mais visto em todo o mundo.

Uma final de campeonato brasileiro deveria algo nos padrões [proporcionais], pelo menos, aos da produção rotineira de qualquer jogo da 1ª Divisão do campeonato inglês, onde se tem venda antecipada de ingressos [até pelo correio], música, mestre de cerimônia locutor e se pode comprar até uma belíssima revista com todas as informações sobre os times, os atletas, os árbitros, o campeonato, em cada jogo!


Tudo isso seria very good! Acima de tudo, toda e qualquer final de campeonato brasileiro deveria ser um espetáculo profissional para poder ser uma fonte de renda substancial para todas as partes envolvidas e um exemplo benéfico para a imagem do futebol e de seus dirigentes e para a imagem do Brasil no Exterior.

Mas, infelizmente, nem os organizadores e nem os demais interessados diretos materializaram preocupação com estas questões e acataram a absurda decisão de promover o jogo da Copa JH da forma mais banal possível num estádio de tantas limitações [de segurança, capacidade, acesso, estacionamento etc.] como o do Vasco – o velho São Januário - para acomodar o gigantesco público que ansiava ver o último espetáculo do maior campeonato do país do futebol no século XX. E, como se viu, deu no que deu.

A [quase] tragédia na sede do Vasco da Gama, onde fizemos a escolinha de futebol nos anos de 1959/60, chocou a opinião pública nacional e mundial, a classe política e, sobretudo, todos os dirigentes de futebol conscientes e responsáveis do país. Assistimos, incrédulos, terríveis cenas de barbárie coletiva, vandalismo, destempero verbal e até de desvario administrativo que culminaram com mais de 160 espectadores feridos, dentre esses, várias crianças. Mas, como Deus é brasileiro, ninguém morreu e, ao que parece, nem ficou mutilado. Um verdadeiro milagre.

Esse jogo teve todos os ingredientes negativos que a CBF e o Fórum, e certamente o Clube dos Treze, o Vasco da Gama e a TV Globo [como cessionária dos direitos de comercialização de som e imagens] jamais gostariam de registrar. A imprensa nacional e internacional se manifestou de forma quase unânime contra a forma esdrúxula de se organizar o principal campeonato do país do futebol e contra o seu desfecho lamentável. A Copa JH não esteve à altura do nome do seu patrono e nem poderá ser incluída no histórico de conquistas da CBF.

Os ridículos fiascos das Seleções Brasileiras na Copa de 98 e na Olimpíada de Sidney 2000; o tragicômico imbróglio CBF x Gama; as CPIs do Futebol, em curso no Senado e na Câmara Federal; e o jogo final da Copa JH 2000 ficarão para sempre na memória de todos como as tristes e humilhantes páginas derradeiras do grande livro do futebol brasileiro no século XX, vergonhas que embaçam até as grandes glórias conquistadas.

Face a  essa dramática realidade e na qualidade de diretor federacionista e vice-presidente do Fórum que congrega as 15 federações estaduais das Regiões Norte e Nordeste, manifestamos em circular dirigida a todos os Presidentes das 27 federações do país a nossa grande preocupação com o futuro imediato do futebol brasileiro. Mais do que preocupante ainda é a situação de falência virtual da maioria dos Campeonatos e Federações Estaduais; a desorganização e falta de rentabilidade do Campeonato Brasileiro; e a anemia financeira profunda da Copa do Norte, entre outras.

Por essas razões e, também, para firmar uma posição transparente e uma crítica construtiva, oferecemos nossa colaboração ao Presidente RICARDO TEIXEIRA para ajudar na materialização do mutirão do Fórum Nacional proposto pelas 18 federações signatárias do Relatório da 13ª Reunião Plenária do Fórum Norte Nordeste – a Carta de Manaus [24nov.2000] -, em apoio ao Plano de Modernização do Futebol Brasileiro - PMFB 2000-2003. Esse trabalho da FGV/CBF, cuja fase de Diagnóstico já foi concluída, é um instrumento imprescindível para que se proceda ao aprimoramento e consolidação do hoje combalido e desacreditado Sistema Nacional de Gestão do Futebol Brasileiro, compreendendo a reestruturação da CBF, Federações, Ligas e Clubes de Futebol e, obviamente, do sistema de gestão e dos regulamentos das competições e respectivos estádios.

Através do mutirão do Fórum Nacional poderíamos traçar alguns objetivos de curto prazo, como a garantia de qualidade e segurança nos estádios e a revitalização financeira dos campeonatos estaduais e das copas regionais. Se bem sucedidos, por meio dessa renovação "sine que non", poderíamos melhorar a imagem do "cartola", o  dirigente de futebol dos clubes, federações e da própria CBF, hoje profundamente desgastados em todos os segmentos da opinião pública nacional e, em especial, junto aos patrocinadores e investidores, que estão olhando a grande cena do futebol brasileiro com verdadeiro horror.

A reversão urgente desses graves problemas na gestão do futebol e da péssima imagem da classe dirigente nos parece uma questão crucial para a sobrevivência da espécie. Quem viver, verá!

Ronald de Almeida Silva* (janeiro 2001)

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