VIOLÊNCIA NO FUTEBOL UFC & MMA [02]
O DESASTRE NO CAMPO DO VASCO EM 30/12/2000
O DESASTRE NO CAMPO DO VASCO EM 30/12/2000
AS TRAGÉDIAS
E O FUTURO DO FUTEBOL
(O FRACASSSO DA COPA JH, O CLUBE DOS 13, A CBF, O PMFB/FGV E O FÓRUM NACIONAL.)
Ronald de Almeida Silva* (janeiro 2001)
Como os 170
milhões de brasileiros e outros tantos esportistas mundo afora, assistimos os
dramáticos episódios ocorridos durante o jogo VASCO DA GAMA [RJ] x SÃO CAETANO [SP], iniciado às 16:00 h. do dia 30/12/2000, um sábado de sol intenso de
verão no Rio de Janeiro. Era a partida decisória da COPA JOÃO HAVELANGE, promovida e organizada - com apoio
comercial e midiático da TV Globo - pelo Clube dos Treze [associação civil privada que reúne os 20 maiores
clubes de futebol do país] como substitutivo do Campeonato Brasileiro 2000, por
concessão especial da CBF.
O jogo Vasco x São Caetano seria
a última e mais importante partida do último e maior campeonato nacional do
país do futebol no século XX. Em função desse extraordinário simbolismo e do
enorme interesse suscitado, o Clube dos 13 e/ou a CBF deveriam ter escolhido um
estádio compatível e preparado uma solenidade capaz de receber um público
recorde, com segurança integral. Com o apoio da televisão deveriam até ter
previsto a realização de um grande evento artístico especial, na preliminar,
para lotar até o Maracanã, que deveria ter sido o estádio escolhido.
Essa
final histórica - entre um dos maiores e mais tradicionais clubes do país e um
clube novato, mas arrebatador -, com tal magnitude e de alto risco deveria ser um espetáculo de
futebol precedido de um planejamento
rigoroso, tipo NBA. Deveria se um show de marketing positivo, com
organização, segurança, informação e qualidade total para que se pudesse
receber muitas crianças, adolescentes, mulheres, a velha guarda do futebol e
muitos artistas Se assim fosse feito, poderíamos incentivar novos públicos e
mercados e vender um espetáculo de
padrão internacional para todo o mundo, pois trata-se da final do campeonato
nacional no pais do futebol mais admirado em todo o mundo. Ou seja, um show de
futebol, o espetáculo esportivo mais caro e mais visto em todo o mundo.
Uma
final de campeonato brasileiro deveria algo nos padrões [proporcionais], pelo
menos, aos da produção rotineira de qualquer jogo da 1ª Divisão do
campeonato inglês, onde se tem venda antecipada de ingressos [até pelo
correio], música, mestre de cerimônia locutor e se pode comprar até uma
belíssima revista com todas as informações sobre os times, os atletas, os
árbitros, o campeonato, em cada jogo!
Tudo isso seria very good! Acima de tudo, toda e
qualquer final de campeonato brasileiro deveria ser um espetáculo profissional
para poder ser uma fonte de renda substancial
para todas as partes envolvidas e um exemplo benéfico para a imagem do futebol
e de seus dirigentes e para a imagem do Brasil no Exterior.
Mas, infelizmente, nem os
organizadores e nem os demais interessados diretos materializaram preocupação com estas questões e acataram a absurda
decisão de promover o jogo da Copa JH da forma mais banal possível num estádio
de tantas limitações [de segurança, capacidade, acesso, estacionamento etc.]
como o do Vasco – o velho São Januário - para acomodar o gigantesco público que
ansiava ver o último espetáculo do maior campeonato do país do futebol no
século XX. E, como se viu, deu no que deu.
