REVISTA BULA
SOLIDÃO:
10 pensamentos sobre a percepção a
respeito da nossa vida interior e autoestima.
Estar sozinha não faz de você uma pessoa solitária.
A pior solidão é não encontrar a si mesmo
Por Karen Curi
Revista Bula
acesso em 01julho2015
1)
VOCÊ
SAI DE CASA PARA FUGIR DA SOLIDÃO. A própria companhia começa a te
incomodar. Não tem posição, o ar ficar denso, nada agrada. Já conhece todos os
seus pensamentos e os monólogos já não trazem novas ideias. Você se cansa das
suas manias e das suas preguiças. Por isso compensa com andanças desnorteadas e
atividades inúteis. Se você não tomar uma atitude, neste exato momento, será
engolida pelo sofá, e cuspida, quem sabe, só no dia seguinte. Se ficar aqui, ao
amanhecer estará mais cansada, mais desmotivada e, inevitavelmente, se sentindo
ainda mais sozinha. Está decido. Você vai para a rua porque não suporta estar
só.
2)
Parece uma refém que acabou de sair do cativeiro. Ao fechar a
porta já esboça um sorriso. Agora a única preocupação é saber para onde ir, com
quem encontrar, o que fazer. Na verdade, nada disso importa, porque você só
quer mesmo ser uma pessoa livre. Livre para escolher, livre para mudar a
direção, para trocar de opinião, livre para fazer o que quiser e do seu jeito.
Livre, inclusive, para não fazer nada. Mas aí está o grande equívoco e você tem
plena consciência dele. Sempre sente a liberdade como coisa que chega de fora,
mesmo que tenha certeza absoluta de que ela vem é de dentro. Tudo bem, talvez
você queira sentir a leveza da liberdade superficial. Que seja. Pelo menos
hoje, a tua casa, era a tua prisão. Você precisava sair.
3)
Encontros. Risadas. Velhas histórias que você continua achando
graça com o passar dos anos. Antigos pares, os mesmos de sempre. Tem gente nova
também, com outros assuntos, e o fascínio peculiar de quem acaba de chegar. Era
disso que estava falando, era isso que precisava: de gente. Muita gente. Música.
Ruído. Contato. Estímulo visual, sonoro e tátil. Você queria ver e ser vista,
sentia a necessidade de contar — as coisas boas — e escutar outros casos. Nesse
momento você só pensa no quanto é chata e solitária, e faz de tudo para que
ninguém perceba. Quem nunca se burlou e fingiu ser de outro jeito só para ser
aceito? Que levante a mão aquele que nunca tentou agradar ninguém.
4)
Pronto. Você está exatamente aonde queria estar, fazendo o que
gostaria de fazer, com gente que te agrada e te diverte. Está feliz. Se sente
livre, se sente forte. Venceu o desânimo e arriscou o passo incerto. Não quer
nem pensar no quão esmorecida e inerte estaria, deitada, neste momento, entre
umas páginas de livro, uns goles de vinho, a tv ligada, a música no fone de
ouvido e as conversas do cotidiano com amigos distantes.
5)
Você se sente viva. Autônoma. Não quer que a noite acabe. Corre da
solidão com o pique de um maratonista. Segue o fluxo da multidão. Muda de ares,
busca cegamente por alguma coisa que te preencha, sensações que te transbordem.
Procura por alegrias que nunca acabam e risadas incessantes. Novos amigos te
fazem sentir uma nova pessoa.
6)
Até que um instante de consciência te faz lembrar de quem você
realmente é. E você não é tão legal quanto parece. Sente-se envergonhada com o
papelão de se transformar na sua própria marionete diante dos outros. Você se
vê ali, se interpretando de um jeito fictício, heroico e infantil. Começa a
querer voltar no tempo, mas é impossível. Então, retira a máscara e percebe que
já não te acham tão encantadora assim.
7)
Quem
você está querendo enganar? Fugir da solidão te faz sentir
ainda mais sozinha. É fato. Porque uma coisa é assumir o exílio, aceitá-lo e
torná-lo até mesmo prazeroso e útil. Outra coisa é não admitir estar só e
recusar a própria companhia, se trocando por qualquer programa e toda gente,
lutando contra a individualidade. Pra quê escapar de si quando mais precisa de
si mesma?
8)
Quando você se dá conta de que está negando a sua condição ímpar e
rejeitando a realidade unitária, perde-se a graça e o contentamento diante dos
outros. Você percebe que nenhum lugar ou pessoa é capaz de abarrotar o espaço
vazio que habita por dentro. Tanto faz estar deitado na sua cama ou no meio de
um monte de gente. A solidão é a liberdade sem saber para onde ir. Os nossos
momentos de completo exílio são evidentemente esclarecedores. Fugir de estar a
sós conosco só nos afasta das reflexões e da compreensão de quem somos.
9)
Tudo que você mais quer é voltar para casa, rodar a chave na porta
com um sorriso de alívio. Ligar a tv e escutar as tuas músicas no fone de
ouvido. Tecer um papo agradável sobre o cotidiano com os teus amigos distantes.
Ser você mesma, com os teus livros e uns goles de vinho. Inerte, engolida pelo
sofá e sem nenhum problema em sair dele, quem sabe, só amanhã. Sua maior
vontade é dialogar consigo sobre a noite de hoje e sobre as coisas da vida.
Nada mais te incomoda, tudo te conforta. Continua cansada, desmotivada e
sozinha. A única diferença é que você deixou de lutar contra si mesma.
10)
Às vezes é preciso ver sorrisos estampados para notar que a sua
graça passeia por aí desbotada. É necessário sentir a solidão fria no meio do
calor do povo, notar que você não pertence à lugar nenhum senão a si mesma.
Essa fuga desnorteada te fará retornar à casa, como um bom filho sempre
retorna. De alguma maneira, seja acatando ou lutando contra a singularidade,
chega um momento em que você admite: eu
não preciso de ninguém para existir.
POSFÁCIO não autorizado: RAS
Se por
acaso ..
(i)
Você não tem vida interior satisfatória e nem
autoestima suficiente para se olhar no espelho e sorrir confiante todos os dias
de manhã e você se acha sempre feia(o) e quer mudar tudo: vestuário, cabelos, sobrancelhas,
esmalte das unhas, olheiras?, diminuir a barriga, aumentar x2 os peitos e a bunda, a cor dos olhos, o estoque de sapatos, comprar mais jóias e acessórios...!???
(ii)
Você não tem curso superior e não tem mais (ou nunca teve) prazer verdadeiro em leitura, num bom livro,
numa boa revista, nem mesmo nas simplórias (mas úteis) palavras cruzadas, não
suporta música clássica e nem filosofia e nem meditação e passa seu tempo livre
em casa vendo fofocas de uatzap, novelas, programas de esquenta, pseudo-celebridades e de violência na TV...???
(iii)
Você está sempre estressada, endividada e não
controla sua TPM e trata seus filhos e parentes mal, não raro aos berros e não tem mais paciência
alguma para sequer conversar cinco minutos por dia com seus filhos sobre os trabalhos
e desafios da escola, seus relacionamentos com colegas e professores, sobre os
deveres de casa, as pesquisas necessárias ao desenvolvimento do bem mais
valioso da humanidade, a Educação...???
(iv)
Você está em casa, mesmo com seus filhos e
marido, e sente muita falta, uma vontade quase incontrolável de sair e ir aos
mesmos bares, de beber e fumar o quanto quiser, de conversar com as mesmas
pessoas (algumas muito tolas) as mesmas banalidades como tem feito nos últimos
dez anos...???
(v)
Você é capaz de se embriagar e até, vez por
outra, dirigir bêbada e achar que pode repetir a façanha sempre e quando quiser
sem dar satisfação a ninguém e nem se preocupar com a lei e com os riscos para
a vida dos outros...???
(vi)
Você não se importa de perder amigos e seus
relacionamentos afetivos porque quer ser livre para manter sua autonomia
desastrosa, manter sua liberdade irresponsável de se embriagar e fumar e se
enfiar em qualquer seresta medíocre...???
(vii)
Você tem mais de 35 anos e não tem um projeto
claro de vida futura, não tem mais interesse e nem vontade de estudar e fazer
um curso técnico e/ou de nível superior, porque não quer largar a vida de dissipação
e “amizades” superficiais inúteis...???
Se você respondeu
SIM a pelo menos duas dessas sete questões, então, está na hora de fazer uma
profunda reflexão, pois sua vida pessoal, amorosa e profissional está
caminhando para uma depressão acentuada e seu tempo sendo desperdiçado com as
mais tolas aspirações. Procure ajuda clínica e uma orientação psicológica. Não
mate o tempo à toa e nem seus dias com bobagens das modas de hoje porque amanhã
você não vai ter sequer onde enterrá-los.
O tempo, o afeto
e as oportunidades perdidas não retornam jamais.