A [quase] tragédia na sede do Vasco da Gama,
onde fizemos a escolinha de futebol nos anos de 1959/60, chocou a opinião pública
nacional e mundial, a classe política e, sobretudo, todos os dirigentes de
futebol conscientes e responsáveis do país. Assistimos, incrédulos, terríveis
cenas de barbárie coletiva, vandalismo, destempero verbal e até de desvario
administrativo que culminaram com mais de 160
espectadores feridos, dentre esses, várias crianças. Mas, como Deus é
brasileiro, ninguém morreu e, ao que parece, nem ficou mutilado. Um verdadeiro
milagre.
Esse
jogo teve todos os ingredientes negativos que a CBF e o Fórum, e certamente o
Clube dos Treze, o Vasco da Gama e a TV Globo [como cessionária dos direitos de
comercialização de som e imagens] jamais gostariam de registrar. A imprensa
nacional e internacional se manifestou de forma quase unânime contra a forma
esdrúxula de se organizar o principal campeonato do país do futebol e contra o
seu desfecho lamentável. A Copa JH não esteve à altura do nome do seu patrono e
nem poderá ser incluída no histórico de conquistas da CBF.
Os ridículos fiascos das Seleções
Brasileiras na Copa de 98 e na Olimpíada de Sidney 2000; o tragicômico
imbróglio CBF x Gama; as CPIs do Futebol, em curso no Senado e na Câmara
Federal; e o jogo final da Copa JH 2000 ficarão para sempre na memória de todos
como as tristes e humilhantes páginas derradeiras do grande livro do futebol
brasileiro no século XX, vergonhas
que embaçam até as grandes glórias conquistadas.
Face
a essa dramática realidade e na
qualidade de diretor federacionista e vice-presidente do Fórum que congrega as
15 federações estaduais das Regiões Norte e Nordeste, manifestamos em circular
dirigida a todos os Presidentes das 27 federações do país a nossa grande
preocupação com o futuro imediato do futebol brasileiro. Mais do que
preocupante ainda é a situação de falência
virtual da maioria dos Campeonatos e Federações Estaduais; a desorganização e
falta de rentabilidade do Campeonato Brasileiro; e a anemia financeira profunda da
Copa do Norte, entre outras.
Por
essas razões e, também, para firmar uma posição transparente e uma crítica
construtiva, oferecemos nossa colaboração ao Presidente RICARDO TEIXEIRA para ajudar na
materialização do mutirão do Fórum
Nacional proposto pelas 18 federações signatárias do Relatório da 13ª
Reunião Plenária do Fórum Norte Nordeste – a Carta de Manaus [24nov.2000] -, em apoio ao Plano de Modernização do Futebol Brasileiro - PMFB 2000-2003. Esse
trabalho da FGV/CBF, cuja fase de Diagnóstico já foi concluída, é um
instrumento imprescindível para que se proceda ao aprimoramento e consolidação
do hoje combalido e desacreditado Sistema
Nacional de Gestão do Futebol Brasileiro, compreendendo a reestruturação da
CBF, Federações, Ligas e Clubes de Futebol e, obviamente, do sistema de gestão
e dos regulamentos das competições e respectivos estádios.
Através
do mutirão do Fórum Nacional poderíamos traçar alguns objetivos de curto prazo,
como a garantia de qualidade e segurança
nos estádios e a revitalização financeira dos campeonatos estaduais e
das copas regionais. Se bem sucedidos, por meio dessa renovação "sine
que non", poderíamos melhorar a imagem
do "cartola", o dirigente de
futebol dos clubes, federações e da própria CBF, hoje profundamente
desgastados em todos os segmentos da opinião pública nacional e, em especial,
junto aos patrocinadores e investidores, que estão olhando a grande cena
do futebol brasileiro com verdadeiro horror.
A reversão urgente desses graves
problemas na gestão do futebol e da péssima imagem da classe dirigente nos
parece uma questão crucial para a sobrevivência da espécie. Quem viver, verá!
Ronald de
Almeida Silva* (janeiro 2001)
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